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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

30 setembro 2008

VIOLÊNCIA FAMILIAR EM SÃO PAULO

Pesquisa traça perfil da violência física familiar em SP: mais de 80% das agressões investigadas ocorreram entre casais

Renata Moehlecke
Agência Fiocruz de Notícias

Um estudo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) determinou o perfil epidemiológico da agressão física familiar no município de Araçatuba (SP). Foram analisadas 7.750 ocorrências registradas na Delegacia de Defesa da Mulher da região entre os anos 2001 e 2005, sendo que 1.844 desses registros estavam relacionados à violência física intrafamiliar. A pesquisa, publicada na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, concluiu que 81,1% das agressões ocorrem entre casais, 11,6% entre pais ou responsáveis e filhos e 7,3% entre outros familiares.

“Foi possível traçar o perfil tanto da vítima quando de seu agressor, mesmo que este se limite aos casos registrados pelas ocorrências policiais”, explicam os autores da pesquisa no artigo. “Tais informações podem ajudar a compreender as circunstâncias em que ocorreu a violência, contribuindo para a prevenção e enfrentamento do problema”.

Os resultados também apontaram uma maior freqüência de agressões entre casais nos finais de semana (38,9%), sendo o ciúme o motivo mais relatado (21,5% dos casos). Além disso, nos três grupos estabelecidos - casais, pais e filhos, e outros familiares -, o período entre 12h e 24h teve o maior número de registros. O atual companheiro foi o agressor mais freqüente no primeiro grupo e os pais no segundo, embora em mais de um quinto dos casos tenham sido os filhos que agrediram os responsáveis. Os irmãos prevaleceram entre os agressores no terceiro grupo. “Cerca de um quarto a um quinto dos agressores estava alcoolizado no momento da agressão”, afirmam os pesquisadores.

A pesquisa ainda revelou que a maior parte das agressões aconteceu em casa e que 98,3% dos agressores eram homens, enquanto 98,7% das vítimas foram mulheres. Outro dado destacado foi que, quando as agressões ocorrem entre pais e filhos, crianças e adolescentes representam grande parte das vítimas: 34,3% e 33,8%, respectivamente, predominando as meninas entre os adolescentes. Em relação à faixa etária, considerando ambos os sexos, indivíduos mais jovens, com idade entre 20 a 34 anos, predominam como agressores (43,7% dos casos). “Eram adolescentes 3,8% dos agressores e 5,2% das vítimas tinham idade maior ou igual a 60 anos”, comentam os pesquisadores.

Nos três grupos verificados, os laudos médicos se mostraram semelhantes. “As lesões, em sua grande maioria, eram leves e localizavam-se, principalmente, na cabeça e nos membros superiores, sendo as equimoses e as escoriações os tipos de lesões mais freqüentes”, relatam os autores. “Poucas vítimas referiram ter procurado atendimento médico, sendo grande o número de laudos sem esta informação”.

Os pesquisadores esclarecem que iniciativas de cooperação entre diversos setores, como saúde, educação, serviços sociais, justiça e política, são indispensáveis para resolver o problema da violência. “Mas, para que se possa planejar e desenvolver ações voltadas à prevenção dos casos e à assistência das vítimas de violência familiar, são necessários dados que permitam visualizar e compreender a situação”, concluem.

(Ilustração: Centro de Informações sobre Saúde e Álcool)

PROGRAMA 'ITAÚ ECOMUDANÇA': MUITO VERBO E POUCA VERBA

No primeiro semestre de 2008 o lucro do Banco Itaú foi de R$ 4 bilhões. O investimento previsto em seu programa ambiental 'Ecomudança" é de apenas R$ 182.586,63. Este 'risível' investimento equivale a 0,0045% do lucro do primeiro semestre de 2008

Henrique Cortez
Coordenador do EcoDebate

De acordo com o release, o “Itaú lançou o Programa Ecomudança, que tem como objetivo fomentar projetos de redução de emissão de gases de efeito estufa, desenvolvidos por organizações sem fins lucrativos. Para isso, o Programa Ecomudança 2008 repassará, por meio de apoio financeiro, R$ 182.586,63 para até cinco projetos com foco em eficiência energética, energia renovável ou manejo de resíduos, valor correspondente a 30% da taxa de administração dos fundos Itaú DI Ecomudança e Itaú RF Ecomudança, apurada entre 31 de agosto de 2007 e 1º de setembro de 2008. As inscrições para o Programa, gratuitas, estão abertas no período de 15 de setembro a 31 de outubro de 2008, por meio do site.”

Parece uma iniciativa importante e necessária, mas, de forma prática, é apenas marketing verde, o conhecido greenwashing.

O valor, de R$ 182.586,63 para até cinco projetos, significa até R$ 36.517,32 para cada projeto ou seja, apenas apoiará pequenos projetos isolados. Todo projeto é importante, mas os pequenos projetos, em geral, não possuem impactos sistêmicos, não mudando de forma significativa o problema principal. São absolutamente fundamentais para mobilização e conscientização, mas pouco além disto.

Vejamos o que acontece no caso de fixação de carbono ou neutralização de carbono por plantio de árvores nativas da Mata Atlântica. Uma muda plantada e cuidada até a sua maturidade (semente, muda, plantio, irrigação, adubação, etc, ao longo de 3 a 7 anos), sem considerar os custos de mão-de-obra, impostos, encargos, etc., custa R$ 12. Com R$ 36.517,32 é possível plantar 3.043 árvores ou 3 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica.

Continuando a usar a Mata Atlântica, como referência, é bom destacar que ela ocupa hoje apenas 7,26% de sua área original, que era de 1,3 milhão de km². Atualmente, restam 97,6 mil km² do bioma. De 2000 a 2005 foram desmatados 138,8 mil hectares, ou 27.760 hectares ao ano ou, ainda, 76,05 hectares ao dia. A diferença de 76 hectare ao dia contra 3 hectares em um ano dá a real dimensão do greenwashing.

O banco Itaú registrou lucro líquido consolidado de R$ 8,473 bilhões em 2007, mostrando evolução de 96,65% sobre 2006. No primeiro semestre de 2008 foi de R$ 4 bilhões e este risível “investimento” de R$ 182.586,63 equivale a 0,0045% do lucro do primeiro semestre de 2008. Se considerado sobre o lucro de 2007 o valor destinado ao Programa Ecomudança é ainda mais risível.

Ou seja, não é absolutamente nada. Só discurso e marketing.

Qualquer programa socioambiental, minimamente consistente, exige recursos compatíveis com os desafios.

É inaceitável qualquer valor inferior a 1% do lucro e, mesmo assim, ainda seria insuficiente.

Neste caso, como sempre, é apenais mais um programa com muito verbo e pouca verba.

29 setembro 2008

TROCA DE PLANO DE SAÚDE

Temos a chance e devemos opinar sobre as regras para trocar de plano de saúde sem cumprir a carência atual, pois a Agência Nacional de Saúde está com consulta pública sobre o assunto até o dia 17 próximo (www.ans.gov.br). Pena que pela proposta a troca será limitada a quem tem plano individual ou familiar, que é minoria hoje no mercado. Vamos ver se isso aumenta a concorrência no mercado, pois hoje por ter que pagar por determinado período sem poder usar os serviços, a troca é limitada, a não ser quando a concorrente “compra” as carências. Essa prática tem sido cada vez mais difícil, pois as empresas não têm mais interesse em plano individual, preferem investir nos coletivos que não são submetidos às regras de reajuste da Agência Nacional de Saúde, valendo o poder de negociação entre as partes. Vamos ver se será cumprida a promessa da portabilidade para o início de 2009.

do Blog Defesa do Consumidor, editado por Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) e colunista da Folha.

MENTIR PELA INTERNET É MAIS FÁCIL

Pesquisas apontam que e-mail é a forma de comunicação no ambiente de trabalho em que as mentiras são feitas com mais facilidade e encaradas com mais naturalidade

Agência FAPESP (29/9/2008)– Dois estudos feitos por um grupo de pesquisadores norte-americanos concluíram que o e-mail é a mais elusiva forma de comunicação no ambiente de trabalho. Segundo os autores, o mais surpreendente foi que as pessoas disseram encarar com naturalidade a mentira pelo correio eletrônico.

“Há uma preocupação crescente nos escritórios a respeito da comunicação por e-mail, que pode ser resumida a uma palavra: confiança. Por e-mail você não recebe pistas verbais ou comportamentais e, em um contexto organizacional, isso deixa um grande espaço para problemas de interpretação ou, no caso de nosso estudo, de enganar intencionalmente”, disse Liuba Belkin, professora de administração da Universidade Lehigh e uma das autoras do estudo.

Os resultados dos estudos serão publicados em breve no periódico Social Justice Research Journal. No primeiro trabalho, os autores distribuíram US$ 89 para cada um de 48 estudantes de MBA. Cada estudante tinha como tarefa dividir o montante entre ele e um colega fictício. No experimento, esse colega sabia que o total estava entre US$ 5 e US$ 100 dólares e aceitaria o dinheiro recebido, não importando o valor.

Aos voluntários foi pedido que usassem e-mail ou papel e caneta para comunicar o valor total e quanto o colega receberia. Os estudantes que escreveram mensagens em papel mentiram sobre o total em 64% dos casos, contra 92% daqueles que preferiram usar o correio eletrônico.

O grupo que usou e-mail distribuiu em média US$ 29 de um total médio que ficou em US$ 56 (dos reais US$ 89). Os estudantes que usaram papel e caneta foram mais amigáveis: distribuíram em média US$ 34 de um total que disseram ser de US$ 67.

“É bom destacar que os dois meios, e-mail e papel e caneta, são baseados apenas em texto. Nenhum deles tem uma ‘banda de comunicação’ maior do que o outro. Mesmo assim, verificamos uma grande diferença”, disse Charles Naquin, da Universidade DePaul, outro autor da pesquisa.

Para tentar entender se o senso de identidade compartilhado reduz a propensão à mentira, os pesquisadores fizeram outro estudo, dessa vez com 69 estudantes. Os resultados indicaram que, quanto mais familiares os usuários de e-mail eram com os que recebiam as mensagens, menores as suas mentiras. Mas, ainda assim, eles continuaram faltando com a verdade.

“Os resultados são consistentes com outro estudo que fizemos, o qual indicou que a comunicação por e-mail diminui a confiança e a cooperação em grupos de trabalho, ao mesmo tempo que aumenta a negatividade em avaliações de performance. As pessoas se sentem mais justificadas em agir de modo egoísta ao digitar, em comparação com quando têm que escrever algo em papel”, disse outra autora da pesquisa, Terri Kurtzberg, professora da Universidade Rutgers.

Os pesquisadores apontam que o e-mail é um fenômeno recente que começou a ser usado como forma de comunicação no ambiente de trabalho principalmente a partir de 1994. Por conta do pouco tempo, as normas organizacionais de uso do correio eletrônico ainda são vagas.

“Sabemos que se trata de uma forma de comunicação socialmente aceitável, mas quando esse uso passa para o ambiente de trabalho estamos falando de uma história completamente diferente”, disse Liuba.

O artigo Online communication and social dilemmas: How communication media influences interpersonal trust, cooperative behavior and perceptions of fairness, de Liuba Belkin e outros, será publicado em breve pelo Social Justice Research Journal em www.springerlink.com/content/0885-7466.

(Foto: divulgação)

AMAZÔNIA: SOLOS NÃO SUPORTAM MODELO DE AGRICULTURA ADOTADO

Tese sustenta que solo da Amazônia não suporta modelo de agricultura praticado na região

Ana Paula Gioia
Agência Fiocruz de Notícias

Apoiar políticas de desenvolvimento sustentável e de proteção dos ecossistemas da Amazônia que visem à reversão do processo de degradação, para uma melhor qualidade de vida na região, é a contribuição da tese de doutorado "O seqüestro de carbono e as substâncias húmicas na área de influência da BR-163 (Cuiabá–Santarém)", defendida nesta sexta-feira (26/9) por Orlando Paulino da Silva, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP). Para o autor, que é servidor da Fiocruz Amazônia, o solo da região não suporta o atual modelo de agricultura.

“O conhecimento do comportamento das substâncias húmicas dentro da matéria orgânica do solo é importante, pois oferece subsídios para um maior entendimento do ciclo de carbono na Amazônia. Uma das conclusões do estudo é que o solo da Amazônia não suporta o modelo de agricultura a que está sendo submetido, ocasionando efeitos prejudiciais ao ambiente e à saúde das populações. Os resultados e dados do estudo contribuem para apoiar políticas de desenvolvimento sustentável e de proteção dos ecossistemas da Amazônia, tendo como foco principal as substâncias húmicas do solo, bem como o seqüestro de carbono orgânico, com vistas à reversão do processo de degradação, em busca da melhoria na qualidade de vida regional e, por que não, global”, afirma Paulino.

A tese teve como objetivo relacionar as características das substâncias húmicas do solo com o processo de remoção de gás carbônico da atmosfera em sítios de floresta em clímax, ou seja, que já alcançaram um estágio pleno de desenvolvimento e encontram-se protegidas no ecossistema terrestre, bem como em área que sofrem a ação do homem de forma moderada e intensa, como os ambientes de influência da rodovia BR-163 (Cuiabá–Santarém). A região experimenta um incremento das ações humanas em função do anúncio da pavimentação da rodovia. Segundo Paulino, as substâncias húmicas representam parte da matéria orgânica que, após várias transformações, permanecem no ambiente. Essas substâncias representam dois terços do carbono orgânico contido no solo. São constituídas de uma mistura heterogênea, polifuncional, sem características físicas e químicas definidas e em diferentes graus de polidispersão.

A justificativa do autor para a realização do estudo foi a necessidade de compreender os ciclos de nutrientes e a dinâmica da matéria orgânica no ecossistema da Amazônia para um domínio do manejo eficiente da floresta e do solo, a partir do estudo das características das substâncias húmicas que remete à capacidade de sustentabilidade para os usos múltiplos em cultivos, aparecendo como indicador da qualidade do solo. Isto se deve à preocupação despertada pelo desaparecimento de florestas tropicais, acompanhado de acelerados processos de perda de solo e de matéria orgânica, pelo desmatamento, queimadas e avanço da fronteira agrícola.

Para determinar as características das substâncias húmicas foram utilizadas técnicas de espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), análise elementar, espectroscopia de fluorescência de luz no UV/visível, espectroscopia de absorção de luz no UV/visível, espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) e espectroscopia de ressonância paramagnética eletrônica nuclear (EPR). Dos resultados encontrados verificou-se uma elevada aromaticidade, policondensação e grau de humificação que proporcionam aumento da biodiversidade, incremento da produtividade, melhoria da estrutura deste solo, contribuindo junto à formação de fração húmica não lábil, que oferece resistência ao escoamento, bem como maior estabilidade dos complexos organominerais, condições favoráveis para a remoção de gás carbônico da atmosfera e mitigação do aumento do efeito estufa.

O Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental procura evidenciar, identificar, discutir e propor soluções em relação aos problemas ambientais decorrentes da atuação do homem em seu meio, bem como analisar ecossistemas, a fim de caracterizá-los e descrevê-los, criando uma fonte de informações sobre os vários aspectos bióticos, abióticos e antrópicos de algumas regiões do Brasil.

Foto: Divulgação

REFERENDO PARA DECIDIR SOBRE O NOVO FUSO HORÁRIO DO ACRE

Flaviano afirma que problemas no Acre põem lenha na polêmica sobre novo horário de Mato Grosso do Sul

A Gazeta, 28/09/2008

A proposta de mudança no fuso horário de Mato Grosso do Sul, que hoje tem uma hora a menos em relação ao horário de Brasília, está dividindo as opiniões dos moradores daquele estado e os problemas enfrentados pelos acreanos têm servido de exemplo aos que defendem a manutenção do horário atual.

No Acre, o deputado Flaviano Melo (PMDB) vem acompanhando com muito interesse o debate travado em Mato Grosso do Sul. Ele é o autor do projeto que estabelece a realização de um referendo para que a população diga se concorda ou não com a mudança no fuso horário, ocorrida em junho deste ano no Estado.

Da mesma forma como aconteceu no Acre, o senador Delcídio do Amaral (PT/MS) propõe mudar o horário por decreto, a partir de decisão do Congresso Nacional. O senador argumenta que a proposta que apresentou é fruto da experiência como relator do projeto que alterou o horário no Acre. Em entrevista, Delcídio afirmou que “no Acre, Rondônia e oeste do Pará o horário foi muito bem aceito pela população, pelo menos tudo aquilo que nós temos levantado e as pesquisas indicam isso”.

Flaviano Melo sustenta que a única pesquisa capaz de esclarecer com segurança se a população do Acre aceitou de fato a mudança é o referendo, instrumento cabível depois que um projeto foi aprovado e passou a ser lei. “Quero que a população do Acre, as pessoas que foram atingidas pela mudança tenham a oportunidade de dizer se concordam com a mudança e reverter a lei, se for o caso. E esta chance virá com o referendo, já que não foi feito o plebiscito antes que todos os relógios do Acre fossem adiantados em uma hora”, explica o parlamentar peemedebista.

Mais cauteloso, o senador Valter Pereira (PMDB/MS) apresentou no Senado um projeto de lei que prevê a realização de um plebiscito em Mato Grosso do Sul para saber o que a população daquele estado pensa sobre a mudança do fuso horário. Ele argumenta que é preciso consultar os cidadãos, já que a mudança vai afetar a todos.

“É preciso que a proposta tenha forte apoio popular e seja precedida de uma ampla discussão, até mesmo para evitar o que está acontecendo no Acre. Hoje, o que há é um clima de muita discussão, de muito questionamento, de muitas críticas com a mudança. Então, esses transtornos registrados no Acre, muito provavelmente teriam sido evitados se a população tivesse sido ouvida”, argumenta o senador Valter Pereira.

O deputado Flaviano Melo afirma que o Projeto de Decreto Legislativo propondo o referendo é resultado das queixas que tem recebido dos moradores do Acre. “As reclamações vêm de todos os municípios do Estado e refletem o quanto as pessoas estão inconformadas com a decisão”, salienta. As mesmas reclamações tem servido de argumento para o “Comitê pela Manutenção do Horário em Mato Grosso do Sul”.

NOTA DO BLOG: Flaviano se adiantou e tomou a iniciativa de propor o referendo. Era o senador Tião Viana que havia prometido fazer isso logo que se encerrasse o período eleitoral. Foi mais rápido no gatilho o Flaviano Melo. Alguma coisa por trás existe neste movimento bem calculado de Flaviano. O que fará Tião para cumprir sua promessa?

28 setembro 2008

ECONOMIA VERDE: RECICLAGEM É O ‘EMPREGO VERDE’ QUE MAIS ABRE POSTOS DE TRABALHO NO BRASIL

Mariana Jungmann
Agência Brasil

Há mais de 20 anos, Ângela Maria Pereira Balbino cata lixo. Com seu trabalho, sustenta cinco filhos. Além de catadora, ela é artesã e dirige a Cooperativa de Reciclagem, Trabalho e Produção (Cortrap), que recolhe, separa e vende para reciclagem o lixo de órgãos como a Câmara Federal, ministérios e a Procuradoria-Geral da República.

“Não me vejo fazendo outra coisa, sou muito feliz aqui”, diz ela.. “Quando eu ia pensar que você pega um monte de jornal, agrega valor a ele e vende de novo?”
Ângela tem o perfil de um novo tipo de trabalhador que está surgindo da luta contra o aquecimento global. O “Emprego Verde” é o nome que foi cunhado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para definir as atividades relacionadas à tecnologia ambiental e geralmente está relacionado à indústria, construção civil, fontes de energia renováveis, serviços, turismo e agricultura.

Segundo o relatório “Empregos Verdes: Trabalho Decente em um Mundo Sustentável e com Baixas Emissões de Carbono”, divulgado hoje (24) pela OIT, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a reciclagem é o “emprego verde” que abriga a maior parte dos postos de trabalho no Brasil. São 500 mil pessoas vivendo do lixo produzido nas grandes cidades. Quase nada comparado à China, quem tem 10 milhões de trabalhadores na “gestão de dejetos”.

Junto com Ângela, na Cortrap, 150 famílias se sustentam a partir do reaproveitamento do lixo. E o objetivo é atingir a marca de 250 famílias. “A gente precisa atingir essa marca para cumprir o projeto que temos com o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. Eles já nos deram uma empilhadeira e dois caminhões. Agora, para ganhar uma máquina de triturar pet precisamos aumentar o número de cooperados e vamos conseguir”, explica Ângela.

Mas, segundo o relatório, nem todos os empregos com reciclagem podem ser considerados “verdes”, porque alguns causam muita poluição. As indústrias de papel, celulose, cimento, ferro, aço e alumínio são as maiores vilãs ambientais, segundo o relatório, porque consomem muita matéria-prima e energia. O processo de reaproveitamento do ferro gasta entre 40% e 75% menos energia que a primeira produção. Já para reciclagem, esses estão entre os materiais mais rentáveis. Papel branco e garrafas pet são os que têm preço mais alto na hora da venda para as indústrias de reciclagem, cerca de R$ 0,12 e R$ 0,28 respectivamente. Já o ferro, tem preço baixo, mas pelo peso acaba valendo a pena, segundo Ângela.

Foto 1: A coordenadora da Cooperativa de Reciclagem, Trabalho e Produção (Cortrap), Angela Maria, fala à Agência Brasil. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), reciclagem é o principal emprego verde no Brasil Foto: José Cruz/ABr

*Materia republicada no portal Ecodebate em 25/09/2008

A neocolônia Brasil importa a indústria de celulose que a Europa não quer mais

Henrique Cortez
Coordenador do Portal Ecodebate

Matéria de Marianna Aragão, do O Estado de S.Paulo, de 20/09/2008 [Indústria de celulose fecha as portas na Europa e abre no Brasil], informa que, enquanto a Europa reduz a produção para cortar custos, o Brasil saltará do 6.º para o 3.º lugar do ranking mundial. Mais uma vez, o modelo de desenvolvimento neocolonial nos fará importar as indústrias que os “desenvolvidos” não querem mais.

De acordo com a matéria “o País virou o alvo preferido de multinacionais do setor, que nos últimos anos estão levando suas fábricas de países do Hemisfério Norte para os do Sul. A sueco-finlandesa Stora Enso, a portuguesa Portucel e os chineses da Asia Pulp & Paper (APP) são algumas das gigantes que avaliam empreendimentos no Brasil, segundo fontes ligadas às empresas.

Além de escassa, a madeira utilizada pelos grandes produtores na Europa, Estados Unidos e Canadá ficou mais cara. Em janeiro de 2009, a Rússia, uma das principais fornecedora da indústria européia, vai começar a sobretaxar as exportações desse insumo.

A sueco-finlandesa Stora Enso, uma das maiores do setor, com faturamento de US$ 11,8 bilhões, fechou quatro fábricas na Europa nos últimos dois anos. Agora, concentra seus esforços nos mercados emergentes, principalmente em países da América Latina e China.“

É claro que haverá quem festeje a expansão da indústria de celulose e da monocultura do eucalipto. Sempre há quem ganhe alguma coisa em situações como esta, mas, a regra geral é que sociedade perde e muito.

Os países que se intitulam desenvolvidos já fazem esta transferência de danos desde os anos 60 e o Brasil tem sido um aplicado importador de poluição e danos sociais [Leia íntegra de documento oficial dos EUA, na década de 70, sobre poluição no Brasil: Brasil: Se o Desenvolvimento Traz poluição, Que Assim Seja].

Antes de discutir o novo “surto” desenvolvimentista a qualquer custo, que adotou as monoculturas com entusiasmo, acho interessante lembrar alguns casos da nossa opção neocolonial de importação de poluição e danos socioambientais.

O maior exemplo é o que aconteceu com a cidade de Cubatão que, durante a ditadura militar, transformou-se em um “poço” de atividades poluentes, chegando a ser uma das cidades mais poluídas do mundo. Hoje, depois de um longo e caro processo de despoluição, a cidade já obteve uma redução superior a 90% dos índices de poluição.

Outro bom exemplo é a contaminação do bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia, SP, por organoclorados (Aldrin, Endrin and Dieldrin) produzidos pela Shell, nas décadas de 70 e 80.

A produção continuou mesmo após a proibição dos drins nos EUA. Em diversos países, a fabricação destes compostos foi proibida na década dos anos 70, sendo retirados do mercado dos EUA, o Dieldrin em 1974 e o Aldrin em 1987. No Brasil o Aldrin e o Endrin foram proibidos em 1985.

Até hoje a Shell se recusa a reconhecer que quaisquer pessoas tenham sido contaminadas, originando uma grande batalha judicial ainda não resolvida.

Com a lógica da transferência de custos socioambientais, também vieram para cá a indústria eletrointensiva, com destaque para o alumínio e, agora, a monocultura do celulose.

A situação é tão absurda que já estão em discussão, na Assembléia Legislativa do RS, projetos de lei para reduzir faixa de fronteira, servindo para legalizar compra ilícita da Stora Enso.

É interessante que os “defensores” da soberania nacional, que tanto atacam as terras indígenas nas áreas de fronteira, não se incomodem que transnacionais comprem irregularmente terras nas fronteiras e, por isto, estejam tão intere$$adas na redução da faixa de fronteira. Para estes “patriotas” os indígenas são uma ameaça à soberania nacional e as transnacionais não são. A realidade é sempre hábil em desmascarar a hipocrisia.

Não sei se os nossos formuladores de políticas públicas são estúpidos ou se as multinacionais são espertas, ou ambas as coisas, mas quando transferem industrias poluentes e/ou com grandes danos sociais e ambientais, para o Brasil e outros, estão jogando nas nossas costas pesados custos sociais.

É mais uma vez o que acontecerá com a celulose. Eles não perderão áreas agricultáveis para alimentos com o eucalipto porque isto ficará por nossa conta. Os maiores riscos e potenciais danos ambientais ocorrem na produção da pasta de celulose, que será produzida aqui. Idem aos custos de energia elétrica que estaremos oferecendo de forma farta e barata, com tarifas pesadamente subsidiadas.

Para eles é o ideal da globalização, no melhor dos mundos: eles privatizam o lucro e nós socializamos o prejuízo.

Os nossos governos sempre que podem afirmam a nossa “condição” de potência emergente, mas continuamos no papel de neocolônia, com um modelo de desenvolvimento equivocado, injusto e submisso aos grandes interesses econômicos internacionais, apoiados pelos grandes interesses econômicos nacionais (é a lógica essencial da globalização).

Mais uma vez insisto que é necessário questionar a quem serve este modelo e a quem beneficia

Nossa compreensão de desenvolvimento é completamente diferente do que aí está. Queremos um desenvolvimento que seja sustentável, economicamente inclusivo, socialmente justo e ambientalmente responsável. Se não for assim não é sustentável. Aliás, também não é desenvolvimento.

Um país que não reconhece os erros do passado está condenado a repeti-los infinitamente. É o que continuamos a fazer com a desculpa desenvolvimentista da importação de poluição e devastação.

Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do Ecodebate

27 setembro 2008

DNA E A EVOLUÇÃO DA RAÇA HUMANA

Grupo internacional descreve a descoberta de genes no chamado “DNA lixo” que podem ter levado a particularidades humanas, como andar de forma ereta e manipular ferramentas

Lixo valioso

Agência FAPESP – Dos mais de 3 bilhões de pares de base, as letras genéticas que formam o genoma humano, um grupo de cientistas descobriu um punhado que pode ter contribuído com as mudanças evolucionárias que permitiram ao homem, entre outras particularidades, usar seus membros para manipular ferramentas e andar em posição ereta.

Resultados de uma análise comparativa dos genomas do homem, do chimpanzé, do macaco rhesus e de outros primatas indicam que a evolução humana pode ter sido promovida não apenas por uma seqüência de mudanças genéticas, mas por transformações em áreas do genoma que até então se achava que não serviam para nada.

Segundo os pesquisadores, essas mudanças foram responsáveis pela ativação de genes no polegar e no dedão do pé primordiais. “Identificamos um contribuinte genético potencial para as diferenças morfológicas fundamentais entre humanos e os demais primatas”, disse James Noonan, da Escola de Medicina da Universidade Yale, um dos autores do estudo publicado na edição desta sexta-feira (5/9) da revista Science.

Há tempos que os cientistas suspeitavam que mudanças na expressão genética contribuíam para a evolução humana, mas encontravam dificuldades para estudar tais alterações, pois a maioria das seqüências que controlam os genes não havia sido identificada.

Nos últimos anos, descobriu-se que regiões que não são responsáveis pela codificação no genoma, que a princípio foram chamadas de “DNA lixo”, na realidade continham milhares de elementos reguladores que atuavam como “chaves” para ligar ou desligar genes.

Uma indicação da importância biológica do DNA lixo é que muitas dessas seqüências se mantiveram semelhantes (ou “conservadas”) mesmo em espécies distantes de vertebrados, como entre o homem e o frango. Estudos funcionais recentes indicaram ainda mais: que algumas dessas seqüências controlam os genes responsáveis pelo desenvolvimento humano.

Os autores do estudo vasculharam as extensas regiões não codificantes do genoma humano para identificar as seqüências reguladoras cujas funções podem ter mudado durante a evolução do homem.

Noonan e colegas procuraram por seqüências com mais pares de base em humanos do que em outros primatas. Verificaram que a seqüência que se desenvolveu mais rapidamente dentre as identificadas, denominada HACNS1, mostrou-se altamente conservada entre espécies de vertebrados, mas tinha variações acumuladas em 16 pares de base desde a divergência do homem e do chimpanzé, estimada em 6 milhões de anos atrás.

A descoberta foi considerada uma grande surpresa, uma vez que os genomas do homem e do chimpanzé são muito semelhantes. Segundo os autores do estudo, os resultados fornecem forte evidência, ainda que preliminar, de que mudanças funcionais no HACNS1 podem ter contribuído para adaptações no polegar, pulso, pé e tornozelo humanos, que representam vantagens críticas para o sucesso evolucionário da espécie.

Entretanto, os cientistas destacam que ainda desconhecem se o HACNS1 causa mudanças na expressão genética no desenvolvimento de membros no homem ou se essa seqüência seria capaz de induzir o desenvolvimento de membros similares ao ser introduzida no genoma de outros vertebrados, como no camundongo.

O artigo Human-specific gain of function in a developmental enhancer shyam prabhakar, de James Noonan e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

DESCOBERTA A CHAVE GERAL DA SINÁPSE NO CÉREBRO

Pesquisadores identificam pela primeira vez fator de transcrição que estimula a formação de sinapses inibidoras, responsáveis por equilíbrio sem o qual há risco de distúrbios neurológicos. Estudo foi publicado na Nature

Chave geral das sinapses

Agência FAPESP – Um grupo de pesquisadores identificou pela primeira vez uma “chave geral” de células cerebrais capaz de orquestrar a formação e manutenção de sinapses inibitórias, essenciais para o bom funcionamento do cérebro.

O fator, batizado de Npas4, regula mais de 200 genes que agem de várias maneiras para acalmar células superexcitadas, restaurando um equilíbrio que, acredita-se, é perdido em alguns distúrbios neurológicos. A descoberta, realizada por pesquisadores do Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos, foi descrita na edição desta quinta-feira (25/9) da revista Nature.

As sinapses – conexões entre as células cerebrais – podem ter natureza excitatória ou inibitória. No nascimento, com o rápido desenvolvimento do cérebro, as excitatórias são abundantes, tendendo a fazer as células nervosas estimularem suas vizinhas.

Mas, se a excitação eventualmente não for equilibrada, ela pode levar à epilepsia. Doenças como o autismo e a esquizofrenia têm sido também associadas a um desequilíbrio entre excitação e inibição.

A criação de conexões inibitórias também é necessária para desencadear períodos críticos, como as fases de aprendizagem rápida durante a primeira infância e a adolescência, quando o cérebro tem mais plasticidade – isto é, mais habilidade para modificar sua própria organização estrutural e funcionamento.

O Npas4 é um fator de transcrição, ou seja, funciona como um “interruptor” que ativa ou reprime outros genes. Os pesquisadores, liderados pelo diretor do Programa de Neurobiologia do Hospital Infantil de Boston, Michael Greenberg, demonstraram que a atividade de cerca de 270 genes muda quando a atividade do Npas4 é bloqueada em uma célula. E demonstraram que a ativação do fator está associada ao aumento do número de sinapses inibitórias na superfície das células.

A equipe mostrou que o Npas4 é ativado pela atividade sináptica excitatória. “O programa disparado pela excitação diz: ‘esta célula está ficando excitada, precisamos equilibrar com inibição’”, explicou Greenberg, que atualmente lidera o Departamento de Neurobiologia da Escola Médica de Harvard.

Os pesquisadores estudaram camundongos com falta de Npas4 e descobriram evidência de problemas neurológicos. Os camundongos pareciam ansiosos e hiperativos e ficaram propensos a crises convulsivas.

Greenberg e sua equipe estão atualmente tentando aprender mais sobre a ampla variedade de genes regulados pelo Npas4, já que cada um deles pode fornecer pistas sobre o desenvolvimento das sinapses e revelar novas possibilidades de tratamento para distúrbios neurológicos.

“Se tivermos acesso a um fator de transcrição como o Npas4, com as novas tecnologias da genômica poderíamos essencialmente identificar cada alvo do fator de transcrição”, disse Greenberg. Um desses alvos é o fator neurotrófico (BDNF), que, de acordo com estudos anteriores da mesma equipe, regula a maturação e a função de sinapses inibidoras.

O artigo Activity-dependent regulation of GABAergic synapse development by Npas4, de Yingxi Lin e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

DESCOBERTA "CHAVE MESTRA" RELACIONADA AO APETITE E REPRODUÇÃO

Cientistas descobrem no cérebro uma "chave mestra" que ativa genes específicos que regulam tanto o apetite como a fertilidade, características intimamente ligadas

Chave da reprodução

Agência FAPESP – Há tempos se sabe que o peso corporal e a fertilidade são características que estão ligadas. Mulheres muito magras, por exemplo, encontram freqüentemente dificuldade de engravidar. Agora, cientistas nos Estados Unidos identificaram uma “chave mestra” que controla tanto o peso como a reprodução.

O trabalho, feito em camundongos por pesquisadores dos institutos Salk e Scripps, foi publicado neste domingo (31/8) no site e sairá em breve na edição impressa da revista Nature Medicine. Segundo os autores, a chave tem funcionamento semelhante em humanos.

O estudo indica que variações no gene que atua como chave mestra, conhecido como Torc1, podem contribuir como um componente genético tanto para a obesidade como para a infertilidade. Tais variações, afirmam, poderiam ser reguladas com novos medicamentos.

“Esse gene é crucial para a cadeia de sinais que circula entre a gordura corporal e o cérebro. Ele deve ter um papel principal em quanto os humanos comem e se terão ou não filhos”, disse Marc Montminy, do Instituto Salk.

Segundo Montminy, o Torc1 é tão importante como a leptina, a proteína que atua diretamente na regulação do apetite. O motivo é simples: a leptina se transforma em Torc1, que, por sua vez, ativa um número de genes conhecidos como atuantes no controle dos processos de fome e da fertilidade.

No estudo, camundongos sem o gene Torc1 nasceram saudáveis e iguais aos demais, mas após oito semanas começaram a ganhar mais peso. Tornaram-se persistentemente obesos na vida adulta, com duas a três vezes mais gordura adiposa do que os outros animais. Também adquiriram resistência à insulina. “Seus hormônios e o açúcar no sangue eram semelhantes aos verificados em humanos com os mesmos problemas”, disse Montminy.

Para surpresa dos cientistas, eles descobriram que camundongos dos dois sexos eram inférteis. Útero e ovários nas fêmeas se mostraram anatomicamente disfuncionais.

O grupo tem estudado nos últimos anos o balanço energético humano e o que pode levar a problemas como obesidade, diabetes e outras síndromes metabólicas. No trabalho agora publicado foram analisados os sinais transferidos entre a gordura corporal e o cérebro, informando o quanto o organismo está alimentado – e quando está saciado.

O hormônio principal que atua nessa função é a leptina, que circula pela corrente sangüínea para o hipotálamo, o centro do apetite, mantendo o cérebro informado a respeito do estado nutricional do indivíduo. A leptina também está envolvida na reprodução, ainda que os cientistas não saibam exatamente como isso ocorre.

“Controlar tanto o apetite como a reprodução resulta em uma grande vantagem evolucionária. Se não há comida, o cérebro acredita que o organismo não deveria reproduzir, porque sem gordura o crescimento do feto seria prejudicado. Alimento insuficiente para suprir as reservas energéticas do corpo implica que não sobrará nada para a gestação dos filhos”, disse Montminy.

O artigo The Creb1 coactivator Crtc1 is required for energy balance and fertility, de Judith Altarejos e outros, pode ser lido por assinantes da Nature Medicine em www.nature.com/nm.

(Ilustração: reprdução do artigo)

26 setembro 2008

GOVERNO ESTUDA DOAR 4% DA AMAZÔNIA PARA POSSEIROS

Governo estuda a doação de terras da União de até 4 km² ocupadas por posseiros na Amazônia Legal. O “rito sumário” de regularização fundiária poderá beneficiar quase 284 mil posseiros e alcançará uma área equivalente a 4% de toda a região. Pesquisador do Imazon diz que, ao doar terras, União abriria mão de patrimônio de R$ 2,1 bi, mesmo sem considerar valor de mercado

Por Marta Salomon, da Folha de S. Paulo, 25/09/2008

A proposta foi apresentada ao presidente Lula duas semanas atrás, com o apoio de ministros e governadores. Lula deu prazo até novembro para definir mudanças nas regras de titulação de terras.

A regularização fundiária é a prioridade do PAS (Plano Amazônia Sustentável). Embora a grilagem de terras na região seja um problema com dimensões muito maiores, o alvo da regularização fundiária é, por ora, um território de quase três vezes o Estado de São Paulo ou 13% da Amazônia Legal, constituído por terras da União ainda não destinadas a unidades de conservação ou a terras indígenas, por exemplo.

De acordo com a proposta em análise na Casa Civil, as novas regras permitiriam regularizar em dois anos, já a partir de 2009, todas as posses de até quatro módulos fiscais (entre dois e quatro quilômetros quadrados, dependendo da cidade) localizadas em 436 municípios de nove Estados da Amazônia Legal. Pará, Amazonas e Rondônia são os Estados com o maior número de posseiros ocupando terras da União.

“Muitas dessas pessoas foram parar na Amazônia na época do “Brasil ame-o ou deixe-o”. A maioria não tem nenhuma documentação”, disse Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário), numa referência à estratégia de ocupação da Amazônia dos governos militares. “Os projetos nunca deram certo, as pessoas foram jogadas lá, sob uma enorme instabilidade jurídica”, completou.

O documento intitulado “Terra Legal: regularização fundiária acelerada na Amazônia Legal”, a que a Folha teve acesso, aponta o atual conjunto de regras que tratam da titulação de terras -nove leis e dois decretos- como um entrave ao processo. “Mantidas as normativas atuais, seriam necessários 40 anos de trabalho [para a regularização]“, diz o texto.

Atualmente, a legislação exige a vistoria dos imóveis a serem regularizados e a localização geográfica com precisão de 50 centímetros, além de processo administrativo para a verificar os requisitos da legitimação da posse. Também é cobrado o valor histórico de posses (da época da ocupação) até 100 hectares e o valor de mercado para posses entre 101 hectares e quatro módulos fiscais. Lula sancionou lei que dispensa licitação para venda de posses de até 15 módulos fiscais.

A doação de terras de até quatro módulos ou a cobrança só de valor histórico entre 101 hectares e quatro módulos exige mudança das leis. Não está definido se as mudanças serão feitas por medida provisória.

Coordenador do estudo “Quem é dono da Amazônia”, o pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) Paulo Barreto calcula que, ao doar as terras, o governo abriria mão de um patrimônio de R$ 2,1 bilhões, mesmo sem considerar os preços de mercado.

O rito acelerado de regularização em análise no Planalto prevê a convocação dos posseiros por edital. Eles devem preencher um cadastro (informando o tempo de ocupação, a atividade econômica desenvolvida, o tamanho e a localização do imóvel) e tirar uma foto.

O tempo previsto para a emissão de título de propriedade do imóvel é de apenas 60 dias após o preenchimento do cadastro. A vistoria é abolida. E empresas contratadas farão o georeferenciamento dos imóveis num prazo de 30 dias. Esse também é o prazo previsto para a análise dos processos das pequenas propriedades.

Nas posses entre 4 e 15 módulos rurais, o prazo para a emissão de títulos é de 90 dias. Nesse caso, haverá vistoria do imóvel, e o título de propriedade será emitido mediante pagamento do valor de mercado.

Posses com mais de 15 módulos rurais só poderão ser vendidas por meio de licitação e até o limite de 25 módulos rurais. Acima desse limite, os imóveis serão retomados pela União, conforme já prevê a lei.

A PÉSSIMA CAMPANHA DE ANGELIM NA MÍDIA

Confissão

Aldo Nascimento
Editor do Blog Língua

Querido Diário Virtual,

Tenho assistido aos programas do Partido dos Trabalhadores todo dia por meio da TV. Votarei em Raimundo Angelim, mas, infelizmente, a propaganda petista está muito ruim, parece que o PT perdeu a força criativa, a irreverência. É um programa muito burocrático, formal, ou seja, muito chato.

Em termos de propaganda, o PT acreano não se superou.

Gosto das crônicas do Toinho Alves, é a fala do bobo dos tempos modernos, isto é, o bobo fala o que o poder não pode falar. Toinho ironiza, põe do avesso as críticas da oposição, promovendo o riso moderado. Gosto muito.

Fora isso, falta a inteligência criadora, talvez seja a conseqüência de um partido modelado pelo poder. É uma pena. Tenho saudades do Henfil. Um dia, não agora, um dia, caso o PT não se supere, eu poderei me cansar dele. Deixarei votar, gesto que faço desde meus 18 anos. Faz tempo.

NOTA DO BLOG: Não sou só eu que implica com a péssima campanha de Angelim na mídia. Não tem outro jeito que não culpar a campanha de marketing do Angelim para explicar o fato dele ter tido quase 70% de aprovação popular antes da eleição e agora estar correndo o risco de ter que disputar o segundo turno. A campanha é tão ruim que um desavisado pensa que o Jorge e o Tião são candidatos a algum cargo tal o envolvimento que estão tendo que ter com a campanha do Angelim.

INVASÃO DE TERRA E CRIME AMBIENTAL EM ASSIS BRASIL

Por questões políticas e falta de consciência ambiental, uma área de preservação permanente localizada em terreno extremamente íngreme foi invadida. Os invasores afirmam que pretendem "morar" no lugar. Será que este crime vai ficar por isso mesmo?

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

A pacata Assis Brasil vive essa semana um episódio de invasão de terras da união capaz de dar inveja a qualquer movimento de sem terras.

Tudo começou com uma promessa do Prefeito, Manoel Batista de Araújo (PT), de reassentar algumas famílias retiradas de áreas de risco na margem do rio Acre. O erro do alcaide foi querer fazer o reassentamento em plena época de campanha eleitoral.

Estando em fim de mandato e fazendo de tudo para eleger sua sucessora na prefeitura municipal, estava claro que a empreitada apresentava alguns riscos político-eleitoreiros.

E foi o que aconteceu. Alguns espertalhões, apostando que o prefeito e autoridades estaduais da sua base de apoio político não teriam coragem de tomar medidas drásticas, aproveitaram a oportunidade e invadiram a área de terra destinada aos desalojados da margem do rio Acre.

A invasão está causando sérios problemas ambientais pois ocorreu em uma área de preservação permanente e pior: o terreno é extremamente acidentado (foto acima), que desfavorece a ocupação humana e favorece, após a retirada da vegetação, a erosão do solo.

O mais grave da invasão é que a mesma afeta negativamente nascentes e o leito do "igarapé da onça", a melhor alternativa de abastecimento de água potável para a cidade na hipótese do rio Acre sofrer uma estiagem severa no futuro.

A invasão foi premeditada. Tudo começou com um 'incêndio' criminoso que na verdade serviu para limpar a área. Depois de algumas semanas, vendo que as autoridades não estavam fazendo nada para impedir a ação dos espertalhões, o restante da população viu que talvez fosse possível demarcar um lote. Virou baderna. Segundo denúncias anônimas, até pessoal da prefeitura colocou estaca marcando território. A esperança é: "quem sabe não dá certo né?"

Em meio a tantas ilusões por um pedaço de terra, os crimes ambientais cometidos foram graves. Toda a área invadida já foi queimada , incluindo castanheiras (foto abaixo). Até motosserra foi usada para facilitar a limpeza do terreno.

E o poder público nisso tudo? A impressão que se tem é que as autoridades municipais, em plena época de campanha eleitoral, devem estar pensando o seguinte: "Quem é doido de ir de encontro com todo um município? Quem tem autoridade para barrar tantos conflitos de uma só vez?"

Bem que o prefeito tentou uma conversa para demover os invasores. Mas era ele falando de um lado e o pessoal queimando de outro.

Como informou uma funcionária de um órgão federal lotada em Assis Brasil, "a falta de união das instituições públicas que deveriam combater este tipo de ilegalidade e crime ambiental só fortalece o movimento dos invasores".

"E enquanto essa união não acontece, o jeito é ficar na espreita na janela de casa escutando as novas historias, vendo o moço do picolé ganhar seu troco e os marceneiros já fazendo negócios..." Vamos ver quantos dias serão necessários para que os primeiros lotes invadidos passem a ser negociados abertamente no inexistente mercado imobiliário da pacata Assis Brasil.

Ainda bem que não tem a menor possibilidade de haver segundo turno nas eleições locais. De outra forma a polícia e as autoridades teriam que esperar uma eternidade para agir e brecar esse crime ambiental.

Fotos e informações adicionais: C. Guaitanele

25 setembro 2008

EXTINÇÃO DO EXAME DA OAB

Extinção do exame da OAB para o exercício da advocacia está na pauta da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. A proposta, de autoria do senador Gilvam Borges (PMDB-AP), já foi discutido em audiência pública pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e receberá decisão terminativa na CCJ

Valéria Castanho
Agência Senado

A proposta de extinção do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para o exercício da profissão de advogado deverá ser votada na próxima reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). O projeto, de autoria do senador Gilvam Borges (PMDB-AP), já foi discutido em audiência pública pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) no dia 13 de março deste ano e receberá decisão terminativa na CCJ.

Para o autor do projeto (PLS 186/06), a proposta resgata um direito do bacharel em Direito ao exercício de uma profissão a qual se dedicou por pelo menos quatro anos de sua vida.

"A um simples exame não se pode atribuir a propriedade de avaliar devidamente o candidato, fazendo-o, dessa forma, equivaler a um sem-número de exames aplicados durante todos os anos de curso de graduação, até porque, por se tratar de avaliação única, de caráter eliminatório, sujeita o candidato à situação de estresse e, não raro, a problemas temporários de saúde", justifica o senador.

Para abolir o exame, o projeto retira a expressão "a seleção" do artigo 44 do Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei 8.906/94), que determina que cabe à Ordem "promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda da República Federativa do Brasil". A matéria também revoga partes do artigo 8º e 58º, que atribuem à OAB a competência para a realização do exame.

Em seu parecer, o relator da matéria, senador Magno Malta (PR-ES), observa que na audiência pública realizada com a participação de representantes do Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito (MNBD), da OAB e de diversas entidades da sociedade civil organizada, foi ressaltada a necessidade da existência do exame como forma de avaliar a qualidade do ensino de Direito no Brasil.

"[Isso refere-se] Particularmente no que diz respeito à chamada proliferação dos cursos jurídicos, cujos primórdios remontam à década de 1950, quando teve início a criação das primeiras faculdades privadas destinadas ao ensino do Direito, sem o prestígio e a qualidade atribuídos ao ensino público da época", explica o relator.

Também o senador José Nery (PSOL-PA) se manifestou sobre o projeto, em discurso em plenário, no mesmo dia da audiência pública. Para ele, não é o caso de se acabar com o exame, mas de aperfeiçoá-lo para que sirva como mecanismo de acompanhamento da qualidade do ensino jurídico brasileiro. Como sugestão, José Nery avaliou que o exame poderia ser aplicado ao longo do curso de Direito, por etapas, ao final de cada ano letivo.

Com o objetivo de melhor avaliar o projeto e também seu relatório a respeito do assunto, Magno Malta sugere o encaminhamento do projeto à Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), antes que seja apreciado na CCJ. O relator avalia que a CE deve ser pronunciar a respeito da "relação entre a qualidade do ensino jurídico no Brasil e a conveniência de se manter o Exame da Ordem como pré-requisito para o exercício da profissão de advogado".

USO DE COCAINA E CRACK NO BRASIL

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) analisaram a produção científica sobre o tema desde meados dos anos 80 e mostram que pelo menos 2,3% da população brasileira consomem ou já consumiram cocaína, sendo o percentual inferior a 1% para crack

Compilação poderá subsidiar políticas voltadas ao tratamento de usuários de cocaína e crack

Fernanda Marques
Agência Fiocruz de Notícias

Com o objetivo de conhecer o perfil dos usuários de cocaína e crack no Brasil, uma equipe da Unidade de Pesquisa em Álcool e outras Drogas (Uniad), vinculada à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), localizou e analisou a produção científica sobre o tema desde meados dos anos 80, o que inclui artigos, teses, dissertações e capítulos de livros. Esse trabalho de revisão bibliográfica mostra que 2,3% da população brasileira consomem ou já consumiram cocaína, sendo o percentual inferior a 1% para crack. Embora essas drogas sejam utilizadas por uma parcela relativamente pequena dos brasileiros, elas representam um importante fator de risco para a transmissão da Aids e de outras doenças: os usuários, em geral, apresentam grande número de parceiros sexuais, praticam sexo sem proteção e mantêm relações sexuais em troca de drogas ou de dinheiro para adquiri-las. Os resultados dessa revisão estão em um artigo publicado recentemente na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico científico da Fiocruz.

Um dos trabalhos comentados no artigo foi desenvolvido com cerca de 700 indivíduos que utilizavam cocaína na forma injetável e viviam em Santos, Salvador, Rio de Janeiro, Itajaí (SC), Corumbá (MS), Cuiabá e Goiânia. Os participantes consumiam a droga, em média, sete vezes por dia e 71% deles compartilhavam seringas. Nas cidades de Santos e Itajaí, a taxa de infecção pelo HIV chegou a 70% entre os indivíduos estudados. “Usuários de drogas injetáveis também estão expostos a outras doenças além da Aids, como tuberculose e hepatite C”, lembram a terapeuta ocupacional Lígia Bonacim Duailibi e co-autores no artigo de revisão, onde destacam, ainda, que os usuários de cocaína e crack são especialmente vulneráveis às mortes por causas externas (acidentes e violências).

A produção científica sobre o tema revela, ainda, que os usuários de cocaína são, em sua maioria, adolescentes e jovens do sexo masculino das regiões Sul e Sudeste. No entanto, segundo levantamentos realizados entre 1987 e 2004 com estudantes de diferentes capitais brasileiras, o percentual de usuários de cocaína se manteve mais ou menos constante ao longo do tempo em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, enquanto se observou aumento significativo em capitais do Nordeste, como Salvador, Recife e Fortaleza. Outros levantamentos mostram um crescimento progressivo do consumo de cocaína e crack entre crianças e adolescentes moradores de rua, sobretudo nos estados do Sul e do Sudeste, embora o consumo por essa população tenha começado a se acentuar também no Nordeste.

Segundo o artigo da revista Cadernos de Saúde Pública, uma pesquisa com estudantes universitários de São Paulo constatou que os usuários de cocaína, geralmente, tinham dificuldades de relacionamento na família. Lares desestruturados também são uma característica comum entre os usuários de crack, que, majoritariamente, são homens pobres, com menos de 30 anos de idade, desempregados e com baixa escolaridade. “Nos últimos anos, usuários de crack começaram a aparecer entre os grupos de maior renda, embora a droga ainda seja mais prevalente entre as classes de menos favorecidas”, dizem Lígia e co-autores. Há indícios de que o tabaco e o álcool, seguidos pela maconha, são as primeiras substâncias psicoativas consumidas por um adolescente que se tornará um usuário de crack.

Quanto ao tratamento, pesquisas apontam que os usuários de cocaíca e crack, já em meados da década de 90, representavam mais da metade dos atendimentos relacionados ao uso de drogas ilícitas nos ambulatórios especializados. “Entre as drogas ilícitas, o crack é talvez a substância cuja demanda por tratamento mais aumentou nos últimos anos. Porém, o perfil dos usuários de crack torna difícil para esses indivíduos aderirem ao tratamento, o que exige propostas mais intensivas e adequadas para cada fase do tratamento”, sugerem no artigo os pesquisadores. Em seu trabalho de revisão, eles concluem que, embora as informações sobre o consumo de cocaína e crack no Brasil ainda sejam incipientes, já existe um material de qualidade suficiente para subsidiar a atualização das políticas públicas referentes ao tema.

ESPORTE: PRATICAR OU ASSISTIR MELHORA FUNÇÕES CEREBRAIS

Estudo mostra que praticar um esporte – ou mesmo assisti-lo – ajuda a melhorar as funções cerebrais relacionadas à linguagem, fazendo com que áreas normalmente utilizadas para agir se envolvam com o entendimento

Esporte cerebral

Agência FAPESP – Praticar esportes – ou simplesmente assisti-los – pode ajudar a melhorar as funções cerebrais relacionadas à linguagem, de acordo com um novo estudo realizado na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.

A pesquisa foi realizada com jogadores e torcedores de hóquei, além de pessoas que nunca assistiram ou jogaram uma partida do esporte. Os resultados serão publicados esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

O estudo mostra que a região do cérebro normalmente associada ao planejamento e ao controle de ações é ativada quando jogadores e torcedores ouvem uma conversa sobre o esporte. O impulso ajuda atletas e torcedores a compreender informações sobre seu esporte, mesmo que no momento da conversa a pessoa não tenha intenção de se exercitar.

De acordo com os autores, o cérebro pode ser mais flexível durante a idade adulta do que se estimava. “Atividades não-relacionadas à linguagem, como praticar ou assistir esportes, têm efeito positivo sobre a capacidade de entendimento da linguagem sobre o esporte, precisamente porque as áreas cerebrais normalmente utilizadas para agir passam a ficar altamente envolvidas com o entendimento da linguagem”, disse Sian Beilock, autora principal do artigo e professora de psicologia da Universidade de Chicago.

“A experiência de jogar e assistir esportes tem efeitos duradouros sobre o entendimento da linguagem, ao modificar as redes neurais que apóiam a compreensão, incorporando áreas ativas em habilidades ligadas à performance esportiva”, disse ela.

A pesquisa poderá ter maiores implicações para o aprendizado, segundo os autores. “Ela destaca que a dedicação a uma modalidade ativa redes cerebrais que não são normalmente associadas à linguagem e isso melhora o entendimento da linguagem relacionada àquela atividade”, disse Sian.

Doze jogadores profissionais e universitários de hóquei, oito torcedores e nove indivíduos que nunca haviam visto um jogo participaram do estudo. Os pesquisadores pediram que eles ouvissem expressões relacionadas a jogos de hóquei, como chutar, fazer defesas e “estar ligado no jogo”. Os voluntários também ouviram expressões sobre atividades cotidianas, como “tocar campainhas” e “varrer o chão”.

Enquanto os indivíduos ouviam as expressões, seus cérebros foram monitorados por ressonância magnética funcional (fMRI, na sigla em inglês), que permite inferir quais áreas do cérebro ficaram mais ativas durante a manifestação da linguagem.

Depois de ouvir as expressões no aparelho de fMRI, os voluntários passaram por uma bateria de testes para avaliar sua compreensão sobre aquela linguagem. Embora a maioria dos voluntários tenha compreendido a linguagem sobre atividades cotidianas, os jogadores e torcedores de hóquei tiveram um entendimento substancialmente melhor das expressões relacionadas ao esporte.

O imageamento cerebral revelou que quando os jogadores e torcedores ouviram a linguagem sobre o hóquei, eles mostraram atividade nas regiões cerebrais normalmente utilizadas para planejar e selecionar ações físicas bem assimiladas. A atividade aumentada em áreas motoras do cérebro ajudou os jogadores e torcedores a compreender melhor a linguagem ligada à modalidade esportiva.

O artigo Sports experience changes the neural processing of action language, de Sian Beilock e outros, pode ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.

24 setembro 2008

MÚSICA: CDs SERÃO SUBSTITUÍDOS POR CARTÕES DE MEMÓRIA

Gravadoras e SanDisk querem substituir CDs por cartões de memória

O Globo, 22/09/2008

No conturbado mercado da distribuição de música digital, a nova aposta das gravadoras para substituir o combalido CD é o slotMusic. O novo produto trata-se de um cartão de memória de 1GB, que virá com músicas pré-carregadas. E a iniciativa tem apoio de peso. As quatro grandes gravadoras - Sony BMG, Universal, EMI e Warner - estão por trás do projeto, junto com a SanDisk, que fabrica os cartões.

O alvo das gravadoras seria o download de músicas pela internet, hábito que modificou totalmente a distribuição de conteúdo no mundo digital. Um dos argumentos encontrados no site oficial da slotMusic nesse sentido é o de que "os cartões permitem que os consumidores apreciem a música de seus artistas favoritos sem a necessidade de um PC ou conexão pela internet.

Um detalhe importante é que as músicas virão sem a proteção dos Digital Rights Management (DRM), que limita a transferência e cópia de arquivos. Com isso, os cartões poderão ser instalados em celulares, mp3 players e computadores, graças a uma pequeno adaptador USB.

"A conclusão é que o slotMusic terá uma base pré-instalada sem paralelos: milhões de celulares, virtualmente qualquer computador com uma entrada USB e um número cada vez maior de equipamentos de carros poderão tocar os cartões".

DESCOBERTA BRASILEIRA: ALGAS CONTRA A AIDS

Substâncias obtidas de algas marinhas inibem processo de replicação do vírus HIV e poderão resultar, em breve, no primeiro anti-retroviral brasileiro. Compostos também podem ter aplicação como microbicida

Algas para enfrentar a Aids


Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP – Algas marinhas do litoral brasileiro poderão vir a ser uma importante fonte para o tratamento e a prevenção da Aids nos próximos anos.

Três substâncias – de um total de 22 testadas –, obtidas a partir dessas algas, mostraram promissora atividade inibitória do processo de replicação do vírus HIV em suas três fases: na transcriptase reversa, na protease e, o mais importante, na morfogênese, o que nenhum medicamento hoje existente no mercado faz.

Por essa razão, o Brasil poderá ter, em breve, seu primeiro anti-retroviral, reforçando o grupo das 17 drogas (todas importadas) que compõem o protocolo de tratamento do Ministério da Saúde. O anúncio foi feito por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) na sexta-feira (29/8).

“Esta poderá ser uma nova alternativa no arsenal terapêutico contra a Aids, sobretudo para casos de resistência aos medicamentos tradicionais”, afirmou o imunologista Luis Roberto Castello Branco, chefe do Laboratório de Imunologia Clínica do IOC.

Nos testes pré-clínicos –in vitro (em tubos de ensaio e com tecidos humanos) e in vivo (camundongos) – uma das substâncias, em particular, identificada a partir de uma alga encontrada no atol das Rocas, apresentou taxa de eficácia em sua ação anti-retroviral de 98%, mesmo se aplicada em baixas concentrações.

Embora os três compostos tenham demonstrado atividade inibidora da transcriptase (enzima que age na primeira fase do ciclo replicativo viral), essa mesma substância se revelou eficaz na inibição da protease (que age no final do ciclo replicativo) e na morfogênese (fase final, quando há a maturação viral). Isto é o que, caso seja transformada em medicamento, fará com que o fármaco brasileiro se destaque entre os atualmente disponíveis.

“Diferentemente dos inibidores disponíveis atualmente, percebemos que essa substância tem uma função de atingir os três alvos: a transcriptase, a protease e a morfogênese. Ou seja, ela bloqueia a fase inicial e a final”, explicou o virologista Cláudio Cirne, da Fundação Ataulpho de Paiva, à Agência FAPESP.

“A grande falha dos medicamentos atuais é que eles não conseguem bloquear o escape do vírus, devido à sua capacidade de mutação. Então, se existe uma substância que bloqueia a fase final, inibindo também a morfogênese, sua possibilidade de replicação será mínima. O bloqueio da morfogênese faz com que o vírus fique em uma forma completamente desorganizada em sua estrutura”, afirmou.

O pesquisador observa, no entanto, que o bloqueio da morfogênese não significa a erradicação do vírus no organismo. “O HIV é um vírus com forte capacidade de mutação, por isso ele não vai deixar de existir”, salientou.

Além da ação anti-retroviral, a substância mais promissora das três identificadas apresentou toxicidade praticamente nula. Esta é outra característica que a diferencia dos compostos atuais, os quais, embora eficazes, são extremamente tóxicos e caros.

O desenvolvimento de um anti-retroviral nacional representará também uma alternativa para a dependência estrangeira. O orçamento de 2008 previsto pelo Programa Nacional de DST/Aids é de R$ 1,3 bilhão, dos quais pouco mais de R$ 1 bilhão é destinado aos gastos com medicamentos anti-retrovirais. De acordo com os pesquisadores, a economia poderá ser de 5% a 10%, o equivalente a R$ 50 ou R$ 100 milhões.

Os testes clínicos devem ter início em 2010, na África – continente que tem os mais elevados índices de incidência da doença no mundo – e durar quatro anos. Segundo os cientistas, as diferenças nas subtipagens virais entre Brasil e África não serão significativas para os testes.

“Não estamos desenvolvendo uma vacina, e sim estudando inibidores da replicação viral. Então, fazer o uso do AZT, por exemplo, em um isolado no Brasil e em um isolado na África é a mesma coisa. A enzima, responsável pela replicação, é a mesma aqui e lá”, disse Cirne.

Microbicida

As três substâncias abriram outra possibilidade para a equipe de pesquisadores do IOC, FAP e UFF: o desenvolvimento de um microbicida de aplicação local. O microbicida é voltado para uso vaginal, permitindo às mulheres que se protejam da infecção pelo vírus HIV mesmo sem o consentimento dos parceiros.

Estudos têm demonstrado a necessidade de uma negociação no uso do preservativo masculino. “Muitos homens não querem usá-lo e, com isso, acabam infectando suas mulheres”, lembrou Castello Branco. Segundo ele, os testes para o uso microbicida das substâncias à base de algas foram exitosos.

“Uma das três substâncias já foi testada em explantes [fragmentos de cérvix uterino humano infectados pelo HIV, mantidos em cultura em laboratório] na Universidade Saint George de Londres e em nosso laboratório no IOC, e está entre as 30 candidatas aceitas pela Aliança pelo Desenvolvimento de Microbicidas, sendo a único da América Latina no grupo”, disse o pesquisador. É também a única à base de algas marinhas.

A grande questão que preocupa os cientistas, no entanto, é que a quantidade dessas algas existentes no Oceano Atlântico, entre a Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e o Rio de Janeiro, é limitada. “Por isso, estamos investigando outras possibilidades de fontes e de metodologias, como a síntese orgânica em laboratório”, disse Castello Branco.

Os nomes das algas ainda estão guardados em sigilo. O estudo está em fase de patenteamento. Se desenvolvidos, os medicamentos anti-retrovirais e o microbicida brasileiros à base de algas marinhas vão representar mais uma esperança para as 33,2 milhões de pessoas infectadas com o vírus HIV no mundo, que teve 2,5 milhões de novos casos em 2007. No mesmo ano, 2,1 milhões morreram infectados. Na América Latina, são 1,6 milhão de pessoas vivendo com Aids, um terço dos casos somente no Brasil.

(Foto: Gutemberg Brito/IOC)

23 setembro 2008

TIÃO VIANA: APOIO PÚBLICO DE RENAN CALHEIROS É PREJUDICIAL

A revista VEJA desta semana trás em sua seção holofote uma nota intitulada 'Tião Não' (vejam abaixo), na qual firma que "mesmo depois de cair em desgraça, o senador Renan Calheiros (AL) pode ter um papel fundamental na eleição do próximo presidente do Senado".

Segundo a nota, Renan "Já avisou à bancada do seu partido, o PMDB, que veta a candidatura do petista Tião Viana (AC). Com isso, abriu espaço para que os também petistas Aloizio Mercadante (SP) e Delcídio Amaral (MS) sonhassem com o cargo. Renan, no entanto, quer um peemedebista. Ele tenta convencer seu aliado José Sarney (AP) a ocupar o posto. O velho cacique esquiva-se e oferece o nome do ministro das Comunicações, Hélio Costa.".

Como a revista nunca publica nada de graça, que interpretação o leitor poderia fazer da nota?

Eu vejo o seguinte viés. VEJA pode até estar tramando contra a candidatura de Tião à presidência do Senado, mas a nota, de forma intencional ou não, livra o senador acreano do constrangimento que é ter o apoio público de Renan Calheiros, que foi defenestrado do cargo sob uma chuva de acusações de desvios morais e corrupção. Ruim para o senador Sarney ou quem a nota afirma que ele anda indicando para o cargo - o Ministro Hélio Costa.

Independente da cor partidária, sou da opinião de que toda a bancada acreana deveria apoiar a eleição de Tião à presidência do Senado. O Acre só tem a ganhar. Especialmente na divisão do bolo orçamentário das verbas federais destinadas a grandes obras como estradas, saneamento e urbanização.

Embora tenha sido um assunto pouco explorado pela assessoria do senador acreano, é fato que desde que ele assumiu cargos de direção estratégicos no Senado defendendo o governo Lula, o Acre disparou no quesito alocação de verbas. Ou vocês acham que o dinheiro para concluir a BR-364 só saiu porque o Lula gostou daquele prospecto do andamento da obra que foi mostrado para ele durante uma escala que fez no Acre alguns meses atrás? Ou porque nutre carinho especial pelo Acre e é amigo de longa data do Binho?

Não se iludam. Em política o ditado 'é dando que se recebe' é a regra e não a exceção.

BRASIL: DOR DE DENTE ATINGE 1/3 DOS ADOLESCENTES

Pesquisa mostra que mais de 35% dos adolescentes de 15 a 19 anos tiveram dor nos dentes ou nas gengivas nos últimos seis meses. Trabalho teve base em levantamento realizado em 250 cidades com mais de 16 mil jovens

Números dolorosos

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Uma pesquisa realizada em 250 municípios brasileiros constatou alta prevalência de dor nos dentes ou nas gengivas entre adolescentes de 15 a 19 anos. O estudo, que envolveu municípios das cinco regiões do país, de diferentes portes populacionais, identificou o problema em 35,6% dos jovens.

Para a análise foram utilizadas informações de 16.126 adolescentes que participaram do Levantamento Epidemiológico Nacional de Saúde Bucal (SB-Brasil), entre 2002 e 2003. O estudo foi publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, editada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

De acordo com uma das autoras do trabalho, Karen Glazer Peres, professora do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), embora existam poucos estudos de base populacional que possibilitem comparações, o índice de prevalência de mais de 35% é considerado alto.

“Praticamente um em cada três adolescentes apresentou dor de dente em um curto espaço de seis meses anteriores à pesquisa”, disse Karen à Agência FAPESP. O estudo contou com outros pesquisadores da UFSC e da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

Ela destaca que outra pesquisa de acompanhamento de adolescentes até 12 anos de idade, feita em Pelotas (RS), também apontou números preocupantes. “Observamos ali que 63% dos entrevistados relataram dor de dente em algum momento da vida e 11% no período de um mês anterior à entrevista”, disse Karen, que também é pesquisadora associada da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel).

Na análise das variáveis independentes, o estudo baseado em dados do SB-Brasil apontou alta prevalência em adolescentes que não estudam (40,2%), com menor escolaridade (41,8%) e com menor renda per capita, que relataram mais dor nos dentes ou nas gengivas que os demais. Verificou-se também que o problema afeta mais as meninas (37,8%) do que os meninos (32,6%).

Karen afirma que existem duas possíveis explicações para uma maior prevalência feminina. “Alguns pesquisadores apontam que diferentes mecanismos biológicos são desencadeadores da dor em homens e mulheres. E, por outro lado, essa diferença pode estar representando normas sociais para a expressão da dor. Ou seja, os meninos procuram se mostrar mais resistentes e, portanto, tendem a relatar menos dor”, disse a professora, que é formada em odontologia pela UFSC.

Continuidade do estudo

Segundo ela, o tamanho da amostra garantiu resultados robustos. Outro ponto que contribuiu para dar solidez ao estudo foi o tempo. O período de seis meses teve base em um parâmetro adotado a partir de estudos encontrados na literatura.

“A opção de se perguntar sobre a experiência de dor de dente ocorrida nos últimos seis meses não está relacionada ao desenho da pesquisa. Esse é um dos parâmetros encontrados na literatura, pelo qual se optou, possibilitando comparações com outros estudos”, explicou.

A associação entre condição socioeconômica e dor nos dentes ou nas gengivas corroborou o que se verificou em estudos anteriores, mas não existe consenso na literatura científica sobre essa associação. Segundo Karen, o desenho do estudo não permite inferir causalidade, e sim associação.

“Pesquisas com delineamento mais apropriado para esse tipo de inferência têm mostrado que indivíduos pertencentes a estratos sociais desfavorecidos economicamente têm pior condição de vida, menor acesso a bens de consumo e auto-cuidado, além de utilizar menos os serviços de saúde. Essas pessoas apresentam maior prevalência e gravidade da cárie dentária, principal causa de dor de dente”, apontou.

A pesquisa terá continuidade a partir de 2010, quando está previsto um novo levantamento epidemiológico de saúde bucal nacional. Karen alerta para a necessidade de se garantir o acesso da atenção à saúde bucal e do cuidado desses grupos com o objetivo de garantir a eqüidade, um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).

“Diminuir a prevalência de dor é um dos principais objetivos da profissão odontológica e do SUS. Somente neste próximo estudo poderemos saber se essa meta foi atingida”, disse.

Para ler o artigo Dor nos dentes e gengivas e fatores associados em adolescentes brasileiros: análise do inquérito nacional de saúde bucal SB-Brasil 2002-2003, de Karen Glazer Peres e outros, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.

CARLTON: FIM DE UMA ERA

A propaganda é algo poderoso. Não resisti em lamentar o fim de uma marca de cigarro

Deu na Veja desta semana. Depois de 44 anos no mercado, a Souza Cruz vai retirar do mercado uma das marcas de cigarro mais conhecidas no país: Carlton. A empresa resolveu substituir a marca nacional por uma internacional, Dunhill.

Fumei Carlton durante muito tempo. Faz tempo que não fumo. Apesar dos males que o cigarro provoca, a marca Carlton me traz muitas lembranças de um passado que de todo não foi ruim. Carlton desaparece aos 44 anos. Surgiu no ano em que nasci.

ENCONTRADA NO BRASIL A FORMIGA MAIS PRIMITIVA

Subterrânea, esbranquiçada e sem olhos, espécie descoberta no Amazonas pertence à mais antiga linhagem de formigas vivas atualmente. Trabalho, com participação brasileira, será publicado na revista Pnas

[Leia nota do Blog sobre este artigo no final deste texto]

Ancestral vivo

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – As formigas surgiram há cerca de 120 milhões de anos, durante o período Cretáceo, quando se diferenciaram de um ancestral comum às vespas. Um grupo internacional de pesquisadores acaba de descrever uma nova espécie, encontrada nas proximidades de Manaus, que afirmam ser a linhagem mais antiga de formigas existentes na atualidade.

A formiga vive sob o solo e mede de 2 a 3 milímetros quando adulta. Esbranquiçada e sem olhos, ganhou o nome de Martialis heureka. A referência ao planeta Marte se deve à aparência “alienígena” do animal, que possui uma combinação de características jamais registradas. Depois da análise morfológica e genética, os cientistas verificaram que a formiga correspondia não apenas a uma nova espécie, mas também a gênero e subfamília inéditos.

A descoberta será publicada esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas). Os autores do estudo são Christian Rabeling e Jeremy Brown, da Universidade do Texas (Estados Unidos), e Manfred Verhaagh, do Museu Estatal de História Natural de Karlsruhe (Alemanha). O trabalho de campo no Amazonas teve participação de Marcos Garcia, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

De acordo com Garcia, o grupo havia trabalhado em conjunto em dois projetos de três anos de duração realizados a partir de 1996, dentro de um convênio bilateral entre Brasil e Alemanha apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A formiga havia sido encontrada pela primeira vez por Verhaagh, em 1998.

“Trabalhamos até o fim de 2003 em projetos que pesquisavam os organismos de solo e sua importância para os ecossistemas locais. O professor Verhaagh coletou dois exemplares dessa formiga, mas houve um acidente no transporte. Eles secaram e não puderam ser analisados”, disse Garcia à Agência FAPESP. O entomologista da Embrapa coordenava, na época, a parte brasileira do projeto.

Em 2003, Rabeling, que fazia então sua pesquisa de mestrado, realizava um trabalho de campo em um terreno da Embrapa, próximo a Manaus, quando encontrou por acaso um novo exemplar da espécie desconhecida. Segundo o pesquisador alemão, o animal foi coletado na serapilheira, a camada superficial do solo da floresta onde há restos de vegetação, folhas, ramos, caules e cascas de frutas em diferentes estágios de decomposição.

“Eu estava arrumando meus pertences para ir embora, no fim da tarde, quando vi a formiga, que me pareceu estranha. Depois da coleta, não consegui identificá-la e enviei uma foto dela ao professor Manfred, que me respondeu imediatamente dizendo que se tratava da formiga encontrada em 1998”, disse Rabeling à Agência FAPESP.

Segundo o pesquisador, existe uma ampla literatura sobre as mais de 12,5 mil espécies de formigas no planeta. Mas, depois de analisar as características morfológicas da nova espécie, os cientistas constataram que ela não se encaixava em nenhuma das 20 subfamílias existentes. “Desde 1923, esta é a primeira descoberta de uma nova subfamília de formigas com espécimes vivos”, afirmou.

Em seguida, os cientistas removeram as pernas do lado direito da formiga e extraíram o DNA para realizar análises genéticas. “Seqüenciamos três genes e colocamos esses dados em uma matriz de dados existente. Essa análise genética mostrou que a formiga era a mais antiga com espécimes vivos”, explicou.

Segundo o pesquisador, foram coletados anteriormente fósseis mais antigos, mas a Martialis heureka é a mais basal de todas as formigas vivas já submetidas a uma análise filogenética.

Rabeling contou que a Sphecomyrma, um fóssil preservado em âmbar e descrito em 1967 por Edward Wilson, da Universidade Harvard, é considerado o “elo perdido” das formigas e vespas.

“As vespas são os ancestrais de todas as formigas atuais. A partir desse ancestral, elas foram se especializando para viver no solo, em árvores ou na serapilheira e formaram o grupo monofilético das formigas”, explicou. As formigas evoluíram rapidamente para diferentes linhagens, partir do Cretáceo (entre 145,5 milhões e 65,5 milhões de anos atrás).

Novas coletas

Rabeling contou que Wilson, um dos principais especialistas em formigas no mundo, também foi consultado quando a Martialis heureka foi coletada. Seu comentário gerou o nome da nova espécie. “Quando observou a combinação desconhecida de caracteres morfológicos aberrantes, Wilson brincou que esse gênero só podia vir de Marte”, contou.

O cientista acredita que a descoberta tenha implicações para a conservação do bioma amazônico. “O projeto que envolvia a Universidade de Tuebingen, à qual eu pertencia na época, o Museu de Karlsruhe e a Embrapa vinha estudando insetos da região por uma década e, depois de todo esse tempo, ainda encontramos espécies novas. Isso mostra a importância da conservação, já que espécies como a Martialis heureka são fundamentais para ajudar a entender a evolução”, destacou.

Segundo Rabeling, a descoberta reforça a hipótese de que as formigas predadoras cegas que vivem sob o solo apareceram no início da evolução das formigas. “A cor pálida do corpo e a falta de olhos sugerem que essas formigas fizeram adaptações propícias para seus hábitos subterrâneos”, disse.

De acordo com Rabeling, o grupo agora pretende realizar outro projeto para coletar mais exemplares da formiga na Amazônia, a fim de realizar estudos sobre seu comportamento. O grupo pretende também desenvolver novas metodologias para coleta de espécies subterrâneas.

O artigo Newly discovered sister lineage sheds light on early ant evolution, de Christian Rabeling e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.

(Foto: divulgação)

NOTA DO BLOG: Quem lê a nota da Agência FAPESP reproduzida acima, com direito a entrevista do pesquisador da EMBRAPA que 'ajudou' a realizar o trabalho, tem a impressão que o artigo científico resultante do trabalho vai contar com o nome dele. Parece que não é assim. Quem lê a matéria do The New York Times sobre o assunto fica com a impressão que os pesquisadores americanos são os únicos responsáveis pela descoberta. A nota do diário americano sequer menciona a participação de pesquisadores brasileiros e apresenta um link para o resumo do artigo que irá sair na PNAS. Neste resumo não consta o nome de pesquisadores brasileiros.

Será que o entomologista da EMBRAPA foi apenas mão-de-obra barata? Ou será que ele fará parte de outro artigo que ainda vai sair mais à frente? Aliás, este jornal e outros americanos têm a mania de, quando discutindo artigos desse tipo, nominar e indicar a instituição dos pesquisadores americanos. Os pesquisadores dos países onde os dados ou amostras são coletados são tratados apenas como 'colegas locais'.