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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

28 junho 2010

ESTRESSE INTERFERE NA RESPOSTA DO JOGADOR AO COBRAR UM PÊNALTI

O estresse interfere diretamente no desempenho dos jogadores de futebol. De acordo com uma pesquisa realizada no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em situações como cobrança de pênalti o estresse afeta consideravelmente a resposta motora.

Por Felipe Maeda Camargo
Agência USP de Notícias

Em sua tese de doutorado defendido no ICB, o pesquisador Nelson Toshiyiki Miyamoto pediu para voluntários executarem uma tarefa que simulava em computador alguns aspectos das cobranças de pênalti do futebol. Os testes foram separados em duas situações: voluntários sozinhos e sob pressão de torcida. Nesta última condição, os voluntários não ultrapassaram 80% de aproveitamento, mesmo o goleiro dando pistas de que iria pular para um dos lados e o cobrador tendo tempo para escolher o lado para o qual chutar.

O pesquisador comenta que nessa situação o jogador passa por muito estresse, atrapalhando não somente a sua concentração, como também a reposta do corpo para o momento decisivo. “Na situação com estresse, o jogador acaba pensando nas consequências de um erro. Inconscientemente, faz uma programação motora inadequada. Na hora de executar, acaba chutando de uma forma errada.”

Outra reação que pode ocorrer nas cobranças de pênalti é a tentativa de mudar o lado do chute quando próximo do contato com a bola. Porém, isto só é possível antes de atingir o chamado ponto de não retorno, conforme explica Miyamoto:”O ponto de não retorno é o momento a partir do qual o cobrador do pênalti não consegue mais modificar a programação motora. O cérebro disparou a programação que vai executar e o jogador não consegue mais mudar a direção do chute”.

O pesquisador destaca também que o resultado final dos testes coincidiu com a média de erros em cobrança de pênalti de campeonatos oficiais ao redor do mundo, que está entre 25 e 30%.

Testes

Os testes em computador visaram simular principalmente os efeitos do estresse no controle motor. Para isso, 21 voluntários passaram por uma bateria de testes com o simulador. Nele, a pessoa via um gol, um ponto representando o goleiro, no centro um ponto que representava a bola e abaixo um terceiro ponto que se deslocava em direção a bola e representava o cobrador do pênalti.

Os participantes deveriam inclinar uma alavanca para direita ou para esquerda no exato momento da sobreposição do jogador e a bola. Nesse meio tempo, o goleiro controlado pelo computador poderia se mover para esquerda, para direita ou ainda ficar parado antes do chute acontecer. Assim, o objetivo era que o voluntário movimentasse a alavanca para o lado oposto ao goleiro.

A movimentação do goleiro acontecia em nove momentos aleatoriamente escolhido pelo computador. Estes tempos variavam de 51 a 459 milissegundos (ms).

Em uma etapa, os participantes passavam por estes testes em laboratório, sem influência externa. Em uma segunda etapa, eles faziam os mesmos testes, mas com a pressão de mais de 70 alunos dos cursos de Educação Física e Esporte da USP que simulavam uma torcida durante um jogo de futebol.

No laboratório, os voluntários chegavam a quase 100% de aproveitamento nos momentos mais próximos de 459 ms, contra no máximo 80% sobre a pressão da torcida.

Treino

O pesquisador acredita que o estresse poderia ter menos influencia no jogador se ele treinasse mais cobranças de pênalti. Segundo ele, com treinamento adequado os jogadores conseguiriam reagir melhor ao estresse e conseguiriam resultados melhores.

“O que seria o ideal? Seria o jogador treinar para não pensar na hora de executar a cobrança, fazendo-a automaticamente. Ele não deveria mudar aquilo que está treinando ou do que ele programou para fazer. Porque, se ele tentar mudar em cima da hora, provavelmente as chance dele errar é maior”, comenta.

Miyamoto acredita que o resultado final de mais treinamento de cobranças de pênalti seria um melhor aproveitamento. Porém, ele não observa essa preocupação no futebol: “Infelizmente, ainda há muitos técnicos e atletas que acham que pênalti é loteria. Então qual que é a teoria? Se é sorte não adianta treinar”.

22 junho 2010

EMBRIAGUEZ PRECOCE

Pesquisadores da Unifesp divulgam levantamento inédito sobre o consumo de drogas entre estudantes de escolas privadas paulistanas. Segundo o estudo, álcool traz o maior risco e ações devem focar drogas lícitas

Embriaguez precoce

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram, nesta segunda-feira (7/6), um levantamento inédito sobre o consumo de drogas entre estudantes de escolas privadas paulistanas.

O estudo – que contou com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxilio à Pesquisa Regular – teve a participação de 5.226 alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental e dos três anos do ensino médio, em 37 escolas.

De todas as drogas o álcool se mostrou, de longe, a mais usada: 40% dos estudantes haviam bebido no mês anterior à pesquisa, enquanto 10% haviam consumido tabaco, a segunda droga mais prevalente. O álcool é também a droga que começa a ser consumida mais cedo, com média de idade de 12,5 anos. O primeiro consumo de álcool ocorreu em casa para a maior parte dos entrevistados: 46%.

Segundo a coordenadora do estudo, Ana Regina Noto, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Unifesp, um dos dados que mais chamaram a atenção no levantamento é que, no ensino médio, 33% dos alunos consumiram álcool no padrão conhecido como binge drinking – ou “beber pesado episódico” – no mês anterior à pesquisa.

O comportamento binge se caracteriza pelo consumo, na mesma ocasião, de cinco ou mais doses de 14 gramas de etanol – valor correspondente a cinco latas de cerveja (ou copos de vinho ou doses de bebida destilada).

“O estudo revelou padrões de consumo que merecem atenção entre os estudantes da rede particular, em especial em relação ao álcool. Um terço dos alunos do ensino médio relatou prática de binge drinking no mês anterior ao estudo, o que é uma porcentagem extremamente elevada. Esse comportamento traz alto risco, pois o adolescente embriagado fica em situação de vulnerabilidade em vários aspectos da vida, favorecendo brigas, acidentes de trânsito e sexo desprotegido, por exemplo”, disse Ana Regina à Agência FAPESP.

De acordo com a pesquisadora, o estudo indica que ações preventivas contra drogas em ambiente escolar devem ser iniciadas em idades precoces, com ênfase em drogas lícitas como o álcool e o tabaco. E, no ensino médio, o padrão binge de consumo deve ter atenção especial.

“Muitas vezes as campanhas preventivas são focadas em drogas como maconha e cocaína. Mas essas são consumidas em faixas etárias mais altas e contextos sociais diferentes. O estudo mostrou que cerca de 80% dos estudantes do ensino fundamental e 70% do ensino médio nunca usaram qualquer droga exceto álcool e tabaco”, disse Ana Regina.

Mesmo entre os adolescentes que utilizaram outras drogas, nada se aproximou do padrão de consumo caracterizado pelo comportamento binge relacionado ao álcool. “Se há uma droga que representa risco para o adolescente é, sem dúvida, o álcool e esse comportamento de se embriagar”, afirmou.

O estudo também identificou fatores de risco e de proteção ligados ao consumo das drogas. No caso do comportamento binge, os principais fatores de risco foram faixa etária mais elevada, maior poder aquisitivo, maior número de saídas noturnas e presença de modelos em casa.

A idade média de início de uso das substâncias psicoativas ficou em 12,5 anos para o álcool, 13,5 anos para o tabaco e para calmantes, 14 anos para inalantes e 14,5 anos para maconha, cocaína e estimulantes tipo anfetamina (ETA).

O Cebrid, fundado em 1978, realiza desde a década de 1980 levantamentos epidemiológicos sobre o consumo de drogas entre estudantes da rede pública, mas, até agora, havia uma lacuna do conhecimento em relação à rede privada. O estudo atual também é o primeiro a considerar o binge drinking e a envolver os fatores de risco.

“Os resultados mostram que a proporção de estudantes que relatou já ter consumido substâncias psicoativas é semelhante à registrada em estudos anteriores com alunos da rede pública de ensino, mas alguns padrões de consumo apresentaram diferenças. A frequência de consumo de álcool foi maior nas escolas públicas. Mas nas particulares, em compensação, quando os estudantes bebem estão mais sujeitos ao exagero”, disse Ana Regina.

O estudo indicou que o comportamento binge drinking no mês anterior à pesquisa estava mais presente entre os meninos (26,8%), mas também foi elevado entre as meninas (21,7%). Cerca de 7,3% dos meninos e 5,4% das meninas relataram ter bebido no padrão binge de três a cinco vezes no último mês. “Isso sugere que a prática é comum entre adolescentes”, disse Ana Regina.

Vários fatores se mostraram associados à prática de binge drinking no mês que antecedeu a pesquisa, segundo o estudo. Entre alunos do ensino médio, por exemplo, morar com alguém que se embriaga aumentou duas vezes a chance de ocorrência desse comportamento. Sair à noite uma vez por semana aumentou as chances em 9,5 vezes. Sair à noite todos os dias aumentou as chances de comportamento binge em 20 vezes.

“Isso não quer dizer que se deva prender o adolescente em casa. Mas devemos dar atenção à negociação de limites e aos exemplos familiares. Esses fatores de risco não são causais, apenas indicam uma correlação. O adolescente que arrisca no consumo de drogas também se arrisca em outros aspectos da vida. As ações preventivas não devem focar apenas nas substâncias, mas o desenvolvimento do adolescente em relação a comportamentos agressivos, hiperatividade e dificuldades de aprendizado, por exemplo”, afirmou a pesquisadora do Cebrid.

Outros fatores de risco para o comportamento binge, segundo a pesquisa, foram o sexo (o risco aumenta em 70% entre os meninos), idade (50% para cada ano a mais), pais separados (30% mais risco), não confiar em Deus (40%) e não conversar com os pais (60%). A condição socioeconômica também influencia: o risco é duas vezes maior entre os alunos das escolas com mensalidade acima de R$ 1,2 mil.

“Apesar de a condição socioeconômica ter sido um fator de risco em relação ao binge drinking, é impressionante a semelhança entre os padrões de consumo e os tipos de drogas presentes nas escolas privadas e públicas. Notamos grandes diferenças com resultados de outros países, mas os estudos feitos aqui sugerem que há uma cultura brasileira de consumo de drogas bastante bem definida”, disse.

Maconha e cocaína

Segundo o estudo, o primeiro consumo de álcool ocorreu principalmente na casa do adolescente (46%), na casa de amigos (26%) e em casas noturnas (15%). A bebida foi oferecida pela primeira vez por familiares (46%) ou amigos (28%). Apenas uma parcela de 21% respondeu “peguei sozinho”. Os meninos deram preferência à cerveja e as meninas às bebidas tipo “ice”, batidas, caipirinha e vinho.

O tabaco, assim como o álcool, esteve mais associado a alunos do ensino médio: 33% dos alunos experimentaram alguma vez na vida, contra 14,8% do ensino fundamental. Os fumantes regulares (que consomem tabaco mais de 19 dias no mês) correspondem a cerca de 4% dos estudantes do ensino médio e menos de 1% do ensino fundamental. Meninos e meninas fumam em quantidade e frequência semelhantes.

O consumo de inalantes apresentou diferença considerável de gênero: 16,2% dos meninos e 11% das meninas experimentaram alguma vez na vida. O padrão de consumo mais comum foi de um a cinco dias por mês. No ensino fundamental, os tipos de inalantes preferidos foram o esmalte e acetona (41,7%) e gasolina (38,4%). Já entre os estudantes do ensino médio, os mais comuns foram os inalantes ilegais: “lança” e “loló” (71,9%).

“O estudo indica diferenças de gênero e escolaridade em relação ao consumo de maconha. Cerca de 5% dos meninos fumaram a droga no mês anterior à pesquisa, contra 2,5% das meninas. A maior prevalência do uso de maconha esteve entre os estudantes do ensino médio: 16% já utilizaram alguma vez na vida, contra 3,8% do ensino fundamental”, disse Ana Regina Noto.

Cerca de 3,2% dos meninos experimentaram cocaína pelo menos uma vez na vida. Segundo o estudo, a droga parece ser mais comum entre os meninos, mas o número de observações é baixo demais para garantir a validade dos dados.

O consumo de calmantes e anfetaminas, por outro lado, foi mais comum entre as meninas: 7,5% utilizaram calmantes alguma vez na vida, contra 3,2% dos meninos. No ano anterior à pesquisa, essas substâncias foram usadas sem prescrição médica por 5% das meninas e 2,5% dos meninos. O uso de calmantes esteve associado à família. Na primeira ocasião de consumo, a droga foi geralmente oferecida por algum familiar (50%). “Peguei em casa” foi a resposta de outros 38%.

Os adolescentes afirmaram ainda ter utilizado, pelo menos uma vez na vida, drogas como o ecstasy (4,3% dos meninos e 1,7% das meninas), benflogin (2%), anabolizantes (2,5% entre os meninos e 0,2% entre as meninas) e LSD ou chá de cogumelo (2% dos meninos e 1% das meninas).

O consumo “pelo menos uma vez na vida” – que segundo os pesquisadores não caracteriza o adolescente como usuário da droga – foi de 80% para o álcool, 24,6% para o tabaco, 13,6% para inalantes, 10,7% para maconha, 5,3% para calmantes, 3,6% para ETA e 2,2% para cocaína.

21 junho 2010

JORNALISMO BRASILEIRO:

"Xingou o técnico, é jornalismo; xingou os jornalistas, é crime contra a liberdade de imprensa. CALA BOCA TADEU SCHMIDT"

PROTESTOS DE OPERÁRIOS NAS BARRAGENS DE SANTO ANTONIO E JIRAU

Porto Velho/RO, 17 de junho de 2010

Prezados (as) companheiros (as), deputados (as) e senadores (as), entidades parceiras, sindicatos e representantes de setores da Igreja

Neste dia em que presenciamos a revolta e o protesto dos operários e trabalhadores do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio frente às péssimas condições de vida e de trabalho, vimos através desta, fazer uma grave denúncia e alerta sobre a situação instalada na Usina Hidrelétrica de Jirau.

Em função de nossa luta por direitos e por um projeto energético popular, somos cada vez mais vítimas de grandes empresas transnacionais, tais como a Suez e a Odebrecht, instaladas na região. Temos o entendimento de que estas e outras empresas farão de tudo para continuar o processo de exploração em curso na Amazônia e agirão de forma cada vez mais violenta contra nós que, de forma legítima, reagimos como defensores dos direitos humanos, da natureza e da vida.

Sendo assim, o processo de criminalização dos movimentos sociais e suas lideranças tem se intensificado e neste momento, em especial na hidrelétrica de Jirau, nos deixa mais uma vez em alerta, pois:

- Considerando que desde o início da instalação das usinas no Madeira nós, atingidos organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), estivemos permanentemente mobilizados, denunciando a nossa situação, resistindo aos despejos e lutando pelos nossos direitos, mesmo sofrendo perseguições, ameaças e intimidações individuais e coletivas;

- Considerando que com os atingidos pela barragem de Santo Antônio iniciou-se um processo de negociação com avanços para garantia dos direitos, por outro lado, a situação dos atingidos pela barragem de Jirau é lamentável e as empresas do consórcio (GDF Suez, Camargo Correa, Eletrosul e Chesf) se negam a negociar nossos direitos;

- Considerando que no dia 18 de maio, o deputado federal Moreira Mendes (PPS-RO) declarou na tribuna da Câmara Federal que, com base em informações sigilosas, um grupo composto por índios Caxararis, garimpeiros, comunidades dos distritos de Nova Mutum e Extrema, sob a coordenação do MAB, estaria preparando uma invasão ao canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Jirau para o dia 21 de maio e planejando ataques e atos que colocariam em risco os operários;

- Considerando a falsa acusação do deputado (e de seus mandantes) de que grupo encabeçado pelo MAB teria mapeado os pontos estratégicos da obra - como o paiol de explosivos utilizados para dinamitar as rochas, a planta de combustível e as centrais de refrigeração, que estas acusações foram divulgadas em meios de comunicação da região e também dentro do canteiro de obras da usina, causando enorme repercussão junto aos operários;

- Considerando que este plano pode estar sendo proposto e coordenado pelas próprias empresas para colocar os operários contra os atingidos, pois existem fortes indícios para tal suposição;

- Que alguns meios de comunicação da região denunciaram a presença de um ex-coronel do exército em Porto Velho, contratado e a serviço do Consórcio dono de Jirau para fazer a segurança do canteiro de obras, apresentando-se como escritor, jornalista e até interlocutor das comunidades, a fim de recolher informações sobre as principais lideranças do movimento, dos operários e contestadores da barragem;

- Considerando que este coronel chama-se Gélio Fregapani, sempre esteve ligado aos assuntos estratégicos da Amazônia e suas implicações militares, políticas e econômicas, integrou o corpo de direção da ABIN e, em Roraima, atuou como mentor das estratégias de ataque às aldeias da Raposa Serra do Sol e atentado à Polícia Federal, orientando para colocação de explosivos na estrada de acesso à terra indígena.

Se os indícios denunciados por alguns meios de comunicação forem verdadeiros, não nos surpreenderá se estes indivíduos contratados pelas empresas promoverem ataques ou sabotagens contra os operários e atingidos, para jogar uns contra os outros ou criminalizar nossas organizações e sindicatos. Portanto, alertamos que qualquer coisa que ocorrer contra os atingidos ou os trabalhadores e operários que estão construindo a hidrelétrica de Jirau será de responsabilidade das empresas donas da barragem.

Sendo assim, reforçamos que o MAB é um movimento organizado, que luta em defesa das populações atingidas e que jamais fez planos de ataque ao canteiro de obras das usinas do Madeira. Ao contrario, somos cotidianamente atacados e vítimas de uma política de tratamento do setor elétrico que expulsa milhares de famílias e nega nossos direitos.

Frente a isso, afirmamos:

- Que as acusações do deputado Moreira Mendes são mentirosas e fazem parte de um plano de ações das próprias empresas na tentativa de negação dos direitos e isolamento do Movimento;

- Que o uso da espionagem e criminalização tem sido prática cada vez mais usada pelas empresas transnacionais contra os atingidos e os trabalhadores em geral;

- Que a presença de espiões, em serviço de inteligência, não nos intimidará e que não daremos nenhum passo atrás na nossa luta;

- Que a luta dos atingidos é justa e continuaremos nossa mobilização pelos direitos dos atingidos fazendo assembléias e reuniões com as comunidades, organizando o povo e lutando pela construção de um projeto energético popular,

- Que apoiamos incondicionalmente os trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, mobilizados desde a madrugada de hoje.

E por fim, contamos com a solidariedade de todos e todas para repudiar esta política de tratamento das empresas, que usa a criminalização para negar nossos direitos.

Sem mais,

Coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens

PODE ATÉ NÃO SER VERDADE...MAS SE FOR...O DUNGA É MACHO MESMO!!!

DUNGA - MESMO SE PERDER DE GOLEADA JÁ É UM VENCEDOR !!!

João Ignácio Muller - JIM
Editor do Blog 'Botafogo em Debate'

O Jornal O Globo em sua primeira página da edição de hoje, quarta feira 16 de junho de 2010, desce a lenha na seleção e principalmente no seu treinador.

Qual a razão dessa súbita mudança de comportamento ?

Vamos aos fatos :

Segunda feira, véspera do jogo de estréia da seleção brasileira contra a Coréia do Norte, por volta de 11 horas da manhã, hora local na África do Sul.

Eis que de repente, aportam na entrada da concentração do Brasil, dona Fátima Bernardes, toda-poderosa Primeira Dama do jornalismo televisivo, acompanhada do repórter Tino Marcos e mais uma equipe completa de filmagem, iluminação etc.

Indagada pelo chefe de segurança do que se tratava, a dominadora esposa do chefão William Bonner sentenciou :

“ Estamos aqui para fazer uma REPORTAGEM EXCLUSIVA para a TV Globo, com o treinador e alguns jogadores...”

Comunicado do fato, o técnico Dunga, PESSOALMENTE dirigiu-se ao portão e após ouvir da sra. Fátima o mesmo blá-blá-blá, foi incisivo, curto e grosso, como convém a uma pessoa da sua formação.

“ Me desculpe, minha senhora, mas aqui não tem essa de “REPORTAGEM EXCLUSIVA” para a rede Globo. Ou a gente fala pra todas as emissoras de TV ou não fala pra nenhuma...”

Brilhante !!! Pela vez primeira em mais de 40 anos, um brasileiro peitava publicamente a Vênus Platinada !!!

“ Mas... prosseguiu dona Fátima - esse acordo foi feito ontem entre o Renato ( Maurício Prado, chefe de redação de Esportes de O Globo ) e o Presidente Ricardo Teixeira. Tenho autorização para realizar a matéria”.

- “ Não tem autorização nem meia autorização, aqui nesse espaço eu é que resolvo o que é melhor para a minha equipe. E com licença que eu tenho mais o que fazer. E pode mandar dizer pro Ricardo ( Teixeira ) que se ele quer insistir com isso, eu entrego o cargo agora mesmo!”

O treinador então virou as costas para a supra sumo do pedantismo e saiu sem ao menos se despedir.

Dunga pode até perder a classificação, a Copa , seu time pode até tomar uma goleada,
mas sua atitude passa à história como um exemplo de coragem e independência.

Dunga, simplesmente, mijou na Vênus Platinada ! Uma estátua para ele !!!

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Comentários dos leitores:

Samoano escreveu:

Grande Jim, a fonte que te passou a informaçao é confiável ou foi algo aberto?? Se isso aconteceu nesses termos eu prevejo um futuro nebuloso para o Dunga, pois todos sabem o que significa peitar o chefe da máfia e a rede alienante de televisao!!! Mas o comportamento dele foi irretocável!! Ganhou minha admiraçao pela coragem demonstrada.

Agora existe um problema maior na reclusao ( correta na minha opiniao) da selecao na Africa do sul. Andei lendo que os patrocinadores da selecao estao furiosos pela ausencia de exposicao das marcas. O que acho ótimo tambem, ja que o cappo Ric Tex conseguiu costurar um acordo de premio irrisório pelo título mundial a ser pago aos jogadores. E so há premio em caso de título!!!!!!!!! ou seja, o cappo so entra pra ganhar! Sao valores em torno de 200 milhoes de patrocinio na CBF e caso a selecao vença a copa o premio nao chega nem a 5% disso somada toda a equipe....
....................................................................
Jim responde:

Prezado Samoano

A fonte é sim, altamente confiável. Ainda mais quando vem de dentro da própria toca do urso... Por outro lado, notícias mais recentes, de ontem à noite, dão conta que a coisa azedou de tal forma que, ao que se comenta, haverá uma reunião hoje à tarde, envolvendo o "Capo", o técnico Dunga e alta administração da rede Globo.

Não sei se o treinador resistirá a mais esse "Tsunami moral", mas qualquer que seja o resultado final, a mijada que deu na Vênus Platinada, já terá valido o ingresso !

Um abraço

JIM

O DESESPERO DA GLOBO NA COPA 2010

Sem poder entrar livremente na concentração, fazer exclusivas com técnicos e jogadores, ter seu principal locutar como alvo de galhofas no mundo inteiro...emissora declara guerra ao treinador da seleção



Para dar mais pressão, o jornal O Globo publicou matéria em sua página na internete afirmando que o Dunga deu exibição de descontrole durante a coletiva pós-jogo. A reação dos leitores do jornal foi, em grande parte, de apoio ao treinador.

Claro que muitos criticaram a falta de educação do treinador com razão, mas quem não reagiria às críticas destemperadas de parte da imprensa? Se o treinador fosse um perdedor...mas desde que assumiu a seleção ganhou a Copa América, a Copa das Confederações, classificou o Brasil sem maiores dificuldades...o que querem esses jornalistas da Globo? Ter direito a um apartamento no alojamento da seleção?

Leiam abaixo algumas das reações dos leitores de O Globo sobre o embate Dunga x Rede Globo (sugiro ler as notas diretamente na matéria para ter acesso aos nomes dos autores das opiniões).

- É importante também lembrar que no último mundial pecamos pela falta de comando, a França está ai para demonstrar como quando um técnico demonstra fraqueza o grupo fica completamente exposto e ai sim o controle é perdido. Todos, jogadores, comissão técnica, dirigentes e imprensa devem manter-se unidos.

- Querem que volte aquela bagunça de 2006.. mas não conseguirão.. Trator neles Dunga!!

- VIVA DUNGA! Esse isolamento protege os jogadores das pressões externas, das cobranças... E ainda os deixa concentrados no que interessa: o desempenho, a coletividade! Há tempos não vejo uma seleção tão unida...

- ISSO MESMO DUNGA! Estão com raiva porque gastam e muito para manter as equipes por lá! É por causa de $$ que estão a reclamar tanto!

- Prefiro um técnico mal educado e cabeça dura, que põe ordem na casa, do que um boca mole do Parreria que faz tudo que a Globo quer (e outros veículos de notícias também), e faz de nosssa copa de 2006 um show de vergonha........Prefiro um grosso hexa do que um amiguinho dda imprensa eliminado.

- Talvez não de forma tão veemente, mas a imprensa acha que pode fazer o que quiser, falar o que quiser... então, ouçam o que não querem. E quem defende a imprensa, lembre-se que o problema não é com toda a imprensa e sim com alguns em específicos.

- O Brasil inteiro ficou sabendo que com a chegada do Dunga para comandar a Seleção Brasileira, acabaria os previlégios de muita gente. Esses agora estão dando o troco. Não deixam o cara trabalhar em paz. Esta é a pura realidade. Só não Ver quem não quer. Da-le Dunga!!!!!

- O Dunga merece nosso respeito e parte da imprensa não está respeitando o Dunga e só sabe criticá-lo pq não levou esse ou aquele jogador ou pq quer privilégios e exclusivas.

- O quarto poder está desesperado com o técnico da seleção. É engraçado ver os repórteres nessa perseguição e tentativa de "domar" o Dunga.

- Pelo fato do Dunga não puxar o saco da Globo eles logo querem jogar o povo contra o Dunga.

- A mídia quer que o técnico faça o que ela determina, só que o cara é um grosso e não faz o que, especialmente, a Globo quer.

- Os jornalistas, notadamente os da Globo, deveriam deixar o Dunga trabalhar em paz. Até parecem que torcem contra a Seleção. Vivem cornetando o treinador em qualquer oportunidade que aparece.

No Estadão, que também reportou os xingamentos de Dunga com um repórter da Globo, alguns leitores também miram na emissora carioca:

- Bem, a Globo está muito insatisfeita com o Dunga sim. Ela está sem os privilégios das copas anteriores e principalmente da última de 2006, quando transformou a concentração do Brasil em circo pro "fantochico". Ficam malhando o Kaká por ser evangélico, a não escalação das focas amestradas dos Santos, do Ativista para causas não muito justificas junto a polícia, o Adriano. Fora os que são comentaristas e dão opiniões em arbitragens em jogos, todos causadores de polêmicas que beneficiaram do tipo "apito amigo" para clubes queridos pela empresa global. Valeu Dunga, pau neles.

PONTO PARA O DUNGA*

Flavio Gomes
Editor do Blog da Copa

Uma coisa há que se dizer, em favor de Dunga. O sargentão fechou a seleção para a imprensa sem exceções. E a Globo, que sempre foi dona do time, de seus jogadores, da comissão técnica e de todas suas almas, está tendo de aprender a viver sem a promiscuidade de outras eras. Dá até dó da Fátima Bernardes com seu sorriso cheio de dentes passando frio do lado de fora da concentração. Em tempos recentes, estaria sentada no sofá da antessala da suíte do treinador, cercada de jogadores submissos com fones de ouvido, todos eles na escuta para participarem do programa da Xuxa, ou soletrar algo no programa do narigudo, ou fazer um sorteio no Faustão, ou passar ridículo assentido no Casseta & Planeta.

Assim, os sorrisos dos apresentadores globais têm sido mais amarelos que de costume. A emissora, que é incapaz de falar “seleção brasileira” e só chama Dunga & seus dunguetes de “nossa seleção”, porque no fundo é dela, mesmo, da Globo, sócia da CBF e tudo mais, está tendo de fazer um pouco de jornalismo, em vez de incluir o time em seu casting, como de hábito. O que é bom. Seus bons jornalistas, e não são poucos, estão amassando barro, como a gente diz. Em vez de ficarem encastelados ao lado de seus amiguinhos jogadores, têm de sair para a rua, criar pautas, descobrir coisas.

Alguns estranham nitidamente a nova função. Estavam habituados a fazer suas piadinhas sem graça para o riso generoso da turminha da bola, que em geral é bem tonta. Mostram-se pouco à vontade quando se misturam à massa ignara sem privilégios para criar algo que seja interessante o bastante para ir ao ar. Mas acabam se acostumando. E estamos livres, felizmente, de babaquices como jogador falando com o papagaio da Ana Maria Braga, e achando aquilo o máximo, e o papagaio se sentindo importante.

Anteontem Robinho escorregou e deu uma entrevista à Globo na folga. Levou uma dura. Os tempos na era Dunga são realmente outros.

*Originalmente publicado em 11/06/2010

16 junho 2010

CARLOS NOBRE: "NÃO HÁ NECESSIDADE DE MUDAR A LEGISLAÇÃO PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE DA AGRICULTURA BRASILEIRA"

“Aumentar só a área agrícola não torna a agricultura do Brasil mais produtiva, mais competitiva. Competir com a agricultura dos países desenvolvidos é competir em tecnologia. A tendência mundial...é a diminuição da área utilizada pela agricultura com o aumento da produtividade por hectare. Nenhum país que tenha agricultura de ponta está aumentando área agrícola. Qual seria a justificativa para o Brasil ir na contra-mão da tendência tecnológica histórica...?”

A proposta de alteração do Código Florestal, em discussão no Congresso Nacional, podem ser um “desastre” para a expansão urbana de São Paulo, avaliou ontem (15) o pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, que participou de um debate durante o lançamento do estudo Vulnerabilidades das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana de São Paulo.

O relatório propondo modificações no Código Florestal foi apresentado na semana passada pelo relator da comissão especial criada na Câmara dos Deputados para discutir o assunto, deputado Aldo Rebelo (PC doB-SP). Entre as mudanças propostas pelo relator estão a atribuição de mais autonomia aos estados para legislar sobre meio ambiente e a retirada da obrigatoriedade de reserva legal (fração destinada à preservação ambiental) em pequenas propriedades. A votação da reforma do Código Florestal na comissão especial estava marcada para ontem (15), mas foi adiada para a próxima segunda-feira (21).

Para Nobre, caso a cidade cresça respeitando a legislação atual, o risco de que as novas ocupações sofram com inundações e deslizamentos é pequeno. Entretanto, caso a expansão urbana aconteça de acordo com as mudanças que estão sendo propostas, haverá um grande risco à população. “Se em todas essas áreas de maior risco, declividade, topo de morro, áreas muito íngremes, matas ciliares, onde a cidade não chegou ainda, se o código for respeitado, o risco da ocupação diminui muito. Se isso legalmente mudar, é um convite à ocupação absurda”, considerou Nobre.

Para o pesquisador, não há necessidade de modificar a legislação para aumentar a produtividade da agricultura brasileira. “Aumentar só a área agrícola não torna a agricultura do Brasil mais produtiva, mais competitiva. Competir com a agricultura dos países desenvolvidos é competir em tecnologia.”

A tendência mundial, de acordo com Nobre, é a diminuição da área utilizada pela agricultura com o aumento da produtividade por hectare. “Nenhum país que tenha agricultura de ponta está aumentando área agrícola. Qual seria a justificativa para o Brasil ir na contra-mão da tendência tecnológica histórica de todos esses países que são potências agrícolas?”, questionou.

O relatório apresentado hoje pelo pesquisador aponta como a região metropolitana de São Paulo está se tornando mais vulnerável a desastres naturais devido ao modelo de ocupação predatória e às mudanças no clima local e global.

Reportagem de Daniel Mello, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 16/06/2010

14 junho 2010

COMO AVALIAR O PROGRESSO?

Apesar de todo o avanço na ciência econômica, continuamos presos ao velho produto interno bruto, o PIB, na hora de aferir o progresso dos países - uma medida tão antiga e falha quanto insubstituível

J.R. Guzzo, de EXAME
25/05/2010

[Produção no Brasil: o PIB não diz nada sobre saúde, educação ou violência. Foto: Germano Luders]

Apesar de todo o avanço na ciência econômica, continuamos presos ao velho produto interno bruto, o PIB, na hora de aferir o progresso dos países - uma medida tão antiga e falha quanto insubstituível

Nunca a economia teve à sua disposição tantos recursos tecnológicos como os que lhe oferece hoje a ciência estatística; seria razoável, assim, esperar que novos e mais modernos métodos para aferir a saúde das economias nacionais já tivessem substituído os instrumentos atualmente em uso. Entra ano e sai ano, porém, e o velho produto interno bruto continua supremo como o grande indicador da riqueza, da prosperidade e do progresso das nações - sempre acompanhado do PIB per capita, indispensável para saber quanto as cifras totais de produção significam para a população deste ou daquele país. Não é por falta de críticas que a situação permanece assim. Cada vez mais, no Brasil e no exterior, nos governos, nas organizações internacionais e nas universidades, há um consenso de que o PIB se tornou hoje em dia uma ferramenta claramente insatisfatória para medir a situação das economias de maneira realista ou coerente. A pergunta que interessa, naturalmente, é: o que se poderia colocar no seu lugar? Há muita procura por uma boa resposta, mas o mundo ainda parece distante de encontrá-la.

As restrições ao PIB como termômetro de saúde econômica começam com os próprios cálculos que são feitos para chegar a ele - discutem-se os ingredientes que entram na receita, os pesos atribuídos a cada um deles, a qualidade das informações recebidas, as fórmulas matemáticas utilizadas, e por aí vai. A verdade é que, de todos os instrumentos de avaliação da economia, o PIB é um dos menos transparentes, e não pela vontade de manipular resultados; o problema, simplesmente, é a imensa complexidade da tarefa de juntar todos os dados da economia de um país e condensá-los numa cifra final. Há, em seguida, o abismo que separa as posições dos diversos países na classificação mundial, segundo se considere o PIB ou o PIB per capita. Segundo a relação do Fundo Monetário Internacional, o Brasil, por exemplo, é a oitava maior economia do mundo em termos nominais, com um PIB de 1,9 trilhão de dólares em 2009. Já no PIB per capita, o Brasil, de acordo com o mesmo FMI, cai para o 75o lugar da lista; o número, aí, é de 10 500 dólares por brasileiro. A China, segunda maior economia mundial, vai para a 99a posição; a Índia passa da 11a para a 128a. Qual o dado mais relevante? Da mesma forma, o Catar aparece como o país de maior PIB per capita do planeta, com mais de 83 000 dólares por habitante. A cifra deixa longe, por exemplo, os Estados Unidos, que estão acima de 46 000 dólares, ou a França, na casa dos 33 000. E daí?

11 junho 2010

FAVEIRA CANAFÍSTULA NA APA IRINEU SERRA

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Estamos no começo do mês de junho e por toda a cidade, em pequenos e grandes fragmentos florestais, a faveira canafístula, ou simplemsmente canafístula, está em flor (veja fotos que ilustram este texto).

Também conhecida fora do Acre como paricá, esta espécie nativa rivaliza no colorido das flores com o ipê amarelo, que só deverá florescer em meados de setembro.

Abaixo apresentamos um resumo de um trabalho sobre a espécie que realizamos na Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra. O poster do mesmo foi apresentado durante a 61a Reunião Anual da SBPC realizada entre 12 e 17 de julho passado em Manaus-AM.

ABUNDÂNCIA E DISTRIBUIÇÃO DE CANAFÍSTULA (Schizolobium amazonicum) EM UM FRAGMENTO FLORESTAL SECUNDÁRIO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL RAIMUNDO IRINEU SERRA, RIO BRANCO, ACRE

Janice Ferreira do Nascimento [1, 3]
Evandro José Linhares Ferreira [2, 3]
Anelena Lima de Carvalho [3, 4]
Edmilson Santos Cruz [5]

1. Mestranda em Engenharia Florestal, UFLA
2. Núcleo de Pesquisas no Acre do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA
3. Herbário do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre-UFAC
4. Mestranda em Ciências de Florestas Tropicais, INPA
5. Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da UFAC

INTRODUÇÃO:

A canafístula (Schizolobium amazonicum Huber ex Ducke. Caesalpinaceae) é uma espécie de porte elevado e rápido crescimento encontrada em florestas primárias e secundárias de terra firme da Amazônia, cuja madeira é usada na fabricação de compensados, forros, palitos e papel. Nas florestas secundárias em estádio avançado de regeneração da região é comum a ocorrência de essências madeireiras de rápido crescimento e alto valor econômico, factíveis de exploração econômica. Esta situação acontece em alguns fragmentos florestais da Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra (APARIS), localizada no perímetro urbano de Rio Branco, Acre, onde se observa a ocorrência frequente de canafístula. A APARIS, que possui uma área de 843 hectares, tem entre os seus objetivos, além da proteção da biodiversidade, a promoção da exploração equilibrada dos recursos naturais. Portanto, além de cumprir importante papel ecológico promovendo o acúmulo de biomassa, controle de erosão, conservação da rede hidrológica e manutenção da biodiversidade, seus fragmentos florestais podem ter utilidade econômica para os moradores locais. O presente estudo objetivou a avaliação da abundância, distribuição espacial e estrutura diamétrica da canafístula na APARIS em razão do seu potencial de exploração econômica.

METODOLOGIA:

O estudo foi conduzido no maior fragmento florestal da APARIS (Figura 1), que possui cerca de 200 hectares. Originalmente, toda a região onde se localiza a APARIS era coberta por uma floresta primária classificada como Floresta Ombrófila Aberta com Bambu e Palmeiras no sub-bosque. Hoje, apenas 30% da área apresenta cobertura florestal, a maioria floresta secundária em variados estádios de regeneração. A coleta dos dados foi feita em seis parcelas de 20 m x 250 m (0,5 ha) alocadas de forma sistemática, resultando em uma área total estudada de 3 ha. Todos os indivíduos arbóreos, inclusos os de canafístula, com 10 ou mais centímetros de diâmetro a altura do peito (DAP) foram marcados com placa de alumínio e tiveram o diâmetro medido com auxílio de trena diamétrica. A altura comercial e total foi estimada pelo mesmo observador durante a realização do trabalho. A identificação botânica foi realizada com o auxílio de um identificador botânico prático com larga experiência em trabalhos similares na região. A análise dos dados foi feita com o software Mata Nativa versão 2.0, a partir de dados tabulados no programa Microsoft Office Excel 2007. Para a análise da distribuição espacial foi utilizado o índice de McGuinnes.

RESULTADOS:

Foram inventariados 856 indivíduos arbóreos com mais de 10 cm de DAP, classificados em 143 espécies, 98 gêneros e 43 famílias botânicas. Canafístula apresentou o maior valor de importância (VI) em razão da sua dominância (20,8 m²/ha) (Tabela ao lado). Comparada com outras espécies, em canafístula há uma relação inversa entre a densidade e a dominância. Enquanto ela apresentou apenas 28 indivíduos, Erythrina verna e Sapium glandulosum, a segunda e a terceira posição em ordem de VI, apresentaram 54 e 53 indivíduos. A razão foi o elevado diâmetro observado em canafístula, com indivíduos medindo até 130 cm de diâmetro.

A distribuição espacial observada para a espécie foi uniforme, sendo a mesma encontrada em todas as parcelas levantadas (Figura ao lado).

A estrutura diamétrica do fragmento estudado seguiu o padrão usual de florestas tropicais inequiâneas (J-invertido), sugerindo a existência de um balanço entre o recrutamento e a mortalidade. A estrutura diamétrica, com 13 classes distintas, mostrou que 60,4% dos indivíduos estão na primeira classe (15 cm), 23,83% na segunda (25 cm), 9,11% na terceira (35 cm) e 3,39% na quarta classe (45 cm). Os demais, totalizando 3,27%, dividem-se em classes acima de 50 cm. Canafístula é a única espécie com representantes na última classe de diâmetro (DAP > 130 cm) (Figura abaixo).

CONCLUSÃO:

Embora a canafístula não seja a espécie mais abundante, ela é, graças ao grande porte da maioria dos seus indivíduos, a espécie dominante no fragmento florestal. Uma possível explicação para esta situação, além do fato de ser uma espécie pioneira, deve estar relacionada com a existência de indivíduos remanescentes de outros estádios de sucessão inicial surgidos pela abertura de clareiras usadas em exploração seletiva realizada anteriormente. A distinção na relação entre a densidade e dominância observada entre a canafístula e outras espécies, deve-se, principalmente, ao fato de ocuparem diferentes estádios sucessionais, e às características próprias de cada uma delas. A distribuição uniforme de canafístula pode ser explicada pela sua dispersão anemocórica, que favorece uma distribuição mais homogênea da espécie em uma área com características aparentemente propícias ao seu crescimento, como parece ser o caso do fragmento florestal da APARIS. A exploração de canafístula nos fragmentos florestais da APARIS parece ser factível em razão de suas excelentes características silviculturais, especialmente a alta taxa de regeneração e rápido crescimento, e da ocorrência de um grande número de indivíduos de grande porte com dimensão adequada para a extração.

Instituição de Fomento: ZEAS/Prefeitura de Rio Branco e Secretaria Municipal de Meio Ambiente/PMRB

Palavras-chave: inventário florestal, Schizolobium amazonicum, Acre .

09 junho 2010

GRANDES PROJETOS NA AMAZÔNIA: A SOCIEDADE SE MOBILIZA PARA EVITAR O PIOR

Carta à sociedade do 'Seminário Internacional de Grandes Projetos na Amazônia e seus Impactos'

Nós, membros de Movimentos Sociais e Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Peruana e Boliviana e do Conselho Missionário Indigenista – Cimi, reunidos no “Seminário Internacional de Grandes Projetos na Amazônia e seus Impactos”, nos dias 2, 3 e 4 de junho de 2010, na cidade de Rio Branco, estado do Acre,

Considerando:

1) Que os grandes projetos da IIRSA (Iniciativa para Integração da Infra-Estrutura da América do Sul) são realizações de políticas desenvolvimentistas nos três países, favorecendo especialmente o grande capital das empresas nacionais e multinacionais, inclusive do Brasil, possibilitando o acesso, uso e controle dos recursos naturais para os mercados internacionais;

2) Que estas políticas pretendem realizar um sonho antigo das elites brasileiras de transformar o país em potencia mundial às custas da exploração econômica na América Latina, África e Ásia, impulsionando e financiando grandes projetos de infra-estrutura na América do Sul e de produção de commodities;

3) Que nesta estratégia estão unidos governos centrais e estaduais, grandes consórcios empresariais e bancos, sobretudo brasileiros, forças legislativas encarregados de flexibilizar as leis (ambientais, de comercio exterior, de diverso uso de terras indígenas e de unidades de conservação), empresários do agronegócio e os comandos das diversas forças militares;

4) Que as consultas às comunidades e as audiências públicas têm sido manipuladas para dar a impressão de participação diante de exigências internacionais, mas que verdadeiramente servem somente para referendar os grandes projetos já decididos;

5) Que as práticas de concessão de florestas publicas estão sendo formas de controlar o território da parte dos governos nacionais para logo dispor os recursos naturais nelas existentes a disposição do capital privado para serem explorados, expulsando sem indenizações indígenas e camponeses que aí existem, com ajuda de órgãos do estado;

6) Que os grandes empreendimentos na Panamazônia estão sendo financiados com dinheiro público dos bancos estatais e de fundos de pensão dos trabalhadores;

7) Que este novo cenário favorável do capitalismo nacional e transnacional está pedindo a revisão das estratégias de ação fragmentadas e locais dos diferentes movimentos e organizações sociais;

8) Que se multiplicam as ameaças e se recorre a criminalização por parte das empresas e do estado, das lideranças sociais pertencentes a movimentos e entidades por lutar por direitos nas comunidades e por opor-se aos grandes empreendimentos e ao modelo de desenvolvimento que se quer impor por todos os meios;

Constatando que:

1) As ações dos estados nos seus três poderes procuram enfraquecer as comunidades indígenas e as organizações sociais com os projetos privados que estão favorecendo, com as mudanças na lei, com as perseguições ás lideranças indígenas e populares que denunciam os males produzidos por estas intervenções e criminalizando a luta social por direitos, violando a Constituição dos países e os direitos das comunidades e dos povos;

2) A fragmentação das lutas sociais devido a fatores históricos das lutas de minorias, a criação de entidades para responderem a novas necessidades de grupos e a procura do poder desprovidos de horizontes maiores de uma luta por mudança social;

3) A perda de aliados da luta popular devido as estratégias dos governos para desarticular os movimentos sociais, a burocracias de certos movimentos históricos que agora estão integrados a órgãos governamentais, á perda do sentido político de classe subalternas por contaminações com outras entidades sociais que não fazem analises estruturais e históricos das contradições sociais;

4) O momento atual é novo, marcado por práticas e ideologias de capitalismo nacionalista e grandes ações assistencialistas, de recorte de direitos das camadas populares, vulnerando a liberdade de expressão;

Por isso propomos:

1) Realizar uma grande aliança dos quem tem modos de vida ligados a terra, as águas e as florestas, povos indígenas, comunidades de camponeses e ribeirinhos e demais entidades sociais que sofrem os impactos dos grandes projetos na Amazônia e de quem se solidariza com eles, para estabelecer a resistência a diversos níveis, local, regional, nacional e internacional;

2) Fazer uma ação preventiva nos lugares que ainda não tem sofrido os impactos dos grandes projetos e se projeta implantá-los, mediante redes de informação, para organizar a resistência dessas comunidades, povos e etnias, e assim evitar que os males sofridos numa parte não se repitam em outra;

3) Responsabilizar os governos pelos crimes que as lideranças sofrem a causa das lutas pela terra e os recursos naturais, de parte da polícia, as empresas e os fazendeiros;

4) Criar redes de informação permanente, com base de dados atualizados para ajudar as lideranças e as comunidades a organizar com rapidez e eficiência suas estratégias de ação;

5) Fortalecer a organização das comunidades indígenas, camponesas e ribeirinhas, mediante uma educação conscientizadora, de clareza política, para que assim possam resistir com eficácia os embates das grandes obras e ações desenvolvimentistas;

6) Fortalecer a luta contra a ideologia de progresso e de consumo com que trata a política desenvolvimentista de justificar os grandes projetos que se adiantam na Amazônia.

07 junho 2010

JULHO DE 2010: MUDANÇA RADICAL NO MERCADO DE CARTÕES DE CRÉDITO E DÉBITO NO BRASIL

A partir de julho os lojistas poderão usar uma única máquina para processar operações com todos os cartões de crédito e débito. Isso provocará uma guerra entre as credenciadoras - que fornecem as máquinas para os lojistas - e resultará na diminuição das tarifas cobradas pelo seu uso. Que a guerra comece já entre a Visanet (Cielo) e Redecard!

O ano zero da competição

Por Guilherme Fogaça
Revista Exame, Edição 968, 12/05/2010

O domingo chuvoso de 8 de novembro de 2009 foi atípico na alameda Grajaú, em Alphaville, próximo a São Paulo. Na altura do edifício de número 219, o entra e sai de pintores deixava claro que aquele não era um dia de descanso na sede da Visanet, a maior credenciadora de cartões do país. Na manhã do dia seguinte, antes de se dirigirem à sede, funcionários de todas as regiões do país participariam de um evento num teatro de São Paulo no qual seriam informados de que a marca da empresa passaria a ser Cielo. Com a intenção de mostrar que a mudança era para valer, a direção da empresa exigiu a pintura das paredes, a troca das sinalizações das portas e a substituição do letreiro da fachada em Alphaville. De fato, quando chegaram à sede para trabalhar, os funcionários não encontraram nenhum sinal da Visanet. O enterro da antiga marca foi, de forma simbólica, um divisor de águas na companhia. Desde então, todas as energias da Cielo foram centradas no mercado que nascerá no dia 1o de julho deste ano, quando termina o contrato de exclusividade entre a empresa e a bandeira de cartões Visa - a maior reviravolta da história do mercado brasileiro. Nesse novo contexto, não fará sentido manter a marca Visa no nome.

Por mais de uma década, as credenciadoras de estabelecimentos comerciais Redecard e Cielo (quando ainda era Visanet) viveram as benesses de um setor praticamente sem competição. Os lojistas que quisessem aceitar os cartões Visa, líderes de mercado, eram obrigados a contratar os serviços da Cielo - e quem quisesse realizar pagamentos com a Mastercard, a segunda principal bandeira, precisava contratar a Redecard. O mesmo valia para os respectivos cartões de débito - Visa Electron, da Visa, e Maestro e Redeshop, da Mastercard. Juntas, Cielo e Redecard, tinham um mercado cativo que totalizava 80% do setor no país. Sem poder contar com as marcas mais desejadas e aceitas, não chegava a ser surpresa o fato de que ne nhuma empresa ousasse entrar nesse segmento, mesmo se tratando de um dos mercados de cartões mais aquecidos do mundo. Na última década, o número de emissões teve um crescimento médio anual de 19%.

Por pressão do governo federal, tudo isso começa a mudar agora. Na prática, a partir de julho os lojistas poderão contratar apenas uma credenciadora e com ela trabalhar com os cartões Visa e Mastercard, o que o governo espera que provoque uma batalha entre Cielo e Redecard. Além disso, o novo cenário motivou a estreia de concorrentes. No começo deste ano, o banco Santander anunciou uma parceria com a empresa gaúcha GetNet para operar no credenciamento de cartões. O plano é atingir 300 000 estabelecimentos num prazo de três anos, especialmente pequenas e médias empresas. "É líquido e certo que a competição vai se acirrar e se refletir nas tarifas cobradas dos lojistas", diz José Paiva Ferreira, vice-presidente do Santander responsável por toda a área de varejo. Segundo projeções da consultoria AT Kearney, a taxa cobrada dos estabelecimentos comerciais para realizar as transações - de cerca de 3% do valor da compra, alta para os padrões internacionais - deve cair para cerca de 2% nos próximos anos. A disputa por clientes ainda poderá ficar maior se forem confirmadas as informações de que o HSBC está se preparando para atuar nesse setor. Procurados, os executivos do banco não quiseram conceder entrevista.

As movimentações também ocorrem em bancos menores. Com um projeto menos ambicioso, o banco Panamericano, pertencente ao Grupo Silvio Santos e 21o do ranking nacional, já tomou a decisão de entrar no setor de credenciamento. "Vamos atuar em mercados inexplorados, como os estabelecimentos comerciais populares que ainda não aceitam nenhum tipo de cartão", diz Elinton Bobrik, diretor executivo de cartões do Panamericano. Ele deixou, em outubro, o Itaú Unibanco para preparar a nova fase do banco de Silvio Santos. Outra que promete esquentar a concorrência é a First Data, maior processadora de pagamentos do mundo. Presente no Brasil desde 2001 com a oferta de aplicativos para sistemas de pagamento, a empresa quer atuar, num primeiro momento, como o braço tecnológico dos novatos do mercado, prestando serviços de instalação das máquinas, atendimento aos clientes por meio de call center e controle de fraudes. Pela frente, a First Data deve encon- Um mercado ainda concentrado trar a concorrência da CSU CardSystem, processadora de meios eletrônicos de pagamento com sede em São Paulo.

O Banco do Brasil e o Bradesco lançarão a bandeira de cartões ELO focada no segmento da baixa renda. Será um genérico de cartão de crédito que não pagará royalties pelo uso das bandeiras internacionais

Entre as bandeiras, o fim da exclusividade também altera o ambiente competitivo. A partir de julho, qualquer nova marca de cartão poderá firmar acordo com a Cielo - a Redecard já faz esse tipo de contrato há mais tempo. Foi justamente essa perspectiva que incentivou o Banco do Brasil e o Bradesco a lançar a bandeira de cartões Elo, no fim de abril. "Seria impossível desenvolver uma bandeira nacional isoladamente, sem uma vasta rede de aceitação instalada", diz Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco. A nova bandeira, que deve chegar ao mercado nos próximos seis meses, terá um foco especial no segmento da baixa renda e pretende alcançar uma participação de 15% nos próximos cinco anos. "Vamos repassar as economias obtidas pela escala do negócio aos consumidores finais. Será um genérico de cartão de crédito", diz Trabuco. Um item já fora da planilha de custos do Elo é o dos royalties pagos pelo uso das bandeiras internacionais. "A tendência é que haja redução de taxas", diz Paulo Rogério Caffarelli, vicepresidente de cartões do Banco do Brasil, e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços. A Caixa Econômica Federal é outra que planeja a criação de uma bandeira própria nos próximos meses, mas ainda não fez nenhum anúncio oficial.

O que provocou a mudança das regras do jogo foi a publicação, no ano passado, de um relatório conjunto entre o Banco Central, o Ministério da Fazenda e o Ministério da Justiça. O calhamaço de 297 páginas trazia uma análise profunda - e dura - do setor no Brasil. Para as empresas, ficou claro que a exclusividade seria mudada por bem ou por mal. Entre Redecard e Mastercard, a relação de irmãs siamesas não era registrada em contrato. Já a Cielo (na época, ainda Visanet) precisou vir a público dizer que seu contrato com a Visa não seria renovado quando expirasse, em julho deste ano. Apesar de representar o marco zero da competição no setor, a mudança "voluntária" das companhias não parece ter atendido plenamente o governo. "A autorregulação é bem-vinda, mas não é suficiente. O Banco Central vai regular as taxas cobradas dos consumidores e vamos fazer um projeto de lei para que o setor de cartões como um todo passe a ser supervisionado", diz Luiz Paulo Barreto, ministro da Justiça. Independentemente do que de fato venha a ser feito, o certo é que a transformação já promovida até agora tira o Brasil da companhia de Peru e Uruguai, as duas únicas nações em todo o mundo onde os lojistas são prisioneiros de uma única credenciadora da Visa. Em países como os Estados Unidos, os comerciantes podem solicitar o credenciamento da bandeira a 50 instituições diferentes.

Diante de toda essa movimentação, a Cielo e a Redecard estão focadas no que vem pela frente. Segundo dados da consultoria Economática, as duas empresas foram as mais rentáveis dos últimos três anos entre as companhias abertas brasileiras. Mesmo que ninguém acredite numa queda de rentabilidade imediata, a tendência é que as margens sejam pressionadas no longo prazo. Com o fim da exclusividade, é provável que uma parte dos lojistas que hoje têm duas "maquininhas" decida ficar apenas com uma. Por isso, estima-se que o número de máquinas em operação das empresas líderes saia dos atuais 2,3 milhões para 1,7 milhão em 2014.

A Cielo quer que as maquininhas gerem receita para seus clientes com a oferta de serviços financeiros, como o pagamento de contas e recarga de celular


Para tentar reduzir possíveis estragos, os executivos de Cielo e Redecard estão pensando em alternativas. A Cielo quer que as maquininhas gerem receita para seus clientes com a oferta de serviços financeiros. "Ao usar os aparelhos para pagamento de contas e recarga de celular, o estabelecimento comercial estará atraindo um fluxo maior de clientes para o local - e ainda ganha uma taxa por isso", diz Rômulo Dias, presidente da Cielo. Esse projeto já começou a funcionar em grandes redes. Desde o começo do ano, os clientes dos supermercados Pão de Açúcar podem sacar até 100 reais nos caixas com o cartão Visa. A Redecard, por sua vez, vai intensificar sua estratégia de disputar mercados com credenciadoras regionais, como a do Banrisul, que atua principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Além disso, tanto a Cielo quanto a Redecard pretendem conquistar novos clientes no Centro-Oeste, considerado pelas duas empresas como a nova fronteira dos cartões no país. "O brasileiro ainda usa muito cheque e dinheiro para pagar suas contas. Temos muito espaço para crescer", diz Roberto Medeiros, presidente da Redecard. No Brasil, as compras realizadas com cartões representam apenas 25% do consumo total - número bastante inferior aos 40% do mercado americano. Lá, 75% das famílias têm pelo menos um cartão.

Embora a disputa para valer só vá começar em julho, o duelo entre Cielo e Redecard já acontece nas propagandas. As duas companhias passaram a fazer campanhas institucionais próprias pela primeira vez no fim do ano passado. A Redecard aproveitou o silêncio da Cielo no período anterior à troca de nome para promover, por meio de comerciais, a imagem de "maquininha mais democrática do Brasil" - já que seus terminais aceitavam outras bandeiras de menor porte além da Mastercard. A resposta da Cielo veio com o slogan "Nada supera essa máquina". Em março, a empresa estreou uma campanha publicitária com o nadador Cesar Cielo - a ideia foi associar- se aos conceitos de liderança e rapidez que o atleta representa. A Cielo, que antes tinha uma pequena verba destinada a propaganda e marketing, neste ano pretende investir 150 milhões de reais nessas áreas. Apesar dessa mudança e da perspectiva de mais competição, os varejistas estão impacientes. "Até agora, as empresas só ficaram no discurso", diz Roque Pellizzaro Junior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas. "Mas é bom que fique claro: vamos usar nosso poder de barganha para ganhar descontos." Pela disposição de todos os envolvidos, 2010 será mesmo o ano zero da competição no Brasil.

06 junho 2010

O NOVO CÓDIGO FLORESTAL, O CÓDIGO DO ERRO

"A encruzilhada é: apertar o cerco a quem pratica crime ambiental ou mudar a lei para beneficiar quem a descumpriu? Se for a segunda opção, o país tem que se perguntar até que ponto vai flexibilizar, porque, não sejamos ingênuos, novas concessões serão exigidas para anistiar novos crimes".

Código do erro

Miriam Leitão
Colunista de O Globo

Por que o Código Florestal tem que ser mudado? Dizem que é para ter mais área para a agricultura. Especialistas da USP lançarão um estudo mostrando que o Brasil tem 61 mil hectares de área já desmatada de alta e média produtividade agrícola e que não está sendo usada. Proteger topo de morro, encostas íngremes e mata ciliar é impossível ou a coisa sensata a fazer?

Na próxima semana, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) apresentará seu relatório de mudança do código florestal. O deputado, pelo que disse ao GLOBO no domingo, está convencido de que a lei não pode ser cumprida e que os produtores devem ter uma moratória de cinco anos para se adaptar a ela. A lei tem 50 anos. Meio século pelo visto não foi tempo suficiente para os produtores respeitarem a lei.

Se o deputado Aldo Rebelo não apresentar alguém que foi preso pelo “crime” de tirar uma minhoca da beira de um rio, então seu argumento contra o atual Código Florestal será apenas mais uma das suas caricaturas. Como é caricatural a ideia de que quem luta pela preservação do meio ambiente é contra o desenvolvimento do país ou está à serviço de potências estrangeiras.

O deputado Rebelo pelo que ele já disse sobre seu projeto demonstrou que ouviu apenas as razões de uma das partes. Fazer audiências públicas com pessoas que divergem só vale se for para ouvir e ponderar o que cada parte tem a dizer. Se é para considerar apenas o que uma parte disse, então o ritual é figuração.

Ele quer provar que a lei é radical, protege exageradamente o meio ambiente. Precisará convencer que em 1965 a consciência ambiental era uma obsessão radical do governo militar. Quer provar também que a lei atende a interesses de ONGs que teriam o interesse maligno de conspirar contra o desenvolvimento do Brasil.

Também será preciso convencer que os militares de então fizeram uma conspiração com as atuais ONGs para impedir o progresso brasileiro. Uma impossibilidade intertemporal; para não chamar de delírio.

A proposta de que se delegue aos estados o direito de fixar qual é a reserva legal que deve ser respeitada ou a delimitação das áreas de preservação permanente tem um precedente. Santa Catarina, depois da tragédias das chuvas em novembro de 2008, aprovou uma lei mais flexível. Foi uma decisão insensata depois de um aviso tão eloquente da natureza. As Áreas de Preservação Permanentes (APPs) não são um capricho da lei. São uma decisão racional: proteger as áreas mais frágeis como os topos de morros, terrenos mais inclinados, as matas ciliares dos rios, as encostas. No cenário das mudanças climáticas, com eventos mais extremos, ser mais permissivo pode ser contratar desastres.

Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon, explica que além disso é inconstitucional ter uma lei estadual mais flexível que uma lei federal:

— A lei estadual só pode ser diferente se for para ser mais rigorosa. Além disso, baseado em que vai se flexibilizar? Dizem que vão ouvir a ciência. Vão ouvir a ciência conveniente. O que é necessário é ouvir amplamente os cientistas de diversas correntes e áreas sobre os riscos dessas mudanças.

Ele diz que ficou cansado de ir a audiências públicas em que deputados e senadores apareciam, falavam absurdos, e se retiravam sem ouvir os contra-argumentos às suas teses:

— Sonho com um debate que não seja enviesado, um processo baseado nas perguntas certas e mediado por profissionais em resolução de conflitos ou estadistas. A pergunta deveria ser: que código florestal precisamos para garantir a proteção e a produção? Os pontos polêmicos de cada questão deveriam ser objeto de estudos de especialistas.

O erro principal da mudança do Código Florestal é se basear na tese de que é preciso anistiar o que foi feito errado. Isso dá um sinal de que é bom desrespeitar a lei e que bobo é quem a respeita. Quem fez tudo direito será prejudicado quando seu vizinho que desrespeitou a lei for anistiado.

O relatório da Polícia Federal sobre a Operação Jurupari traz indícios das mais variadas fraudes para desmatar espécies nobres da Amazônia. São crimes contra o meio ambiente, cometidos por fazendeiros em conluio com funcionários públicos. Há inclusive manipulação de dados de um sistema de georeferenciamento de propriedades montado por uma empresa privada, que faz o trabalho de forma terceirizada, para quatro estados: Mato Grosso, Pará, Maranhão e Rondônia. O que fazer diante desses crimes? Anistiá-los porque a lei é rígida? Mudar a lei? Dar mais cinco anos para que eles cumpram uma lei que está em vigor há 50 anos? Ou combater o crime e exigir o cumprimento da lei?

O Brasil está diante de uma encruzilhada importante. É grande produtor de alimentos. Será cada vez mais vulnerável às barreiras se continuar desmatando para produzir. Os grandes frigoríficos do Brasil não conseguiram em seis meses comprovar que seus fornecedores não estão desmatando, exigência do pacto contra o desmatamento. Ganharam mais seis meses de prazo. O Ministério Público começou uma forte campanha com filmes e áudios tentando sensibilizar o consumidor de carne produzida na Amazônia de que ele pode estar incentivando o desmatamento.

A encruzilhada é: apertar o cerco a quem pratica crime ambiental ou mudar a lei para beneficiar quem a descumpriu? Se for a segunda opção, o país tem que se perguntar até que ponto vai flexibilizar, porque, não sejamos ingênuos, novas concessões serão exigidas para anistiar novos crimes.

03 junho 2010

MARCHA PARA LOUVAR JESUS NO ACRE...

...O que o 'Estado contemporâneo de Israel' tem a ver com isso?

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Reproduzo ao lado uma foto da 'marcha para Jesus', publicada no site Ac24Horas no dia de ontem (03/06), mostrando que milhares de acreanos participaram do evento e aproveitaram a ocasião para homenagear o Acre, o Brasil e, ao vestir o verde-amarelo, orar para que nossa seleção ganhe a copa do mundo que acontecerá na África do Sul. Dá para entender facilmente.

Mas alguém tem que explicar o que diversas bandeiras do 'Estado de Israel', as com faixas azuis que ostentam a estrela de Davi ao centro, tem a ver com a marcha.

O que é mesmo?

Para mim é apenas mais uma indicação que culturalmente nosso povo está cada dia mais desinformado, afundando na escuridão cultural que tem como legado mais deprimente nos dias atuais a ascensão de grupos musicais como o ‘calcinha preta’, ‘aviões do forró’, ‘calypso’ e outros similares...

Pavilhão nacional do estado contemporâneo de Israel em marcha para jesus no Acre é um claro sintoma de que os 'novos aculturados' e evangelizados locais estão confundindo - como se diz no popular - 'as bolas'.

Não dá para imaginar que não seja.

Rebentos novos no meio evangélico, ouvindo dia e noite os pastores pregarem a Bíblia e falarem incansavelmente sobre Israel, a terra prometida, David...o que poderiam fazer para mostrar seu fervor religioso?

- Que tal homenagear Israel? Devem pensar.

Incapazes de distinguir o Israel citado na Bíblia com o 'Estado de Israel' contemporâneo, o da mídia, aquele que eles vêm na TV antes da novela das oito, não é surpresa que um ou outro decida ir à marcha portando uma bandeira – pavilhão nacional – do Estado contemporâneo de Israel.

Além disso, eles sabem que estão localizados em Israel - o país - os lugares sagrados para os cristãos. Aqueles onde Jesus nasceu, pregou e morreu. Então porque não fazer uma homenagem?

Quanta incoerência – religiosa e política.

Religiosa porque Israel é um Estado que adota explicitamente o judaísmo – não tenho nada contra isso. E política porque o atual ‘Estado de Israel’ está se transformando – faz muito tempo – em sinônimo de violência, repressão, segregação racial e econômica, enfim, muito do mundano e daquilo que os evangélicos mais combatem são praticados pelo 'Estado de Israel'.

Diante disso, como explicar que bandeiras desse Estado político sejam portadas em uma marcha para jesus no Acre?

Algo me diz que os pastores deveriam ensinar melhor seus fiéis seguidores que o Estado de Israel, o bíblico, não tem muita coisa a ver com o Estado de Israel contemporâneo.

Se eles, os pastores, não acham um sacrilégio homenagear a estrela, o escudo de David – o bíblico -, usando como instrumento a bandeira do Estado contemporâneo de Israel, então a situação não tem solução. Está tudo dominado.

O que posso dizer?

Que deus perdoe a ignorância de alguns.

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Caro Evandro,

Bela observação essa sua. Também é preciso que essa gente seja informada de que o Israel bíblico é antes de tudo um "povo", não um Estado. Assim, não podemos nos cegar à uma das causas da criação do Israel Estado: Espaço para exploração do Oriente por parte das potências ditas ocidentais. Será que deveremos, os não-protestantes (Católicos, Judeus, Daimistas, Religiões africanas, Ateus...), ostentar a bandeira da Palestina?

É uma confusão que, infelizmente, pode e parece que tem uma intenção clara: desinformar para submeter.

Bom trabalho.

Lindomar Padilha

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Evandro

Sem descuidar do foco de seu post, não seria demais dizer que quase sempre aqueles que carregam bandeiras em procissões e passeatas não tem a menor idéia do que fazem.

Valterlúcio

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Bela observação Valterlúcio. Eu quase encerrei o post com aquela frase de Jesus que diz:"...Pai, perdoa-lhes pois não sabem o que fazem". Mas acho que não tenho cacife para tanto.
Evandro

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Evandro,

O povo evangélico tem uma afinidade muito grande com os israelenses, ela não pode ser explicada pelas circunstâncias atuais. Para os protestantes, o povo de Israel é o povo eleito de Deus, muito embora os israelenses tenham escolhido, através da história, outros caminhos diferentes do caminho determinado por Deus, segundo ensina o Velho Testamento. Por isso teria sido submetido à escravidão no Egito e, infelizmente, ao holocausto da Segunda Guerra, entre outras provações. A Bíblia diz que Deus enviou Jesus para a redenção do seu povo, mas Cristo foi rejeitado pelos israelenses, como ensinam os livros de Isaias, Marcos, Mateus e João.

Mesmo assim os cristãos protestantes amam Israel por causa das professias narradas na Bíblia, acreditam que são, os evangélicos, filhos adotivos de Deus, como sugere as cartas paulinas.

Acho que isso talvez explique um pouco a presença das bandeiras israelenses no evento dos evangélicos. Tive a grande honra de coordenar em 1998 e 1999 a Marcha por Jesus em Niterói, no Rio de Janeiro.

Um grande abraço,

seu admirador Dilson Ornelas.

02 junho 2010

PARÁ: PLANO DE MANEJO USADO PARA 'ESQUENTAR' MADEIRA IRREGULAR

Operação do Ibama fecha e multa em R$ 17,6 milhões plano de manejo falso no Pará

As 18 empresas que negociaram com o plano de manejo falso também serão investigadas. Entre outras sanções, elas terão de estornar os créditos virtuais adquiridos e poderão ter seus acessos ao Sisflora bloqueados. Os envolvidos na fraude – proprietária, representantes legais, operacionais e técnicos, assim como o engenheiro florestal que assina o projeto – foram multados. Os valores somam cerca de R$ 17,6 milhões.

Agentes federais do Ibama na Operação Estrada Dourada embargaram nesta terça-feira (01/06) um Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) de fachada a cerca de 70 km de Anapu, no centro-oeste do Pará. Com autorização para extrair mais de 62,5 mil m3 de madeira, o empreendimento poderia acobertar o desmatamento criminoso de cerca de 2 mil hectares de florestas. “O plano de manejo servia unicamente para esquentar a madeira irregular de outras empresas. Ele nunca explorou uma única árvore”, explica o coordenador da operação, Francisco Neves, da Divisão de Fiscalização do Ibama em Belém.

Os envolvidos na fraude – proprietária, representantes legais, operacionais e técnicos, assim como o engenheiro florestal que assina o projeto – foram multados. Os valores somam cerca de R$ 17,6 milhões. Um trator, avaliado em R$ 150 mil, também foi apreendido no local. Desde segunda (24/05), a Operação Estrada Dourada percorre planos de manejo na região de Anapu para reprimir o desmatamento ilegal e o comércio de créditos florestais virtuais no estado do Pará.

No lugar da exploração, floresta em pé

Engenheiros florestais da Divisão Técnica do Ibama e agentes da Divisão de Fiscalização, todos da Superintendência do órgão no Pará, com apoio do Batalhão de Polícia Ambiental da capital, vistoriaram o plano de manejo na quinta (27/05) e na segunda (31/05). No local, uma propriedade com 2,9 mil hectares, havia apenas 2,8 km de estradas, alguns barracões recém-construídos e a floresta nativa ainda intacta.

Apesar das árvores em pé, os responsáveis pelo PMFS emitiram Guias Florestais (GFs) de venda de mais de 26 mil m3 de madeira, por meio do Sistema de Comercialização e Transporte de Produtos Florestais (Sisflora), para 18 diferentes serrarias e madeireiras paraenses. Seria como se um comboio de 650 caminhões tivesse saído do PMFS cheio de toras para abastecer Belém.

“Tudo é uma grande enganação, nem o inventário florestal foi realizado de fato”, diz o chefe da Divisão Técnica do Ibama, Dennys Pereira. “Quando uma empresa utiliza um PMFS para acobertar madeira de desmatamento ou de outra fonte ilegal, provoca um dano duplo ao meio ambiente, porque está ajudando a destruir a única alternativa que existe para se produzir madeira sustentável na Amazônia”, lamenta ele.

As 18 empresas que negociaram com o plano de manejo falso também serão investigadas. Entre outras sanções, elas terão de estornar os créditos virtuais adquiridos e poderão ter seus acessos ao Sisflora bloqueados.

Texto de Nelson Feitosa, Ascom/Ibama/PA, publicado pelo EcoDebate, 02/06/2010

01 junho 2010

CIMI PROMOVE SEMINÁRIO INTERNACIONAL NO ACRE

Seminário 'Grandes Projetos na Amazônia e seus Impactos'

A Amazônia é considerada uma das regiões de maior importância geopolítica do mundo em função de sua sócio-biodiversidade, da água doce, dos minérios estratégicos e demais recursos naturais existentes, por sua influencia no clima e para o equilíbrio ambiental do planeta.

Ela desperta interesse tanto daquele que a pensam unicamente como uma grande oportunidade de negócios, quanto dos que a concebem como a segurança de vida para os pobres e populações que nela vivem e lhe atribuem importância fundamental para o bem estar de toda a humanidade.

A região perdeu nos últimos trinta anos, aproximadamente 80 milhões de hectares de sua floresta para atividades não sustentáveis, tendo cerca de 30 milhões de hectares em acentuado estado de degradação. Os pesquisadores apontam o desmatamento e as suas queimadas como fatores que influenciam as mudanças climáticas e ampliam o efeito estufa. Advertem ainda que se o desmatamento chegar a 50%( Hoje está em torno de 20%) o bioma Amazônico estará irreversivelmente condenado.

Esse alerta, no entanto, não tem sido suficiente para que seja repensado o atual modelo de desenvolvimento que, com base nos grandes projetos promove a exploração dos recursos naturais para acumulação capitalista, mata e ameaça todas as formas de vida da região.

Nesse contexto, o CIMI e seus parceiros estarão realizando entre os dias 02 a 04 de junho de 2010 na Paróquia Imaculada Conceição, Gameleira, Rio Branco- Acre, um seminário internacional para discutir os grandes projetos que estão sendo realizados ou planejados para a Amazônia e seus impactos.

O objetivo do seminário é fortalecer as resistências e as Organizações da Amazônia em busca de uma articulação unificada no enfretamento ao avanço do capital, com destaque para os projetos do IIRSA, hidrelétricas e exploração de petróleo e gás, além da agroindústria e monoculturas.

Nele estarão presentes o CIMI e parceiros do Peru e Bolívia que passam situações semelhantes às vividas no Brasil.

Objetivos do seminário

1. Proporcionar encontro formativo sobre o tema dos Grandes Projetos na Amazônia, com a participação de indígenas do Acre, Rondônia, Mato grosso e Amazonas, universitários, representantes da sociedade civil, movimentos e Pastorais Sociais, representantes do Peru e Bolívia que atuam em prol da vida e em defesa da Floresta Amazônica.

2. Criar uma rede de articulação entre os aliados da causa indígena e estratégias de enfretamento, em relação aos grandes projetos na Amazônia .

3. Somar com as experiências em curso que pensam a Amazônia a partir dos povos que nela vivem, mantendo a floresta em Pé.

4. Fortalecer a resistencia dos Movimentos sociais e indígenas.

Programação do seminário

Dia 01 de Junho. (terça feira) Chegada dos participantes.

Dia 02 de junho (quarta feira)
> 07h30min Mística de Abertura e Apresentação dos Participantes.
> 08h30min – Análise de contexto e as práticas desenvolvimentistas para a Amazônia. Palestrante Kujui.
> 10h45min plenário – voz do povo perguntas do Plenário.
> 14h30min Legislação Ambiental e fundiária no contexto da Amazônia.
Palestrante Dr. Ricardo – Ministério Público Federal.
> 16h15min voz do povo – perguntas do plenário.

Dia 03 (quinta feira) 07h30min Mística
> 08h30min: IIRSA e PAC e suas conseqüências para a Amazônia.
Palestrante: Guilherme Carvalho, (Coordenador do Núcleo de Cidadania FASE).
> 09h30min – grandes projetos e as mudanças climáticas.
Palestrante – Israel Pereira.
> 10:30 voz do povo- perguntas do Plenário.
> 14h30min Retorno – Mesa Temática Movimentos sociais, Política de Desenvolvimento, elemento de resistência MAB, CIMI, Peru e Bolívia..
> 16h15min Voz do povo – perguntas do Plenário.

Dia 04 Sexta Feira
> 07h30min Mística.
> 08h30min Mesa temática: Movimento Indígena concepção de Desenvolvimento e estratégias de lutas com Francisco Arara, Arao Waram, Xijein e coiab.
> 10:45 voz do povo-perguntas do plenário.
> 14:30 Trabalho de Grupo.
> 15:00 Apresentação da Síntase de cada grupo. Encaminhamentos das estratégias, Doc. Final

Local: Paróquia Imaculada Conceição, Gameleira, Rio Branco- Acre

Realização:

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO
Cimi Regional Amazônia Ocidental
Cimi Regional Rondônia.
Cimi Regional Norte I.
Cimi Regional Mato Grosso.

Apoio:

Drogaria Santa Rita,
Bio- Saúde.

A CRIATIVIDADE DAS CLASSES 'POPULARES' NA HORA DE DAR NOME AOS FILHOS

...nomes Kléberson ou Richarlyson...trairia o desejo de...prover o filho de uma personalidade forte e única. Não, ele não haverá de ser um zé qualquer, nem um joão-ninguém. A ironia...é que, em contraponto à tendência pelos "son" e "ton" nos estratos populares, nas classes altas...reinam os Josés e os Joões, Antônios e Franciscos, como fazia décadas não se via.

Geração "on"*
Roberto Pompeu de Toledo

"Estamos diante de um fenômeno de massa: o povo brasileiro, maciçamente, anda preferindo dar nomes terminados em ‘son’ e ‘ton’ aos filhos homens"

A seleção da coluna entrará em campo para o próximo compromisso com a seguinte formação: Glédson; Joílson, Halisson, Acleisson e Richarlyson; Vanderson, Kléberson, Glaydson e Taison; Wallyson e Keirrison. No banco de reservas ficarão Wanderson (goleiro), Jadilson, Maylson, Leanderson, Cleverson e Roberson. A seleção adversária, armada no três-cinco-dois, se apresentará com: Weverton; Adailton, Heverton e Welton; Arilton, Cleiton, Éverton, Uelliton e Neilton; Washington e Elton. Os reservas serão Dalton (goleiro), Erivelton, Hamilton, Wellington, Hélton e Jailton.

Primeiro aviso ao leitor incauto: os nomes são todos verdadeiros, de jogadores em atividade no futebol brasileiro. Segundo aviso: se os mais distraí-dos ainda não perceberam, o embate acima dá-se entre os nomes terminados em "son" contra os terminados em "ton". Nomes em "son" e "ton" hoje abundam, nos gramados, como estrelas no céu. Tempos atrás, mais característicos eram os apelidos de duas sílabas, Pelé, Didi, Dida, Pepe, Telê, alegres e infantis. Os terminados em "son" e "ton", ao contrário, são nomes severos, que evocam chefes guerreiros. Tanto eles se multiplicam que para escalar as seleções não foi preciso ir além de um restrito universo. Na grande maioria, são de jogadores dos times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, com apenas alguns poucos reforços – afinal, Weverton, goleiro do Vila Nova, de Goiás, não merecia ficar de fora, nem Acleisson, volante do Mirassol, clube do interior paulista.

A questão é: por que a pesada preferência pelos nomes em "son" e "ton"? O futebol não é um universo fechado. Ele espelha a sociedade brasileira. Mais exatamente, espelha as camadas mais populares da sociedade. O que leva a concluir que estamos diante de um fenômeno de massa: o povo brasileiro, maciçamente, anda preferindo dar nomes em "son" e "ton" aos filhos homens. Complexas e misteriosas são as razões pelas quais um nome, ou uma classe de nomes, entra ou sai de moda. É tarefa para antropólogos e sociólogos. Modestamente, enquanto se espera por mais doutas explicações, o que se pode é especular.

É de supor, em primeiro lugar, que quem pespega no filho os nomes de Wallyson ou Leanderson espera do interlocutor reação que vá além da indiferença. Afastemos desde logo, no caso do "son", ter sido ele importado dos costumes nórdicos, em que a terminação "son" (ou "sohn" – "filho", em inglês, alemão e línguas afins) identifica o filho de alguém de nome igual ao contido nas sílabas precedentes. É improvável que Leanderson signifique "filho de Leander" ou que Wallyson signifique "filho de Wally". Parece ser mais o caso de criações livres, movidas pelo gosto da invenção. Keirrison, artilheiro do Palmeiras, contou à revista Veja São Paulo que deve seu nome à preferência do pai pela letra K, combinada à admiração pelo beatle George Harrison. Keirrison tem um irmão chamado Kimarrison, de novo com K, e dessa vez homenagem do pai, roqueiro incorrigível, a Jim Morrison. Como Harrison e Morrison viraram Keirrison e Kimarrison, isso fica por conta da peculiar alquimia que rege a produção de nomes no Brasil.

Ao lado do gosto da invenção, a queda pelo estrangeirismo é outro traço que se adivinha nos pais dos "son" e dos "ton". São nomes que soam estrangeiros. Por coincidência (ou não?), as terminações em "on", tanto no inglês quanto no francês e no espanhol, correspondem ao "ão" português. Entre outros milhares de exemplos, action, em inglês e francês, e acción, em espanhol, dão em "ação" em português. Ora, o "ão" é o som mais típico da língua portuguesa, terror dos estrangeiros que o tentam imitar. Fugir do "ão", como se faz, mesmo inconscientemente, quando se opta pelo "on" é negar a língua portuguesa como nem São Pedro negou Jesus Cristo antes que o galo cantasse.

O gosto da invenção, somado à queda pelo estrangeirismo, colabora para a hipótese seguinte: a escolha dos nomes Kléberson ou Richarlyson, Welton ou Arilton, trairia o desejo de, com o fermento de toques originais e estrangeiros, prover o filho de uma personalidade forte e única. Não, ele não haverá de ser um zé qualquer, nem um joão-ninguém. A ironia desta história é que, em contraponto à tendência pelos "son" e "ton" nos estratos populares, nas classes altas vigora a tendência oposta. Lá reinam os Josés e os Joões, Antônios e Franciscos, como fazia décadas não se via. Tal qual em outros campos, um Brasil vai para um lado, o outro para a direção inversa.

* Originalmente publicado na revista VEJA, Edição 2101, 25 de fevereiro de 2009