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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

28 setembro 2007

MAIS SAÚDE, MENOS SONEGAÇÃO

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – O problema do sistema de saúde brasileiro não é a gestão, é a falta de recursos. Para aumentar recursos e superar a crise no setor, o país precisa diminuir a concentração de renda por meio de uma reforma tributária.

A idéia foi defendida pelo ex-ministro da Saúde Adib Jatene, do Hospital do Coração, nesta quinta-feira (27/9), durante o 3º Simpósio Avanços em Pesquisas Médicas, em São Paulo. O evento foi promovido pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Traçando um diagnóstico do setor de saúde, Jatene defendeu enfaticamente que a gestão do sistema, embora tenha problemas, é bastante eficiente em relação aos recursos de que dispõe.

“A área econômica do governo e parte do setor empresarial procuram impor à população a idéia de que não nos faltam recursos e sim gestão. Dizem que a carga tributária é elevada e o volume de recursos à disposição do setor é muito grande. Isso é uma completa falácia”, disse Jatene à Agência FAPESP.

De acordo com ele, a Constituição estabelece que a saúde deveria receber 30% do orçamento da seguridade, que é de R$ 370 bilhões em 2007. O valor seria de R$ 110 bilhões, mas o orçamento do Ministério da Saúde não passa de R$ 44 bilhões, incluindo a parte contingenciada.

“É ruim uma gestão que consegue, com esses recursos, internar 11,5 milhões de pessoas, financiar todos os transplantes de órgãos, mais de 70% das cirurgias cardíacas, quase toda a hemodiálise e medicação para análise, fazer uma vacinação em larga escala que é a melhor do mundo?”, questionou o professor.

A organização do sistema único de saúde num país sem tradição democrática foi, de acordo com Jatene, uma demonstração de boa gestão. “É uma engenharia complexa articular decisões numa Federação, contando com Conselhos em três níveis de governo, com participação popular.”

Eliminar fraudes e irregularidades, criar a programação integrada, estimular a organização dos municípios em consórcios intermunicipais, de acordo com o ex-ministro, são outros exemplos de gestão bem-sucedida.

O Programa de Saúde da Família, segundo ele, também foi fruto de gestão. Como uma grande massa da população mora em lugares onde os profissionais de saúde não querem morar, não se podia montar um sistema de atenção básica centrada no médico. A estratégia foi centrá-lo no agente comunitário de saúde.

O agente, explicou Jatene, mora na comunidade e acompanha de perto um núcleo de 100 a 200 famílias, atuando em prevenção. A cada cinco agentes são agregados, num posto de saúde, um médico em tempo integral, uma enfermeira e um auxiliar de enfermagem. “Isso teve um impacto dramático na redução da mortalidade infantil e no aumento da expectativa de vida”, afirmou.

Segundo Jatene, hoje há 200 mil agentes e 30 mil equipes de saúde da família cuidando de cerca de 80 milhões de pessoas. “Mas isso não chega à metade da população brasileira. O programa não pode se esgotar nesse modelo, que funciona bem, mas não tem como ser expandido. São necessárias equipes de especialistas para dar cobertura às equipes de saúde da família. Evidentemente é preciso aumentar os recursos.”


Concentração de renda e sonegação

O ex-ministro afirmou que a deficiência da infra-estrutura é desproporcional à riqueza do país. O problema do financiamento da saúde, de acordo com ele, está relacionado à má distribuição de renda, que tem base em várias formas de elisão e evasão fiscal.

“Somos o país de maior concentração de renda do mundo. Isso acontece por uma única razão: quem gera a renda se apropria dela. Só existe uma maneira de se fazer isso: sonegando”, disse.

Para o professor, a carga tributária do país não pode ser considerada elevada. “Essa carga de 35% que se apregoa não é correta, porque ela é calculada sobre o [Produto Interno Bruto] PIB oficial, mas o PIB real é 20% a 30% maior”, disse.

Além disso, a fatia da previdência social, de 15% da arrecadação federal, não deveria ser considerada como recurso tributário do governo, de acordo com Jatene.

“Previdência é recurso dos aposentados. Isso não pode servir para dizer que a carga tributária é alta. Na verdade, ela só é alta para quem ganha pouco, porque no Brasil o sistema é baseado na taxação de produtos, bens e serviços, atingindo o consumidor”, explicou.

Nesse contexto, diz o professor, a arrecadação do governo é pequena e não consegue atender às necessidades de uma população que se urbanizou em grande velocidade.

“Temos que fazer uma reforma tributária, mas isso é uma grande encrenca, porque quem deve fazê-la é o Congresso. E quem o elege não é quem vota e sim quem financia campanhas e tem interesse em manter a concentração de renda”, disse.

O ex-ministro utilizou o caso da CPMF para ilustrar a profundidade do problema fiscal. De acordo com ele, quando foi regulamentada, a contribuição foi acompanhada de um artigo que proibia que a Receita Federal usasse seus dados para fiscalizar o pagamento de imposto de renda, encobrindo a sonegação.

Quando se permitiu o cruzamento de informações, de acordo com ele, a arrecadação Federal passou de R$ 6,5 bilhões por mês para mais de R$ 20 bilhões por mês. Dos cem maiores contribuintes da CPMF, 62 nunca tinham pago imposto de renda.

“Quando cruzamos informações a arrecadação triplicou e isso não quebrou ninguém, as exportações vão bem e as reservas se mantêm. Mas, além da CPMF, a legislação ainda tem muitos outros mecanismos de elisão, de não-pagamento de tributos, de evasão de recursos por multinacionais e isenção de toda ordem”, declarou.

27 setembro 2007




Bancos arrecadaram R$ 52,6 bilhões só com tarifas cobradas de clientes em 2006

Edla Lula e Eliane Wirthmann
Repórteres da Radiobrás

Brasília - Um estudo da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgado este mês mostra que, em 2006, os bancos brasileiros arrecadaram R$ 52,6 bilhões com tarifas cobradas de clientes. Em 2002, essa arrecadação havia sido de R$ 24,2 bilhões.

O sistema financeiro brasileiro não possui, atualmente, normas que definam quais são as tarifas que o banco deve cobrar. O Banco Central apenas proíbe a cobrança de alguns serviços considerados essenciais e deixa para o mercado a criação de tarifas, de acordo com o perfil de cada instituição.

Por isso, um grupo de trabalho que deverá ser criado nas próximas semanas terá que definir as novas regras de fiscalização dos bancos. Um acordo feito no início deste mês pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, definiu que em 45 dias (60, a contar do dia 11, quando foi assinado) o grupo seria criado para resolver o problema.

As cobranças proibidas estão definidas em alguns documentos do BC. A Resolução 2747/2000 do Banco Central impede as instituições financeiras de cobrarem pelo fornecimento de cartão magnético ou de um talão de cheques, com pelo menos 10 folhas por mês; substituição do cartão magnético no vencimento de sua validade; fornecimento dos documentos que liberem garantias de qualquer espécie; devolução de cheques pelo Serviço de Compensação de Cheques e Outros Papéis, exceto quando se trata de cheque sem fundo; manutenção de conta de poupança; manutenção de contas à ordem do poder judiciário e de contas decorrentes de ações de depósitos em consignação; fornecimento de um extrato mensal, contendo toda a movimentação da conta no mês; renovação de sustação, de contra-ordem e de cancelamento de cheques; pesquisa no Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos.

Outra Resolução, a 3.211/2004, estabelece que é vedada a cobrança de tarifa pela abertura e manutenção de contas especiais de depósitos à vista, conhecidas como contas simplificadas. Já a Resolução 3401/2006, que trata da portabilidade de crédito, proíbe a cobrança de tarifas relativas aos custos da transferência de recursos, de uma instituição para outra, para a quitação antecipada de contratos de operações de crédito e de arrendamento mercantil.

A mais recente norma que trata do assunto, a Resolução 3.402/2006, que cria a conta-salário, proíbe, para este tipo de conta, a cobrança por transferência dos créditos pelo seu valor total; fornecimento do cartão magnético; realização de até cinco saques, por evento de crédito; acesso a pelo menos duas consultas mensais ao saldo; fornecimento de pelo menos dois extratos contendo toda a movimentação da conta nos últimos trinta dias; e manutenção da conta, inclusive no caso de não haver movimentação.





CANUDOS EMBALADOS SERÃO OBRIGATÓRIOS

A Comissão de Defesa do Consumidor aprovou ontem (26) o Projeto de Lei 673/07, do deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), que obriga bares, restaurantes, lanchonetes, casas de shows e eventos e vendedores ambulantes a fornecer canudos hermeticamente embalados. O objetivo é impedir que o consumidor use um canudo que já tenha sido manipulado ou mesmo utilizado por outra pessoa.

Segundo a proposta, a infração implicará multa de R$ 5 mil, dobrada em caso de reincidência, e corrigida anualmente com base na inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O projeto foi aprovado na forma de substitutivo do relator, deputado Felipe Bornier (PHS-RJ), que retira do texto o valor instituído para a multa e pune o infrator de acordo com o artigo 56 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90). Esse artigo prevê, além da multa, várias outras penalidades, como apreensão do produto, sua inutilização, cassação de seu registro e proibição da fabricação. A multa de R$ 5 mil foi considerada alta por Bornier, principalmente para os vendedores ambulantes.


MUDANÇA DO CONCEITO DE BEBIDA ALCÓOLICA REJEITADO PELA CÂMARA

A Comissão de Seguridade Social e Família rejeitou ontem o Projeto de Decreto Legislativo 69/07, do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que susta o dispositivo da Política Nacional sobre Álcool (Decreto 6.117/07) que define como bebida alcoólica a que contiver teor alcoólico a partir de 0.5 grau Gay-Lussac. Se a norma fosse sustada, seria considerada bebida alcoólica somente as com teores superiores a 13 graus Gay-Lussac, conforme definição da Lei 9.294/96, que trata, entre outros itens, das restrições ao uso e à propaganda de bebidas alcoólicas.

O parecer da relatora, deputada Rita Camata (PMDB-ES), foi contrário à proposta. Ela defende a manutenção de um conceito mais amplo de bebidas alcoólicas. "Persistem nas estatísticas brasileiras números inaceitáveis de crimes, violências e acidentes provocados pela ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, inclusive as cervejas ou 'ices' - justamente as que têm menor teor de álcool", disse.

Faria de Sá argumenta, no entanto, que o Decreto 6.117/07 entra em conflito com a Lei 9.294/96, que considera bebida alcoólica, para efeitos de propaganda, as com teor alcoólico superior a 13 graus Gay-Lussac. Além disso, observou, um decreto não pode alterar uma lei. Para o parlamentar, somente uma nova lei poderia alterar o conceito de bebida alcoólica estabelecido na Lei 9.294.

Rita Camata lembrou que a Comissão de Seguridade não deve analisar o conflito ou hierarquia de instrumentos legais. "Deve, sim, apoiar iniciativas que contribuam efetivamente para assegurar as condições de saúde da população."


IBGE ADMITE: CENSO POPULACIONAL PODE CONTER FALHAS

O presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eduardo Pereira Nunes, admitiu que a contagem populacional da instituição pode apresentar falhas nos períodos entre recenseamentos, uma vez que a metodologia (adotada internacionalmente) não detecta possíveis grandes fluxos migratórios.

Nunes explicou que, nesses períodos entre recenseamentos, o IBGE aplica a tendência verificada no último levantamento: se foi registrado aumento da população do município, é projetado um crescimento anual de acordo com os dados. O mesmo ocorre se houve queda. Entre um censo e outro, pode haver uma mudança nesse movimento populacional, e o IBGE não tem condições de incorporá-la em suas projeções.Segundo o presidente do instituto, isso deve ser minimizado neste ano porque será concluído amanhã o trabalho de campo relativo ao censo de 2007.

No dia 5 de outubro, serão divulgados os resultados. De 5 a 25 de outubro, qualquer interessado poderá apresentar recursos contestando as populações de municípios. E, no dia 3 de novembro, o Tribunal de Contas da União (TCU), baseado nos dados do IBGE, definirá a distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Nunes participa de audiência pública conjunta das comissões da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional; e de Desenvolvimento Urbano para discutir as metodologias de contagem populacional do IBGE nos municípios da Amazônia.

AÇAÍ FEITO NA HORA

Glenda Vidal, uma leitora que não sei se é do Acre ou de outro Estado, me perguntou quais os cuidados que nós, consumidores, devemos ter na compra do açaí! A resposta não é das mais agradáveis...

Quero dizer para a Glenda que eu poderia ser mais útil falando sobre a taxonomia e diversidade botânica do Açaí. Diria então que no Acre ocorrem 3 espécies nativas e uma é cultivada, o açaí-de-touceira (Euterpe oleraceae). As espécies nativas são o açaí solteiro (Euterpe precatoria), o açaizinho da serra do divisor (Euterpe longivaginata), e o açaí das campinas da BR 307 (Euterpe catinga), nas cercanias de Cruzeiro do Sul.

Diria ainda que o açaí que a maioria das pessoas consome no Acre é feito a partir de frutos do nosso açaí solteiro. Particularmente acho o seu sabor muito superior ao do açaí elaborado com os frutos do açaí-de-touceira, nativo da Amazônia central e oriental.

Veja que o Botânico alemão Martius, quando batizou de 'Euterpe' o gênero que engloba todas as espécies de açaí, se inspirou na cultura Grega. Escolheu o nome de uma das nove musas de Apolo. 'Euterpe', que pode ser traduzido como "eu dou prazer", é a musa da música e da poesia lírica, e também a musa do prazer e da felicidade. Com certeza, Martius teve a oportunidade de provar o açai quando passou por Belém nos idos de 1820's.

Agora, quanto aos cuidados que a gente tem que ter na hora de comprar o "vinho" de açaí, eu, dentro do que entendo e conheço da cadeia produtiva do açai no Acre, recomendaria observar o seguinte:

1. Sempre procurar comprar açaí de marca comercial conhecida e que na embalagem apresente data de validade e se o mesmo está sujeito à inspeção sanitária durante a sua elaboração;

2. Evite comprar açaí com prazo de validade superior a 3 dias ou evite comprar o açaí quando o mesmo está no seu limite de validade;

3. Sempre compre açaí em locais onde o mesmo é armazenado em condições adequadas, ou seja, em balcões refrigerados. Prefira os supermercados ou lojas especializadas em polpa congelada;

4. Acima de tudo, evite comprar açaí feito na hora, nestes lugares na beira da rua ou mesmo no mercado.

Embora proibida, a venda e comercialização do açaí feito na hora é regularmente praticada de forma explícita no mercado do Bosque. Evite aquele lugar, prefira o pessoal do mercado Elias Mansour, que vende o produto processado em ambientes (teoricamente) mais higiênicos.

Água mineral não garante açaí livre de contaminação

Cuidado para não ser enganada pela propaganda dos pontos de venda que dizem que "o mesmo é feito com água mineral". Água mineral não tem desinfetante. Melhor seria se os banqueiros dissessem que os frutos ficam de molho por algumas horas em água mineral e cloro, para matar os germes.

Esta história da água mineral funciona para muitos, mas não para mim. No mercado do bosque chegam a ser formadas filas para comprar o açaí feito na hora. Infelizmente, nem água benta dá jeito na contaminação dos frutos usados por quem faz açaí na hora.

É que os que fazem o açaí não têm a menor idéia de onde vem os frutos e, principalmente, como eles foram manipulados até sua chegada ao mercado. A maior ou menor contaminação do açaí depende da forma como os frutos foram contaminados entre a retirada na floresta, ou plantio, e a chegada no ponto de elaboração do açaí.

Você pode se perguntar: que tipo de contaminação?

Frutos, cachorros, galinhas e porcos

Depende por onde os frutos foram "jogados" durante o transporte e armazenamento. Da mata até a casa do colono ele vem em sacos de fibra, vez por outra colocados no chão para os transportadores descansarem. Chegando na casa do colono, pode ser que fiquem no chão do quintal, na companhia de porcos, galinhas, cachorros e outros animais domésticos, ou no paiol, junto com os ratos, ou mesmo na varanda da casa, por onde devem transitar baratas e, porque não, ratos.

De lá, os frutos são colocados em canoas, carrocerias de veículos freteiros, bagageiro de ônibus. Aqui, tudo pode acontecer. Os frutos podem ter a companhia de porcos, galinhas, patos, cachorros e mesmo gente (que senta ou descansa os pés em cima dos sacos...). Conclusão: durante o transporte, os frutos podem ser defecados e urinados. E, para temperar, misturados com o que estiver em volta.

Uma dica: no ponto onde se faz açaí na hora, veja se consegue ver onde os frutos recém chegados da floresta ficam guardados. Procure por sacos usados normalmente para transporte de cebolas (com malha grande para arejar os frutos). Veja que eles, os sacos, são deixados no chão mesmo. Não deixe o banqueiro desconversar e mostrar um balde grande, limpo, cheio de frutos lavados com água mineral. Insista em ver as condições de armazenamento dos frutos antes deles serem colocados nos tais 'baldes limpos'.

No mercado do bosque eu já vi vários sacos amontoados diretamente no chão, bem ao lado da banca, em local onde as pessoas pisam e cospem, e os cachorros vadios defecam e fazem xixi. Como eu sei que ninguem lava e desinfeta a calçada daquele mercado...

Portanto Glenda, comprar açaí de qualidade ainda é uma tarefa difícil em Rio Branco. E antes que eu esqueça: não se impressione se os banqueiros disserem que os frutos são aquecidos em água mineral. É que eles são obrigados a fazer isso antes de 'bater' os frutos pois, de outra forma seria impossível despolpar os frutos. Esquentar a água não tem nada a ver com higiene. E mesmo assim a água fica só morna, não mata germe nenhum.

A solução?

Pasteurizar o vinho do açaí, como se faz com o leite. Embora isso seja tecnicamente possível, ninguém investe neste tipo de processamento porque ele altera o sabor do açaí. Foram feitos testes de degustação e os resultados indicaram que grande parte da nossa população não compraria mais o açaí. O sucesso que o açaí tem feito lá fora deriva do fato dos gringos nunca terem experimentado o sabor do autêntico açaí feito na hora. Eles já consomem o produto pasteurizado.

O que fazer para resolver o nosso problema aqui na Amazônia? Nem eu mesmo sei.

Espero que minha resposta tenha ajudado a esclarecer suas dúvidas e que você não deixe de tomar açaí.

Observação: veja as fotos deste post. Mostram como o açaí é transportado e armazenado no Pará. São cuidadosos, usam até gelo para conservar melhor os frutos. Mas por lá é comum a contaminação dos frutos pelo inseto conhecido como barbeiro, o vetor da Doença de Chagas. Além disso, dá para ver pelas fotos que 'um toque' de sabor do suor dos transportadores também é adicionado aos frutos que posteriormente são transformados em "vinho". Não dá para duvidar que o açaí do Pará tem, definitivamente, um "autêntico" sabor paraense...

Crédito das imagens: Peconheiras e peconheiros enfrentam as medidas do governo para implantação do selo de qualidade do açaí

MORCEGOS: NEM NOJENTOS, NEM VAMPIROS

Os semeadores de florestas

Marco Aurelio R. de Mello
Universidade Federal de São Carlos (SP)

Os morcegos são verdadeiros "semeadores de florestas": polinizam flores, dispersam sementes e, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, raramente são "vampiros" - no mundo existem apenas três espécies que se alimentam de sangue. O "cardápio" desses animais costuma ser variado e inclui frutas, insetos, peixes e até pequenos mamíferos. Aqueles que comem frutos são protagonistas de processos cruciais na natureza, como a regeneração de áreas perturbadas, principalmente nas florestas tropicais.

No mundo, em torno de 25% das 1.100 espécies de morcegos existentes se alimentam de frutos. No Brasil, esse percentual é de cerca de 50% de um total de 164 espécies. Alguns estudos sugerem que, em geral, as dietas dos morcegos combinam com suas histórias evolutivas, resultando na especialização alimentar de certas linhagens ou até em uma coevolução envolvendo morcegos e as plantas que produzem os frutos dos quais eles se alimentam. Há lugares, por exemplo, onde não ocorrem certos morcegos apenas porque seus frutos preferidos não estão presentes.

A inclusão dos frutos na alimentação provavelmente permitiu que os morcegos se diversificassem e conquistassem mais ambientes. Essa vantagem é especialmente forte nos trópicos, onde vários frutos estão disponíveis quase o ano inteiro, nas florestas, no cerrado e na caatinga. Em geral, esses frutos "atraentes para morcegos" são carnosos, não mudam de cor da fase verde para a madura, têm substâncias aromáticas atrativas quando maduros e ficam bem expostos nos ramos das plantas. No Brasil, são exemplos os frutos de pimenteiras, jaborandis, imbaúbas e figueiras.

Muitos morcegos coletam os frutos em uma determinada planta e, em vez de comê-los ali mesmo, os levam para outras plantas. Esse comportamento faz com que as sementes sejam descartadas ou defecadas, em conjunto, nos locais onde os morcegos se alimentam. Como esses animais voam grandes distâncias durante uma mesma noite, em escala maior o padrão da deposição, ou "chuva", de sementes costuma ser aleatório, o que aumenta a chance de cada semente encontrar um bom local para germinar.

A dispersão de sementes por longas distâncias também favorece (após o crescimento das novas plantas) o cruzamento entre exemplares de diferentes populações, o que aumenta a variabilidade genética e as chances de persistência da espécie. Cair longe das plantas-mães ainda ajuda as sementes e plântulas a escaparem da maior mortalidade que ocorre perto dos adultos da mesma espécie, onde ataques de roedores, insetos, fungos e bactérias são mais comuns.

Outro processo muito influenciado pelos morcegos é a regeneração de sistemas naturais após perturbações como fogo e desmatamento. Conhecido como sucessão ecológica, esse processo se dá com a chegada, o estabelecimento e a substituição gradual de espécies vegetais. Como os morcegos comem plantas que são, em sua maioria, pioneiras (ou seja, que chegam primeiro a locais perturbados) eles se tornam essenciais no restabelecimento da vegetação: as sementes, depositadas pelos morcegos nas áreas perturbadas, tornam-se arbustos que facilitam o crescimento de outras plantas e atraem animais, levando à regeneração do ambiente. Acredita-se, por exemplo, que a ilha de Cracatoa, na Indonésia, devastada por uma erupção vulcânica em 1883, teve sua regeneração facilitada pela atuação desses animais, juntamente com aves.

Portanto, conhecendo as plantas preferidas por morcegos e suas características ecológicas, teoricamente seria possível acelerar a regeneração ou mudar seus rumos em uma área degradada. Também se pode concluir que a extinção de morcegos interromperia determinadas interações, causando alterações na composição de espécies e um impacto no funcionamento do sistema ecológico, que possivelmente levariam à perda de biodiversidade e a outros efeitos.

Atualmente, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), existem no Brasil 14 espécies de morcegos vulneráveis à extinção. Porém, esse número pode ser muito maior já que são raros os estudos ecológicos ou conservacionistas envolvendo os morcegos do país.

Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil e reproduzido no portal Ecodebate em 25/09/2007.

Crédito da imagem: Ana Carolina, Revista Ciência Hoje.

26 setembro 2007

FUMAÇA DE QUEIMADAS NA AMAZÔNIA

Fumaça não tem cor, bandeira, ideologia ou preferência de local. Ela segue a direção do vento. Muito embora algumas pessoas no Acre não acreditem que fumaça dos países e Estados vizinhos possam cruzar a fronteira para chegar ao Acre, um dos nossos grandes cientistas, Foster Brown, acredita. Ele acha que de exportador, passamos, nesta semana, a importador de fumaça. Leiam abaixo a mensagem que ele enviou.

Colegas,
Estou numa reunião em Salvador, Brasil, sobre Interações Biosfera-atmosfera na Amazonia (LBA). Parece que tenha uma interaçao desta acontecendo na Regiao MAP.

Em anexo se encontram imagens MODIS de ontem que mostra o humo/fumaça sendo transportado via os ventos da friagem.

Dado o grande numero de focos de calor na Bolivia, é possivel que incendios estao fora do controle ou um maciço programa de desmatamento esta' acontecendo. Os satelites passam pela manha (Terra) e pela tarde (Aqua).

Preciso lembrar que na maior parte do tempo, exportamos a fumaça do Acre para a Bolivia. Agora estamos importando deles.

As concentraçoes de fumaça parecem muito altas.

Abraços,

Foster

OBRAS EM ANO ELEITORAL: LIBEROU GERAL

DEM vai questionar MP que autoriza obras em ano eleitoral

O líder do DEM, deputado Onyx Lorenzoni (RS), disse nesta quarta-feira, durante café da manhã com a imprensa, que o partido pretende entrar como ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar a Medida Provisória 387/07, que autoriza obras do PAC durante as eleições, por meio da liberação de transferências voluntárias.
A medida, na avaliação do partido, fere os critérios da Lei Eleitoral e a Constituição, por tentar modificar o processo de repasse de recursos para estados e municípios. Além de questionar a MP junto ao STF, o partido pretende apresentar seis emendas supressivas à proposta.O deputado Eduardo Sciarra (PR), vice-líder do DEM, acredita que a MP 387/07 pretende inflar os números do PAC durante o próximo ano eleitoral, empenhando "na marra" recursos para obras. "Essa medida é uma afronta ao Parlamento", resumiu ele.
Com informações da Agência Câmara

MAIS FILAS EM SUPERMERCADOS

Projeto de Deputado Federal paulista impede que os caixas de supermercados pesem produtos. Pesagem deverá ocorrer em local próximo ao de exposição do produto. Consequência da aprovação do projeto: mais filas para os consumidores

Comissão da Câmara vota regras para a pesagem de produtos em supermercados

A Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio poderá votar ainda hoje o Projeto de Lei 1615/07, do deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), que proíbe a pesagem de produto em balança localizada junto ao caixa em lojas de auto-serviço e em supermercados. De acordo com a proposta, a pesagem deverá ocorrer em local próximo ao de exposição do produto, em balança aferida regularmente.

Muita gente não dá bola para este tipo de coisa e acha que não tem importância. Tem, e muita. Vai ser bom apenas para quem gosta de fila. Em julho passado estive por um mês em Marília, no interior de São Paulo e por lá você tem que pesar os produtos antes de chegar ao caixa. Eu fiquei chocado pois a idéia não é das mais brilhantes. A gente perde tempo na fila que se forma em frente a um funcionário que fica o dia todo operando uma balança que pesa e emite a etiqueta, e depois se dirige ao caixa, onde, dependendo da hora, pode haver outra fila maior ainda.

Tem algo de inteligente na idéia do Deputado Antonio Carlos Thame? Para mim não. Vejo mais filas e perda de tempo. Se alguém quer ter noção do quanto está levando, em termos de peso do produto adquirido, que a lei obrigue os supermercados a disponibilizar balança aferida próximo ao setor onde os produtos, especialmente as hortaliças, são vendidas

Os políticos se metem em tudo. Uma idéia dessa, com quase toda certeza, só vai beneficiar as indústrias de balanças. O consumidor, com certeza, é que não é.


Com informações adicionais da Agência Câmara




- Greve dos servidores não afeta serviços essenciais em Manaus, diz Polícia Federal
- CCJ adia votação de projeto sobre afastamento de parlamentares investigados no Conselho de Ética
- Para Renan, voto secreto é proteção contra pressão da mídia e do poder político
- Previdência ultrapassa 25 milhões de beneficiários em setembro
- Mais de 1,5 milhão de pessoas recebem auxílio-doença no país
- CCJ analisa projetos que propõem afastamento de parlamentar processado interna ou externamente
- Ministério reúne empresas de biodiesel com benefício fiscal por ligação com agricultura familiar
- Pronasci prevê polícia sem armas de fogo e mais próxima da comunidade
- Brasil vai apoiar candidato francês no FMI - Curso superior de segurança pública para policiais está entre as metas do Pronasci





Defensor público da União pede ampliação da Defensoria
Geólogo pede simplificação de projeto sobre royalties
Proposta obriga escolas a divulgar critérios de reajuste
OAB critica falta de dados sobre lentidão da Justiça
Judiciário deve proteger direitos humanos, diz juíza
Comissão analisa criação de central de mandados de prisão
Educação analisa piso salarial nacional para professor
Comissões debatem informatização da rede escolar pública
Segurança analisa financiamento de sistema de investigação
Trabalho vota projeto sobre direito de greve do servidor
Comissão vota transmissão de sessões de câmaras por rádios
Transportes discute concessões de rodovias federais
Comissão vota autorização para BNDES financiar municípios
Finanças pode votar projetos da reforma sindical
Agricultura vota limite de anabolizantes em alimentos
Comissão vota prazo máximo para recebimento de seguro
Encontro de Direitos Humanos debate reforma do Judiciário
Amazônia pode votar extensão de benefícios da Zona Franca
Frentes parlamentares avaliam exportação de biocombustível

UNIVERSIDADE DA FLORESTA

Alceu Ranzi, um dos mais renomados cientistas acreanos já havia alertado, em 2004, que a Universidade da Floresta poderia tomar o rumo que está tomando hoje. Vale a pena ler seu texto e ver que suas observações são atualíssimas. Ele sabia o que estava falando.

Universidade da Floresta *

Alceu Ranzi **
alceuranzi@hotmail.com

Entre outros eventos de 2003 que poderão assumir seu lugar na história do Acre merece destaque o início da discussão, em Cruzeiro do Sul, do projeto da Universidade da Floresta. Seria uma universidade diferente, com uma proposta inovadora, levando em conta que "os moradores locais não sejam apenas objeto de estudo ou habitantes das áreas de estudo e sim agentes multiplicadores de reflexão e planejamento local, participando diretamente tanto das atividades de pesquisa e manejo como da aplicação das políticas ecológico-econômicas em escala regional".

Uma das críticas mais comuns que se faz aos estudos acadêmicos é que os cientistas escolhem uma área, fazem suas pesquisas e vão embora. Nada retorna para os moradores da área estudada. São usados como objeto de estudos. Muitas vezes as teses e dissertações são publicadas no exterior e nem mesmo são traduzidas para o idioma local. Pode acontecer de o único beneficiado ser o cientista que obtém o seu título de mestre ou doutor. A maioria dos professores da universidade pensa e age mantendo grande distância da realidade da floresta.

O modelo atual de universidade exige que o professor seja Ph. D. (Philosophiae Doctor), Doutor ou Mestre, títulos que se adquire na cidade. Tudo muito difícil de entender para o morador dos Altos Rios.

Se quem conhece a floresta são os moradores que nela vivem, então os verdadeiros doutores em floresta são os velhos índios, seringueiros, curandeiros, rezadores, tuxáuas e pajés. Para ser uma verdadeira "Universidade da Floresta" os doutores da "mata", lá dos "centros", ou dos "altos rios" devem participar como professores, palestrantes e conferencistas. E mais importante, os doutores de "pé rachado" devem ser remunerados em igualdade de condições com os Peagadês formados nas universidades da cidade.

Um dos desafios da Universidade da Floresta, para o benefício de todos, será a interação entre o conhecimento da cidade e o conhecimento da floresta. Os doutores da floresta e os doutores da cidade podem e devem ser tratados em nível de igualdade tanto intelectual como financeira.

Agora cabe a seguinte pergunta, a Universidade Federal do Acre poderá superar os obstáculos burocráticos, especialmente atualizar seu Estatuto e Regimento, para atuar como uma Universidade da Floresta? Temendo que a resposta seja não, creio que o melhor caminho será o de desvincular a nova Universidade da Floresta do conhecido e antigo sistema de universidade brasileira.

Persistir na busca de um novo paradigma em que "floresta" não venha a ser apenas um departamento ou uma "grife" da UFAC em Cruzeiro do Sul. Expresso claramente meu apoio pela Universidade da Floresta como nova entidade, desvinculada da UFAC, sem esquecer a manutenção e melhoria das condições do Campus da UFAC no Juruá.

* Artigo publicado originalmente no Jornal "O Estado do Acre" em 28 de Janeiro de 2004
** Ex-Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Acre.

Crédito das imagens: Site 'Santo Daime, a Doutrina da Floresta'

25 setembro 2007

BAIRRO DEFESA CIVIL, RIO BRANCO-ACRE

CONFLITOS PELA ÁGUA NA FORMAÇÃO DO BAIRRO DEFESA CIVIL EM RIO BRANCO – ACRE

Nesse breve resumo os autores descrevem a origem do bairro e o principal desafio enfrentado por seus moradores desde que o mesmo foi criado em 1995: o acesso a água potável. Mais de dez anos se passaram e, com excessão de algumas ruas que foram pavimentadas, a situação de falta de água no local continua a mesma.

Suzana Patrícia Nóbrega de Medeiros , Bolsista PIVIC / UFAC
Gerson Rodrigues de Albuquerque, Centro de Documentação e Informação Histórica–CDIH/UFAC

Introdução

Centenas de famílias que foram atingidas pela enchente do rio Acre, no ano de 1995, deram origem ao Bairro Defesa Civil, local disponibilizado provisoriamente pela prefeitura para acomodar os desabrigados.
Dois anos depois, em 1997, uma nova alagação provocou um considerável aumento do número de moradores naquela localidade, constituindo a transição de um local provisório para a efetivação de um novo bairro na cidade de Rio Branco.

Em razão de ser “provisória” área não dispunha de infra-estrutura básica, com os moradores tendo que enfrentar vários problemas, dentre eles a falta d’água potável. No início a prefeitura dava assistência enviando caminhões pipas duas vezes ao dia. No entanto, essa água não era suficiente para beneficiar todos os moradores nas suas devidas necessidades.

Material e Métodos

No desenvolvimento desta pesquisa foram realizados levantamentos bibliográficos a fim de fornecerem subsídios para a construção do debate das questões que giram em torno do urbano, memória, oralidade, costumes, trajetórias entre outros. Nessa fase foram importantes as leituras de Michelle Perrot, Jacques Le Goff, Marilena Chauí, Teresa Caldeira, Philipe Áries, Emir Sade, entre outros, com os quais foi possível discutir a questão do espaço destinado ao pobre e sua exclusão no meio social.

No contato com as fontes desenvolveu-se uma catalogação e diálogo com acervos documentais, como jornais, fotografias e depoimentos orais de moradores do bairro Defesa Civil. O diálogo estabelecido com essa documentação propiciou uma série de reflexões que, aliadas aos depoimentos das pessoas que fizeram e fazem parte da formação do bairro, possibilitou caracterizar a união entre ambiente físico e ambiente social, no qual a dimensão humana toma importância significativa.

Resultados

A partir das análises feitas observou-se que a trajetória dos moradores é baseada em constantes conflitos sociais e até ideológicos, pois, desde sua chegada ao bairro, os mesmos se confrontaram com os diversos problemas existentes no local. A progressiva escassez fez com que a água se tornasse tão cobiçada entre os moradores do Bairro Defesa Civil a ponto de gerar conflitos entre os mesmos.

Durante o dia os moradores ficavam na expectativa, aguardando a chegada do caminhão pipa. Do lado de dentro das casas, a agitação era constante. Os ânimos alterados contribuíam para a deflagração de brigas ao menor e mais banal sinal de provocação. Mulheres, homens e crianças aguardavam o caminhão com os vasilhames dos mais diversos tamanhos, como forma de garantir o abastecimento de água. Segundo muitos dos depoentes que viveram essa experiência, quando o caminhão chegava ao local era recebido com uma verdadeira devoção.

Conclusão

A atual situação dos moradores do Bairro Defesa Civil permanece a mesma de anos anteriores, se diferenciando apenas no maior número de moradores. A pesquisa aponta que o crescimento do bairro trouxe problemas que perduram até hoje, as pessoas foram chegando e se alojando como podiam ocasionando um crescimento desordenado do bairro.

À medida que a população do Bairro Defesa Civil cresce, aumenta também a demanda de água. Assim, a deficiência em qualidade e quantidade de recursos hídricos tornou-se evidente e preocupante. Os níveis de atendimento com serviços de abastecimento de água não só no bairro Defesa Civil como também na cidade de Rio Branco, são ainda muito precários, constituindo-se como um dos fatores para a proliferação de doenças e a deficiência na qualidade de vida na capital do Estado do Acre.

MONOPÓLIO NO MERCADO MUNDIAL DE ALIMENTOS

Os donos do mercado de alimentos

Por Gustavo Capdevila, da IPS

Genebra, 25/09/2007 – A indústria de alimentos e bebidas vive uma fase de concentração, com 10 companhias distribuidoras controlando 24% do mercado mundial, afirma um estudo que está sendo examinado esta semana por representantes de trabalhadores, empresários e governos, convocados pela Organização Internacional do Trabalho. A mesma tendência existente nas vendas também é verificada em outras fases dessa atividade, nos setores de fabricação e transformação de produtos alimentares, disse o autor do estudo, Andrew Bibby, ao apresentá-lo aos 70 participantes da “Reunião tripartite sobre a incidência das cadeias mundiais de alimentação no emprego”. Bibby explica que não é nova no setor a estratégia de diversificação de fontes de abastecimento de alimentos, um fenômeno estreitamente ligado à globalização das relações econômicas e comerciais.

A novidade é o surgimento dessas cadeias mundiais de alimentação integradas, que empregam cerca de 22 milhões de pessoas no mundo e são, portanto, motivo de preocupação da OIT. O setor de empresas produtoras de alimentos e bebidas é encabeçado pela suíça Nestlé, com 260 mil empregados, seguida da anglo-holandesa Unilever com 179 mil, e das norte-americanas PapsiCo (157 mil), Sara Lee (137 mil) e Coca-Cola (132.300). No último elo das empresas dedicadas à venda no varejo, a norte-americana Wal-Mart figura em primeiro lugar com 1,8 milhão de empregados, vindo a seguir a francesa Carrefour com 440.500, a norte-americana Kroger com 290 mil, a britânica Tesco com 273 mil e a norte-americana Albertson’s com 234 mil funcionários. Uma configuração dessas características quase monopólicas nasce do processo de fusões e aquisições de empresas de grande envergadura que se acentuou nos últimos anos.

O informe da OIT afirma que, embora as maiores empresas realizem volumes de negócios astronômicos, a indústria mundial da alimentação “ainda tolera, por suas dimensões e diversidade, uma consolidação ainda maior”. No ano passado a Nestlé realizou negócios no valor de US$ 74,659 bilhões, a Unilever chegou a US$ 49,581 bilhões, a PepsiCo a US$ 32,562 bilhões, Sara Lee a US$ 19,277 bilhões e Coca-Cola a US$ 41,810 bilhões. Em outra especialidade, as vendas do Wal-Mart em 2004 somaram US$ 28,989 bilhões, enquanto o Carrefour vendeu US$ 99, 110 bilhões. Mas, tanto esplendor empalidece na hora de comparar com a distribuição dos benefícios.

Um produtor da variedade de feijão denominada tirabeques recebe em sua plantação do Zimbábue apenas 12 centavos de dólar por esses legumes vendidos por um supermercado de um país industrializado. Apenas dois centavos a mais para cada dólar recebe em uma operação semelhante o produtor de hortaliças frescas do Quênia. Um estudo da banana exportada pelo Equador para a Grã-Bretanha demonstrou que o dono dessas plantações obtinha um décimo dos lucros gerados pela venda da fruta. Dessa quantia, os trabalhadores das plantações de banana receberam apenas 1,5%.

O informe da OIT estima que os processos em marcha dentro da indústria incidirão também nas relações trabalhistas e no diálogo social no setor. Existe potencial para melhorar nessas relações e elevar o grau de cumprimento das normas fundamentais do trabalho, do qual se beneficiarão tanto as empresas quanto os trabalhadores, prevê a pesquisa. Em especial, esse fenômeno se produzirá mediante a maior intervenção e participação das empresas líderes em todos os elos da cadeia de fornecimento de alimento, afirmou entusiasmado o autor do trabalho. No mesmo tom, o documento da OIT afirma que os interlocutores sociais da indústria de elaboração de alimentos têm um histórico de negociações coletivas que deram frutos em empresas de todo o mundo.

Como exemplo citou o caso da Nestlé para a Ásia e o Pacifico, que assinou em vários países convênios coletivos aplicáveis a direitos sindicais, igualdade de oportunidades, ausência de discriminação por idade, sexo, raça ou religião, entre outros temas. Mas esta afirmação do informe da OIT foi refutada pelo porta-voz dos trabalhadores, Klaus Schroeter, do sindicato da alimentação da Alemanha, o qual afirmou que os contratos mencionados pelo documento “são contrários” às legislações nacionais dos países aos quais se refere. Schroeter qualificou o informe de “muito ruim” e disse que “é muito pouco satisfatório”. Não é o caso de a OIT fazer propostas de acordo com as opiniões das empresas, acrescentou.

O sindicalista também criticou o trecho do documento que prevê aumento na demanda desses produtos na Ásia e na América Latina, e deduz que “estas tendências preocupam os analistas, temerosos de que o aumento global do consumo de alimentos provoque carestia em nível mundial. Parece desnecessário dizer isso quando milhares de crianças morrem de fome. Creio que o autor do informe teria que dar conta disso”, afirmou Schroeter. Em três reuniões tripartites às quais assistiu nunca havia visto um documento da OIT tão ruim, ressaltou o sindicalista alemão. Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) mostram que 854 milhões de pessoas, 17% da população mundial, sofrem fome e que esses números continuam aumentando.

(Envolverde/ IPS)

UNIVERSIDADE DA FLORESTA

Cada vez mais distante dos seus objetivos iniciais

Recém contratados, em sua maioria sem a menor experiência e conhecimento sobre a região, podem botar tudo a perder, afirma jornalista

Duas notas na coluna "Retratos do Juruá", publicada semanalmente no jornal Página 20, deixam claro que a Universidade da Floresta continua a navegar em mar revolto e sem timoneiro.

Segundo o responsável pela coluna, jornalista Nelson Liano Jr., o Senador Sibá Machado, um defensor da Universidade da Floresta, ficou chateado com a recepção que teve no Campus daquela Universidade. Ele foi questionado de maneira veemente por professores recém-contratados sobre a alocação de recursos para o campus de Mâncio Lima.

Segundo o colunista, os recém chegados à Amazônia queriam que o dinheiro ficasse todo em Cruzeiro do Sul.

Alerta o colunista: "egos exarcebados, mal-humor e TPM podem colocar em risco o projeto da Universidade da Floresta. Tem gente que só olha para o próprio umbigo. Esquece que trabalha numa entidade pública, recebe seus salários do povo brasileiro e que tem como objetivo e, obrigação, atender bem a comunidade da região."

Nelson Liano Jr. foi certeiro quando afirma que "Essas pessoas...estão se esquecendo de toda a luta de políticos e da própria comunidade para a concretização do projeto da Universidade da Floresta. Chegaram ontem no Acre e precisam conhecer melhor a história que gerou o projeto."

Ele finaliza a nota sugerindo que está na hora do reitor da UFAC, Jonas Filho, ir a Cruzeiro do Sul com uma lente de aumento para entender o que está acontecendo por lá. Ele deve ouvir professores e alunos, separadamente pois, segundo o colunista, os professores podem intimidar os alunos.

Inexperiência e desconhecimento da realidade regional

Embora a realização de concursos públicos seja um mal necessário em um país como o Brasil, a forma como o mesmo é realizada permite esse tipo de situação vivida pela Universidade da Floresta: a contratação de um grande número de recém formados que nunca tinham colocado os pés na Amazônia e sem grande experiência profissional na região.

Tivesse o Edital do Concurso Público realizado por ocasião da implantação da Universidade da Floresta exigido algum tipo de experiência na região ou que os candidatos comprovassem que já trabalharam no Juruá, muitos dos que hoje estão por lá, frustrados por se sentirem completamente deslocados da realidade regional, não teriam sequer sido aceitos no certame.

Até que demorou para que os problemas, as frustrações e a sensação de poder nunca antes experimentada se combinassem para causar atritos com o público que estas pessoas deveriam atender da melhor maneira possível: a população do juruá e os políticos que viabilizaram a implantação da Universidade.

A real integração da Universidade da Floresta ao meio em que se encontra passa, necessariamente, pela presença, nos seus cargos de direção, de pessoas que tenham o mínimo de vivência, experiência e jogo de cintura para integrá-la à região. Com os recém-contratados este objetivo provavelmente vai demorar muito para ser atingido, ou mesmo nunca será alcançado.

A foto que ilustra este post, por exemplo, é de uma ação executada por um dos pilares da idéia original da Universidade da Floresta, o CEFLORA. Vejam que ele está, efetivamente, integrando o "povo" do juruá e levando à população urbana e rural daquela região, o conhecimento e a capacitação que se pensou quando da criação da Universidade da Floresta. Quem dirige o CEFLORA é Rafael Galdino, um aluno de Mauro Almeida. Ambos, o aluno e o mestre, conhecem o juruá como poucos.

Por esta razão, sugiro ao Reitor da UFAC convencer cientistas como Mauro Almeida - ou mesmo Foster Brown, para assumir, mesmo que por tempo limitado, as rédeas daquela Universidade. Os novatos, que estão fazendo da Universidade da Floresta, literalmente a expressão de sua vontade, devem se recolher ao seu canto e aprender com os mestres. De outra forma, corre-se o risco da recém nascida Universidade da Floresta se transformar em apenas "mais um" campus acadêmico, plagueado pelos vícios, conflitos, egos e desarranjos da academia que tanto emperram o avanço das universidades brasileiras.

SAVANIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

O CLIMA ATUAL E FUTURO DA AMAZÔNIA NOS CENÁRIOS DO IPCC: A QUESTÃO DA SAVANIZAÇÃO (*)

Luiz Antonio Cândido (a), Antonio Ocimar Manzi (b), Julio Tota (c), Paulo Ricardo Teixeira da Silva (d), Flérida Seixas Moreno da Silva (e), Rosa Maria N. dos Santos (f), Francis Wagner Silva Correia (g).

As mudanças climáticas globais, provocadas pelo aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera após a revolução industrial, afetarão todos os setores das atividades humanas e os ecossistemas, como a saúde pública, a agricultura, os recursos florestais, os recursos hídricos e as áreas costeiras, por exemplo.

Uma síntese dos últimos resultados divulgados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) indica que haverá, no decorrer deste século, aumento de temperatura por todo o planeta, sendo mais severo sobre os continentes do que sobre os oceanos e aumento do nível dos oceanos. Haverá ainda aumento de chuvas nas regiões que já são bem providas de chuvas e diminuição nas regiões que hoje sofrem com a escassez de água, além de aumentar a freqüência e a intensidade dos eventos extremos, como furacões, inundações e secas prolongadas (1).

Todavia, o quadro geral de mudanças do regime de chuvas nem sempre se aplica a todas as regiões da Terra. É o caso da Amazônia, onde todos os modelos projetam aumento de temperatura, mas não concordam entre si com respeito às alterações no regime de chuvas. Alguns modelos projetam diminuição, outros aumento e alguns pouca alteração no regime de chuvas (2).

A possibilidade da floresta amazônica não resistir à mudança do regime de chuvas e ser substituída por um ecossistema de vegetação mais esparsa, do tipo savana, é levantada em vários trabalhos (3, 4, 6). As projeções de savanização da Amazônia vêm, sobretudo, dos resultados do modelo climático do Centro Hadley do Reino Unido (3, 4), pelo fato deste projetar no futuro um padrão mais freqüente de temperatura das águas superficiais do oceano Pacífico equatorial típica do fenômeno El-Niño, e também projetar aumento da temperatura das águas superficiais do oceano Atlântico na região tropical do Hemisfério Norte (6).

O fenômeno El-Niño está associado a condições mais secas na Amazônia, especialmente nas regiões norte, central e leste, enquanto que o aquecimento das águas do oceano Atlântico norte está associado a situações de estação seca mais severa na região sul e sudoeste da Amazônia(7, 8, 12). Portanto, um cenário futuro de "El-Niños" e águas relativamente mais quentes no oceano Atlântico tropical norte levará, certamente, a importantes reduções de chuvas e ao alongamento da duração da estação seca em grande parte da Amazônia.

Contudo, a análise do conjunto de modelos climáticos acoplados (oceano-atmosfera), que fazem parte das análises do IPCC, não corrobora o estabelecimento de um padrão mais freqüente do tipo El-Niño para o final deste século, além de que os modelos que projetam maior mudança climática para o padrão típico de El-Niño são os que apresentam as mais pobres simulações de variabilidade desse fenômeno no clima presente (6, 9). A probabilidade de configuração de um padrão mais freqüente de El-Niño neste século é de apenas 16%, enquanto que o cenário mais provável, de 59%, é o de que esse padrão não deve configurar-se(6).

Este artigo utiliza os resultados dos modelos do IPCC para analisar as projeções futuras de mudanças anuais de temperatura e precipitação, detalhando-as por sub-bacias da Amazônia, com ênfase para a questão da sua savanização.

DADOS E MÉTODOS

Foram utilizados os resultados de 21 modelos do Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados (CMIP, na sigla em inglês) do IPCC. Trata-se de modelos globais com acoplamento da atmosfera com os oceanos, cujas simulações serviram de base para a elaboração do quarto relatório de avaliação do Grupo de Trabalho I do IPCC, divulgado em fevereiro de 2007 (1), e para os relatórios subseqüentes dos Grupos II e III. Os modelos apresentam resoluções espaciais diferentes entre si, que variam, em latitude e longitude, de 1,125º a 5º. A integração dos modelos foi iniciada em algum momento da segunda metade do século XVIII.

Do início da integração ao final do século XX os modelos foram forçados com a evolução das concentrações de gases de efeito estufa (GEE) medidas no período. A partir do início do século XXI os modelos foram forçados com concentrações de GEE projetados para diferentes cenários de emissões, com base no Relatório Especial de Cenários de Emissões (SRES, da sigla em inglês) do IPCC, definidos em função de cenários projetados de aumento populacional e desenvolvimento socioeconômico.

Um cenário mais otimista (B1), um intermediário (A1B) e um pessimista (A2) são analisados neste artigo. Eles projetam ao final do século XXI, respectivamente, concentrações atmosféricas de GEE de 600, 850 e 1250 ppmv (partes por milhão em volume), equivalentes em concentrações de gás carbônico. Foram analisadas as variáveis temperatura do ar à superfície e a precipitação, através da comparação dos resultados dos modelos com dados observacionais (climatologia) organizados em pontos de grade, no caso a Base de Dados Globais da Unidade de Pesquisa Climática (Climatic Research Unit (CRU) Global Dataset) (10).

Nas comparações numéricas, o clima atual refere-se à média do período 1961-1990, indicado por OBS para a climatologia observada e 20c3m para os modelos, e o clima futuro refere-se à média do período 2061-2090, ou seja, um século mais tarde. É analisada a média dos resultados dos modelos, indicada por MULTI, que, dependendo dos cenários, compreende: todos os 21 modelos no clima atual (20c3m), 17 no cenário otimista (B1), 19 no cenário intermediário (A1B) e 16 no cenário pessimista (A2). Para alguns cenários, também são analisados modelos individuais, tais como o do Centro Hadley (HADCM3), o do Instituto de Estudos Espaciais Goddard da Nasa dos EUA (GIER) e o do Serviço Meteorológico da França (CNCM3), por apresentarem tendências diferentes de alteração do clima da região.

Como os resultados dos modelos não são homogêneos para toda a bacia amazônica, estes foram analisados para as sub-bacias dos rios: Negro, Madeira, Juruá-Purus, Ica-Jau e Tapajós-Xingu. Localmente é feita uma análise da precipitação mensal média na região de Belém no estado do Pará.

COMO OS MODELOS REPRESENTAM O CLIMA ATUAL?

Um importante aspecto de medida de desempenho de um modelo ou conjunto de modelos, quanto aos seus prognósticos, é a capacidade de simular os elementos climáticos importantes no clima atual. A representação da temperatura e precipitação do clima atual considerando a média dos valores anuais das simulações (20c3m) dos modelos (MULTI) é comparada com as observações (OBS) em toda a bacia amazônica e nas suas sub-bacias.

Os resultados são apresentados na Tabela 1. A análise de toda a bacia (coluna Amazônia) indica que em média os modelos são 0,6ºC mais frios e também mais secos, produzindo 24% menos chuva que a média anual observada para a bacia no período 1961 e 1990. Nas sub-bacias o comportamento dos modelos se repete, sendo as sub-bacias do Negro, Juruá-Purus e Tapajós-Xingu as mais secas, respectivamente, com 37%, 31% e 31% de chuva a menos e viés de temperatura variando de -0,2ºC a -0,8ºC (condição mais fria).

Os modelos HADCM3, GIER e CNCM3 também simulam um clima mais seco para a Amazônia do que o observado, com déficits de chuva anual de 10%, 20% e 10%, respectivamente. No caso da temperatura do ar, enquanto o CNMC3 é mais frio em cerca de 0,8ºC, o HADCM3 e o GIER são mais quentes em cerca de 1,1ºC e 1,3ºC. O padrão de clima mais seco dos modelos HADCM3, GIER e CNCM3 se mantém nas sub-bacias, com exceção da do Madeira, onde o HADCM3 e o CNCM3 apresentam um viés positivo na precipitação de 11% e 25%, respectivamente, e na sub-bacia do Negro, onde o GIER tem viés negativo na temperatura de -0,5ºC.

Em geral, é nas sub-bacias do Negro e Tapajós-Xingu que os modelos apresentam os maiores desvios da climatologia de precipitação e de temperatura do ar. São também essas sub-bacias as comumente mais afetadas pelo fenômeno El-Niño.

Em termos de variabilidade inter-anual, alguns modelos apresentam grande variabilidade, como no caso HADCM3 e do CNCM3, enquanto outros mostram pequena variação, caso do GIER, quando comparados ao clima observado (OBS), tanto para temperatura do ar (Figura 1a) quanto para a precipitação (Figura 1b). Na média dos modelos (MULTI) a variabilidade inter-anual é bem menor que a climatologia. Isso significa que a maioria dos modelos não consegue capturar a variabilidade inter-anual do clima atual, enquanto que alguns modelos tendem a intensificar esse padrão e, portanto, a superestimar a ocorrência de eventos extremos.

Em geral, na maioria dos modelos, a precipitação é subestimada em todas as sub-bacias, com ênfase para a estação chuvosa (não apresentado). Apesar da grande variabilidade entre os modelos na simulação do clima atual, eles são incapazes de capturar a variação inter-anual da precipitação (ver faixa de desvio padrão na Figura 1b). A temperatura do ar é melhor representada pelos modelos, que em média simulam um clima anual ligeiramente mais ameno que o observado, mas com variabilidade intra-anual muito maior que a observada, especialmente na estação seca, quando os mesmos tendem a superestimar a temperatura do ar observada (não mostrado).

O QUE OS MODELOS PROJETAM PARA O CLIMA DO SÉCULO XXI?

As projeções climáticas futuras mostram tendência de aquecimento nos três cenários (B1, A1B e A2) e em todas as sub-bacias. Na bacia amazônica como um todo, os aumentos de temperatura são de 2,3ºC, 3,5ºC e 3,4ºC, nos cenários B1, A1B e A2, respectivamente, quando comparado os valores médios do período 2061-2090 com os do período 1961-1990. Essa tendência de aquecimento é praticamente a mesma em todas as sub-bacias (Tabela 1) no conjunto dos modelos (MULTI).

Na avaliação individual dos modelos para toda bacia amazônica e suas sub-bacias, verifica-se um maior aquecimento para os modelos HADCM3, que apresenta variações de temperatura superiores a 3,0ºC e 5,0ºC nos cenários B1 e A2, respectivamente, e CNCM3 com variações de temperatura do ar de 3,ºC a 4ºC para os cenários A1B e A2. O modelo GIER indica menores tendências de aquecimento, da ordem de 2ºC e 3ºC, nos cenários B1 e A2.

O prognóstico de precipitação a partir da média dos modelos (MULTI) sugere uma pequena redução na precipitação de 2% a 3% nos cenários B1 e A2, enquanto no cenário A1B predomina um pequeno aumento, da ordem de 4%, mas com valores maiores nas sub-bacias a oeste e ao sul da região (Tabela 1). As maiores reduções na precipitação são previstas pelo modelo HADCM3, sendo da ordem de 11%(B1) e 16%(A2) para toda bacia, e de 21%(B1) e 30%(A2) para a bacia do Negro, e 20% (B1) e 27% (A2) para a bacia do Tapajós-Xingu. Os modelos GIER e CNCM3 apresentam variações positivas de precipitação, mas com valores relativamente baixos (Tabela 1).

A tendência de aumento da temperatura do planeta nas três primeiras décadas do século XXI é de 0,2ºC por década, em qualquer cenário de aumento de emissões de GEE (1). No caso da Amazônia, a taxa de aumento de temperatura do ar foi próxima de 0,3ºC por década no mesmo período (figura 1a). A taxa de aquecimento mais elevada na Amazônia, em comparação com a taxa global, é esperada porque o aumento da temperatura sobre as regiões oceânicas, que cobrem praticamente 70% da superfície do planeta, é mais lento (1).

Os modelos HADCM3 e CNCM3 indicam tendências distintas de aquecimento até o final do século XXI para o cenário A2. O HADCM3 apresenta uma tendência mais linear na primeira metade do século para em seguida crescer de forma mais abrupta, com tendência de aumento da temperatura de 0,74ºC por década na segunda metade do século. O CNCM3 tem comportamento e taxa de aquecimento por década semelhante ao MULTI–A2, de cerca de 0,42ºC por década na média do século.

Para a precipitação o conjunto dos modelos não apresenta uma tendência de variação significativa com o tempo. No cenário A2 o modelo CNCM3 apresentou tendência de aumento de precipitação, principalmente para a segunda metade do século, enquanto o modelo HADCM3 exibe uma tendência acentuada de redução da precipitação desde a primeira metade do século, acentuando-se ainda mais na segunda metade e com grande variabilidade inter-anual (tabela 1 e figura 1b).

SAVANIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

O nível de seca da Amazônia previsto pelo modelo HADCM3 levaria a substituição de grande área de floresta na Amazônia por um tipo de vegetação de savana (4). Estudos de alteração de bioma, utilizando cenários de mudanças climáticas globais do IPCC, têm sugerido a possibilidade de savanização de parte da Amazônia até o final deste século, resultados ressaltados recentemente pelo IPCC (11). Grande parte dos estudos utiliza-se das saídas geradas pelo modelo HADCM3.

Recentemente, uma avaliação de um conjunto mais amplo de dados do IPCC, resultantes de 15 modelos climáticos, mostrou que os modelos que apresentam maiores desvios da climatologia nessa análise (ex. HADCM3) apresentam também uma ampla área de savanização da Amazônia, enquanto que os modelos com menores desvios da climatologia (ex. GIHR) indicam pequenas áreas de avanço de savana sobre a floresta (ver Fig. 3 em 5).

Isso indica que os resultados são dependentes dos modelos climáticos e dos cenários utilizados, onde aparentemente modelos que apresentam grandes desvios da climatologia (ex. modelos de clima mais seco na segunda metade do século XX), tendem a superestimar e, até mesmo, a antecipar uma nova condição de equilíbrio, no caso o de um clima inadequado para manter os ecossistemas atuais, que seriam substituídos por um tipo de vegetação de savana.

A Figura 2 apresenta valores médios mensais de precipitação no período 1961-1990 para uma área de aproximadamente 300 km por 400 km ao sul de Belém, estado do Pará, onde predomina um ecossistema de floresta tropical úmida típico da Amazônia. A curva verde representa a climatologia de precipitação observada e a curva preta a climatologia do modelo HADCM3. Neste caso, fica evidenciado que o modelo não é capaz de reproduzir as observações.

A climatologia de chuva prevista pelo modelo foi abaixo da observada em todos os meses do ano e, na média anual, é em torno de 50% mais seco que a observação. A curva vermelha representa a projeção do modelo HADCM3 para a precipitação no período 2061-2090 no cenário pessimista de emissões (A2). Nesse cenário haveria uma redução adicional da precipitação anual de aproximadamente 56% em relação à precipitação do próprio modelo no período 1961-1990.

Mesmo nos cenários B1 e A1B a redução de precipitação do modelo HADCM3 é drástica nessa área (não apresentado). Para efeito de comparação, a figura 2 apresenta também dados climatológicos de uma área de ecossistema típico de savana situada no sul do estado de Tocantins. Nota-se que o regime anual de chuvas dessa região de savana é similar ao do modelo HADCM3 para a região de Belém, exceto que a precipitação anual é aproximadamente 40% superior à precipitação do modelo, ou seja, a precipitação anual medida em uma área de vegetação típica de savana é muito maior que a precipitação produzida pelo modelo para uma área típica de floresta tropical úmida.

Por outro lado, o método de análise de mudança climática considera que os desvios que os modelos apresentam na simulação do clima atual são sistemáticos e, portanto, que esses desvios devem se propagar nas projeções dos climas futuros. Desta maneira, a redução projetada de aproximadamente 56% nas precipitações do modelo HADCM3 para o período 2061-2090 (curva vermelha) é uma forte indicação de mudança climática que pode levar a substituição da floresta atual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As mudanças climáticas globais já estão em curso. Elas provocam aumento generalizado da temperatura do ar e mudanças nos regimes de precipitação. Somente o aumento de temperatura já afetará a biodiversidade dos ecossistemas da Amazônia de maneira dramática. Eventos extremos mais freqüentes e intensos, como enchentes e secas prolongadas, são fatores adicionais de estresse para os ecossistemas e a vida das populações. Entretanto, devido às limitações dos atuais modelos climáticos acoplados em reproduzir o clima atual da Amazônia, ainda é impossível projetar com segurança a intensidade com que as mudanças afetarão a região.

As florestas intactas podem ser mais resistentes à seca do que os modelos de clima-vegetação pressupõem? Diversos fatores ainda não são (ou são mal) representados nesses modelos, tais como a profundidade correta da zona de raízes profundas das árvores (que implica em um reservatório maior de água disponível para as plantas), dificultam a resposta a essa questão. Os modelos estimam uma possibilidade de seca excessiva da Amazônia com o potencial colapso da floresta no século XXI, entretanto os processos de produção de chuva na região são pobremente representados nos modelos.

Por exemplo, uma parcela substancial das chuvas anuais na região costeira da Amazônia é devida às linhas de instabilidade que se formam a partir de circulações locais de brisa de mar na costa tropical atlântica. A resolução espacial grosseira dos modelos climáticos não permite que eles reproduzam esse processo. Além disso, é improvável que os desvios apresentados pelos modelos no clima atual se reproduzam sistematicamente nos futuros cenários de aumento de concentração de GEE.

O potencial de previsibilidade do clima global utilizando os modelos climáticos é baseado na estreita relação entre condição de contorno oceânica e continental, e em como a variabilidade e o acoplamento dessas forçantes com a atmosfera se processa, particularmente na região tropical e, portanto, espera-se que essas características sejam preservadas nos modelos acoplados atmosfera-oceano (AOGCM, sigla em inglês).

Alguns AOGCM projetam no futuro uma situação mais permanente de aquecimento das águas superficiais do oceano Pacífico equatorial e do oceano Atlântico equatorial norte, com conseqüências diretas sobre a diminuição das taxas de precipitação na Amazônia, que pode levar a um novo clima, mais adequado a ecossistemas de vegetação típica de savana do que de floresta tropical úmida. Embora esse seja um quadro que não deva ser desconsiderado, há necessidade de se ampliar os conhecimentos científicos sobre o clima da Amazônia e de sua interação com os ecossistemas e, também, de aprimorar os atuais modelos climáticos para reduzir as incertezas dos impactos das mudanças climáticas globais na Amazônia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. IPCC, AR4, WGI Report. Cambridge Univ. Press. 2007.
2. Li, W.; Fu, R.; Dickinson, R. E. J. Geophys. Res., 111, D02111, 2006.
3. Cox, P.M.; Betts, R. A.; Jones, C. D.; Spall, S. A.; Totterdell, I. Nature 408,184–187, 2000.
4. Cox, P.M.; Betts, R.A.; Collins, M.; Harris, P. P.; Huntingford, C. C.D.; Jones, C. D. Theoretical and Applied Climatology, 78, 137-156, 2004.
5. Salazar, L. F.; Oyama, M. D. XIV CBMet:Anais:3637.Pdf, 6pp., 2006.
6. Collins, M AE. Climate Dynamics 24, 89–104, 2005.
7. Schöngart, J.; Junk, W. J. Journal of Hydrology, v335, 124-132, 2007.
8. Marengo, J.; Nobre, C.; Tomasella, J.; Sampaio, G.; De Oliveira, R.; Camargo, H.; Oyama, M.; Alves, L. Journal of Climate, 2006.
9. Cane, M. A. Earth and Planetary Science Letters, 164, 1-10, 2005.
10. New, M.; Lister, D.; Hulme, M.; Makin, I. Climate Res., 21, 1-25, 2000.
11. IPCC, AR4, WGII Report. Cambridge Univ. Press. 2007.
12. Souza, E.B.; Kayano, M. T.; Tota, J.; Pezzi, L.P.; Fisch, G.; Nobre, C. Acta Amazônica, v. 30, n. 2, p. 305-318, 2000.

Sobre os autores:

(a) Luiz Antonio Cândido é meteorologista, pesquisador da Coordenação de Pesquisa em Clima e Recursos Hídricos/CPCR e do Núcleo de Modelagem Climática e Ambiental/NMCA do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa); (b) Antonio Ocimar Manzi é físico, pesquisador titular do Inpa e gerente executivo do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia(LBA). Coordena o NMCA e o Grupo de Micrometeorologia do LBA no Inpa; (c) Júlio Tota é meteorologista, atualmente pesquisador bolsista do LBA no Inpa; (d) Paulo Ricardo Teixeira-Silva é meteorologista, atualmente bolsista de desenvolvimento tecnológico e industrial do CNPq/Finep, no LBA; (e) Flérida Seixas Moreno da Silva é física, mestranda da pós-graduação em ciências ambientais da Universidade Federal do Pará e desenvolve sua pesquisa junto ao NMCA do LBA/Inpa; (f) Rosa Maria Nascimento dos Santos é meteorologista, pesquisadora no NMCA do Inpa através do programa fixação de doutores da Fapeam; (g) Francis Wagner Silva Correia é físico, coordenador e professor do curso de meteorologia tropical da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e pesquisador no NMCA do Inpa.

Crédito da imagem: Portal Ecodebate, artigo A incansável tragédia das queimadas sem controle por Henrique Cortez

(*) Artigo originalmente publicado na revista Ciência e Cultura v.59 n.3, de jul./sep. 2007.

24 setembro 2007

POTENCIAL DA PALMEIRA MURUMURU NATIVA DO ACRE

Parâmetros Biométricos dos Cachos, Frutos e Sementes da Palmeira Murmuru (Astrocaryum ulei Burret.) Encontrada na Região de Porto Acre, Acre (*)

Janice Ferreira do Nascimento (1), Evandro J. L. Ferreira (2), Anelena L. Carvalho (3) e Anelise Maria Regiani (4)

Introdução

O murmuru (Astrocaryum ulei Burret) é uma palmeira típica de áreas de florestas primárias, tanto de terra firme quanto periodicamente alagadas, podendo ainda ser encontrada em áreas secundárias (capoeiras) e pastagens cultivadas. Apresenta estipe solitário ou cespitoso, geralmente coberto com bainhas foliares persistentes em toda a sua extensão. As folhas têm bainha, pecíolo e raque cobertos por espinhos alongados, negros e achatados. As pinas apresentam coloração quase branca abaxialmente e estão regularmente arranjadas e dispostas em um mesmo plano.

A inflorescência é intrafoliar e ereta na antese e na frutificação. Os frutos (Fig. 1A) possuem forma obovada ou alongada-obovada. O epicarpo é de cor amarela quando maduro coberto por espínulos negros rígidos ou macios. O mesocarpo é carnoso, suculento e macio. O endocarpo é lenhoso (Fig. 1B), contém endosperma homogêneo de coloração branca (Fig. 1C, 1D e 1E), e é muito utilizado na confecção de biojóias. A polpa e o endosperma são utilizados na alimentação, sendo a primeira usada em menor intensidade em razão de seu alto teor de gordura, aproximadamente 40% [1]. Na época da safra os frutos são muito procurados por animais silvestres (pacas, veados e cutias). As folhas novas podem fornecer fibras [2].

A espécie está distribuída na região sul da Amazônia, já tendo sido encontrada no Brasil (Acre, Amazonas e Rondônia), Bolívia (Pando) e Peru (Madre de Dios) [3].

O objetivo deste trabalho foi fazer uma caracterização biométrica dos cachos, frutos e sementes da espécie tendo em vista o seu potencial para a produção de biodiesel em razão do alto conteúdo de óleo encontrado na polpa e no endosperma.

As análises estatísticas dos dados obtidos na caracterização, tais como média, desvio padrão, coeficiente de variação e correlação entre as variáveis observadas, podem auxiliar na coleta de cachos com maior potencial de produção de óleo.

Material e métodos

Os cacho e frutos utilizados neste estudo foram coletados na área do Projeto de Colonização Humaitá, ao longo do ramal Tocantins, no Município de Porto Acre - Acre. A escolha das palmeiras e dos cachos foi feita de forma aleatória em indivíduos que se encontravam crescendo espontaneamente em área de floresta tropical de terra firme. Foram colhidos 3 cachos maduros, oriundos de 3 plantas distintas. A avaliação foi feita no Laboratório de Sementes Florestais do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre (PZ/UFAC) em Rio Branco – Acre. Os cachos foram pesados e medidos (comprimento e diâmetro) com o auxílio de balança comum e trena. Em cada cacho foi contada a quantidade total de frutos e selecionados 100 unidades de cada para avaliação, totalizando 300 frutos.

A caracterização dos frutos incluiu a análise das seguintes variáveis: comprimento, diâmetro, e pesos do fruto inteiro, da casca, da polpa, da semente, e do endocarpo e endosperma separadamente, depois de secos em estufa por um período de 24 horas a 70ºC. Na determinação do peso foi utilizada uma balança com precisão de 0,01g e para as medidas de comprimento um paquímetro. Para a análise estatística foram usados os programas Excel 2003 e Statistica 2.0.

Resultados e discussão

Os cachos apresentaram peso médio de 8,2 kg, comprimento de 79,3 cm, diâmetro de 22,2 cm e média de 552 frutos/cacho (Tab. 1). Os frutos possuem peso médio de 12,98 g, peso da casca 2,21 g, da polpa 0,91 g, do endocarpo 4,65 g e do endosperma 3,22 g. Os resultados da caracterização individual dos frutos são apresentados na Tabela 2. A polpa representa 7,05% do peso do fruto e o endosperma 21,89%. Analisando os coeficientes de variação entre os cachos, apenas o número total de frutos apresentou grande variação.

Nos frutos, os pesos dos frutos, da casca, da polpa e do endosperma apresentaram índices de variação muito elevados (Tab. 2). As variáveis observadas apresentaram correlação alta, linear e positiva entre si (Tab. 3), as únicas variáveis que não apresentaram correlação foram o peso da polpa e o comprimento.

Os resultados obtidos nessa pesquisa demonstram que o murmuru proveniente da região de Porto Acre apresenta grande potencial para extração de óleo em escala industrial para a síntese de biodiesel, pois o óleo é extraído do endosperma, parte do fruto que apresentou maiores índices de correlação elevados com 3 de 5 variáveis analisadas. O peso do endosperma está altamente correlacionado com o diâmetro e peso dos frutos e com o peso do endocarpo. Na prática, uma rápida avaliação de frutos e sementes colhidos no chão da floresta poderão ser indicadores de cachos maiores e mais pesados, garantido, desta forma, maior quantidade de óleo vegetal.

Agradecimentos

Aos colegas do Laboratório de Sementes Florestais e do Herbário do Parque Zoobotânico da UFAC e do Núcleo Acre do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia-INPA. Ao CNPq pela bolsa oferecida.

Referências

[1] BALICK, M. J. Amazonian oil palms of promise: a survey. Economic Botany 33 (1): 11-28. 1979
[2] SCHULTES, R. E. Promising structural fiber palms of the Colombian Amazon. Principes 21 (2): 72‐82. 1977.
[3] FERREIRA, E. J. L. F. Manual das palmeiras do Acre, Brasil. Disponível em: http://www.nybg.org/bsci/acre/www1/
manual_palmeiras.html. Acesso em: 10 Agosto 2005.

Sobre os autores:

1. Graduanda de Engenharia Florestal, e bolsista PIBIC-ITI do projeto do Biodiesel da Universidade Federal do Acre (UFAC) BR-364, km 04, Bairro Distrito Industrial, CEP 69900-000, Rio Branco – Acre. E-mail: janicenascimento@gmail.com

2. Doutor em botânica, pesquisador do Núcleo de Pesquisas do Acre, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA. E-mail: evandroferreira@yahoo.com.

3. Graduanda de Engenharia Florestal, bolsista PIBIC do projeto do Biodiesel do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA (Acre). E-mail: anelenalcarvalho@yahoo.com.br

4. Professora do Departamento de Ciências da Natureza (DCN) da Universidade Federal do Acre. E-mail: anelise regiani@yahoo.com.br

(*) Artigo originalmente publicado na Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 90-92, jul. 2007.