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27 junho 2012

A "SERVA" NÃO SERVE

Valterlúcio Bessa Campelo


A "serva evangélica" causou surpresa ao se lançar candidata à prefeitura de Rio Branco sabendo que não terá a mínima chance de ser eleita. Qual seria seu interesse? Vejamos as possibilidades.

Alguns diriam que se trata de estratégia para se tornar mais conhecida e tal. 

Não bate. Este rito ela já cumpriu desde que foi candidata pela primeira vez e ficou conhecida como a candidata minhoca (a filha da terra). Pilotando partidecos, atraindo crentes ingênuos e manuseando verbas encaixotadas, a Antônia Lúcia é hoje mais conhecida no Acre do que alguns políticos que nos anos oitenta já pegavam carona no fusca do Nilson Mourão.

Quer aproveitar para disseminar a doutrina e princípios evangélicos? 

Também não bate. Igreja não é partido político, o evangelho não é ideologia política, e, sinceramente, não seria a Antônia Lúcia que faria o melhor discurso cristão, não é mesmo? Se o interesse fosse esse as igrejas escalariam gente mais preparada.

Está a serviço do governo que quer fracionar os votos da oposição, como conjecturam alguns analistas? 

Sabe-se lá, mas se for, sinto dizer, está vendendo o que não tem. Talvez até seja contraproducente. Não consta que os votos dados à Antônia Lúcia sejam votos de oposição a quem quer que seja. Na grande maioria, são votos daquela massa alienada e disforme que poderia ir mais facilmente com o candidato do governo do que com a oposição. Sei. Alguém pode dizer que para desfalcar a verdadeira oposição, ela vai adotar um discurso oposicionista devidamente medido e pesado. Duvido que isso "cole" em Rio Branco, uma cidade pequena e de muros baixos. Ninguém  que seja crítico ao governo confiaria em um projeto liderado pela candidata. Além disso, os dois candidatos oposicionistas já ocuparam todos os espaços possíveis e estão com o discurso afiado, inclusive contra a candidata.

Concluo que o único objetivo possível da Antônia Lúcia como candidata será tentar fazer uma clivagem que coesione setores evangélicos em torno de si. Explico. Aproveitando que nenhuma das outras chapas apresenta um evangélico, ela fará disso um preconceito (evidentemente falso) contra os crentes e, alimentando um sentimento de reação, tentará reunir eventuais apoios transformando-se deste modo na "defensora" dos evangélicos, o que significa aumento de "musculatura" para próximas eleições. Mesmo assim, ela corre o risco de obter uma votação pífia e se estrepar de vez. Isto serve ao candidato do governo? Duvido. A não ser que esteja em causa a possibilidade de não haver segundo turno, o que não parece razoável.

Enfim, a "serva" não serve à cidade, ao governo ou à oposição. Talvez se sirva. Veremos.

26 junho 2012

BREVE HISTÓRIA DA ASCENSÃO E QUEDA DO COMÉRCIO DO ‘MARFIM VEGETAL’ NO MERCADO MUNDIAL


Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Marfim vegetal é um nome popular dado às sementes da palmeira jarina, conhecida dos acreanos, e de outras cinco espécies de palmeiras botanicamente relacionadas encontradas no sudoeste da região amazônica, norte da América do Sul e Panamá, na América Central. Nos países hispânicos, o nome popular mais utilizado é tágua, que se aplica indistintamente às espécies encontradas no Panamá, Equador e Colômbia.  A designação marfim vegetal deriva do fato das sementes destas palmeiras apresentarem características físicas como a cor branca e uma dureza extrema que em tudo lembra o marfim extraído de alguns animais africanos.

A designação do nome científico da jarina está relacionada a esta característica. Quando, entre 1779 e 1778, os exploradores espanhóis José Antonio Pavón Jiménez e Hipólito Ruiz López encontraram a palmeira jarina em algum lugar na floresta peruana, lhes chamou a atenção não apenas as sementes, mas também os frutos disformes, com projeções lenhosas irregulares que davam a impressão de possuir algum tipo de má formação. Por essa razão eles a batizaram de Phytelephas, um nome derivado de uma palavra grega que se traduz como planta (=Phyto) elefante (=elephas). Um perfeito nome de batismo, pois além de expressar as características dos frutos, ele também remete às características das sementes, que lembram o marfim extraído das presas dos elefantes.
Segundo os historiadores, a descoberta da utilidade das sementes de tágua pelos europeus foi quase uma coincidência. Um navio que navegava da América do Sul para a Alemanha em 1865 levava como lastro um grande carregamento de sementes de tágua. Ao chegar ao porto de Hamburgo, as sementes começaram a ser descartadas, mas os carregadores do porto conseguiram recuperar parte delas e observaram sua semelhança com o marfim animal, então importado livremente da África. Desde então, as sementes de tágua e de jarina passaram a ser conhecidas no mercado internacional como ivory-nut ou vegetable ivory.
O ciclo econômico de exploração das sementes dessas palmeiras nas florestas da América do Sul e da América Central que se seguiu durou cerca de cinquenta anos e foi tão marcante que no Brasil e nos outros países produtores até hoje é comum se chamar as sementes de marfim vegetal, uma tradução literal do nome comercial em inglês.
As primeiras estatísticas sobre a produção de sementes de marfim vegetal são da Colômbia, no período de 1840-1841, quando ela significava uma pequena porcentagem das exportações daquele país. Em fins de 1860, as exportações destas sementes já tinham se transformado em um dos cinco maiores produtos de exportação da Colômbia e do Equador. Na virada do século, as exportações destes dois países para os Estados Unidos e a Europa atingiam mais de 40 mil toneladas anuais.
Para o Equador, a exportação de marfim vegetal foi ainda mais importante e os primeiros registros de exportação das sementes deste país datam de 1865. Em 1929 as exportações do Equador atingiram 25.791 toneladas.
No princípio, as sementes de marfim vegetal eram mais utilizadas para a confecção artesanal de pequenos objetos de decoração, o mesmo tipo de uso do marfim animal. Entretanto, com a revolução industrial em pleno vapor, máquinas para a fabricação de botões a partir das sementes do marfim vegetal foram criadas e imediatamente causaram um grande boom no comércio das sementes.
A fabricação de botões a partir das sementes de marfim vegetal representava um dos setores industriais mais importantes no final do século XIX e início do século XX. Em 1920, 20% de todos os botões produzidos nos Estados Unidos eram feitos a partir destas sementes. Nesta época a maioria das indústrias estava localizada nas cercanias de Nova Iorque, então um importante pólo de produção têxtil.
Entretanto, da mesma forma que ocorreu com muitos corantes e fibras têxteis naturais, o marfim vegetal foi substituído por produtos sintéticos mais baratos. Por volta de 1930, os primeiros materiais plásticos rudimentares, conhecidos como baquelite, começaram a substituir as sementes de marfim vegetal como matéria-prima para a produção de botões.
As exportações da Colômbia começaram a declinar nos anos 20 e cessaram por completo em meados de 1935. No Equador a produção continuou, mas as exportações declinaram depois de 1941, por ocasião da entrada dos Estados Unidos na Guerra, e desapareceram da pauta de exportação daquele país por volta de 1945. A descoberta de polímeros plásticos na década de 50 pôs um fim na demanda para as sementes e provocou o completo desaparecimento da indústria americana de botões de marfim vegetal alguns anos depois.
Sobre a produção na Amazônia brasileira no início do século XX, Onofre de Andrade, em seu livro “Amazônia, esboço histórico, geographia physica, geographia humana e ethnographia do rio Juruá” (1937) informa que o “o Juruá já attingiu a exportação de 100.000 kgs, annualmente. Se o transporte fosse fácil, a exportação poderia subir a mais de 1.000.000 kgs. O Rio Envira, sobretudo, é privilegiado em matéria de jarina”. No Brasil a última fábrica de botões feitos com sementes de marfim vegetal fechou nos anos 70.
Digno de nota o fato da maioria das sementes de marfim vegetal exploradas durante o boom comercial do início do século XX ter sido extraída das palmeiras Phytelephas aequatorialis (Equador), Phytelephas tumacana, Phytelephas macrocarpa ssp. schottii (Colômbia) e Phytelephas seemannii (Colômbia e Panamá). A nossa jarina (Phytelephas macrocarpa), nunca fez muito sucesso porque apresenta uma importante diferença de suas con-gêneres: as sementes são de tamanho muito menor, limitando o seu uso.
Até hoje a produção de botões no Equador nunca cessou por completo e pequenas indústrias continuam a produzir discos não beneficiados de marfim vegetal que são exportados para o Japão, Alemanha e Itália para a fabricação de botões usados em vestuários de alto preço.
No Acre, a maior utilidade das sementes do marfim vegetal é para a confecção de objetos artesanais, especialmente pequenas esculturas e biojóias.

Para saber mais:
- Armstrong, W. P. 1991. Vegetable ivory: saving elephants & South American rain forests. Zoonooz 64(9): 17-19.
- Barfod, A. 1989. The rise and fall of the vegetable ivory. Principes 33(4): 181-190.
- Barfod, A., H. B. Pedersen & B. Bergman. 1990. The vegetable ivory is still alive and doing fine in Ecuador. Economic Botany 44(3): 293-400.
- Costa, M. L.; S. F. S. Rodrigues; H. Hohn. 2006. Jarina: o marfim das biojóias da Amazônia. Revista Escola de Minas 59(4): 367-371.
- Dalling, J. W.; K. I. Harms; J. R. Eberhard; I. Candanedo. 1996. Natural history and uses of tagua (Phytelephas seemannii) in Panama. Principes 40(1): 16-23.

Crédito das imagens (de cima para baixo): Natural Button Ecuador, Quito and Ecuator: the lando of Ecuador; Vegetable Ivory (W. P. Armostrong). 

Link para Fábrica de Botôes de Marfim Vegetal no Equador

25 junho 2012

ECONOMIA VERDE NA BERLINDA

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

A gênese da expressão economia verde está diretamente relacionada ao conceito de desenvolvimento sustentável, um tema abraçado entusiasticamente pela reuniãoRio-92, que, além de fazer um balanço ambiental do planeta, indicou caminhos e providências que os países deveriam observar para garantir um desenvolvimento sócio-econômico mundial com o menor impacto ambiental possível.

De uma maneira geral a economia verde inclui em sua concepção processos produtivos que incorporam práticas socialmente justas, economicamente viáveis e ambientalmente corretas tanto por parte dos fornecedores como dos consumidores. Dessa forma, a adoção de iniciativas enquadradas no âmbito da definição de economia verde tem o potencial de contribuir efetivamente para o desenvolvimento sustentável das sociedades. Entretanto, para ter sucesso as iniciativas de economia verde dependem da criação de novas tecnologias produtivas e sociais. Além disso, a competitividade das iniciativas verdes depende da incorporação, nas análises e decisões econômicas relativas às iniciativas da economia convencional (ou marrom), de fatores que hoje são em grande parte ignorados, tais como os custos ambientais ligados ao uso de recursos naturais.

Exemplificando.No sistema de exploração madeireira praticado atualmente no Acre o preço da madeira é definido unicamente pelos custos de sua extração, transporte, beneficiamento,etc. A regeneração do recurso madeireiro, esperada com o possível crescimento de novas plantas em um horizonte temporal, é um ônus deixado a cargo da natureza. Eventuais necessidades de intervenção para acelerar ou remediar esse processo, via replantio de essências florestais ou outros tratamentos silviculturais, são quase sempre custeados pela sociedade, que disponibiliza fundos públicos subsidiados – via programas de créditos oficiais, doações de mudas, uso de maquinários público, etc. Esses investimentos conferem uma falsa aura de sustentabilidade à atividade e, ao final das contas, poderá garantir aos atores que monopolizam a atividade – os madeireiros – a perpetuação das suas fontes de matéria-prima sem que para isso eles tenham que investir um centavo de recursos próprios na regeneração da mesma.

Se a exploração madeireira no Acre incorpora práticas socialmente justas, só o faz por força da legislação trabalhista, que impõe aos empreendedores a garantia de condições mínimas de trabalho para aqueles que fazem a parte pesada do serviço.Da mesma forma, a adoção do manejo racional na exploração decorre mais da imposição legal – cujas licenças são expedidas por instituições públicas ligadas à fiscalização e controle – do que da livre adoção desse tipo de manejo por parte dos empresários.

Embutir no preço da madeira acreana o custo da manutenção da sustentabilidade de sua exploração parece ser a melhor solução, argumentariam alguns. Infelizmente a resposta ainda é ‘não’ porque existe um grave problema de mercado, do qual nós,os consumidores, temos grande parcela de culpa: a mania de sempre querer pagar o menor preço por qualquer produto sem observar o que está por trás do processo de formação desse preço. Por isso, a consciência social e ambiental é fator essencial para o sucesso das iniciativas verdes.

Vejamos o caso da Natex, a indústria de beneficiamento de látex instalada em Xapuri,única fornecedora do Ministério da Saúde cujos preservativos são elaborados a partir de látex extraído de florestas nativas. Ao optar por esse processo produtivo,a Natex não apenas criou mercado para o látex extraído de seringais nativos,mas também está valorizando a floresta de onde o látex é extraído, contribuindo para a sua conservação. Também está ajudando a preservar o modo de vida dos extrativistas envolvidos na atividade. Os benefícios são, portanto, econômicos, ecológicos e sociais. Um perfeito exemplo de iniciativa de economia verde que, infelizmente,só se sustenta pela decisão do Governo Federal que garante a compra de 100% da produção da Natex. Sem isso, a colocação dos preservativos da Natex no mercado seria quase impossível, pois nós, os consumidores, não estamos preparados para pagar alguns centavos a mais por um produto tão diferenciado.

Essa questão de consciência social e ambiental parece que só se resolve quando os prejuízos decorrentes de nossas próprias atitudes nos atingem. Só então nos dispomos ao sacrifício. Esse parece ser o caso da proibição do uso de sacolas plásticas na cidade de São Paulo. Quem diria que a população paulista reagiria de forma tão apática a uma decisão que vai trazer tantos transtornos ao seu dia a dia? Pois é, mas entre continuar a usar as sacolas e vê-las entupir sistemas de esgoto, de águas pluviais, rios e ruas da cidade, causando graves prejuízos econômicos para a coletividade, a racionalidade econômica falou mais alto.

E mesmo nos casos onde a atividade econômica recicla produtos plásticos com potencial de causar problemas como os citados para a cidade de São Paulo, não existe a garantia de sucesso mercadológico. É o caso da empresa acreana Plasacre, que produz telhas, mourões de cerca, cestas de lixo, caixas agrícolas e outros produtos usando como matéria-prima o plástico reciclado. Se os preços dos produtos dessa empresa não forem competitivos, os consumidores locais seguramente não irão adquiri-los. Diferenças de alguns centavos ou poucos reais poderão inviabilizar uma iniciativa que gera emprego, renda e tem potencial de contribuir para diminuir sensivelmente a poluição e a degradação ambiental em nosso Estado. O que falta para conscientizar nossos consumidores?

Além da barreira mercadológica e da necessidade de conscientização social e ambiental, a implementação da economia verde ainda é objeto de intensa disputa relacionada à sua definição e alcance.

Durante a Rio-92 se reconheceu que a crise ecológica mundial precisava ser resolvida por meio de caminhos equitativos e com parcerias, fato que resultou no princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” constantes na declaração resultante do encontro.Nesse contexto, a possível adoção da economia verde pelos países signatários da declaração tem resultado em várias interpretações.

Para alguns, a economia verde deveria ser adotada de maneira unidimensional, puramente ambiental, sem considerar as dimensões do desenvolvimento e da igualdade social. Para outros, ela poderia servir como justificativa para a imposição de condicionantes nos casos de assistência financeira, empréstimos e reescalonamento ou cancelamento da dívida externa de alguns países. Finalmente,a utilização de mecanismos mercadológicos para que empresas de países desenvolvidos compensem emissões de poluentes usando países pouco poluidores implicaria na manutenção de uma injusta divisão internacional do trabalho e da riqueza, perpetuando o hemisfério sul do planeta como fornecedor de serviços ambientais (além de matérias-primas e mão-de-obra barata), enquanto o hemisfério norte permaneceria dominante e consumista.

Alguns militantes ambientais mais radicais questionam a promoção da economia verde afirmando que na verdade ela seria a ponta de lança de um novo ciclo capitalista via transformação dos bens comuns – florestas, água, carbono - em mercadorias passíveis de apropriação, acumulação e especulação pelas grandes corporações multinacionais.

Para finalizar. Considerando que o debate sobre a definição de economia verde ainda vai se estender por alguns anos até que haja consenso entre os países e na situação atual de forte crise econômica, a disponibilização de capital necessário para dar o pontapé inicial em centenas de iniciativas verdes planeta afora está adiada sem prazo de retomada conhecido. Resta aos consumidores e formuladores de políticas públicas conscientes apoiar e lutar para que as poucas iniciativas existentes não feneçam.

21 junho 2012

ECONOMIA VERDE EM XEQUE

Pesquisadores debatem na Rio +20 o conceito e a viabilidade da compatibilização do crescimento econômico com o meio ambiente  

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP – “Economia verde” costuma ser usada para descrever a compatibilização do crescimento econômico com o meio ambiente, um dos blocos do crescimento sustentável. Segundo a Green Economy Initiative, iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançada em 2008, a economia verde resulta em melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, enquanto reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica.

Apesar de ser usada há mais de 20 anos, a expressão “economia verde” ainda é controversa, assim como seu próprio conceito. Enquanto para alguns é perfeitamente possível, para os mais críticos ela seria uma tentativa de viabilizar a sociedade de consumo e adiar mudanças estruturais.

Essa foi a tônica de um painel que reuniu cientistas de diversos países no Rio de Janeiro durante as discussões para a RIO+20. No encontro, os pesquisadores debateram as possibilidades de uma economia verde, se esse modelo requer uma mudança de paradigma nos padrões econômicos ou se é compatível com os mercados competitivos, com a mercantilização de recursos e com a expansão do consumo.

A economista Elizabeth Stanton, do Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo, Suécia, pontuou que é preciso analisar para quem os benefícios desse novo paradigma econômico seriam distribuídos. “A tendência é fazer os pobres ficarem mais ricos ou os ricos ainda mais ricos?”, questionou.

Tim Jackson, professor de desenvolvimento sustentável da Universidade de Surrey, na Inglaterra, e autor do livro Prosperity without growth (“Prosperidade sem crescimento”), defendeu uma mudança de valores,
com menos consumismo e individualismos.

“O crescimento econômico tem distribuído seus benefícios de maneira desigual. Longe de elevar o padrão de vida dos pobres, o crescimento piorou a situação de boa parte da população mundial. A riqueza favoreceu uma minoria”, disse.

“À medida que a economia se expande, crescem as implicações nos recursos naturais envolvidos, com impactos globais que já são insustentáveis. No último meio século, enquanto a economia global crescia, 60% dos ecossistemas mundiais foram degradados. Uma escassez de recursos naturais básicos – como o petróleo – pode estar a menos de uma década de nós”, afirmou Jackson.

“A economia verde é uma forma de negar evidências como a de que a concentração de dióxido de carbono está crescendo a 2 partes por milhão (ppm) ao ano”, disse o espanhol Joan Martinez Alier, da Universidade de Barcelona, à Agência FAPESP.

Segundo o economista catalão, a base do acordo deveria ser o hemisfério Norte global renunciar ao crescimento econômico em favor do crescimento do Sul.

“Creio que o Norte deveria ter economias sem crescimento e o Sul deveria reduzir suas extrações naturais para a metade e passar a exportar menos seus produtos. O que o Sul também poderia fazer era aumentar os impostos sobre a exportação. No caso brasileiro, por exemplo, quem pagaria por um possível acidente ecológico na extração do petróleo do fundo do mar, com o pré-sal?”, disse.

Para Alier, a proposta de sustentabilidade mundial baseada em ajudas financeiras multilaterais não é o caminho. “Emprestar dinheiro, como historicamente se tem feito, não é a saída, pois preservar o meio ambiente não é uma questão de milhões, mas sim de controlar a mudança climática e manter a biodiversidade”, disse.

“Em relação aos países do hemisfério Sul, há um pensamento de que eles são demasiados pobres para serem ecológicos. Mas do que morreram pessoas como Chico Mendes se não para defender a ecologia? Ecologia não é um luxo, é uma necessidade para todos”, afirmou Alier.

Recursos naturais

Lidia Brito, diretora da divisão de Políticas Científicas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), rejeita a expressão “economia verde”.

“Para ser honesta, na Unesco não falamos em economia verde. Falamos de sociedade verde. Penso que o ceticismo dos investigadores vem daí: a discussão não é sobre economia. O que temos certeza é que não é possível falar apenas de um dos blocos do desenvolvimento sustentável”, disse.

“A economia não pode ser discutida sem as questões sociais, culturais e ambientais. Elas estão interligadas e não podem ser tratadas de forma independente. Fico satisfeita com os cientistas brasileiros, que não querem falar apenas em economia. Temos que falar em sociedade verde, para destacar essa força de mudança”, disse Brito.

Na opinião de Ronaldo Seroa da Motta, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor de Economia Ambiental do Ibmec no Rio de Janeiro, não há outra saída a não ser tentar uma economia que seja restritiva no uso de recursos naturais.

“Sou a favor da precificação dos recursos naturais. Enquanto tivermos água barata, por exemplo, vamos consumir mais. Devemos nos preocupar com o produto líquido, quer dizer, o quanto que de capital natural perdemos para gerar uma determinada produção. Era isso que deveríamos estar medindo”, disse.

“Se aumentarmos o preço dos serviços ambientais, teremos uma perda de crescimento econômico em curto prazo, mas depois isso será revertido. Um exemplo: devido ao alto índice de desmatamento das florestas, o cerceamento à extração de madeiras fez com que passássemos a usar derivados de petróleo, e hoje vemos muitos produtos de plástico e quase nada de madeira. Mas se tivermos uma política agressiva na área ambiental, a primeira coisa a ser feita é reflorestar, opção mais barata e urgente”, afirmou.

Segundo Motta, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é preciso reflorestar 10% da superfície do planeta para capturar carbono. “Isso impulsionaria enormemente o setor produtivo da madeira, uma vez que vamos extrair madeira e mobilizá-la em artigos como móveis, para poder fazer a madeira crescer novamente e continuar capturando carbono”, disse.

“Então, daqui a 30 anos, por exemplo, o fato de colocarmos o preço do carbono alto e todo mundo ter que plantar para poder continuar a produzi-lo, implicará em crescimento econômico impulsionado pelo setor produtivo da madeira, mais competitivo, sem degradação do meio ambiente”, disse.

De acordo com Motta, a saída não é aumentar o preço do que não é sustentável por meio de impostos, mas sim incentivar iniciativas sustentáveis cujos produtos sejam mais baratos.   

(Foto: Pnuma)

12 junho 2012

O QUE ESPERAR DA RIO+20?


Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

O que esperar do encontro Rio+20, a conferência sobre desenvolvimento sustentável promovida pelas Nações Unidas no Rio de Janeiro que começa nesta quarta-feira, 13 de junho?

No que toca à cidade que irá abrigar o evento, as expectativas são as piores possíveis. Afora a violência típica do Rio, vemos na imprensa que parte do setor de serviço carioca que irá recepcionar os participantes – hotéis e transportes – resolveu aumentar subitamente os preços, deixando claro que pretende tirar o máximo de vantagem possível com a realização do evento na cidade. Se a reunião das Nações Unidas tem apelo público limitado e irá durar apenas 10 dias, imaginem o que poderá acontecer durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

No que toca aos resultados práticos do evento, o próprio nome, Rio+20, reflete o desejo dos líderes mundiais de se esquivar de decisões sócio-ambientais mais ousadas, pois ele remete primordialmente a uma avaliação do que aconteceu ao planeta nas duas décadas desde a realização de outra reunião promovida no Rio pelas Nações Unidas, a Rio 92 ou Eco 92.  

A Rio 92 reuniu mais de uma centena de chefes de Estado, incluindo os das nações mais poderosas do planeta, e tinha como objetivo conciliar o desenvolvimento sócio-econômico com a conservação e a proteção dos ecossistemas do planeta. A Rio+20 também vai reunir mais de uma centena de chefes de Estado, mas os representantes da China, Estados Unidos e Russia, que além de grandes potencias econômicas, são também os maiores poluidores mundiais, já disseram que não estarão presentes à mesma. Para evitar um fiasco maior, o governo brasileiro está enviando aeronaves da FAB para recolher dirigentes de países do Caribe e da África. Sem essa carona, a maioria deles não iria participar da reunião.

Mas o que está por trás da ausência na Rio+20 de alguns líderes dos países mais ricos do planeta? Vale a pena examinar o passado para buscar uma possível resposta.

Além de ter sido o palco que consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável, a Rio 92 deixou claro para o mundo que a maior parte dos danos ambientais causados ao planeta era de responsabilidade dos países desenvolvidos. Como compensação, negociações diplomáticas ocorridas durante a reunião se encarregaram de convencer esses países a ajudar financeiramente o desenvolvimento sustentável dos países mais pobres.

A Amazônia brasileira foi uma das beneficiárias dessa decisão. O Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), uma iniciativa do governo e da sociedade brasileira para desenvolver estratégias inovadoras de proteção e uso sustentável da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica, foi financiado pelos sete países mais ricos do mundo na década de 90, a Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, França, Japão, Itália e Canadá.

Entre 1992 e 2009 o PPG-7 investiu mais de 460 milhões de dólares em projetos de uso sustentável dos recursos naturais e proteção da biodiversidade. Na Amazônia foram protegidos milhões de hectares de florestas na forma de reservas extrativistas e de terras indígenas, e criados ou consolidados os sistemas estaduais de monitoramento e fiscalização ambiental.

Durante a Rio 92 os países desenvolvidos foram convencidos a aceitar não apenas sua responsabilidade pelos problemas que seu progresso e consumo exagerado de recursos naturais e energia causavam ao planeta, mas também que os países em desenvolvimento pudessem consumir e poluir um pouco além do aceitável até atingir um patamar mínimo de desenvolvimento.

 

E foi nesse clima de aparente cordialidade que tanto a Convenção de Mudanças Climáticas como a Agenda 21, ambas decorrentes das negociações realizadas durante a Rio 92, foram ratificadas pela maioria dos países presentes à reunião. No calor das celebrações, poucos notaram que estes dois acordos eram, na verdade, apenas um conjunto de propostas e compromissos. Implementava ou cumpria quem queria. Não haveria cobranças formais.

 

Tudo começou a mudar durante a realização da conferência de Kyoto, Japão, em 1997. Durante esta conferência a maioria dos países participantes concordou em estabelecer metas para a redução da emissão de gases poluentes que intensificam o efeito estufa e tem o potencial de causar mudanças climáticas. Entretanto, um grave impasse foi criado com a recusa dos Estados Unidos, que à época era o maior emissor de gases do planeta, de ratificar o tratado resultante do encontro com a alegação de que a redução das emissões poderia prejudicar o avanço de sua economia.

 

As lições do impasse do protocolo de Kyoto certamente levaram muitos líderes políticos em países desenvolvidos a concluir que, passados 20 anos da Rio 92, apoiar as causas ambientais planetárias tem um alto custo financeiro, em algumas situações, e político em outras. Por isso, a cautela e o conservadorismo deverão, com toda a certeza, ser importantes ingredientes durante as reuniões, debates e votações da Rio+20.

 

Infelizmente a crise ambiental planetária não combina com o conservadorismo e a cautela a ser adotada pelos diplomatas. É preciso agilidade e coragem para encaminhar ou decidir as muitas questões que estarão em jogo durante a Rio+20. O protocolo de Kyoto expira em 2012, existe uma premente necessidade da criação de um limite máximo para o comércio dos créditos de carbono, bem como a aplicação de metas de redução de emissões de gases dos países considerados em desenvolvimento. Para tornar a situação mais complexa, o ranking dos países mais ricos – sob a ótica do produto interno bruto – mudou desde a Rio 92. Alguns países considerados pobres estão menos pobres, alguns que eram considerados em desenvolvimento agora são considerados desenvolvidos e, na atual crise econômica que assola o planeta, alguns países considerados desenvolvidos estão na iminência de serem rebaixados.

 

Assim, sob um cenário econômico mundial incerto, desacordos e, em muitos casos, impossibilidades de alguns países de aceitar imposições que comprometam o crescimento de suas economias, não é possível esperar que a reunião tenha resultados e impactos de maior monta. Deixando de lado a frustração antecipada, fica apenas a expectativa das propostas e compromissos que serão assumidos pelos países participantes. 

04 junho 2012

ESTUDO INDICA ALTA QUALIDADE DA CASTANHA-DO-BRASIL INDUSTRIALIZADA NO ACRE

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

A coleta de castanha-do-brasil é um dos mais importantes recursos econômicos da Amazônia e ocupa lugar destacado no extrativismo regional. No Acre ela envolve cerca de 4.400 famílias e o desenvolvimento da atividade tem se revelado como uma das mais eficientes estratégias para a conservação das florestas locais.

Em 2011 a produção acreana foi de aproximadamente 11 mil toneladas ou 37% da produção brasileira, fazendo do estado o maior produtor nacional. Em 2011 uma lata de castanha, equivalente a 11 kg, foi comercializada por preços que variaram entre R$ 11 e R$ 22. Em 2012 a expectativa é de que o preço máximo chegue a R$ 30.

As três usinas de beneficiamento de castanha existentes no Acre, localizadas em Brasiléia, Sena Madureira e Xapuri ainda não conseguem adquirir e beneficiar toda a produção de castanha coletada no estado, fazendo com que muitos extrativistas acreanos vendam castanha não beneficiada para outros estados e países vizinhos.

Apesar de sua importância sócio-econômica e ambiental, o modo de produção extrativista da castanha a torna suscetível, ao longo de sua cadeia produtiva, a diversos tipos de contaminações por fungos produtores de micotoxinas, como as aflatoxinas. A exposição humana a micotoxinas está epidemiologicamente associada à alta incidência de câncer hepático, sobretudo em países tropicais.

A contaminação por fungos produtores de aflatoxinas é considerada elevada nas usinas de beneficiamento de castanha, mesmo que o descascamento e a seleção visual para a retirada das castanhas possivelmente contaminadas, dentre outros procedimentos, possam reduzir o nível de contaminação.

Diante desse contexto, um estudo realizado sob a liderança da pesquisadora Virgínia de Souza Álvares, da Embrapa Acre, avaliou a qualidade de três marcas de castanha-do-brasil beneficiadas e comercializadas no mercado de Rio Branco. O estudo foi publicado na edição de junho de 2012 da revista Acta Amazônica.

Os resultados da pesquisa indicaram que o teor de umidade das castanhas analisadas foi aceitável e variou de 2,00% a 3,12%, indicando que as amostras eram estáveis sob o ponto de vista microbiológico, ou seja, com baixa quantidade de água disponível para a proliferação dos microrganismos. Segundo os autores, as amostras com menores índices de umidades foram aquelas embaladas a vácuo em sacos aluminizados.

As amostras apresentaram baixos valores de contaminação por fungos, provavelmente resultado do processo de autoclavagem que as castanhas são submetidas durante a industrialização. Um estudo anterior encontrou índices de contaminação três vezes superior em amostras de castanhas in natura colhidas na floresta e em um armazém comunitário de uma associação extrativista de Brasiléia, fato que ressalta os riscos do consumo de castanhas in natura adquiridas em mercados e feiras livres da cidade.

A contaminação por aflatoxinas se mostrou dentro dos limites máximos tolerados pelas normas da ANVISA. Entretanto, embora as amostras de castanhas embaladas à vácuo em sacos aluminizados não apresentassem fungos potencialmente produtores de aflatoxina, elas estavam contaminadas por esta toxina. Este resultado ressalta a importância da observação de estritas práticas higiênicas na manipulação das amêndoas durante o beneficiamento.

Os autores concluem o estudo afirmando que a baixa contaminação de aflatoxina observada nas amostras analisadas pode ser consequência da grande divulgação, entre os extrativistas e beneficiadores de castanha acreanos, do uso de boas práticas no manejo da castanha, desde a coleta na floresta, até a manipulação das amêndoas nas indústrias.

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O artigo “Qualidade da castanha-do-brasil do comércio de Rio Branco, Acre”, de autoria de Virgínia de Souza Álvares, Izabela Miranda de Castro, David Aquino da Costa, Angélica Costa de Lima e Ailson Luiz Sudan Madruga foi publicado na revista Acta Amazônica, vol. 42, nº2, de junho de 2012. Clique aqui para ler a íntegra do artigo.

Crédito da imagem: site Contilnet