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08 março 2016

MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA E A LAVA JATO

O perfeito estopim para a violência que se anuncia

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano


Nesses tempos turbulentos que vivemos observei que a força já tomou o lugar da inteligência e, inflamados por uma mídia manipuladora, a desinformação, o exagero e a mentira já tem mais prestígio do que a verdade.

O articulista Miguel do Rosário diz que “em se tratando de história ou política, durante épocas de crises a verdade é como uma velha senhora que fala em voz baixa, difícil de ser ouvida, e não carrega bandeiras. A mentira, por sua vez, se apresenta como uma potência afirmativa e segura de si”. E cita o exemplo dos cristãos que embora declarassem que “a verdade liberta”, se aferravam desesperadamente às suas mentiras. Inicialmente, talvez, com certa ingenuidade, mas no final com assumido cinismo e requinte de crueldade: queimavam em fogueiras os que contestavam suas mentiras.

Para Rosário, “os conceitos de verdade e justiça são mais similares por seus defeitos do que por suas virtudes: eles são ambíguos, confusos e tem servido, ao longo do tempo, para justificar massacres, mentiras e injustiças. Não são amigos porque parecem se repelir o tempo todo: se eu mentir para salvar a vida do meu filho, estarei sendo justo?” A insinceridade na política deriva disso: “Grupos se reúnem para trocarem palavras de incentivo e estímulo à luta, não para dizerem verdades, que poderia ser de mau gosto, contraproducente, quiçá ridículo”. Claro, “de vez em quando, alguns se isolam em um canto, ou se trancam para discutir informações que o seu grupo ampliado não pode saber”.

Eu, como Miguel do Rosário, defendo a democracia, o Lula e ‘sou simpático’ ao PT contra o massacre midiático e as conspirações judiciais em curso. Mas as mentiras e a violência da mídia são tão numerosas, intensas e vindas de tantas frentes que é quase inviável rebate-las. Sobre a manipulação midiática em curso, Rosário cita o ensaísta David Foster Wallace que observou que um público manipulado não vê para onde a TV aponta, mas para a própria TV: "Um cão, se você apontar para alguma coisa, olhará apenas o seu dedo".

No Brasil, os poucos grupos que monopolizam a informação funcionam com tal homogeneidade que se parecem, aos olhos do público, como uma coisa só. E embora não assumam, demonstram sua preferência política. O controle é tanto que até os porta-vozes dessa mídia são censurados, pois falam da crise sem avaliar de forma honesta e equilibrada seus diversos vieses e perspectivas, e, como fantoches, mostram apenas uma visão apocalíptica da mesma. Quem não suporta a pressão e ensaia um protesto é invariavelmente demitido – o jornalista Sidney Rezende, ex-Globo, que o diga.

A recente revelação de que a operação Lava Jato – bem vinda e necessária, mas aloprada em sua execução – pretende, por razões claramente políticas, estender-se o quanto for possível, sugere que nossa frágil estabilidade democrática, econômica e social está muito ameaçada. E se o apoio da mídia manipuladora – que sufoca as vozes dissonantes e chantageia quem ainda não perdeu as referências democráticas – continuar como temos visto no presente, em breve a Lava Jato irá adquirir o status de ‘governo paralelo’.

Isso vai ser péssimo para a nossa jovem democracia, pois a Lava Jato tem agido invariavelmente de forma brutal para deixar claro aos acusados que a sua superioridade é tão grande e absoluta que não vale a pena resistir. Como o argumento para essa superioridade não é totalmente jurídico (vide as ilegalidades cometidas pela Lava Jato), mas o temor aos ‘desrespeitos e humilhações’ que ela impõe aos ‘seus adversários’, não será surpresa se mais cedo do que pensamos esses arroubos autoritários sirvam de estopim para indesejáveis e desnecessárias explosões de violência pelo país.