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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

31 julho 2009

RESERVA LEGAL E A AGRICULTURA FAMILIAR

Debate sobre Reserva Legal não encerra problemas da agricultura familiar

Felipe Amaral*
Ecodebate/Agência Chasque de Notícias

A luta entre ambientalistas e ruralistas no Congresso Nacional está tendo um desfecho administrativo. Numa manobra política e sabidamente oportuna, o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, utiliza-se de instrumentos normativos e resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), para fazer as alterações necessárias no texto do Código Florestal brasileiro.

Alguns outros pontos que deveriam entrar em análise, serão encaminhados via projeto de lei ou medida provisória. É oportuno, pois a discussão sobre as alterações do Código Florestal estão se proliferando em diversos estados, com iniciativas que tentam liberar a legislação ambiental. É sábio, pois não existe uma bancada ambientalista no Congresso; na realidade hoje não existem mais bancadas representativas, restam somente os ruralistas e os evangélicos. Desta forma entrar na disputa política dentro do congresso era temerário, pois as medidas necessárias estavam vindo acompanhadas de uma avalanche propostas que ampliavam a possibilidade de exploração da terra para a produção do agronegócio.

A partir de agora, as Áreas de Proteção Permanente podem ser contabilizadas como Reserva Legal, e a averbação da Reserva Legal será gratuita para pequenos proprietários. Isto é uma iniciativa que tem como objetivo central a regularização destas áreas, e na medida do possível formar um banco de informações para facilitar e agilizar a fiscalização, e dar um diagnóstico sobre a real área de conservação que envolve margens de rios e encostas de morros. Embora sabendo da fragilidade e precariedade dos órgãos responsáveis pelo trabalho de fiscalização.

Mas essas propostas, que estavam sendo costuradas entre Ministério do Meio Ambiente e setores ligados à pequena produção de módulo familiar não traz todas as soluções para os problemas dos pequenos. Embora amenize alguns entraves burocráticos e elimine taxas administrativas, ainda não existe uma posição definida sobre as áreas consolidadas nas pequenas propriedades.

Hoje casa e ancoradouros construídos à margem de rios são consideradas irregulares e podem gerar multas. A idéia do Ministério do Meio Ambiente é enviar até Setembro, para análise do CONAMA, uma proposta de resolução que estabelece os parâmetros para usos mínimos e atividades de baixo impacto nas áreas de preservação permanente. A minuta inicial da proposta estabelece a permissão de trilhas para atividade de ecoturismo, a construção de pequenos ancoradouros, visto que muitos dos acessos a propriedade se dá por água, além da regularização da construção de pequenas casas que correspondem até 5% da área de preservação.

O ponto que mais avançou, e que foi tema de muita discussão, é a utilização das APPs para atividades produtivas. A proposta que será apresentada ao CONAMA, estabelece que espécies arbóreas frutíferas podem ser plantadas nas áreas de preservação, uma medida que beneficia uma infinita gama de produtores, principalmente aqui na região Sul.

São com medidas que garantam a preservação, ampliem os instrumentos de controle ambiental e a regularização fundiária, garantam o fomento agrícola para pequenos proprietários que investem em práticas agroecológicas, é que podem surgir os fundamentos para a sustentabilidade do homem no campo, na mata. Garantindo a produção de alimentos e a preservação ambiental.

*Felipe Amaral é ecólogo e integrante do Instituto Biofilia (http://www.institutobiofilia.org.br).

A CRISE NA FRONTEIRA DO ACRE COM A BOLÍVIA

Deputados acionam autoridades a favor de brasileiros que vivem na Bolívia

Os deputados Fernando Melo (PT), presidente da Frente Parlamentar Brasil – Bolívia e Moisés Diniz (PCdoB), líder do governo na Assembléia Legislativa, estão coordenando uma intensa agenda política a favor dos brasileiros que vivem na Bolívia.

No dia 4 de agosto o deputado Fernando Melo se encontra com o Secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior e com o embaixador Eduardo Gradiloni, Diretor do Departamento de Comunidades Brasileiras no Exterior.

No dia 13 de agosto, Fernando Melo e Moisés Diniz se encontram com a Encarregada de Negócios da Bolívia no Brasil, Cristina Linalle de Aparício. O objetivo das reuniões é levar o governo brasileiro a negociar a permanência dos brasileiros na Bolívia.

“A luta principal é pela permanência dos brasileiros na Bolívia. O resultado de toda uma vida de trabalho está investido lá. A transferência dos brasileiros para terras daqui ainda não está na agenda”, informou Diniz.

Dentro da agenda está previsto ainda o lançamento da Frente Parlamentar Acre – Pando no dia 10 de agosto. Além de parlamentares, a frente pretende incorporar instituições do poder executivo, do judiciário e da sociedade civil.

“Sob o comando da Assembléia Legislativa, nós vamos criar um movimento amplo no Acre de defesa dos brasileiros que vivem e trabalham na Bolívia”, afirmou Melo.

Moisés Diniz informou que a Frente Acre – Pando e toda a luta a favor dos brasileiros que vivem na Bolívia será ampla, envolvendo inclusive parlamentares da oposição.

“Uma luta dessa magnitude não pode dispensar ninguém. Os brasileiros que vivem e trabalham na Bolívia são acreanos e o Acre por inteiro precisa organizar a solidariedade e a luta”, finalizou Diniz.

INDICADOR DE POLUIÇÃO: A OUTRA UTILIDADE DA CEBOLA

Análise da raiz permite identificar alterações causadas pela poluição não detectadas por outros testes. No teste da cebola, os bulbos são mergulhados nas amostras de água do rio Paraíba do Sul. O teste é capaz de identificar alterações celulares causadas pela poluição

Cebola contra poluição

A utilidade da cebola pode ir muito além da culinária. É o que mostra uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que utilizou bulbos de cebola para medir a qualidade das águas do rio Paraíba do Sul. O teste da cebola identificou uma série de alterações causadas pela poluição não detectadas pelo monitoramento da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) em dois trechos críticos do rio em São Paulo.

A bióloga Agnes Barbério, professora da Universidade de Taubaté, que realizou a pesquisa durante seu doutorado na Unicamp, utilizou o teste da cebola (Allium cepa) para avaliar a qualidade das águas do Paraíba do Sul nas cidades de Tremembé e Aparecida.

No teste da cebola, os bulbos são mergulhados nas amostras de água do rio Paraíba do Sul. O teste é capaz de identificar alterações celulares causadas pela poluição (foto: Agnes Barbério).

Amostras de água coletadas durante os anos de 2005, 2006 e 2007 foram submetidas ao teste Allium, que consiste em mergulhar os bulbos de cebola nas amostras de água e esperar que eles criem raízes. Depois, as raízes devem ser cortadas para análise do meristema radicular, tecido que contém células indiferenciadas com capacidade de divisão contínua.

A análise do meristema permite identificar alterações que comprometem o funcionamento das células, como a inibição da divisão celular e anomalias cromossômicas, causadas pela poluição da água. Outro aspecto que pode ser observado é a ocorrência de problemas no material genético, como a formação de micronúcleos.

Enquanto os testes feitos pela Cetesb com bactérias e microcrustáceos deram negativo para toxidade crônica e para a presença de compostos mutagênicos, os testes feitos por Barbério apresentaram resultado positivo para outras amostras de água colhidas na mesma época. “As células da cebola, por serem mais complexas, apresentam resultados mais próximos dos animais e seres humanos, quando se trata de consequências da poluição, do que as bactérias”, explica a bióloga.

Efeito conjunto
Ela ressalta que uma das vantagens do teste da cebola é a possibilidade de avaliar o efeito conjunto dos poluentes no organismo. “Uma análise química pode concluir que metais como alumínio e chumbo, por exemplo, estão em níveis seguros”, afirma. “Mas essa análise é isolada para cada elemento, enquanto a integração deles poderia estar causando alterações citotóxicas e genotóxicas, como as encontradas pelo teste da cebola.”

Outras vantagens do teste, que já é aplicado em vários países e pode ser utilizado também para detectar a poluição do solo, são o custo baixo, a abundância da cebola, encontrada durante todo o ano no Brasil, a rapidez e a facilidade.

Barbério chegou à conclusão de que com apenas três bulbos de cebola é possível avaliar um trecho como o de Tremembé ou Aparecida. Ela acredita que esse conjunto de vantagens justifica a inclusão do teste da cebola no monitoramento bimestral feito pela Cetesb, que utiliza outras 50 variáveis.

Tatiane Leal
Ciência Hoje/RJ

Foto: Agnes Barbério

INPE VAI MONITORAR EXPLORAÇÃO SELETIVA DE MADEIRA NA AMAZÔNIA

Inpe desenvolve novo sistema de vigilância por satélite para monitorar o desflorestamento causado pela exploração seletiva de madeira em florestas brasileiras

Mais controle e fiscalização

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) está concluindo o desenvolvimento tecnológico, com previsão de lançamento para a primeira quinzena de agosto, de um novo sistema de vigilância por satélite para monitorar o desflorestamento causado pela exploração seletiva de madeira na Amazônia e em outras florestas brasileiras.

Nomeado Detex (de Detecção de exploração seletiva), o sistema tem o objetivo de monitorar áreas florestais concedidas legalmente para exploração e verificar se os madeireiros estão respeitando planos de manejo aprovados pelos órgãos públicos de proteção ao meio ambiente.

Com resolução espacial de 20 metros no solo, o Detex complementará os dados fornecidos por outros sistemas que vêm sendo operados pelo Inpe desde a década de 1980, como o Prodes (Projeto de monitoramento da floresta amazônica brasileira por satélite) e o Deter (Detecção de desmatamento em tempo real).

As imagens coletadas pelo Detex serão mais definidas do que as fornecidas pelo Prodes (que são de 30 por 30 metros) e pelo Deter (de 250 por 250 metros).

O pesquisador da Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe, Dalton de Morisson Valeriano, explica que a exploração seletiva de madeira na Amazônia e em outras regiões do país, como no oeste de Santa Catarina, é uma atividade econômica lícita que contribui para que essas regiões sejam consideradas grandes polos madeireiros.

Na exploração seletiva de madeira são cortadas apenas as árvores de valor comercial, com base em planos de manejo que possibilitem a recuperação, a longo prazo, da biomassa florestal da área explorada.

“Criado para mapear o estado de conservação e a integridade das florestas brasileiras, o Detex indicará detalhadamente os lugares do país que abrigam a atividade madeireira, uma vez que hoje o controle não é tão refinado com o auxílio de mapas mais localizados. O que se sabe são apenas as regiões mais amplas do Brasil em que essa exploração ocorre”, disse à Agência FAPESP.

“O sistema gerará dados sobre os locais exatos dessas atividades e também deverá mostrar, em um segundo momento, de forma qualitativa, a intensidade do corte seletivo para que os órgãos fiscalizadores identifiquem se as áreas exploradas têm autorização e também se estão sendo exploradas conforme o planejado”, apontou.

As informações geradas pelo Detex serão destinadas aos setores que controlam a exploração madeireira no país: o Serviço Florestal Brasileiro, se a área de exploração estiver em áreas de floresta que são de domínio público, ou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que fiscaliza a exploração em áreas privadas.

Os primeiros dados a serem divulgados pelo Detex, nas próximas semanas, serão referentes ao mapeamento da extensão da floresta desmatada no Brasil para o corte seletivo de madeira em 2007 e 2008.

“Esses dados já estão prontos e só estamos dependendo de uma apresentação interna ao Serviço Florestal Brasileiro, o que deverá ocorrer no início de agosto, para em seguida essas informações serem divulgadas no site do Inpe”, disse Valeriano.

Outro sistema recentemente lançado pelo Inpe foi o Degrad (Mapeamento da degradação florestal na Amazônia brasileira), cujo objetivo é mapear as áreas em processo de desmatamento em toda a Amazônia Legal que não são computadas pelo Prodes, sistema que há 20 anos mapeia o “corte raso”, áreas onde a cobertura florestal nativa foi totalmente retirada.

Um levantamento preliminar do Degrad, divulgado em março deste ano, registrou 14.915 km² de áreas em processo de desmatamento em 2007 e 24.932 km² em 2008 na região amazônica.

Foto: Inpe

REGULARIZAÇÃO DA PROFISSÃO DE MOTOTAXISTAS

A legalização desse 'estilo africano-terceiromundista' de transporte urbano é um equívoco e resulta de interesse político-eleitoreiro de parlamentares. Nos últimos dez anos o número de mortes aumentou 1.000%. Em 14 estados, óbitos de motociclistas superaram os de pedestres. Custo da recuperação dos acidentados chegou a R$ 8 bilhões no ano passado. A sociedade paga a conta

G1/Jornal Hoje

Os acidentes de moto no país somaram dez mil mortos, mais de 500 mil feridos e um gasto de R$ 8 bilhões no ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito. Nos últimos dez anos, o número de mortes aumentou 1.000%. A cada minuto, uma pessoa morre ou fica ferida por causa de acidentes com motocicletas.

Muitas das vítimas não usam equipamentos de segurança e nem fazem idéia dos estragos que um acidente pode causar. Quando um motociclista cai de sua moto, o asfalto vira uma lixa no atrito com a pele. E quanto maior for a velocidade da moto, pior para o condutor.

O professor de física Beraldo Neto faz o cálculo: se o piloto estiver a 60 km/h ele poderá deslizar entre 20 e 30 metros na queda, dependendo do tipo e das condições da pista. Cair de moto a 36 km/h equivale a uma queda de segundo andar de um prédio. Se o motociclista estiver a 72 km/h e cair, será o mesmo que ele despencar do sexto andar. Já para os pilotos de corrida, que podem se acidentar a 140 km/h, a queda é igual à altura de um prédio de 26 andares.

“No caso da moto, o próprio piloto é o pára-choque, ao contrário do carro, que tem amortecimento natural, por conta da lataria”, indica o professor.

O motociclista Washigton Silva sofreu um acidente de moto. Um carro na contramão atingiu a motocicleta em que ele viajava com um amigo. O amigo morreu. “Estou com trauma de andar de moto. Espero que as pessoas vejam o que aconteceu comigo e tomem posição para não acontecer com alguns deles também”, disse Silva.

Os acidentes com motociclistas custam caro para o estado. Segundo o diretor do Hospital da Restauração do Recife, Hélder Corrêa, as vítimas de acidente ficam de três a quatro meses de internamento hospitalar. “Elas têm um custo social importantíssimo e um custo também financeiro elevado para o estado porque as orteses e próteses usadas para essas cirurgias são materiais caros”, explica Corrêa.

Atualmente, em 14 estados brasileiros as mortes de motociclistas superaram as mortes de pedestres. As autoridades acreditam que dentro de dois ou três anos, no máximo, as vítimas de acidentes de motocicletas serão parte do principal grupo de morte dentro dos acidentes de trânsito.

Leia aqui nota do jornal A Tribuna sobre 'os prejuízos' que os motociclistas causam à sociedade acreana.

Clique aqui para ler nota do site A Gazeta Net indicando que eles, os motociclista, são responsáveis por 53% das mortes no trânsito em Rio Branco.

Foto: A Tribuna

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CONTROLE DA PESCA EXCESSIVA SURTE EFEITO NA RECUPERAÇÃO DE ESTOQUES DE PEIXES

Estudo internacional publicado na Science destaca que medidas para controle da pesca excessiva estão surtindo efeito e indicam caminho para recuperação de estoques em risco de esgotamento

Menos redes, mais peixes

Agência FAPESP – Cientistas de diversos países se reuniram para um trabalho de dois anos em que avaliaram o estado das reservas de pescado no mundo e de seus respectivos ecossistemas. A conclusão é positiva.

Diferentemente de análises anteriores, que apontaram um fim inevitável para as principais áreas de pesca, a nova pesquisa, publicada na edição desta sexta-feira (31/7) da revista Science, indica que medidas tomadas nos últimos anos para conter a pesca excessiva estão surtindo efeito.

Os bons resultados foram verificados em cinco dos dez grandes ecossistemas marinhos avaliados, o que poderá estimular a recuperação de outras áreas pesqueiras em risco de esgotamento.

O estudo teve dois objetivos principais: examinar tendências atuais na abundância de pescado e em taxas de exploração (proporção de peixes retirados do mar) e identificar quais métodos os administradores aplicaram em seus esforços para recuperar os estoques.

Segundo a Communication Partnership for Science and the Sea (Compass), que reúne diversas instituições de pesquisa norte-americanas, o trabalho representa uma importante conquista, uma vez que revela que a taxa de exploração tem sido reduzida em diversas regiões do mundo, resultando em recuperação de estoques pesqueiros.

“Os ecossistemas mais bem administrados estão melhorando, mas ainda há muito pela frente. A maior parte dos estoques precisa de grandes esforços para sua recuperação”, disse Ray Hilborn, da Universidade de Washington, um dos coordenadores da pesquisa.

“O estudo mostra que nossos oceanos não são uma causa perdida. O resultado mais encorajador é que a taxa de exploração – o maior causador de esgotamento e colapso – está diminuindo na metade dos sistemas examinados em detalhe”, disse Boris Worm, da Universidade Dalhousie, outro coordenador do trabalho.

“Isso significa que o gerenciamento nessas áreas está promovendo as condições tanto para a recuperação ecológica como para a econômica. Ainda é apenas o começo, mas nos dá esperança de saber que temos a capacidade de controlar a pesca excessiva”, afirmou.

Os autores ressaltam que o trabalho se centrou principalmente em estoques pesqueiros de países desenvolvidos e que muitas vezes a pesca em excesso simplesmente é deslocada dessas áreas para outras em países em desenvolvimento, nos quais a legislação e o controle sobre a atividade pesqueira são menos rígidos.

Mas há exceções. Um dos estoques analisados foi no Quênia, onde cientistas, administradores e comunidades locais uniram forças para controlar áreas importantes de pesca e restringir certos tipos de equipamentos e técnicas consideradas predatórias. O resultado foi um aumento na quantidade e no tamanho dos peixes e também na receita dos estoques.

As melhores iniciativas, de acordo com o estudo, com as mais destacadas recuperações, ocorreram no Alasca e na Nova Zelândia.

O artigo Rebuilding global fisheries, de Boris Worm e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

30 julho 2009

TEORIA DA EVOLUÇÃO NÃO FOI EXCLUSIVIDADE DE DARWIN

Um nome fundamental - Autoria da teoria da evolução deve ser dividida entre Charles Darwin e Alfred Wallace, lembra artigo

Cleber M. Polegatto, Eurípedes G. Silveira-Jr. e Pamela de Souza Joaquim
Centro Universitário Claretiano (Batatais, São Paulo)/Ciência Hoje Online

Alfred Wallace é o nome de um naturalista ainda pouco conhecido, ao menos no Brasil, mesmo entre pesquisadores e estudantes de biologia. Muitos cientistas, em todas as áreas, são praticamente desconhecidos porque seu lugar na história foi ocupado por outros que, pela real importância de seu papel na ciência ou por diversos outros motivos, ganharam fama e garantiram o título de ‘gênio’. Estes têm lugar de destaque na história da ciência e em nossa memória.

É o caso, por exemplo, do autor da primeira classificação racional de animais e plantas, o sueco Carl von Linné (1707-1778), mais conhecido como Carl Lineu; do alemão Albert Einstein (1879-1955), cujas teorias lançaram as bases da física moderna; do inglês Charles Darwin (1809-1882), criador da teoria da evolução dos seres vivos, e de mais alguns.

Esses cientistas, no entanto, não desenvolveram suas ideias isoladamente. Outros pensadores, antes deles ou na mesma época, deram contribuições valiosas para suas realizações ou já trabalhavam com as mesmas teorias. É curioso que, nos meios acadêmicos e na educação pré-universitária, muitos desses outros cientistas, embora fundamentais para a formulação das teorias a que estão vinculados, tenham seus nomes e suas obras ou descobertas ignoradas.

Quem foi Wallace e qual sua importância na profunda modificação causada pela teoria da evolução no curso da ciência e da educação?

Nascido em 1823, o britânico Alfred Russel Wallace pode ser visto como um homem à sombra de Darwin, seu conterrâneo bem mais famoso. Vale observar que Darwin e Wallace lançaram praticamente ao mesmo tempo as bases da teoria da evolução, que explica a origem e a diferenciação de todos os seres vivos.

Embora tenha passado por grandes revisões, a teoria é amplamente aceita no meio científico, mas sua aceitação depende de uma visão de mundo racional e científica, que não permite abordagens pessoais ou místicas.

Wallace na Amazônia

Em 1848, junto com o entomologista Henry W. Bates (1825-1892), Wallace partiu da Inglaterra em uma viagem ao Brasil, para coletar insetos e outros animais, estudar a rica fauna tropical e buscar explicações para a evolução dos organismos e sua imensa diversidade. O próprio Darwin já estivera no Brasil, em 1832, passando 18 dias na Bahia e três meses na então província do Rio de Janeiro.

Os outros dois naturalistas, porém, estiveram na Amazônia, onde conheceram uma realidade biológica bastante diferente da que viam na Europa. Bates ficou na Amazônia por 11 anos, e textos escritos por ele sobre os insetos amazônicos, em particular as borboletas, deixam claro o seu espanto com a biodiversidade brasileira.

Wallace voltou à Inglaterra em 1852, bem antes de Bates, mas no período em que esteve na Amazônia estudou animais e plantas. Na volta para a Inglaterra, em 1852, perdeu a coleção que fez no Brasil e parte de suas anotações no incêndio e naufrágio do navio em que viajava. Mesmo assim, publicou vários artigos e dois livros sobre suas experiências na floresta tropical.

PREÇO DO ÁLCOOL COMBUSTÍVEL NO ACRE: SÓ AUMENTA...

...Durante a próxima safra de cana, quando a oferta de álcool combustível no mercado é abundante e o seu preço cai 'pelas tabelas'...a repórter deveria realizar matéria com o mesmo empresário para questioná-lo sobre a razão do preço do álcool no Acre nunca baixar, só subir...

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

O jornal A TRIBUNA de hoje apresenta uma matéria da jornalista Nayanne Santana alertando que o preço do álcool no Acre pode subir porque, segundo o representante do Sindicato dos Postos de Combustíveis do Acre, Romeu Delilo, "após a colheita da produção de cana, é comum que o preço do álcool sofra alterações porque o produto fica mais escasso no mercado." Na mesma nota o empresário afirma que “o período de safra da cana já encerrou, mas ainda não está faltando nas distribuidoras, por isso não podemos afirmar qual será o percentual de um possível reajuste. O certo é que se ficar escasso nas distribuidoras o aumento será repassado às bombas dos postos de combustíveis da cidade”.

Até ai nada de errado nas afirmações do empresário. E a matéria de Nayanne Santana é pertinente pois serve de alerta aos leitores sobre o possível aumento do preço do álcool.

Entretanto, fiz questão de fazer esta pequena nota no Blog para que, durante a próxima safra de cana, quando a oferta de álcool combustível no mercado é abundante e o seu preço cai 'pelas tabelas' nos lugares onde não existe acerto de preços à revelia das forças do mercado, eu possa sugerir à dileta repórter realizar uma matéria com o mesmo empresário para questioná-lo sobre a razão do preço do álcool no Acre ser 'fixo' ou apenas aumentar.

Quem viaja pelo Brasil afora sabe que, por exemplo, em São Paulo, o preço do álcool chega a baixar para menos de R$ 1 o litro durante a safra.

Se a repórter realmente fizer a matéria, vamos ver qual a 'desculpa' do empresário para a imutabilidade ou tendência eterna de aumento do preço do alcool nos postos de abastecimento acreanos mesmo durante a safra.

Destaco abaixo algumas possíveis desculpas:

- O preço do frete para o Acre é muito alto!
- O preço do frete de combustível para o Acre aumentou recentemente!
- As distribuidoras não dão o desconto que deveriam...


Em síntese, como o MP acreano não se interessa em investigar a 'coincidência' de preços de combustíveis vendidos em postos acreanos, os empresário sempre terão a desculpa perfeita para justificar seus preços abusivos:

- O culpado não é eu...é o...

BAIXA ESCOLARIDADE DIMINUIU SOBREVIDA DE MULHERES DIAGNOSTICADAS COM CÂNCER DE MAMA

Baixa escolaridade associada a menor sobrevida após diagnóstico de câncer

Fernanda Marques
Agência Fiocruz de Notícias

O tempo de sobrevida das mulheres após o diagnóstico de câncer de mama depende do estágio em que a doença é detectada: quanto mais cedo se descobre o problema, maiores as chances de controle e mesmo de cura. Contudo, existem outros fatores que podem prejudicar a sobrevida dessas mulheres: características sociais – como baixa escolaridade – podem estar associadas a uma morte mais precoce em decorrência do câncer de mama. Mesmo em Santa Catarina, estado com um dos mais elevados Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, esses fatores sociais continuam influenciando negativamente o prognóstico do câncer de mama. É o que mostra um artigo publicado recentemente na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico científico da Fiocruz. O trabalho é assinado por Ione Joyce Ceola Schneider e Eleonora d’Orsi, do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A pesquisa incluiu cerca de mil mulheres que receberam diagnóstico de câncer entre 2000 e 2002, segundo os registros de dois Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia localizados em Florianópolis: o Centro de Pesquisas Oncológicas de Santa Catarina e o Hospital de Caridade - Irmandade Nosso Senhor dos Passos. Um ano depois do diagnóstico, 96% das mulheres continuavam vivas. Cinco anos após a detecção da doença, este percentual caiu para 76%. Em comparação a estudos feitos em outros lugares, a taxa de sobrevida em Santa Catarina (76%) foi menor que a observada em Santa Maria (88%), no Rio Grande do Sul, similar a verificada no Instituto Nacional do Câncer (75%), no Rio de Janeiro, e maior que a registrado em Goiânia (57%) e Belém (61%).

A idade média das mulheres participantes do estudo foi de 54 anos. Cinco anos depois do diagnóstico, a taxa de sobrevida foi pior entre mulheres com idade inferior a 30 anos (47%) e melhor na faixa etária de 40 a 49 anos (82,1%). Já uma comparação por etnia revelou que a taxa de sobrevida das mulheres brancas (77%) é superior à das mulheres negras, pardas, amarelas e indígenas (62%). As analfabetas, por sua vez tiveram um risco de óbito 7,4 vezes maior, se comparadas às mulheres com nível superior. “A relação entre nível socioeconômico e prognóstico da doença é permeada pelo diagnóstico realizado numa fase já avançada da doença, devido à dificuldade de acesso aos programas de prevenção e aos cuidados médicos nas classes sociais menos favorecidas, mesmo em países desenvolvidos”, explicam as pesquisadoras no artigo.

Mais de 93% das pacientes diagnosticas no estágio I do câncer de mama permaneciam vivas cinco anos após a detecção da doença, enquanto este percentual foi inferior a 28% para as mulheres diagnosticadas no estágio 4. Em outras palavras, o risco de óbito é quase 20 vezes maior quando o problema é detectado já no estágio 4. Embora os números demonstrem a importância do diagnóstico precoce, somente cerca de 18% das mulheres tiveram a doença detectada ainda no estágio 1.

“A American Cancer Society recomenda a mamografia a cada dois anos em mulheres acima de 40 anos de idade e anualmente em mulheres a partir dos 50 anos. Achados mostram que o rastreamento mamográfico em mulheres com idade entre 40 e 64 anos é um fator de proteção para mortalidade por câncer de mama. Além da redução da mortalidade, é observado que o diagnóstico em campanhas de rastreamento mamográfico apresenta diminuição dos casos em estágio avançado”, destacam as autoras no artigo. Em todo o mundo, cerca de 1,1 milhão de mulheres têm diagnóstico de câncer de mama a cada ano. No Brasil, ainda são poucos os estudos que analisam a sobrevida de pessoas que tiveram diagnóstico de câncer, em especial o câncer de mama.

Para ler o artigo científico original, clique aqui.

INÉDITO NO BRASIL: TRANSMISSÃO DE CINEMA EM SUPERALTA DEFINIÇÃO ACONTECE HOJE

Primeira transmissão de cinema em superalta definição da América Latina para os Estados Unidos e Japão ocorrerá na quinta-feira (30/7), na capital paulista, por meio da rede KyaTera do Programa Tidia, da FAPESP

Definição inédita

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – “A primeira transmissão transcontinental ao vivo de cinema em superalta definição da América Latina para os Estados Unidos e Japão”, como vem sendo chamada por seus organizadores, será realizada na quinta-feira (30/7), às 19 horas, durante a 10ª edição do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), em São Paulo.

Do Teatro Popular do Serviço Social da Indústria (Sesi), na capital paulista, o filme Enquanto a noite não chega, dirigido por Beto Souza e Renato Falcão, será transmitido para a Universidade da Califórnia em San Diego e para a Universidade de Keio.

Por meio da rede KyaTera, do Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia) da FAPESP, o desafio será transmitir, em tempo real, imagens em movimento de um longa-metragem com resolução de 4K.

A tecnologia 4K (4096×2160 pixels) se refere à projeção de imagens em altíssima resolução. O total equivale a mais de 8 milhões de pixels, o dobro de um filme digital convencional. Trata-se de uma imagem com definição cerca de quatro vezes maior do que a HD (High Definition) e 24 vezes superior que a da televisão tradicional.

As imagens serão transmitidas ao vivo pelas redes de fibras ópticas do KyaTera, que operam com taxas de até 10 gigabits por segundo (Gbps), capacidade atualmente restrita principalmente às universidades e instituições de pesquisa do país.

“Trata-se de um experimento que abre possibilidades enormes para a ciência, funcionando, primeiramente, com a demonstração de um princípio tecnológico factível para, em seguida, gerar novos benefícios e aplicações em outras áreas do conhecimento”, disse o professor Eunézio de Souza, coordenador do Laboratório de Fotônica do Mackenzie e coordenador da camada física das redes ópticas do KyaTera, à Agência FAPESP.

“As infraestruturas lógica e física da rede estão prontas e as chances de a transmissão fracassar são muito remotas – isso aconteceria caso a energia elétrica da Avenida Paulista acabasse na hora do experimento, por exemplo, uma vez que os lasers que alimentam os cabos ópticos com informações são alimentados eletricamente”, afirmou.

Segundo o docente, que é conhecido pela comunidade científica como Thoroh, a transmissão transcontinental só se tornará possível graças à infraestrutura oferecida pela rede, que conecta dezenas de laboratórios de pesquisa no Estado de São Paulo.

“Sem o KyaTera não haveria esse experimento. A grande vantagem dessa rede é a possibilidade de usarmos as fibras ópticas apagadas [desativadas ou sem tráfego de luz], que já estão disponíveis e não estão conectadas a nenhum dispositivo convencional. Essas fibras pertencem à Telefônica e foram cedidas por meio de um acordo de cooperação científica com a FAPESP”, disse.

“Diferentemente das fibras acesas, cuja largura de banda é determinada pelas empresas operadoras, nas fibras apagadas somos nós, pesquisadores, que determinamos as características da banda a ser utilizada. Para o experimento da transmissão transcontinental de imagens em superalta definição, utilizaremos taxas de cerca de 10 Gbps”, completou.

Debate no dia 31

Pelo lado brasileiro, a iniciativa é liderada por docentes e pesquisadores dos programas de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura e de Engenharia Elétrica da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Os detalhes técnicos para a transmissão das imagens estão a cargo do Laboratório de Fotônica do Mackenzie.

“Vemos esse experimento como a ligação da inovação tecnológica com um evento cultural e artístico que é o cinema”, disse Jane de Almeida, coordenadora dos cursos de mestrado e doutorado em Educação, Arte e História da Cultura do Mackenzie e que também está à frente do experimento.

Participam ainda da transmissão pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e da Rede ANSP (Academic Network at São Paulo, na sigla em inglês), da FAPESP.

No dia seguinte à transmissão transcontinental, na sexta-feira (31/7), às 10 horas, haverá um debate por cineconferência com pesquisadores brasileiros e das duas universidades estrangeiras que participam do projeto.

Mais informações: http://www.file.org.br

(foto: divulgação)

29 julho 2009

BRONZEAMENTO ARTIFICIAL TEM ALTO RISCO DE CAUSAR CANCER DE PELE

Número de casos de melanoma entre jovens cresce junto com a popularização do aparelho, diz estudo

Associated Press/Estadão
Reproduzida do site Ecodebate

Especialistas internacionais em câncer levaram as camas de bronzeamento artificial e a radiação ultravioleta para categoria máxima de risco de câncer, colocando-as no mesmo nível do gás mostarda e do arsênico.

Há anos que os aparelhos de bronzeamento com lâmpadas e a radiação eram considerados “prováveis cancerígenos”. Agora, uma análise de 20 estudos conclui que o risco de câncer de pele aumenta 75% quando a pessoa começa a usar as camas de lâmpadas de bronzeamento antes dos 30 anos. Matéria da Associated Press.

Especialistas também detectaram que todos os tipos de raio ultravioleta causam mutações preocupantes em camundongos. Anteriormente, acreditava-se que apenas um tipo de raio ultravioleta seria perigoso.

A nova classificação significa que os aparelhos e a radiação são causas definidas de câncer, ao lado do tabaco, do vírus da hepatite B e outros cancerígenos notórios.

A pesquisa será publicada pela revista médica The Lancet Oncology nesta quarta-feira, por cientistas da Agência Internacional de Pesquisas de Câncer de Lyon, o braço de oncologia da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“As pessoas precisam ser lembradas do perigo dos leitos de bronzeamento”, disse um dos cientistas, Vincent Cogliano.

A maioria das luzes usadas nas camas produz principalmente radiação ultravioleta, que causa câncer de pele e nos olhos, segundo a agência.

A classificação das camas de bronzeamento como cancerígenas foi contestada pela executiva-chefe da Sunbed Association, um sindicato de fabricantes e operadores desses equipamentos, Kathy Banks. Ela diz que não há prova de que o “uso responsável” das camas cause câncer.

Mas, à medida que o uso das camas veio aumentando entre menores de 30, os médicos passaram a observar uma elevação dos casos de câncer de pele. No Reino Unido, o melanoma, a forma mais perigosa de câncer de pele, já é o tumor mais diagnosticado entre mulheres na faixa dos 20 anos.

Normalmente, a taxa de câncer de pele atinge o máximo a partir dos 75 anos.

Matéria da Associated Press, no Estadao.com.br

BICO, PARA QUE TE QUERO?

O bico do tucano, responsável por um terço do seu tamanho, é o maior dentre todas as espécies de aves. Cientistas já haviam constatado que ele é usado para funções como descascar frutas ou atrair companheiros. Agora, três pesquisadores acabam de identificar uma nova função para essa estrutura: auxiliar na regulação da temperatura corporal da ave.

O bico do tucano-toco é irrigado por vasos sanguíneos que permitem que o animal controle a temperatura de seu corpo por meio de processos de contração ou dilatação (foto: Thiago Filadelpho).

A conclusão foi feita em um estudo realizado com a maior e mais emblemática das espécies de tucano: o tucano-toco (Ramphastos toco). Os pesquisadores constataram que, quando comparado à dimensão total da ave, o bico dessa espécie constitui a maior estrutura corporal destinada à troca de calor com o meio externo de todo o reino animal. Com isso, ele supera outras estruturas de tamanho considerável conhecidas por atuar no controle térmico, como a orelha do elefante.

A novidade foi relatada em um artigo publicado na Science desta semana, assinado pelos biólogos Denis Andrade e Augusto Abe, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, e Glenn Tattersall, da Universidade de Brock, em Ontário (Canadá).

Clique na imagem para assistir ao vídeo que mostra tucanos filmados por uma câmera infravermelha, que permite a obtenção de registros detalhados da temperatura superficial dos animais (imagens: Glenn Tattersall).

Denis Andrade conta que a regulação térmica da ave estudada depende de uma irrigação sanguínea adequada. “Como o bico do tucano é bem vascularizado, é possível a realização da contração e dilatação desses vasos sanguíneos para regular a troca de calor”, explica o biólogo.

Ele acrescenta que, embora essa função possa não ser determinante para o tamanho do bico, ela certamente é favorecida pela superfície extensa dessa estrutura.

Câmera infravermelha
Para chegar a essa conclusão, os biólogos monitoraram várias partes do corpo de tucanos-toco com uma câmera infravermelha, que permite a obtenção de imagens detalhadas da temperatura superficial dos animais.

Eles observaram que a temperatura variou sutilmente em função da temperatura ambiente na parte lombar dos tucanos, coberta de penas, e permaneceu constante na região próxima aos olhos. Já no bico, as temperaturas foram mais variáveis e controladas de forma a regular a quantidade de calor que era perdida através de sua superfície.

“Quando a temperatura do ambiente cai, ocorre um processo de contração dos vasos sanguíneos presentes no bico, o que impede a perda de calor”, explica Denis Andrade. “Já em temperaturas mais elevadas, o processo é contrário. Os vasos se dilatam e permitem a perda de calor.”

Nos tucanos jovens, o mecanismo de regulação térmica não é muito eficiente, pois o bico ainda está em processo de crescimento, o que faz com que haja necessidade de circulação sanguínea na região (foto: Thiago Filadelpho).

As mudanças térmicas na superfície do bico são rápidas e acontecem também durante o voo e outras atividades. Nessa situação, a produção metabólica de calor é maior. O bico, então, fica mais quente e o calor produzido pelo corpo durante o exercício é dissipado através dele.

Já enquanto se prepara para dormir, o tucano usa o bico para perder calor, uma vez que a temperatura corporal é reduzida durante o sono.

O próximo passo da pesquisa é investigar se esse mecanismo de controle da temperatura corpórea também ocorre em outras espécies de aves. “Suspeitamos que o bico tenha essa função na maioria das aves”, afirma Andrade. “No caso do tucano, porém, ela se torna mais relevante devido ao enorme tamanho do bico.”

Júlia Faria
Ciência Hoje On-line

INFLAMAÇÃO NAS GENGIVAS PODE AUMENTAR O NÍVEL DE TRIGLICÉRIDES

Periodontite aumenta em até quatro vezes a possibilidade de níveis patológicos de triglicérides, segundo estudo feito por grupo interdisciplinar de São Paulo. Artigo foi publicado no Journal of Periodontology

Gengivas e colesterol ruim

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Um estudo, publicado no Journal of Periodontology, revela que a periodontite – inflamação nos tecidos moles em torno dos dentes que pode afetar gengivas, ossos e ligamentos – aumenta em até quatro vezes a possibilidade de os pacientes com a doença apresentarem níveis patológicos de triglicérides quando comparados a pacientes sem periodontite.

De acordo com o artigo, atualmente a doença periodontal tem sido associada a diversas patologias de natureza sistêmica, entre elas diabetes, doenças cardiovasculares, infecções pulmonares e partos de prematuros.

Trata-se de uma doença inflamatória e infecciosa produzida por bactérias gram-negativas presentes no biofilme dental que afetam o periodonto, isto é, os tecidos envolvidos na fixação do dente ao ossos. “Caracteriza-se por intensa infiltração inflamatória que causa perda progressiva da inserção conjuntiva e pode ocorrer em indivíduos saudáveis de qualquer idade”.

De acordo com Antônio Martins Figueiredo Neto, um dos autores do artigo, a pesquisa detectou uma forte correlação entre a doença periodontal e a aterosclerose. A doença aumenta a quantidade de lipoproteína de baixa densidade (LDL, na sigla em inglês), conhecida como “colesterol ruim”.

“Nossos resultados indicaram claramente que pacientes com periodontite crônica possuem altos níveis de LDL modificada, a grande vilã no desenvolvimento da aterosclerose, quando comparados com pacientes sãos. Após o tratamento periodontal, o nível de LDL modificada no plasma diminuiu”, disse Figueiredo Neto à Agência FAPESP.

Figueiredo Neto, que é professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), coordena dois projetos temáticos financiados pela FAPESP: “Fluidos complexos: cristais líquidos, coloides magnéticos e fluidos de interesse biológico e elastômeros” e “Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fuidos Complexos (INCT-FCx)”, este último em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Em ambos os projetos temáticos o objeto de estudo são os fluidos complexos. Dentre eles destaco os cristais líquidos e os coloides magnéticos (ou ferrofluidos)”, disse.

O trabalho publicado, segundo o pesquisador, envolveu um esforço multidisciplinar com a participação de físicos, imunologistas, odontólogos e matemáticos de várias universidades como a USP, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp).

“Não há dúvida de que em muitos problemas, em particular aqueles ligados à saúde e à ciência dos materiais, essa abordagem multidisciplinar é fundamental e propiciará saltos de qualidade até então não vislumbrados”, disse.

No Brasil, segundo ele, a pesquisa multidisciplinar no nível da que é desenvolvida no INCT-FCx ainda é muito incipiente. “Isso se explica parcialmente pela barreira existente entre os pesquisadores das diferentes ciências da natureza. Em muitos casos a linguagem e a abordagem dos problemas parecem ser muito diferentes. Entretanto, após vencer essa barreira notamos que há um ganho específico enorme para todos os pesquisadores envolvidos”, disse.

Nova técnica

Cerca de 40 pacientes com periodontite crônica participaram da pesquisa. Esses pacientes foram tratados e avaliados durante 12 meses. Para o estudo, os pesquisadores aplicaram uma nova técnica, a Varredura-Z, para a dosagem da quantidade de LDL modificada no plasma.

De acordo com Figueiredo Neto, a Varredura-Z é uma técnica de óptica não-linear. É comumente utilizada no estudo de materiais e o grupo de pesquisa a empregava para estudar propriedades de cristais líquidos e coloides magnéticos.

“Quando eu vi a estrutura de uma LDL notei que se assemelhava muito às micelas de cristais líquidos que estudávamos há mais de duas décadas. A partir daí veio a ideia de utilizar nossa técnica para investigar a assinatura não-linear da LDL e da LDL modificada. A surpresa veio quando verificamos que eram muito diferentes, possibilitando a sua identificação e quantificação”, explicou.

O cientista afirmou ainda que até hoje se utiliza apenas a quantidade de nível plasmático de LDL, sem detecção da quantidade de LDL modificada para avaliar o risco de desenvolvimento da aterosclerose.

“Apesar da sua má fama, a LDL é a lipoproteína mais abundante no plasma e a principal transportadora de colesterol para as células. É, portanto, essencial ao metabolismo celular”, disse.

De acordo com o estudo, os resultados mostraram que o nível plasmático da lipoproteína de alta densidade (HDL, na sigla em inglês), conhecida coloquialmente como “colesterol bom”, foi menor nos pacientes com periodontite.

E esses pacientes são portadores de um maior número de LDL modificadas quando comparados com os que não têm periodontite. Os resultados de Varredura-Z indicaram que a concentração de LDL modificada nos pacientes após o tratamento periodontal reduziu significativamente em comparação à dosagem determinada antes do tratamento.

Segundo o pesquisador, no momento o grupo investe em “várias frentes”. Estamos verificando a assinatura óptica não-linear de LDLs provenientes de diferentes indivíduos com diferentes fenótipos e grupos de risco. Por outro lado estamos pesquisando a origem dessa assinatura óptica do ponto de vista teórico. Essa compreensão ainda não está completa”, conta.

O artigo publicado no Journal of Periodontology sobre periodontite foi o primeiro. Mas o grupo já publicou outros trabalhos em revistas internacionais sobre o tema da LDL e a técnica de Varredura-Z.

Para ler o artigo Cardiovascular disease Parameters in Periodontitis, de Antonio Figueiredo Neto, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.

TUBERCULOSE EM INDÍGENAS RONDONIENSES

Tuberculose tem alta incidência em populações indígenas de Rondônia

Informe Ensp

Os indígenas do estado de Rondônia apresentam os maiores índices de adoecimento por tuberculose do país, de acordo com estudo realizado por Linconl Uchôa Sidon, aluno de mestrado da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Outra constatação é que cerca de 30% desses casos foram notificados em menores de 15 anos. O estudo apontou também que essa população apresentou melhores resultados no tratamento, com proporções de cura, abandono e óbito mais favoráveis do que os de não indígenas. O trabalho Tuberculose nas populações indígenas de Rondônia (1997-2006), Amazônia Ocidental - Brasil foi orientado pelo pesquisador da Ensp Paulo Basta.

No estudo, foram utilizados dados secundários provenientes do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan/TB/RO) da Coordenação Estadual de Controle da Hanseníase e Tuberculose, no período entre 1997 e 2006. "Em consulta às variáveis de identificação dos indivíduos, realizou-se um processo de classificação dos casos de tuberculose em dois diferentes grupos (indígenas e não indígenas). Após classificação, depuração dos dados e exclusão de registros duplos, encontramos 6.407 casos elegíveis para análise. Desses, 420 foram classificados como indígenas (6,5%) e 5.987 como não indígenas (93,5%)", conta Linconl. "Entre os resultados obtidos, constatou-se que 98% dos casos notificados residiam em Rondônia e que 70% eram provenientes dos seis municípios prioritários para o controle da tuberculose no estado. De acordo com a variável zona de residência, 80% dos casos indígenas foram provenientes da zona rural enquanto 80% dos não indígenas provinham da zona urbana". Segundo o pesquisador, isso pode ter implicações sobre o acesso dos doentes indígenas aos serviços de saúde, que, em sua quase totalidade, concentram-se nas sedes dos municípios.

Linconl comenta que, no Brasil, existem cerca de 220 etnias indígenas, mas as informações específicas sobre essas populações ainda não são captadas pelo Sinan. "As ações usualmente empregadas pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) na rotina de vigilância e controle da tuberculose ainda não estão adaptadas à realidade da maioria dessas sociedades. Isto se dá provavelmente devido à dificuldade de integração entre os serviços de assistência e controle da tuberculose ofertados à população em nível municipal e as ações desenvolvidas pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), instituição responsável pela assistência à saúde aos indígenas no país", explicou.

Mesmo sem perder de vista as limitações inerentes aos estudos pautados em dados secundários de notificação, tais como subregistros e erros de classificação, somadas à dificuldade de obtenção de informações demográficas confiáveis sobre os povos indígenas no Brasil, foi observada uma tendência de redução da carga de tuberculose entre 1997 e 2006 para os dois grupos analisados. No entanto, Linconl indica que a incidência média do período para todas as formas da doença foi 14 vezes maior entre os índios (515,1 casos por 100 mil habitantes para indígenas e 36,0 por 100 mil habitantes para não indígenas).

Estudo registra elevada proporção de tuberculose entre índios menores de 15 anos

A média de idade dos casos de tuberculose entre os não indígenas ficou perto de 39 anos, enquanto entre os indígenas foi bem inferior e girou em torno de 29 anos, destacando-se a elevada proporção (33%) de casos nos indígenas menores de 15 anos. "O grande número de casos de tuberculose em crianças indígenas é um indicador indireto de que pode estar havendo transmissão do bacilo de Koch nas aldeias e que a situação epidemiológica está longe de ser controlada. Ainda que esses achados sejam relevantes, devemos estar atentos para fatores que também intervêm na proliferação da doença, tais como a estrutura populacional indígena mais jovem, os problemas relacionados à dificuldade de diagnóstico, principalmente nessa faixa etária, e as possíveis falhas na vigilância dos contatos", enfatiza Linconl.

Na pesquisa, foi verficada também a existência de falhas no que se refere à realização de exames complementares, que são imprescindíveis para o correto diagnóstico e notificação de um caso de tuberculose. De acordo com Linconl, "para o diagnóstico de crianças, onde se observou elevada proporção de casos em indígenas, é necessário, além dos exames convencionais, a aplicação de um indicador intitulado sistema de pontuação para o diagnóstico de tuberculose na infância, que deve ser aplicado antes do início do tratamento em crianças". Ainda segundo o pesquisador, "esse indicador leva em consideração alterações radiológicas, sinais e sintomas clínicos, história de contato com doente tuberculoso, situação vacinal com BCG, resposta ao teste tuberculínico e estado nutricional".

"Entre os indígenas, na maioria dos casos de tuberculose notificados com a forma clínica pulmonar, observou-se baixa proporção de realização de exames de escarro (baciloscopia e cultura) e de teste tuberculínico, assim como ausência de informação sobre o exame de contatos. Ao que parece, a ampla maioria dos diagnósticos foi realizada a partir de critérios clínicos, sem confirmação bacteriológica e sem aplicação do sistema de pontuação; portanto, em desacordo com o preconizado pelo Ministério da Saúde", alerta Linconl.

Outro achado significativo do estudo mostra que os indígenas apresentaram elevada taxa de reincidência de tuberculose e, contraditoriamente, melhores proporções de cura, abandono, óbito e tratamento supervisionado em relação aos não indígenas. Linconl ressalta, ainda, que esse dado parece contraditório, pois "as falhas observadas no diagnóstico, somadas à precária vigilância dos contatos e à baixa proporção de acompanhamento dos casos sob o regime de tratamento supervisionado, naturalmente, deveriam intervir negativamente nos desfechos dos casos tratados, tornando-os também mais vulneráveis à persistência da doença e ao desenvolvimento de multidrogaresistência".

Ao final, Linconl constatou que, mesmo com as limitações e fragilidades observadas no Sinan/TB/RO para o período estudado, os dados estimados indicam que as populações indígenas apresentam mais vulnerabilidade ao adoecimento por tuberculose em relação aos não indígenas daquele estado. "Na perspectiva de descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS), parece urgente a necessidade de reorganizar o planejamento das ações de controle da tuberculose em Rondônia, com vistas a garantir uma melhor qualidade dos serviços de diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos casos em indígenas e, desta forma, produzir informações mais confiáveis e que se aproximem da real situação epidemiológica experimentada por esse segmento da população".

Foto: Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN)

24 julho 2009

O CÉREBRO FABRICA MACONHA

Pesquisadores de São Paulo descobrem novas substâncias canabinoides produzidas pelos neurônios

Roberto Lent
Universidade Federal do Rio de Janeiro

No início dos anos 1970, uma grande surpresa agitou os farmacologistas, aqueles que estudam o efeito das substâncias químicas sobre os órgãos e sobre as células. É que o neurocientista Solomon Snyder, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, descobriu que havia no cérebro proteínas capazes de reconhecer a morfina. Eram os receptores opioides, chamados assim em referência ao ópio, que contém grande quantidade de morfina.

Parecia muito estranho que o cérebro tivesse receptores para uma substância analgésica obtida de um vegetal – a papoula (Papaver somniferum)... E ainda mais uma substância fortemente viciante, presente no tradicional narcótico cujo uso remonta a eras e civilizações antigas. No entanto, pouco tempo depois, o mesmo Snyder descobriu as morfinas endógenas, que ficaram conhecidas como endorfinas. Ficamos sabendo então que o nosso cérebro fabrica um tipo de morfina participante dos mecanismos naturais de regulação da dor.

A maconha feita no cérebro

Na década de 1990, a descoberta de receptores cerebrais capazes de reconhecer as substâncias psicoativas derivadas da maconha (na foto) surpreendeu os pesquisadores (foto: United States Fish and Wildlife Service).

Surpresa parecida causou a descoberta dos receptores canabinoides, capazes de reconhecer as substâncias psicoativas derivadas da maconha (Cannabis sativa). Foi em 1990 que o grupo do farmacologista Tom Bonner, do Instituto Nacional de Saúde Mental, nos Estados Unidos, clonou pela primeira vez um receptor canabinoide do cérebro. A esse feito seguiu-se a descoberta dos endocanabinoides, compostos gordurosos produzidos por neurônios e capazes de serem reconhecidos pelos mesmos receptores da maconha, posicionados na membrana de outros neurônios.

O que faria essa maconha endógena no cérebro? Os anos seguintes mostraram que os endocanabinoides são neurotransmissores não convencionais, pois não são armazenados em vesículas, mas produzidos “sob encomenda”. Ou seja: quando os neurônios do sistema nervoso central são ativados, sintetizam “maconha endógena” para modular as suas próprias sinapses.

Constatou-se que a ação dos endocanabinoides nas sinapses é retrógrada, ou seja, ocorre de trás para frente: sintetizadas no neurônio ativado por uma sinapse, essas substâncias vão atingir o neurônio antecedente da cadeia, sendo reconhecidas pelos receptores nele posicionados, que então freiam a transmissão sináptica que acabou de se iniciar. Uma espécie de marcha a ré da transmissão sináptica. Esse mecanismo é atuante nas regiões cerebrais que regulam o apetite e o humor, além das regiões ligadas à dor e à memória.

O tetra-hidrocanabinol (à esquerda) é reconhecido pelo receptor canabinoide (à direita, em verde), que fica encravado na membrana dos neurônios (modelo molecular do receptor feito pela North Carolina Central University, EUA).

Os nossos canabinoides
Com a evolução do conhecimento sobre os endocanabinoides, mais surpresas aguardavam os farmacologistas. A mais recente delas veio de um estudo publicado há poucas semanas, realizado por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, da empresa Proteimax, também de São Paulo, e das escolas de medicina Mount Sinai e Albert Einstein, em Nova York, nos Estados Unidos.

O grupo descobriu que os neurônios produzem peptídeos (pequenas proteínas) derivados da hemoglobina que ativam os receptores canabinoides do sistema nervoso – de modo semelhante à maconha. O trabalho envolveu o levantamento proteômico dos derivados da hemoglobina e de sua presença no cérebro, o que levou à identificação de peptídeos com nove aminoácidos e ação canabinoide. Essas substâncias, chamadas hemopressinas, foram encontradas em regiões do cérebro ligadas à regulação do apetite (o hipotálamo) e em outras que atuam na geração de sensações prazerosas (o núcleo acumbente), bem como nos terminais nervosos periféricos envolvidos na dor.

Os pesquisadores então realizaram diversos experimentos para testar a ação das hemopressinas nos receptores canabinoides conhecidos, o que permitiu a identificação da via de ação desses peptídeos.

Hemoglobina e maconha: relação improvável

Relações improváveis: a molécula da hemoglobina (na imagem), quem diria, existe também nas células do sistema nervoso e origina pequenas proteínas reguladoras dos endocanabinoides, como a hemopressina.

A nova surpresa que o estudo trouxe, além da identificação de novos canabinoides, foi a sua origem a partir da hemoglobina. O que estaria fazendo no cérebro a molécula mais conhecida do sangue, encarregada de fixar o oxigênio da respiração nas células vermelhas? Na verdade, já se conhecia a presença de hemoglobina, em pequenas quantidades, em outros tecidos, como o endométrio do útero feminino, o cristalino do olho, os glomérulos dos rins e também os neurônios e células gliais do cérebro.

Outro fato que chama a atenção é que dados preliminares anunciados pelos autores do estudo indicam a produção de hemopressina em maiores quantidades quando o cérebro é submetido a condições de isquemia, como nos acidentes vasculares cerebrais. Nesse caso, teria essa “maconha endógena” alguma ação protetora contra os acidentes isquêmicos cerebrais?

A natureza, como se vê, percorre os mesmos caminhos para atender diferentes necessidades. As diversas células do organismo são aparelhadas para sintetizar substâncias semelhantes em órgãos e tecidos diferentes. Mas, em cada um, as mesmas substâncias são utilizadas para funções distintas. Soluções plenas de “racionalidade econômica”, diriam os economistas. Aproveitamento máximo das mesmas soluções em diferentes problemas.

SUGESTÕES PARA LEITURA

C.B. Pert e S.H. Snyder (1973) Opiate receptor: demonstration in nervous tissue. Science, vol. 179: pp. 1011-1014.
L.A. Chung e colaboradores (1990) Structure of a cannabinoid receptor and functional expression of the cloned cDNA. Nature, vol. 346: pp.561-564.
A. Heimann e colaboradores (2007) Hemopressin is an inverse agonist of CB1 cannabinoid receptors. Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA, vol. 104: pp. 20588-20593.
I. Gomes e colaboradores (2009) Novel endogenous peptide agonists of cannabinoid receptors. FASEB Journal, publicação eletrônica de 20 de abril.

COLETA SELETIVA DE LIXO COM INCLUSÃO SOCIAL

Livro destaca desafios que ameaçam a sustentabilidade da coleta seletiva e afetam os grupos organizados de catadores que têm parceria com prefeituras

Coleta com inclusão

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Programas de coleta seletiva de lixo têm se tornando modelo de política pública, com capacidade de inclusão social e de geração de trabalho para a população de baixa renda. Mas, apesar dos avanços, esses programas enfrentam desafios que ameaçam a própria sustentabilidade e que afetam, principalmente, os grupos organizados de catadores que têm parceria com prefeituras.

Discutir os desafios dos programas de coleta seletiva e apresentar uma discussão sobre a sustentabilidade socioeconômica e ambiental desses programas são destaques do livro Coleta seletiva com inclusão social, que acaba de ser lançado. A produção do título teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa – Publicações.

De acordo com Helena Ribeiro, coordenadora da pesquisa, esses programas em parceria com associações de catadores não têm passado por avaliações, que apontem vantagens, fragilidades e correções de rumo necessárias.

“O estudo feito em São Paulo serviu de base para a criação de índices de sustentabilidade que possam facilitar essa avaliação e servir de subsídios à formulação de políticas públicas. Os índices são compostos por indicadores como o Índice de Desenvolvimento Humano, dados de mortalidade infantil, escolaridade e renda”, disse a professora titular do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) à Agência FAPESP.

A pesquisa foi feita em 11 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, que têm parceria com associações ou cooperativas de catadores no programa de coleta seletiva. Esses municípios são responsáveis por cerca de 13% dos resíduos sólidos domiciliares coletados no Brasil, aponta o estudo apoiado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

As associações fazem a triagem do material, enfardamento, comercialização e vivem do que arrecadam. “Esse modelo de programa é recomendado pelo Fórum Lixo e Cidadania, como forma de garantir renda mais constante aos catadores, incentivar a reciclagem nos municípios, reduzir o material destinado a aterros e diminuir custos”, disse Helena.

Segundo ela, o primeiro desses programas começou em 1994, no município de Embu (SP), tendo se tornado mais comuns após 2000. Entretanto, não havia uma avaliação sobre a sustentabilidade dessas iniciativas.

Apesar de seis pesquisadores assinarem o livro, a obra não é composta de artigos. Participaram do projeto três docentes e duas alunas de pós-graduação da USP e um docente do Centro Universitário Senac. “Não há uma divisão de capítulo por autores, pois todos participaram de todas as fases da pesquisa, inclusive da redação do texto final”, contou Helena.

“Pesquisamos todos os programas com parceria existentes na Região Metropolitana de São Paulo, ou seja, 11 prefeituras e 32 organizações de catadores. E aplicamos aos responsáveis por essas organizações dois modelos de questionários para levantar variáveis ambientais e sanitárias, sociais, econômicas, institucionais e de infraestrutura”, disse.

A análise e a discussão dos resultados permitiram elaborar indicadores e índices de sustentabilidade para os programas e para as organizações de catadores. Duas organizações atingiram alto índice de sustentabilidade, mas a maioria apresentou índice médio.

A definição adotada para a sustentabilidade engloba a capacidade de desenvolver atividades com garantia legal e de recursos, com a meta de universalização dos serviços e obtenção de resultados ambientais e sociais crescentes. E os indicadores que compuseram o índice dos programas são sustentabilidade econômica, marco legal, parcerias, cobertura da coleta, índice de recuperação de materiais recicláveis e índices de rejeito.

“A sustentabilidade das associações foi definida como a capacidade de desenvolver suas atividades de forma regularizada e de realizar trabalho e gerar renda a seus membros em condições adequadas”, explicou Helena.

Alta rotatividade

O estudo constatou que as organizações de catadores ainda se encontram em grande dependência das prefeituras, cujos programas não alcançam eficiência e apresentam baixa eficácia. “As prefeituras, por sua vez, investem recursos, não remuneram catadores pelos serviços prestados e não utilizam indicadores para avaliação e melhoria dos programas municipais”, destacou Helena.

De acordo com a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, foi constatada insegurança das organizações quanto à continuidade dos programas e à garantia de sua sobrevivência, principalmente em relação à renda para os membros.

“Os programas apresentavam aspectos de inclusão social, formação de capital social e geração de postos de trabalho a baixo custo. Entretanto, muitos aspectos precisavam ser fortalecidos”, apontou.

A renda média dos membros das organizações de catadores variou de R$ 125 a R$ 600 e, segundo a pesquisa, a rotatividade era alta. A origem era predominantemente de catadores dos lixões, catadores autônomos, desempregados e donas de casa. O uso de equipamentos de proteção individual se mostrou baixo e houve ocorrência significativa de acidentes de trabalho.

Os principais problemas apontados na gestão das organizações de catadores foram a falta de participação da população, falta de capital de giro, insuficiência de formação técnica e capacitação e competição de catadores autônomos.

Segundo o livro, em tempos de forte crise de emprego e de busca de novas oportunidades de negócio, o mercado de recicláveis atraiu novos atores. Multiplicou-se o número de catadores avulsos e de caminhões de empreendimentos informais de sucata. Por outro lado, a oscilação do dólar repercutiu no valor dos recicláveis e vem dificultando sua venda, pois gerou importação de insumos por preços mais baixos.

“Essas mudanças, propiciadas pela lógica de mercado, não podem ser ignoradas pelos formuladores dos programas de coleta seletiva com gestão compartilhada”, disse Helena.

Coleta seletiva com inclusão social
Autores: Helena Ribeiro, Pedro Roberto Jacobi, Gina Rizpah Besen, Wanda Maria Risso Günter, Jacques Demajorovic e Mariana Viveiros
Editora: Annablume
Páginas: 111
Preço: R$ 20,25
Mais informações: www.annablume.com.br

(Foto: Unesp)

DISCRIMINAÇÃO CONTRA PORTADORES DA DOENÇA DE CHAGAS

Associações de pacientes se unem para combater preconceitos e reivindicar

Ricardo Valverde

O Simpósio Internacional Comemorativo da Descoberta da Doença de Chagas discutiu novidades a respeito de fármacos, tratamentos, vacinas e outras abordagens científicas de ponta. Mas também serviu de palco para que os pacientes chagásicos, em geral pessoas pobres e que enfrentam preconceitos, transmitissem o seu recado e apresentassem a luta que travam contra a enfermidade. As duas associações de pacientes presentes ao evento anunciaram a organização, em outubro, de uma reunião que dará partida à constituição de uma federação que congregará as instituições, que se mantêm com dificuldades.

A cozinheira Amélia Bispo Nascimento: “Dona Amélia Pidona” (Foto: Gutemberg Brito/IOC)

A cozinheira Amélia Bispo Nascimento dos Santos, de 60 anos, que descobriu ser paciente da doença de Chagas há 15 anos, é uma das fundadoras da Associação dos Chagásicos da Grande São Paulo (Achagrasp) e sua atual presidente. Ao se referir às dificuldades da associação e aos sucessivos pedidos de ajuda para a manutenção da Achagrasp, ela diz que é conhecida em sua vizinhança como “Dona Amélia Pidona”.

Baiana de Salvador, Amélia mora em São Paulo há 32 anos, onde é funcionária da prefeitura da capital. Ela acredita ter sido picada por um barbeiro após os 14 ou 15 anos de idade, época em que passou a frequentar um sítio, de propriedade de parentes, em Aramari, um distrito rural do município de Alagoinhas (BA). “Meus tios e primos faziam questão da minha presença constante. E foi em uma dessas visitas, em que eu costumava ficar na casa de farinha do sítio e dormia no chão, que imagino ter sido picada pelo inseto”, lembra ela. Amélia diz que nunca apresentou sintomas da doença – o que é comum na fase crônica – e somente descobriu teve a enfermidade diagnosticada aos 45 anos, quando se submeteu a uma cirurgia para retirar um mioma. “O médico que me atendeu achou estranho, pois o mioma estava inchado, o que não é comum. Então ele pediu que eu fizesse exames de sorologia para Chagas, o que confirmou que eu tenho a doença. Foi um choque, porque jamais suspeitei disso”.

Antes mesmo da cirurgia, Amélia foi encaminhada ao Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, referência para doença de Chagas em São Paulo. Ao participar de um encontro de pacientes, ela decidiu atender ao chamado da coordenadora do grupo, uma assistente social, que precisava de um voluntário para fazer anotações da reunião. “Como ninguém se apresentou, eu me ofereci e há dez anos estou na associação, sendo seis anos como presidente”. Depois desse tempo, Amélia venceu a timidez e passou a participar de eventos sobre doença de Chagas em todo o Brasil. “Aprendi a conviver com médicos, a me apresentar, até a me vestir melhor”, afirma a cozinheira, que faz questão de dizer que está “solteiríssima”. Sobre Carlos Chagas, Amélia diz que ele foi “o cara” e que, se tivesse vivido mais tempo, “teria encontrado a cura para a enfermidade”.

O médico Wilson Oliveira Junior, chefe do Ambulatório de Doença de Chagas e Insuficiência Cardíaca do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), da Universidade de Pernambuco (UPE), afirma que ainda existe muito preconceito contra os pacientes da moléstia. “Por isso, é fundamental que as associações se congreguem, para ficar mais fortes, e dessa forma favoreçam o surgimento de congêneres Brasil afora”, diz Oliveira, que anuncia para outubro a organização de um encontro, em Uberaba, que reunirá a Achagrasp, a Associação dos Portadores de Doença de Chagas (Apedecin) – formada por pacientes do Huoc – e da associação de Campinas, a Achacamp.

Para conscientizar, o Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em Pernambuco, lançou o cordel 'A doença de Chagas' (Foto: Peter Ilicciev/CCS)

Segundo Oliveira, o ambulatório pernambucano, com 22 anos de atuação, tem 1.850 cadastrados e se tornou a sede da primeira associação de chagásicos em todo o mundo. “Entre as doenças negligenciadas, a de Chagas é extremamente negligenciada e acomete pessoas que em sua grande maioria são totalmente desamparadas. Dos cadastrados no Huoc, 85% são analfabetos e quase 100% sobrevivem com menos de um salário-mínimo por mês. São pacientes sem voz e que precisam se unir para reivindicar seus direitos”, observa Oliveira. No momento ele está também envolvido com o Projeto Mestre Salustiano, que prevê o fornecimento gratuito dos medicamentos necessários aos portadores de miocardiopatia chagásica e homenageia o rebequeiro que foi paciente do Huoc e morreu em agosto de 2008.

Para melhor conscientizar e informar, o ambulatório do Huoc lançou recentemente o cordel A doença de Chagas, escrito pelo cardiologista paraibano Fernando Lianza Dias. O trabalho, com 14 páginas, tem versos como:

O Trypanosoma cruzi
É o causador da doença
E embora bem pequeno
Pode causar muita ofensa

O pequeno parasita
Sai nas fezes do barbeiro
Que ele elimina depois
De picar alguém primeiro

23 julho 2009

NOVAS EVIDÊNCIAS DA ORIGEM DAS AVES

Dinossauro da China compatibiliza dados embriológicos e paleontológicos sobre evolução desse grupo

Alexander Kellner
Museu Nacional / UFRJ

Imaginem a seguinte cena: num dia ensolarado e de temperatura elevada, dois dinossauros famintos e com um calor tremendo ouvem um urro longínquo. Há dias sem comer, os répteis, à beira da fadiga, caminham apressadamente para o local. Lá chegando, se enchem de esperança: um terceiro dinossauro agoniza na lama. O infortunado estava com sede e não resistiu a avançar para a pequena poça de água no centro de um grande lamaçal, mesmo quando suas patas afundavam perigosamente. Acabou preso, sem poder sair. Mais que depressa, os dois novos visitantes avançam sobre o animal, que julgam ferido, na ânsia de saciar a sua fome. Outros que se enganaram e também não conseguiram mais sair do lamaçal! Mesmo fracos, se debatiam bastante, mas acabaram por perecer no local.

Ficção? Pode ser. No entanto, essa é a interpretação dada por pesquisadores para um dos mais interessantes achados dos últimos anos na paleontologia: um verdadeiro "bolo" de dinossauros!

Escavações

Momento em que o "bolo" com dinossauros era coletado pela equipe chinesa. Em um mesmo ponto estavam preservados vários dinossauros e outros animais, separados por fina camada de rochas (foto: Xu Xing).

Há sete anos o paleontólogo Xing Xu, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia, em Pequim, organiza expedições para Xinjiang, no noroeste da China. Essa província chinesa, palco de recentes (e sangrentas) manifestações separatistas por parte do povo Uighur, principal minoria da região, tem extensos depósitos mesozoicos.

A área é predominantemente desértica e as exposições de rochas facilitam a descoberta de fósseis. No passado, muitos foram encontrados, como o pterossauro Dsungaripterus, da bacia de Junggar, descrito por um dos principais paleontólogos chineses, Yang Zhongjian (1897-1979), conhecido na literatura como C.C Young. Pela riqueza da província e por ser uma extensão natural da Mongólia, onde diversos achados importantes da paleontologia foram feitos, Xu achou interessante investir ali.

Com o passar do tempo, a equipe chinesa, que contava com a participação de norte-americanos, encontrou alguns fósseis, mas nada verdadeiramente espetacular. Até que, há alguns anos, o grupo topou com ossos emergindo na superfície, na região chamada de Wucaiwan. Nessa área, afloram rochas sedimentares de idade jurássica – com cerca de 156 a 161 milhões de anos –, da Formação Shishugou.

Em todo trabalho de paleontologia, a metodologia de coleta se inicia com a definição dos limites do esqueleto, para depois ser traçada a estratégia de retirada do fóssil com o menor dano possível. Até que limitar a área horizontalmente não foi um grande problema para Xu. Mas estabelecer os limites na vertical... À medida que cavava, novos ossos foram aparecendo. Estava claro que havia vários animais ali, separados por poucos centímetros de rocha.

Resumindo uma história longa: em mais de dois metros de profundidade, foram encontrados, em camadas distintas, como dispostos em um bolo, seis dinossauros, um crocodilomorfo, dois lagartos e outros animais ainda não identificados. Em suma: aquele pequeno ponto tornou-se uma armadilha para dinossauros e outros animais que passavam na região à procura de água e alimento, como se fosse um campo de areia movediça, o que torna a cena descrita no início desta coluna uma das interpretações plausíveis para o que teria acontecido. Aliás, essa hipótese foi objeto de um documentário da National Geographic em 2008. Mas essa foi a parte menos importante do achado...

Rara descoberta

Entre os dinossauros encontrados, Xu descobriu que dois deles pertenciam a um grupo bastante raro, nunca antes registrado na China, chamado Ceratosauria. Os ceratossauros reúnem espécies – algumas providas de cristas na cabeça – situadas em uma posição intermediária na cadeia evolutiva dos terópodes (grupo que engloba todos os dinossauros carnívoros). Eles são proximamente relacionados ao grupo Tetanura, onde também são classificadas as aves.

Batizada de Limusaurus inextricabilis – que literalmente quer dizer dinossauro da lama que não conseguiu escapar –, a nova espécie é uma verdadeira raridade. Não possuía dentes, tinha uma ranfoteca – feição típica das aves modernas – e guardava, no seu estômago, pedras chamadas de gastrólitos.

Exemplar mais completo de Limusaurus inextricabilis. Note as pedras, chamadas de gastrólitos (no detalhe à direita), encontradas na região estomacal do animal, o que, juntamente com outras características observadas, indica que essa espécie era herbívora (fotos: Xu Xing).

Essa conjugação de características indica que, apesar de estar classificado dentro do grupo de carnívoros, Limusaurus é uma exceção: possivelmente era um animal herbívoro. Outro terópodo com esse hábito alimentar foi registrado anteriormente, o que demonstra uma diversidade maior de estratégias de alimentação entre os integrantes desse grupo. Mas essas são formas muito raras. Ademais, Limusaurus é o mais antigo e o primeiro ceratossauro herbívoro. Mesmo essas feições, que fazem desse um achado excepcional, não são o que essa descoberta tem de mais importante...

Os dígitos das mãos

Existe uma importante controvérsia sempre levantada quando se discute a origem das aves a partir dos dinossauros. Segundo os dados paleontológicos, a redução dos dedos das mãos nos terópodes se deu de fora para dentro – isto é, foram o quinto e o quarto dígito que desapareceram. Assim, segundo essa antiga teoria, em terópodes mais derivados sobraram o primeiro, o segundo e o terceiro dígitos.

No entanto, dados embriológicos exaustivamente analisados demonstram claramente que as aves atuais perderam o primeiro e o quinto dedos, sobrando assim o segundo, o terceiro e o quarto dígitos. Esse é um dos principais argumentos contra a teoria de que as aves teriam evoluído a partir dos dinossauros.

Reconstituição do Limusaurus inextricabilis em vida (arte: Portia Sloan).

Em Limusaurus, o quinto dígito está ausente e o primeiro é muito reduzido. Ou seja, se Xu e seus colegas estiverem certos, os dados revelados por Limusaurus demonstram claramente que, a partir desse ponto da evolução dos terópodos, houve uma mudança na redução dos dígitos: passou do quinto e do quarto dígitos nas formas primitivas para o quinto e o primeiro, exatamente como é observado nos estudos embriológicos das aves modernas. Ou seja, o registro fóssil demonstra que Limusaurus e todos os terópodes que vieram depois já tinham perdido o quinto dedo da mão e estavam em um processo de redução do primeiro.

Todas essas notáveis características encontradas no Limusaurus inextricabilis fizeram com que seu estudo acabasse de ser publicado com destaque na prestigiosa revista Nature. Certamente essa descoberta esquentará o debate sobre a origem das aves.

O achado da equipe chinesa também demonstra como é errática a busca por fósseis. Imaginem só: anos sem encontrar nada interessante e, de repente, em um ponto só, tantos dinossauros juntos. Esse era um "bolo" que qualquer paleontólogo gostaria de receber em seu aniversário...

VAGA-LUMES SINALIZAM IMPACTOS AMBIENTAIS

Estudo do Biota-FAPESP mapeia biodiversidade de vaga-lumes na Mata Atlântica e abre caminhos para preservar espécies e seus ambientes naturais. Inseto pode ser usado como bioindicador ambiental

Por Jussara Mangini

Agência FAPESP – O Brasil é o país com maior diversidade de espécies luminescentes no mundo. A emissão de luz fria e visível por seres vivos é observada em organismos que vão de bactérias a peixes, incluindo vaga-lumes e as chamadas larvas “trenzinho”, que emitem luz em duas cores.

Entender como a luz é produzida nesses organismos pode iluminar o caminho para o diagnóstico e tratamento de doenças como câncer e infecções bacterianas. As enzimas responsáveis pela bioluminescência – as luciferases, que catalisam a reação que produz a luz nos animais, e as proteínas fluorescentes, que têm a propriedade de mudar a cor da luz – estão sendo aplicadas em biotecnologia e em bioimageamento de processos patológicos.

Dada a importância dos organismos bioluminescentes, sua conservação é prioridade para Vadim Viviani, professor do campus de Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ele investiga, há mais de dez anos, o mecanismo de funcionamento da bioluminescência e as possibilidades de aplicação como agentes bioanalíticos, bioindicadores e biossensores.

Há dois anos, Viviani coordena o projeto de pesquisa “Vaga-lumes da Mata Atlântica – Biodiversidade e uso como bioindicadores”, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa – Regular e realizado no âmbito do programa Biota-FAPESP.

“Com os impactos ambientais, a riqueza desses organismos está se perdendo. Para utilizar espécies como o vaga-lume para essas finalidades, é necessário preservá-las, principalmente conservando seus ambientes naturais”, disse à Agência FAPESP.

Nesse estudo, a equipe orientada pelo pesquisador, que também é líder do grupo Bioluminescência e Biofotônica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), está catalogando a biodiversidade de vaga-lumes na Mata Atlântica do Estado de São Paulo, estudando sua evolução sob o aspecto molecular e avaliando algumas espécies-chave como indicadores ambientais de áreas palustres e ribeirinhas.

A Mata Atlântica é um dos ecossistemas mais ricos em vaga-lumes no mundo. Em um único trecho, em Salesópolis (SP), por exemplo, foram catalogadas 50 espécies. Segundo Viviani, embora o Brasil concentre cerca de 25% das 2 mil espécies descritas, não se aproveita o potencial do vaga-lume como bioindicador de impacto ambiental.

Existem espécies que vivem em ambientes palustres (aquáticos). Quando a água está poluída desaparece o caramujo, que é o alimento do vaga-lume, e, com isso, a espécie some. Já em locais em que os cursos de água (brejo) estão preservados, o inseto permanece ou volta. “No Japão, vaga-lumes são muito usados como bioindicadores na recuperação de cursos de água”, comentou.

Tais insetos também são bons modelos para entender o impacto da poluição luminosa. Eles usam seu sinal luminoso para fins de reprodução – é um padrão de comunicação sexual. Quando o nível de iluminação de fundo aumenta, macho e fêmea não conseguem se localizar pelo sinal.

De acordo com Viviani, o impacto da poluição luminosa ocorre em diversos organismos, principalmente os noturnos. Pode afetar a relação predador-presa tornando um ou outro mais visível.

Os filhotes de tartarugas marinhas, por exemplo, quando os ovos eclodem, se orientam pela luz das estrelas a caminho do mar. Quando avistam luz da cidade seguem na direção contrária, comprometendo sua sobrevivência. “Infelizmente, nunca foi dada muita atenção para a poluição luminosa”, ressaltou.

Conhecimento acumulado

Há muito interesse em saber qual o mecanismo de funcionamento das enzimas relacionadas com a bioluminescência e, a partir disso, tentar modificá-las para torná-las ainda mais aplicáveis do que já são, inclusive na área ambiental. Existem, por exemplo, diversos biossensores que usam luciferases de vaga-lume, em nível molecular, para detectar agentes tóxicos na água.

Recentemente, outro grupo orientado por Viviani comparou enzimas luciferases clonadas com uma proteína semelhante, mas fracamente bioluminescente – uma AMP-ligase, presente em todos os organismos e que desempenha variadas funções metabólicas.

O objetivo foi descobrir se e como a AMP-ligase pode adquirir a propriedade de produzir luz. Segundo o professor da UFSCar, esse tipo de informação pode ajudar a tornar mais eficientes as enzimas que já produzem luz e tornar enzimas que não produzem em luminescentes.

Durante o 15º Congresso Internacional de Fotobiologia, realizado em Dusseldorf, na Alemanha, de 18 a 23 de junho, Viviani coordenou o Simpósio de Bioluminescência, no qual importantes avanços científicos sobre a estrutura e função dessas enzimas e as crescentes aplicações em bioimageamento foram discutidos por cientistas de diferentes nacionalidades.

Em 2008, o conhecimento produzido por diversos especialistas da área de bioluminescência foi apresentado no livro Luciferases and fluorescent proteins: principles and biotechology and bioimaging (Luciferases e proteínas fluorescentes: princípios e avanços em biotecnologia e bioimageamento), editado por Viviani.

(Foto: Cratomorphus concolor/divulgação)