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13 fevereiro 2009

AIDS E OS USUÁRIOS DE DROGAS INJETÁVEIS

Estudo amplia conhecimento sobre usuários de drogas injetáveis com HIV-1.

Bel Levy e Marcelo Garcia
Agência Fiocruz de Notícias

[Células humanas infectadas pelo HIV. Foto: Monika Barth]

Usuários de drogas injetáveis constituem uma população importante no cenário epidemiológico da Aids, uma vez que o compartilhamento de seringas favorece a disseminação de vírus recombinantes e resistentes aos medicamentos disponíveis para o tratamento da infecção pelo HIV-1. Um estudo desenvolvido no Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz confirmou esta premissa ao verificar a presença de vírus com mutações de resistência entre indivíduos que nunca receberam medicação antirretroviral.

O estudo traçou pela primeira vez o perfil genético de usuários de drogas injetáveis soropositivos do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo foi relacionar fatores genéticos destes indivíduos a maior ou menor suscetibilidade à infecção pelo HIV-1 e analisar o perfil de subtipos e variantes virais circulantes nesta população e resistentes a medicamentos antirretrovirais. A pesquisa partiu da perspectiva de que múltiplos fatores modulam o desenvolvimento da infecção, incluindo características virais, co-fatores infecciosos, comportamentos individuais, fatores ambientais e a genética do hospedeiro, que pode indicar maior ou menor suscetibilidade de um indivíduo à infecção pelo vírus.

Ao traçar o perfil genético de usuários de drogas injetáveis do Estado do Rio de Janeiro, o trabalho é pioneiro por ter como foco o genótipo CCR5 e os genes HLA de Classe I B, envolvidos respectivamente com o processo de entrada do vírus na célula hospedeira e com os mecanismos geradores de resposta imune celular do indivíduo.

Pesquisa sobre resistência tem impacto na terapia

"Para determinar os genótipos CCR5 aplicamos a metodologia PCR, seguida de eletroforese em gel de poliacrilamida 12% para verificação do tamanho dos fragmentos genômicos obtidos. Para a tipagem dos alelos HLA recorremos a um kit comercial que utiliza o princípio da hibridização reversa, com sondas de DNA HLA específicas para os alelos deste grupo. As análises não nos permitiram associar diretamente estes marcadores genéticos à suscetibilidade ou à resistência da população estudada à infecção pelo HIV-1, mas foram importantes porque forneceram uma descrição da composição genética destes indivíduos, o que ainda não havia sido realizado para o estudo deste grupo no Estado do Rio de Janeiro", apresenta a pesquisadora Sylvia Teixeira, que realizou o estudo durante doutorado desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC sob orientação da imunologista Mariza Morgado, chefe do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular, e do epidemiologista Francisco Inácio Bastos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fiocruz.

"A investigação da presença de variantes virais resistentes aos anti-retrovirais tem impacto no sucesso terapêutico dos pacientes, na transmissibilidade do vírus e no desenvolvimento de novas drogas e compostos vacinais. Nosso estudo verificou a presença de genomas recombinantes do HIV-1 e uma frequência de 7,9% de mutações primárias de resistência a inibidores de protease entre indivíduos que nunca receberam medicamentos antirretrovirais – o que pode ser considerado um índice bastante elevado", descreve Sylvia. "Por isso, contribui para o conhecimento do perfil genético e de mutações de resistência dos vírus circulantes entre usuários de drogas injetáveis, implicando diretamente na administração, no monitoramento e no sucesso do tratamento", conclui. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a Aids atinge mais de 33 milhões de pessoas em todo o mundo. (Bel Levy)

Mudança no perfil epidemiológico da hepatite A aumenta risco de coinfecção com HIV

Mas os avanços no conhecimento da Aids não terminam aí. Um estudo também realizado no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em parceria com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), analisou 581 amostras de pacientes com Aids, coletadas entre 1988 e 2004, e apontou uma mudança no perfil epidemiológico da hepatite A, ligada a fatores sócio-econômicos e culturais. O resultado alerta para o aumento do risco de coinfecção pelos dois patógenos.

Os pesquisadores avaliaram a existência do anticorpo anti-HAV IgG, que indica contato prévio com o vírus da hepatite A, tendo a pessoa adoecido ou não. O resultado foi cruzado com informações pessoais dos pacientes. "Estudar um período longo de tempo permitiu acompanhar a mudança do perfil epidemiológico da hepatite A em pacientes com HIV-1 e analisar a importância de fatores sociais nessa transformação", explica a pesquisadora Vanessa de Paula, do Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do IOC.

Foi detectada uma prevalência média de 79,8% de pacientes com o anticorpo em 2004, 15% menor que a verificada em 1997. "Também verificamos que, nas amostras de 1988, 86,7% dos pacientes que haviam tido contato prévio com o vírus da hepatite A eram homens e 13,3%, mulheres", lembra Vanessa "Em 2004, a relação era de 57,5% de homens para 42,5 % de mulheres."

A hepatite A, transmitida principalmente por alimentos e água contaminados, sempre esteve associada a condições sanitárias inadequadas. "Hoje, a melhora do saneamento diminuiu o contato da população com o vírus ainda na infância, quando a doença costuma ser assintomática", explica o pesquisador Adilson José de Almeida, da UniRio. "A alteração no perfil epidemiológico da hepatite A é semelhante à apresentada pela Aids, indicando a importância da transmissão através do sexo e o risco maior de co-infecção, quando a hepatite A pode causar graves complicações".

Caminho sugerido: vacinação seletiva para hepatite A

O estudo apontou a importância de fatores sócio-culturais para a mudança epidemiológica. "A diminuição do percentual de homens portadores de HIV-1 com anticorpos anti-HAV IgG pode estar ligada a campanhas de educação sexual e de incentivo ao uso de preservativos", argumenta. "Analogamente ao que ocorre com a Aids, o percentual de mulheres casadas heterossexuais infectadas também aumentou, por preocuparem-se menos com a prevenção de doenças".

Para os pesquisadores, as alterações apontadas pelo estudo justificariam ações governamentais. "Para evitar a co-infecção, poderia-se, por exemplo, identificar os pacientes com HIV que não possuam anticorpos contra hepatite A e promover campanhas de vacinação seletiva", opina Vanessa.

Publicado em 11/2/2009.