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22 setembro 2015

O INÍCIO DO ANTROPOCENO, OU ‘ÉPOCA GEOLÓGICA DO HOMEM’, EM DEBATE

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Antropoceno é o termo utilizado para batizar uma nova época geológica cuja existência deriva das transformações que o homem tem promovido no planeta. Embora ainda não tenha sido incorporado na ‘Escala de Tempo Geológico’ do planeta, cuja manutenção está sob a responsabilidade da Comissão Internacional de Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geológicas, poucos duvidam que isso seja feito em breve e raros são os que se opõem ao batismo da 'era geológica do homem' como Antropoceno.

O que parece não ser consenso é a determinação da data de seu início.

Havíamos informado em outro artigo que para alguns cientistas essa data situava-se entre o final do século XIX e os anos 50. A data mais antiga coincide com o início da revolução industrial, que promoveu um aumento significativo na quantidade de CO2 e outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera do planeta. A data mais recente relaciona-se com a intensificação dos testes nucleares atmosféricos que produziram assinaturas isotópicas e de estruturas geológicas indiscutíveis.

Algumas opiniões sugerem que o Antropoceno teve início com a disseminação da agricultura extensiva, cerca de 8 mil anos atrás, que resultou em desmatamentos em diferentes regiões do planeta e provocou um aumento de CO2 na atmosfera. Outras acreditam que o Antropoceno teve início em meados do século XX com a aceleração do crescimento populacional no planeta que elevou a níveis insustentáveis o consumo de recursos naturais.

Um artigo publicado em março passado na respeitada revista científica Nature adicionou novos e bem embasados elementos à discussão. Os autores do estudo, os pesquisadores ingleses Simon Lewis e Mark Maslin, oferecem duas datas alternativas para o início do Antropoceno: 1610 ou 1964.

Para a primeira data o argumento que utilizam é uma queda de  7 ppm (partes por milhão) nos níveis de CO2 atmosférico que, segundo eles, foi resultado da aniquilação de aproximadamente 50 milhões de habitantes nativos das Américas por doenças e guerras após a chegada de Colombo. A eliminação desse grandioso contingente humano esvaziou extensas áreas agrícolas que, desprovidas dos agricultores, foram ocupadas por florestas que extraíram – na medida em que cresciam – o CO2 atmosférico até provocar a queda verificada em 1610.

Não se pode deixar de citar que pelo menos 28 milhões de africanos escravos foram trazidos para as Américas e o impacto da retirada desse contingente populacional da África também deve ter contribuído para a queda dos níveis de CO2 atmosférico de modo similar ao que aconteceu nas Américas.

A queda nos níveis de CO2 foi tão intensa que deu início à chamada ‘Pequena Era Glacial’ ocorrida entre os anos de 1650 e 1850. Nesse período não existia mar aberto em torno da Islândia, os Vikings abandonaram a Groenlândia, a Finlândia perdeu cerca de um terço da sua população e as geleiras nos Alpes se expandiram, cobrindo aldeias e matando milhares de pessoas. O planeta só voltou a esquentar depois do início da Revolução Industrial, a partir de 1850.

Ao propor 1610 como o marco zero do Antropoceno, os autores do estudo argumentam ainda que foi nessa época que o colonialismo, o comércio global e o desejo de riqueza e lucros começaram a causar pressão intensiva sobre o meio ambiente e os recursos naturais do planeta. A redistribuição global de plantas e animais ocorrida nesse mesmo período foi um evento que viabilizou o incremento na produção de proteína animal, cereais e outros alimentos cultivados, e permitiu uma aceleração no incremento da populacional no planeta.

A outra data alternativa, 1964, se refere ao pico nas medições de Carbono-14 presente na atmosfera em decorrência das numerosas explosões atômicas promovidas entre 1945 e 1963, quando foram banidas. As explosões resultaram no acúmulo de Carbono-14 em depósitos estratigráficos por todo o planeta e a medição do seu acúmulo permite determinar com a precisão de um ano, o pico da ocorrência desse elemento na atmosfera.

Essa precisão, que está ausente na maioria das outras propostas colocadas como início do Antropoceno, é de grande valia tendo em vista que a escala estratigráfica internacional (ou escala temporal geológica) requer pontos de separação entre as eras, períodos e épocas geológicas. Esses pontos, também conhecidos como limites estratigráficos, são indispensáveis para que a Comissão Internacional de Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geológicas possa aceitar a inclusão do Antropoceno na Tabela Cronoestratigráfica Internacional.

Os autores do artigo publicado na Nature encerram seus argumentos com uma proposição interessante: se o Antropoceno for aceito, que ele seja inserido diretamente após a época do Pleistoceno, substituindo por completo o Holoceno que, na tabela cronoestratigráfica, passaria a ser apenas um estágio final do Pleistoceno. Na visão deles o Homo sapiens é uma espécie surgida no Pleistoceno e a criação do Holoceno pelos geologistas do século XIV foi justificada, entre outros argumentos, pela ideia de que a distinção entre o Pleistoceno e o Holoceno se devia em parte à presença e influência dos humanos.


21 setembro 2015

RAÇÃO COM ERVA-MATE MELHORA QUALIDADE DA CARNE BOVINA

Com informações de Reinaldo José Lopes da Agência FAPESP

Misturar uma pequena quantidade de extrato de erva-mate à ração do gado de corte pode ser suficiente para produzir uma carne com mais benefícios à saúde, mais agradável ao paladar e com maior prazo de validade. Além do efeito positivo do mate sobre o rebanho bovino, a equipe verificou benefícios semelhantes na alimentação do frango de corte, descobriu maneiras mais eficientes e saudáveis de produzir carne curada (como o presunto tipo parma ou a carne-seca).

“Conseguimos reunir de forma muito interessante uma equipe multidisciplinar que nunca tinha trabalhado junta, incluindo químicos, microbiologistas, agrônomos, engenheiros de alimentos e farmacêuticos, fazendo experiências que ainda não tinham sido tentadas no Brasil”, disse Daniel Rodrigues Cardoso, professor do IQSC-USP. “Hoje, se alguém quiser saber como determinada ração afeta o perfil metabólico da carne, conseguimos responder sem dificuldade a essa pergunta graças ao projeto”, disse.

Macia e sem estresse

De acordo com os pesquisadores, há uma série de indícios sobre os benefícios à saúde humana que podem estar ligados ao consumo do mate. É possível que a erva facilite o controle do peso e modere processos oxidativos e inflamatórios, por exemplo.

Os efeitos do consumo do mate foram estudados em um plantel de cerca de 50 cabeças de gado, que recebiam um extrato da erva em proporções de 0,25% a 1,5% do total de sua ração. Não houve mudanças no crescimento e na quantidade de carne obtida a partir de cada animal. Por outro lado, os pesquisadores verificaram, em primeiro lugar, que a carne se tornou mais macia e mais elogiada por consumidores, em teste sensorial cego feito com cem pessoas. “O desempenho foi melhor inclusive nos testes de força de cisalhamento [feitos por um aparelho que verifica a textura da carne]”, disse Renata Tieko Nassu, da Embrapa Pecuária Sudeste.

A análise das diferentes moléculas presentes na carne mostrou ainda um aumento significativo do ácido linoleico conjugado (CLA) nos bovinos que receberam o suplemento de mate. Essa substância, explica Cardoso, tem papel anti-inflamatório e pode também auxiliar na diminuição do nível de colesterol de quem a consome. De quebra, atua como antioxidante – ou seja, reduz a formação de moléculas altamente reativas no organismo, que podem causar danos às células. Isso não só é bom para a saúde como também contribui significativamente para aumentar o tempo de prateleira da carne.

Tudo indica que esse efeito benéfico é mediado pela atuação do consumo de mate sobre as bactérias do sistema digestivo dos bois, favorecendo a multiplicação de certos microrganismos e alterando a maneira como o gado absorve nutrientes e, consequentemente, afeta a qualidade da carne. Além disso, os pesquisadores também observaram uma aparente redução do estresse e melhora no bem estar animal, que ajuda a melhorar a qualidade da carne.

Para aplicar a suplementação em larga escala nos rebanhos do país é preciso é achar uma maneira econômica de oferecê-la aos animais, segundo explicou Rymer Ramiz Tullio, da Embrapa Pecuária Sudeste. Nos experimentos, foi usado um extrato seguindo padrões da indústria farmacêutica, o que encarece o produto. “É preciso verificar se a administração direta das folhas de erva-mate tem o mesmo efeito ou então usar o resíduo descartado na produção do extrato, o que também seria bem mais barato”, disse Cardoso.


Os resultados desse projeto derivam de uma colaboração entre pesquisadores brasileiros e dinamarqueses que durou três anos e contou com o apoio da FAPESP e do Innovation Fundation Denmark. Além da USP e da Universidade de Copenhague, participaram do projeto a Embrapa e duas empresas, a Centroflora (fornecedora dos extratos de erva-mate) e a Novozymes (que forneceu enzimas usadas em diversos experimentos), além de pesquisadores de outras instituições. O investimento nacional na pesquisa ficou em cerca R$ 1,4 milhão, com contrapartida idêntica dos financiadores dinamarqueses.

20 setembro 2015

QUEDA NO DESMATAMENTO BENEFICIA SAÚDE NAS CIDADES

Estudo publicado na revista Nature Geosciences mostra que a forte redução na taxa de desmatamento na amazônia entre 2003 e 2014 diminuiu a emissão de poluentes decorrente das queimadas e melhorou a qualidade do ar em grandes áreas da América do Sul. O trabalho mostra que a queda no desmatamento beneficia a saúde da população em vastas áreas, inclusive em regiões distantes da floresta, pois correntes de ar levam os poluentes emitidos nas queimadas para áreas como o Sudeste brasileiro.

Por meio do cruzamento de dados sobre redução do desmatamento e emissões de poluentes, estima-se que até 1.700 mortes foram evitadas por ano na América do Sul. A pesquisa teve a participação do físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física (IF) da USP e de pesquisadores do MIT (Estados Unidos), e das Universidades de Leeds e Manchester (Reino Unido).

A cada ano, milhares de quilômetros quadrados de florestas são derrubados para preparação de novas terras para a agricultura e pecuária na Amazônia. A fumaça emitida a partir de grandes incêndios causa altos níveis de poluentes atmosféricos tais como material particulado, ozônio, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e outros. Esses poluentes têm importantes efeitos negativos na saúde humana. A fumaça é tão forte e tão extensa por grandes áreas da América do Sul que é facilmente detectada por satélites. Na pesquisa, a equipe de pesquisadores usou dados de satélites e medidas em solo para examinar a quantidade de fumaça na atmosfera.

A área total da floresta amazônica é de aproximadamente 5 milhões de quilômetros quadrados (km2). De acordo com as informações fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Brasil em 2003-2004 desmatou 27.000 km2 de florestas. Em 2013-2014, a área desmatada foi de cerca de 5.000 km2. “Esta forte redução na taxa de desmatamento fez com que as emissões de gases de efeito estufa diminuíssem cerca de 70% no período”, aponta Artaxo. “A emissão de poluentes tais como material particulado, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e outros também foi muito expressiva, o que fez com que a redução da exposição a poluentes atmosféricos tenha reduzido a mortalidade na América do Sul”.

De acordo com o físico, os poluentes são transportados na atmosfera por longas distâncias. “As correntes de ar que trazem umidade da amazônia para a região Sudeste também trazem os poluentes emitidos pelas queimadas”, relata. “Isso faz com que uma pessoa que está longe da região amazônica, mas na região onde este transporte atmosférico ocorre sofra com aumento da carga atmosférica de poluentes. Estes poluentes tem forte efeito na mortalidade pelos efeitos na saúde”.

Queda dos níveis de poluentes

A pesquisa demonstra que em anos com altas taxas de desmatamento, a atmosfera é muito mais poluída se comparada a anos com baixo desmatamento. Com a forte queda, os níveis de poluentes associados também diminuíram. De acordo com Artaxo, as observações de satélites foram combinadas com modelos atmosféricos de circulação global, mostrando que a concentração do particulado fino na região Sudeste do Brasil decresceu em cerca de 30% durante a estação seca (entre os meses de agosto e outubro), como resultado da redução do desmatamento entre 2003 e 2014.

A queda dos níveis de poluentes, por sua vez, foi então combinada com índices de mortalidade associadas à exposição de material particulado fino. “O estudo levou em conta doenças cardiovasculares e respiratórias, que respondem por mais de 90% dos efeitos da exposição à poluição”, explica Artaxo. “A população estudada refere-se a adultos de mais de 30 anos, pois os valores de exposição de crianças são diferentes dos adultos e os dados de exposição para particulados em crianças são mais esparsos”. Os resultados apontam que cerca de 400 a 1.700 mortes por ano foram evitadas na América do Sul como decorrência da queda do desmatamento na Amazônia.

A pesquisa revela um novo benefício na redução do desmatamento, pois a qualidade do ar em regiões distantes da amazônia melhorou significativamente e grande número de mortes adicionais foram evitadas pela redução da exposição a poluentes atmosféricos. “A forte redução do desmatamento, até chegarmos ao desmatamento zero traz benefícios extras que vão favorecer em muito não só o meio ambiente amazônico e global, mas também a saúde da população”, ressalta o físico. “Precisamos continuar o esforço de proteção da floresta amazônica, pois isso também salva vidas de brasileiros e auxilia na redução das mudanças climáticas globais”.

O artigo Air quality and human health improvements from reductions indeforestation-related fires in Brazil foi publicado na edição online da revista Nature Geosciences em 16 de setembro. A pesquisa foi realizada pelo Programa de Grande Escala da Biosfera e Atmosfera da Amazônia (LBA), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)

Foto: Cecília Bastos

14 setembro 2015

A VERGONHOSA “BOLSA TOGA”

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

O jornal Folha de S. Paulo de domingo (13/09) informou que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) iniciou no dia 08/09 o pagamento do auxílio-educação para magistrados e servidores. O auxílio, aprovado pela Assembleia Legislativa em maio passado e batizado de Bolsa Toga pelos críticos, será distribuído entre os filhos de magistrados e servidores do TJ-RJ com idade entre 8 e 24 anos. Os agraciados receberão mensalmente R$ 2.860,41 para pagar despesas escolares.

Segundo balanço preliminar divulgado na imprensa, dos 16 mil funcionários do TJ-RJ, 7.696 terão direito ao benefício. Entre os magistrados, estima-se em cerca de 860 o número de beneficiários. O impacto no orçamento em 2016 foi estimado em R$ 142,5 milhões. Em 2015 ele será menor porque abrange apenas alguns meses do ano.

O projeto de criação da Bolsa Toga, idealizado pelo TJ-RJ em 2014, foi criticado até por membros do judiciário carioca. Ciro Darlan, respeitado magistrado daquela corte, contestou a concessão do benefício antes de sua aprovação, alegando, entre outras razões, o fato de o mesmo ser custeado integralmente pela população usuária dos serviços do judiciário.

Para Darlan, a população, que já suporta uma elevada carga tributária, não tem nenhuma obrigação de custear a educação dos filhos dos magistrados e dos servidores do Tribunal. Ele também alegou que os beneficiários são filhos de servidores públicos muito bem remunerados e que as taxas e custas judiciais não se destinam a custear benefícios pessoais de magistrados e servidores.

Como represália, Darlan foi exonerado do cargo de coordenador da Comissão Judiciária de Articulação das Varas da Infância e Juventude e Idoso e da Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional pelo presidente do TJ-RJ, Luiz Fernando de Carvalho, que alegou “incompatibilidade com a orientação, pensamento e filosofia de trabalho da administração”.

Todos conhecem a morosidade de nossa justiça e com certeza ouviram mais de uma vez presidentes de Tribunais de Justiça anunciar que pouco podem fazer para melhorar a prestação jurisdicional por que falta verba para contratar novos juízes, servidores e melhorar a estrutura do judiciário. 

Com a aprovação de benefícios como a Bolsa Toga, conhecidos como penduricalhos criados para driblar o teto salarial dos magistrados que, em teoria, não pode ultrapassar o percebido pelos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), é fácil deduzir porque as verbas para o judiciário nunca são suficientes. Recentemente foi aprovado o ‘auxílio-moradia’, pago indistintamente aos magistrados, inclusive aqueles que possuem casa própria. Além de indecoroso, esse benefício é claramente desnecessário considerando o nível salarial dos magistrados brasileiros.

O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, foi instado a contestar a concessão do auxílio-educação aos magistrados do TJ-RJ porque os salário e demais vantagens da magistratura são regidos pela Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman), que não prevê este tipo de benefício. A concessão do auxílio-educação também fere os artigos 37 e 93 da Constituição Federal, que estabelecem que a administração pública deve obedecer, entre outros, ao princípio da legalidade e que apenas uma lei complementar de iniciativa do STF pode dispor sobre a Loman.

Dentre as justificativas elencadas pelo TJ-RJ para criar a Bolsa Toga, foi citado o artigo 227 da Constituição que afirma ser “dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação...” Este artigo, entretanto, se aplica a todas as classes sociais indistintamente. Se você leitor não tem como pagar escola particular para o seu filho, a alternativa oferecida pelo Estado é a escola pública e não um auxílio-educação para garantir que seu filho frequente escolas particulares.

E para nós, contribuintes, que tipo de auxílio os legisladores poderiam oferecer frente a essa vergonhosa apropriação dos recursos que contribuímos para termos em troca serviços públicos eficientes e céleres?

A melhor sugestão foi dada pela jornalista brasileira radicada em Estocolmo, Claudia Wallin, que diante “de mais um ato estrambólico de auto-ajuda praticado pelo guardiões da Justiça” sugeriu que faria sentido “conceder um auxílio-fígado aos contribuintes, que, além de pagar a conta dos caudalosos privilégios políticos, ainda bancam a fatura dos benefícios e mordomias oferecidos aos representantes do poder que têm a responsabilidade de proteger os direitos do cidadão”.

03 setembro 2015

PERDEU BRASILEIRO, PERDEU!

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

A intensa campanha da chamada 'grande imprensa' e de alguns políticos para encerrar precocemente o mandato da presidente Dilma Roussef só conseguiu, até o momento, difundir a notícia de que isso acontecerá brevemente.

Embora tenham anunciado repetidas vezes que a queda era iminente, como uma miragem no deserto a ilusão não se concretiza porque é insustentável juridicamente frente aos argumentos apresentados.

Entretanto, no script imperfeito seguido pela banda podre da grande imprensa e pelos políticos que não aceitaram a derrota imposta pelas urnas, tudo foi e continua a ser feito para que o 'enterro' do atual governo se concretize o mais rapidamente possível.

A imprensa engajada nessa operação, apelidada jocosamente de PIG, que em inglês significa porco (e lembra lama...) e em português ‘partido da imprensa golpista’, fez a sua parte conquistando os corações e mentes da maioria da população, manipulando-a e levando-a as ruas para defender seu ponto de vista.

Fez isso desencadeando, imediatamente após a eleição, uma campanha de desconstrução moral e política de um partido e de alguns de seus dirigentes nunca vista na história da democracia brasileira.

Embora eficaz, a campanha na imprensa e as mobilizações populares de apoio nas ruas não impactaram ou obtiveram os resultados esperados pelos integrantes do PIG e os políticos que as patrocinam, que, como em uma luta de MMA, pretendem ‘finalizar’ o atual governo. 

Mais eficaz do que manobras políticas e campanhas midiáticas para ganhar ‘no grito’ disputas que em democracias saudáveis se decidem no voto, tem sido a ação da justiça para corrigir desvios morais de políticos e empresários que, em conluiou e desde sempre, assaltam cofres públicos administrados por todos os partidos, incluindo os que abrigam políticos ao estilo ‘Chapolin Colorado’ que agora posam de salvadores da pátria.

Reconforta-me hoje testemunhar que políticos importantes, outrora líderes morais e históricos, foram e continuam a ser varridos da cena cotidiana pela justiça. Parafraseando um ex-presidente digo sem equívoco que ‘nunca na história do nosso país’ se investigou, julgou, puniu e se mandou para a cadeia tantos malfeitores da administração pública.

Mais recentemente, o foco tem sido a punição a empresários rapineiros dos orçamentos públicos. E não são pequenos ou médios empresários, muito menos funcionários subalternos que no passado eram condenados no lugar dos reais criminosos. São presidentes e diretores de grandes empresas, algumas das maiores do país.

Para isso acontecer não foram necessários protestos nas ruas para cobrar que a justiça faça o que deve por obrigação. Isso mostra que o Brasil mudou para melhor nesses últimos dez anos. Apesar de ainda imperfeita, a justiça tem cumprido o papel que se espera dela.

Não pretendo discutir aqui as razões de essa mesma justiça ter sido tão inerte no passado porque chegarei à inevitável conclusão de que ela não era justa, livre e, baseado em fatos históricos, agia por interesse de alguns donos do poder político e financeiro.

Felizmente o momento atual está demonstrando que uma justiça isenta, célere e implacável no cumprimento de sua função é importante para a resolução dos problemas do país.

Se os ‘Chapolin Colorado’ da política brasileira e os integrantes do PIG tivessem, desde o início de sua campanha, apelado para a justiça, talvez tivessem hoje a legitimidade e os resultados que buscam. 

Cegos e frustrados como se encontram, continuarão a apostar no ‘quanto pior melhor’, em detrimento da sociedade que dizem representar e prestar serviços.

Parece exagero, mas se alguns deles pudessem – arrogantes e movidos unicamente por interesses particulares, econômicos e partidários – diriam em alto e bom som, como só os bandidos tem a coragem de dizer: “perdeu brasileiro, perdeu!”

01 setembro 2015

ABELHAS AFRICANIZADAS ‘NÃO INVADIRAM’ A FLORESTA AMAZÔNICA

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Muitos de vocês já assistiram filmes sensacionalistas de Hollywood no qual abelhas ‘assassinas’ matam os humanos com quem contracenam. As tais abelhas são invariavelmente de origem africana e tem uma característica em particular que despertou o interesse da indústria do cinema: o comportamento extremamente agressivo.

Introduzidas acidentalmente no Brasil em 1957, as abelhas africanas (Apis mellifera scutellata) cruzaram livremente com espécies europeias (Apis mellifera ligustica, Apis mellifera mellifera e Apis mellifera carniça) produzindo populações poli híbridas denominadas africanizadas, com predominância de características das abelhas africanas: alta capacidade de adaptação a ambientes inóspitos, maior resistência a doenças e patógenos, ciclo de vida mais curto e alta capacidade de formar novos enxames, alta produtividade, maior capacidade de defesa e agressividade.

A agressividade dessas abelhas, em contraste com a mansidão das espécies europeias, se traduz em ataques a pessoas e animais que se aproximam de suas colmeias e podem, dependendo da intensidade do ataque, resultar em mortes. Isso aconteceu com muita frequência nos primeiros anos após a introdução das abelhas africanas em razão do desconhecimento, por parte da população e dos apicultores, dos riscos representados pelas abelhas africanizadas.

A fama de assassinas vem desse período e o pavor que se estabeleceu na época derivou de notícias sensacionalistas difundidas nas redes de TV, jornais e revistas do Brasil e do exterior. O interesse dos estúdios de Hollywood por essas abelhas, no entanto, só se deu na década de 70 quando ficou claro que as ‘abelhas assassinas’ estavam migrando em direção à América do Norte e sua chegada ao território americano era apenas questão de tempo, tendo se concretizado no ano de 1990. Este fato passou a impressão de que as abelhas africanizadas estão tomando de conta das Américas. A velocidade de sua migração em direção ao continente norte americano foi de 400-500 km/ano corrobora essa impressão, pois equivale à distância entre Rio Branco e Tarauacá, por exemplo. 

Apesar dos problemas relacionados com a agressividade excessiva, a introdução das abelhas africanas foi benéfica para a apicultura brasileira que antes da introdução produzia entre 3 e 5 mil toneladas de mel/ano e algumas décadas depois passou a produzir mais de 40 mil toneladas/ano.

Entretanto, apesar da reconhecida rusticidade e capacidade adaptativa, uma situação tem intrigado os pesquisadores: as abelhas africanizadas dificilmente são encontradas no interior das extensas áreas florestais primárias da região Amazônica.

Para entender o ‘fracasso’ da colonização dessas abelhas nas florestas primárias da região, os pesquisadores Marcio Luiz de Oliveira e Jorge Alcântara Cunha, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), testaram a capacidade dessas abelhas de penetrar florestas contínuas ou fragmentos florestais e, quando isso ocorria, medir a distância que adentravam no interior da floresta. Para isso foram espalhadas iscas no interior da floresta na Amazônia central e em áreas desmatadas das proximidades. O resultado mostrou que nenhuma abelha africanizada visitou as iscas no interior da floresta, somente nas áreas desmatadas.

Os motivos de as abelhas africanizadas não terem visitado o interior da floresta ainda não estão claros, mas algumas hipóteses são sugeridas: (a) Parece existir uma baixa densidade populacional de abelhas africanizadas na Amazônia; (b) Em regiões de trópico úmido colônias dessas abelhas são muito debilitadas por fungos, doenças, ataques de formigas e vespas ou destruídas por vertebrados predadores de ninhos; (c) O excesso de chuvas faz com que o aporte de néctar seja menor que o consumo, pois as operárias não forrageiam durante a chuva e após a mesma só encontram flores lavadas, resultando na diminuição do alimento disponível para as crias, que ficam mal nutridas e sujeitas a doenças; (d) É mais fácil obter recursos em ambientes abertos, onde o forrageio pode ser feito nos estratos mais baixos (±15 m), ante os 30 m das copas das árvores no interior da floresta.

Os autores concluíram o seguinte: (a) Apesar da floresta exuberante e rica em floradas, a apicultura em grande escala na Amazônia parece ser inviável nas áreas mais densamente vegetadas, que, conforme mostrou o estudo, não são visitadas pelas abelhas africanizadas; (b) Se o desenvolvimento da apicultura requer grandes áreas abertas, uma alternativa seria a utilização das áreas degradadas existentes; (c) A ausência de abelhas africanas visitando as iscas na floresta indica a inexistência de competição por recursos com as abelhas nativas (melíponas) no interior da floresta.


Para saber mais: Marcio Luiz de Oliveira e Jorge Alcântra Cunha. 2005. Abelhas africanizadas Apis mellifera scutellata Lepeletier, 1836 (Hymenoptera: Apidae: Apinae) exploram recursos na floresta amazônica? Acta Amazonica, 35(3): 389-394.

Imagem: abelha africana (Apis mellifera scutellata).
Fonte: http://zootecniae10.blogspot.com.br/2012/04/principais-racas-de-abelhas.html