A DISPUTA EM FILA QUE VIRALIZOU E GEROU DEBATE SOBRE 'CORRUPÇÃO DO DIA A DIA'
BBC 16/12/2016
Uma foto que viralizou nas redes
sociais com mais de 70 mil curtidas e 15 mil compartilhamentos gerou um debate
sobre as pequenas corrupções do dia a dia e o popular "jeitinho
brasileiro", à luz do atual momento vivido pelo país.
A imagem retrata uma mulher que,
munida de uma sacola, teria usado a identidade de várias amigas para apanhar a
maior quantidade de bebida isotônica em uma campanha de distribuição gratuita
do produto na rua.
O episódio foi relatado pela
paulistana Natália Bilibio, de 27 anos, em sua conta pessoal no Facebook.
Ela conta que estava em um ponto
de ônibus no fim da tarde de uma quinta-feira (8/11) perto da Avenida Paulista,
em São Paulo, aguardando a condução de volta para casa, quando observou uma
cena que a deixou "indignada".
"Vi uma mulher com uma
sacola de pano, dessas de supermercado, usando o CPFs de amigas para retirar o
maior número possível de Gatorades (marca de bebida isotônica) de uma máquina
instalada ao meu lado", relembra Natália à BBC Brasil. A campanha, do
banco Santander, distribuía o produto gratuitamente a pedestres. A única
exigência para obtê-lo era digitar o CPF.
"Vi a máquina sendo
abastecida no dia anterior. Inicialmente, ela entrou na fila e pegou dois
Gatorades. Em seguida, começou a ligar para as amigas e pedir o CPF delas para
pegar mais e mais. Não me contive e a repreendi", diz Natália.
"Perguntei se ela estava com
a consciência tranquila. Ela disse que sim. A partir daí, começou a me xingar e
gritar comigo", completa. Natália acrescenta que, como voltou à fila
diversas vezes, a mulher acabou com o estoque do produto.
"Pelas minhas contas, ela
deve ter pego, no mínimo, dez Gatorades. Pessoas que chegaram depois não
conseguiram mais pegar a bebida", avalia. "Nossa discussão durou
cerca de dez minutos, até eu tomar o ônibus de volta para casa. Ela continuou
me xingando e gritando da rua", acrescenta.
Ao voltar para casa, Natália
decidiu postar a foto. "As pessoas defendem o fim da corrupção, mas não se
dão conta de que suas próprias atitudes são corruptas", sentencia Natália.
Reação
Em seu Facebook, os usuários
criticaram a atitude da mulher. A BBC Brasil não conseguiu ouvir sua versão dos
fatos uma vez que a identidade da mulher não foi revelada.
"Como teremos um governo
decente se as pessoas pensam dessa maneira? Lembrem-se de que a mudança deve
começar por nós, pela base!", escreveu um usuário. "O problema do
Brasil é o brasileiro", acrescentou outro.
"O famoso ditado 'farinha
pouca, meu pirão primeiro'. Muito feio. Não é o mundo que está difícil e ruim.
São as pessoas que habitam nele que estão se tornando cada vez mais intratáveis
e menos altruístas. Pobres de espírito, pobres de afeto pelo próximo",
descreveu uma usuário.
Houve quem também criticasse a campanha do banco.
"Detesto pessoas assim. Mas
lembrando também que ninguém dá nada a ninguém muito menos banco então com o
CPF introduzido o banco cria uma base de dados...tipo troca informação super
relevante por Gatorade. Essas amigas entraram para a base de dados",
afirmou um usuário.
"Eu só fico curiosa pra
saber o que o Santander vai fazer com a informação de todos esses CPFs?",
acrescentou outra usuária. Procurado pela BBC Brasil, o banco Santander
informou que a ação foi concebida para "engajar clientes e
não-clientes".
"A ação 'De um Ponto a
Outro' foi concebida para engajar o público (clientes e não-clientes) ao
proporcionar experiências com a marca Santander que materializem o
posicionamento 'O que a gente pode fazer por você hoje?'", diz o
comunicado enviado à BBC Brasil.
"A iniciativa está nas ruas
de São Paulo desde agosto, sempre em pontos de ônibus próximos a universidades.
A proposta consiste em oferecer, por exemplo, guarda-chuvas em dias chuvosos,
isotônicos em dias quentes, ingressos de cinema e até poemas, antecipando
desejos e necessidades das pessoas no dia a dia", acrescenta a nota.
"A identificação dos
participantes pelo CPF é solicitada com o único e exclusivo objetivo de
garantir que um número cada vez maior de pessoas tenha acesso aos
benefícios", finaliza o banco.
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