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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

27 junho 2006

A CRISE NO MERCADO DE CARNE NO ACRE

Todos sabem que a derrubada da floresta nativa acreana e sua transformação em pastagem para a criação de gado tem sido um processo que vem sendo praticado de forma sistemática, às vezes intensiva, desde o final dos anos 60. Depois de décadas derrubando e derrubando, os fazendeiros passaram a ser vistos como vilões do desmatamento no Acre. E se consideraram injustiçados! Houve inclusive um tempo em que tudo e (quase) todos estavam ao lado deles: crédito fácil nos bancos oficiais, terra barata, apoio político.

Pois bem. Os tempos são outros. Vejam a tristeza que se abateu entre os "reis" do setor produtivo rural do Acre. Matadouros fechados, gado gordo no pasto sem compradores em vista. O verão se aproxima, o peso que o gado ganhou no inverno, ele vai perder agora nestes 3-4 meses de seca. Sei de fazendeiros que até tentaram se adiantar a uma possível repetição da seca do ano passado, colocando a venda o plantel em abril e maio. Mesmo arriscando perder dinheiro pois aquele não era o momento ideal para vender - excesso de oferta. Não apareceu comprador. Sei de outros investidores de São Paulo que possuem fazendas no Acre e que agora querem se desfazer de tudo, do gado e da terra.

De quem é a culpa?

Não tem nem clima para dizer que é do governo e suas leis ambientais radicais, que impedem novas derrubadas e proibem queima de pastos, uma prática pré-histórica usada na renovação das pastagens.

A culpa é da própria classe que, talvez, acostumada à prepotência e arrogância de achar que tudo pode, está enfrentado um problema fora de sua alçada: a aftosa. Vocês lembram? Aquele "fazendeiro" paranaense que comprou gado barato e infectado do Paraguai?

Oito meses depois, o Brasil não conseguiu reverter o veto externo à importação de carne brasileira. Reportagem da Folha de São Paulo tenta atribuir o embargo mais a interesses comercias do que sanitários. Pura balela. Não é possível que 58 países ainda mantenham o embargo à importação de carne brasileira usando como desculpa um suposto interesse comercial. Para que? Como sabemos, menos oferta no mercado internacional significa preços mais altos. Quem importa carne vai querer pagar mais caro?

Qual a consequência de tudo isso para o Acre? Para nós, os consumidores, significa que a carne não subiu ou vai subir de forma exagerada, mesmo agora na chegada do verão. Por outro lado, a crise do mercado exportador fez com que os produtores dos Estados que foram embargados (quase todos os Estados brasileiros) passassem a oferecer seu produto no mercado interno. Resultado: excesso de oferta e uma necessidade de diminuir a mesma para equilibrar os preços. A diminuição do abate se "abateu" de forma direta nos abatedouros e frigoríficos localizados nas regiões mais periféricas como o Acre.

Esta é a gênese da crise do mercado da carne no Acre. Não existem compradores. Bom para a conservação da nossa floresta, que pelo menos vai sofrer menos pressão nesta temporada de derrubadas de 2007. Bom para os consumidores, que não vão pagar caro pelo preço da carne. Bom para a classe dos fazendeiros, aqueles profissionais, que vivem da atividade.

É que os aventureiros e aqueles que se "acham" fazendeiros vão ser os primeiros a cair fora ou dar um tempo. Mas não vão perder a pose. Vão continuar a desfilar com os "carrões" cidade afora, como sempre fizeram. É que eles são os fazendeiros "assalariados" (empregados públicos) ou os "empresários" que vivem de licitações do governo. O dinheiro fácil que ganham eles "investem" em gado. Se antes perdiam dinheiro se passando por fazendeiros (e nem sabiam que perdiam), agora vão ter que buscar outra atividade para torrar o dinheiro.

26 junho 2006

INVENTÁRIO DE BURITIZAL

GOOGLE EARTH VAI FACILITAR OS TRABALHOS DE CAMPO

PRECISÃO DE INVENTÁRIOS VAI AUMENTAR DRAMATICAMENTE

Quem realiza estudos de campo para inventariar o potencial de determinadas espécies de plantas, sabe o quanto é difícil estimar o tamanho de populações naturais, sua exata localização e formas de acesso. Geralmente os técnicos responsáveis pela coleta de dados se "matam" caminhando, enfrentando terreno difícil e os perigos inerentes aos trabalhos desse tipo. São dias e dias abrindo picadas, puxando trenas, para no final se trazer do campo um rascunho meio que imaginário do que se levantou. Os dados coletados com GPS são repassados para técnicos em geoprocessamento, que, no escritório, adicionam as áreas levantadas a imagens de satélite em escala muitas vezes tão grandes que algumas populações levantadas são representadas por um simples ponto no mapa.

O "Google Earth" vai mudar tudo isso (assim espero).

Vejam as três imagens deste post. A primeira, acima, é uma fotografia tomada com câmara digital comum, mostrando um buritizal que fica localizado na margem de um "lago" na área do Quixadá, uma colônia agrícola distante cerca de 20 km da cidade de Rio Branco, já nas cercanias da margem do rio Acre.

A referida imagem nos dá, obviamente, uma perspectiva "terrestre" do buritizal, ou seja, a gente consegue apreciar a beleza das palmeiras e, no máximo, estimar o tamanho da população em termos de comprimento. Estimativas exatas do tamanho (comprimento x profundidade), só se a equipe de campo usar trenas e caminhar em volta do buritizal. Haja sofrimento...

Com o "Google Earth", imagens de alta resolução (disponíveis de graça, até quando, não sabemos) permitem mostrar com nitidez a localização, o acesso e o tamanho relativo da mesma população de buriti da qual tínhamos apenas a localização geográfica e belos registros fotográficos.

A primeira imagem de satélite do Google Earth ao lado mostra a posição do buritizal em relação à cidade e outros pontos de referência bem conhecidos.




A segunda imagem (ao lado) mostra os detalhes do buritizal. Com o auxílio do programa, é possível estimar com precisão o tamanho da mesma. É possível medir, por exemplo, o perímetro da população e, posteriormente, calcular o tamanho do mesmo.

É importante esclarecer que as imagens aqui exibidas são obtidas gratuitamente. Imaginem o nível de detalhes que a gente poderá obter caso assine o serviço pago oferecido pelo Google!

24 junho 2006

COHAB DO BOSQUE

O PRIMEIRO "GRANDE" CONJUNTO HABITACIONAL DE RIO BRANCO

QUANDO FOI PLANEJADO E IMPLANTADO "OS TEMPOS ERAM OUTROS"

Quem mora em Rio Branco sabe que o bairro conhecido como Cohab do Bosque é um dos mais antigos, tradicionais e, porque não dizer, urbanisticamente falando uma aberração sem tamanho.

Vejam na imagem ao lado as ruas marcadas com linhas amarelo-claro. Todas elas são tão estreitas quanto as ruas das cidades construídas pelos portugueses no período barroco brasileiro: só dá para passar carroça de boi, cavalo e outros quadrúpedes. O mais incrível é que o conjunto foi planejado e implantado no final dos anos 60. Era do automóvel.

Eu sempre brinco com amigos que o urbanista, arquiteto ou engenheiro responsável pelo projeto nasceu e se criou em algum seringal. Sem querer desmerecer isso, mas digo assim porque no seringal temos, como "caminhos", estradas de seringa e varadouros. Este último é a via expressa dos seringais, ideal para os animais transportarem cargas entre colocações e a sede do seringal. Então, por analogia, podemos dizer que as ruas mais estreitas da Cohab do Bosque são as estradas de seringa. As mais largas, os varadouros.

Coisas como essas são comuns por toda a cidade de Rio Branco. Até parece que a gente vive em uma ilha, tipo Honk Kong, Porto Rico: centímetros fazem diferença. Espaço nos arredores de Rio Branco é o que não falta.

Não entendo porque que as ruas em nossa cidade têm que ser estreitas e os lotes urbanos verdadeiras tripas: 10-12 m de frente por no máximo 20-25m de fundo. Falta de espaço não é. Será essa mentalidade de pensar pequeno e querer que todos vivam no aperto? É, porque com lotes e ruas pequenos e estreitos, todos estamos condenados a viver com a sensação de superpopulação (em uma cidade apenas 250 mil habitantes), enfrentar engarrafamentos "irreais" (numa cidade com poucos carros per capita).

O que será que os engenheiros e planejadores urbanos que trabalham (ram) na prefeitura aprendem(ram) na Universidade? A pensar pequeno? Como não ser arrojado?

22 junho 2006

IMAGENS DE SATÉLITE DE RIO BRANCO (4)

CONJUNTO MANOEL JULIÃO

Morei lá durante cerca de 10 anos. Observem no canto esquerdo, no alto, como o mesmo foi mal planejado: as vias de saída para o bairro Conquista, Distrito Industrial, UFAC e Conjunto Tucumã são estreitas como um varadouro de seringal. Resultado: congestionamentos diários pela manhã, a tarde e a noite nas saídas para a rua Isaura Parente, que fica na parte de baixo da imagem (não mostrada).

Antes tarde do que nunca: ainda dá tempo de promover umas desapropriações e resolver o problema. Vejam vocês memos.

21 junho 2006

IMAGENS DE SATÉLITE DE RIO BRANCO (3)

BAIRRO DO "PAPOCO"

Para os "corajosos" ou puristas que nunca foram ao famoso bairro "Papoco", vejam a imagem de satélite do mesmo. Não é grande coisa não. Dá até para contar o número de casas.

IMAGENS DE SATÉLITE DE RIO BRANCO (2)

REGIÃO CENTRAL DA CIDADE DE RIO BRANCO

Observem as duas pontes, o terminal urbano, o início (ou final) do canal da maternidade.

IMAGENS DE SATÉLITE DE RIO BRANCO (1)

Graças ao Google Earth, vamos postar uma série de imagens de satélite da nossa cidade. A primeira delas (ao lado) é um panorama geral, mostrando as principais rotas de entrada da cidade.

20 junho 2006

O PT E A "VASSOURA DE BRUXA"

Esta semana voltei a receber a revista VEJA. Havia decidido não renovar a assinatura porque ela tinha ido longe demais nas denúncias (quase sempre sem base) com o nítido objetivo de atingir um partido político, o PT, para o qual tenho simpatia. Independente disso, não deu para continuar a ler a revista depois daquela "denúncia" de que alguns cardeais do PT, incluindo o presidente Lula, teriam contas recheadas de dólares no exterior. Como se os outros políticos brasileiros, inclusive aqueles apoiados pela revista, não tenham ou pratiquem o mesmo...Não que eu apoie este tipo de atitude, mas se vão ser denunciados apenas alguns, porque não incluir todos?

Pois bem, ao receber o primeiro exemplar depois de renovar a assinatura (por dois anos, 40% de desconto sobre o preço de capa, uma pechincha), me deparo com outro absurdo: foi o PT o responsável por introduzir a "vassoura de bruxa" na Bahia. "Vassoura de bruxa" e uma doença que atinge cacaueiros e praticamente inviabiliza o cultivo comercial do mesmo nas áreas onde a doença ocorre.

No Acre a "vassoura de bruxa" é endêmica. Por isso a cultura do cacau nunca progrediu muito por aqui. Em Rondônia ela ainda persiste, mas os custos de manutenção da cultura são elevados. Quem vive no Acre sabe muito bem que durante muitos anos era proibido (ainda é?) transportar frutos de cupuaçu e cacau para outras regiões do país. Vocês se lembram que no Aeroporto os atendentes das companhias aéreas ficavam observando e avisando sobre essa proibição? Do cupuaçu só se podia levar a polpa congelada.

É óbvio que cedo ou tarde a vigilância iria falhar. Afinal, quantos vôos partiam e partem diariamente da amazônia para o sul e nordeste do país? A chegada da "vassoura de bruxa" na Bahia e outras regiões do país era apenas uma questão de tempo e não política.

Ler a reportagem de VEJA é como ler um texto cômico.

Funcionários da CEPLAC, o órgão do governo responsável por pesquisar formas de controlar e atenuar a ação do fungo, instituição na qual o governo federal emprega milhares de pessoas, enterra milhões de reais anualmente...Apesar de tudo isso, na visão ficcional de VEJA, funcionários desse órgão viajaram sistematicamente, durante 5-6 anos para a amazônia, trazendo galhos de cacau infectados com "vassoura de bruxa" e, chegando na Bahia, amarravam estes galhos em pés sadios de cacau nas fazendas dos barões do cacau bahianos...tudo porque eles eram do PT e odiavam a oligarquia cacaueira bahiana...

Realmente, que imprensa a gente tem. Talvez a gente mereça.

Será que este repórter pensa que a gente é burro? Não, talvez ele é que seja e ninguem disse isso a ele. Só espero que ele não escreva que Henry Wickham, aquele inglês que roubou sementes de seringueira no Brasil para serem cultivadas na ásia, também era do PT. Na ótica do repórter de VEJA, isso faz sentido pois este fato causou a falência dos barões da borracha em Manaus e Belém.

Já que vale tudo, adianto um tema bem interessante para futura reportagem na revista:

- Que tal atribuir ao PT a chegada do fungo causador da "ferrugem asiática" na cultura da soja no Brasil. É isso mesmo, o tema promete. Afinal quem cultiva soja no Brasil. A elite do agronegócio, os ricaços que elegem senadores e deputados dos partidos reacionários que esmagam os pobres e oprimidos do Brasil.

- Ah, dá para atribuir a membros do PT o fato do fungo ter chegado ao Brasil fácil, fácil. Vejam que nestes últimos anos eles têm viajado muito mundo afora, e numa dessas, deram um parada na Ásia, encheram sacos com fungos, e, chegando ao país, espalharam nas plantações dos "barões".

Na minha pouca experiência, só faço uma sugestão: para dar mais credibilidade e peso à reportagem, sugiro que os repórteres de VEJA só publiquem a mesma quando a "ferrugem asiática" atingir os plantios de soja do Blairo Maggi, o rei da soja no Brasil, grande latifundiário, governador de Mato Grosso que faz oposição ao PT e "exemplo" de empresário bem sucedido (e do bem) do agronégocio nacional. Que tal? Não é uma boa idéia?

Observação: quanto ao fato concreto do fungo ser carregado pelas correntes de vento, sugiro a VEJA que dissimule e diga que no período da chegada do fungo ao Brasil os ventos estavam soprando em outra direção...coloquem um gráfico citando como fonte o INPE para dar peso, e pronto...resolvido.

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COMENTÁRIO DE UM ANÔNIMO:

Anonymous deixou um novo comentário sobre a sua postagem "O PT E A "VASSOURA DE BRUXA"": estou revoltado com essa noticia. ainda bem que foi desmentida por um cientista da USP que afirmou que do ponto de vista cientifico é impossivel que o charlatão tenha feito varias viagens e trazido (ele estudou a vassoura de bruxa aqui) apenas 2 especies de vassoura de bruxa sendo que la tem centenas de milhares. Um dedão para baixo para a veja!

19 junho 2006

EDUCADOR AMBIENTAL: WWF CONTRATA

Vaga Aberta no WWF-Brasil para Coordenador de Educação Ambiental

O WWF-Brasil, organização não-governamental autônoma dedicada à conservação da natureza, está recrutando o seguinte profissional para o escritório de Brasília.

01. Título: Coordenador de Educação Ambiental

02. Supervisor direto: Superintendente de Conservação

03. Atribuições principais:
- Desenvolver as estratégias de educação ambiental do WWF-Brasil, responsabilizando-se pela coordenação do seu planejamento, execução, avaliação, monitoramento e aprendizagem;
- Orientar e apoiar o WWF-Brasil no desenvolvimento de ações de formação e capacitação nos diversos programas de conservação;
- Orientar e apoiar WWF-Brasil na realização de campanhas educativas e atividades de conscientização pública em centros urbanos;
- Coordenar a equipe de educadores e supervisionar os funcionários sob sua responsabilidade direta, promovendo o desenvolvimento de capacidades da equipe;
- Coordenar os processos de formação de parceiros e de outros públicos no âmbito do Programa de EA
- Atuar em estreita colaboração e integração com os demais programas e áreas da organização;
- Elaborar os planos de trabalho e orçamentos anuais da área;
- Elaborar termos de referência e documentos necessários para a contratação de parceiros e consultores para projetos e atividades sob sua responsabilidade;
- Realizar o acompanhamento e avaliações periódicas das estratégias, ações e parcerias de EA, desenvolvendo processos de aprendizagem sobre elas;
- Assegurar a qualidade e a pontualidade dos relatórios sob sua área de responsabilidade;
- Realizar esforços de captação de recursos que assegurem o desenvolvimento e a sustentabilidade das ações de EA do WWF-Brasil;
- Articular uma ampla rede de parceiros que dêem capilaridade e maior impacto às ações dos programas do WWF-Brasil nas ecorregiões e cidades; buscando novos colaboradores, recebendo e difundindo conhecimentos;
- Atuar no campo da influencia das Políticas Públicas de Educação Ambiental;
- Coordenar a produção e publicação e de materiais educativos garantindo sua qualidade e integridade com os padrões e diretrizes institucionais;

04. Responsabilidade de supervisão:

Supervisionar a equipe de educadores alocados nos diversos programas, em conjunto com os Coordenadores de Programa bem como aos estagiários e membros da equipe;
Supervisionar o trabalho desenvolvido por consultores por ele(a) contratados.

05. Relacionamento no trabalho:

Público Interno:
A posição interage e atua em estreita cooperação com todos os programas da Unidade de Conservação; Apóia a Coordenação de Comunicação, a Superintendência de Relações Corporativas e Marketing e a Secretaria Geral.

Público Externo:
interage com membros da Rede WWF; parceiros; organizações governamentais e não governamentais; redes; doadores; consultores, etc.

06. Qualificações Mínimas:

- Formação Superior Completa em área de educação ou pedagogia ou ciências sociais ou temas correlatos;
- Experiência profissional mínima de 7 anos na área de educação ambiental, especificamente;
- Excelente conhecimento técnico e prático em educação ambiental;
- Conhecimento e experiência no desenvolvimento de campanhas educativas;
- Entendimento da conjuntura nacional e suas implicações para a conservação;
- Fluência oral e escrita na língua inglesa;

07. Habilidades Requeridas:

- Forte senso de organização;
- Capacidade de coordenação e gestão de programas;
- Capacidade de coordenação e gestão da equipe de técnicos educadores;
- Capacidade de captar e transmitir idéias e informações com objetividade e clareza (oral e escrita);
- Capacidade de buscar, agenciar e compartilhar conhecimentos;
- Habilidade de facilitar e intermediar discussões e debates;
- Habilidade em conduzir processos participativos;
- Capacidade de manter a calma e sustentar posições éticas em situações adversas;
- Capacidade de negociar e resolver conflitos;
- Habilidade em lidar com a diversidade cultural, étnica, religiosa, de saberes e de valores em realidades específicas;
- Capacidade de maximizar a utilização dos recursos disponíveis;
- Excelente relacionamento interpessoal;
- Capacidade de trabalhar em equipe e promover o seu de desenvolvimento;
- Capacidade de liderança e inspiração de seus colaboradores;
- Capacidade estratégica e empreendedora;
- Capacidade de planejar, tomar decisões e priorizar ações;
- Capacidade de identificar oportunidades e gerar ações de impacto;
- Iniciativa dinamismo e criatividade;
- Pontualidade nos compromissos;
- capacidade de utilizar softwares e equipamentos necessários para o bom desempenho da função;

IMPORTANTE:
- Ampla disponibilidade para viajar a trabalho.

08. Competências do Ocupante da Vaga:

- Promover ajustes nas atribuições de atividades ou tarefas de seus supervisionados;
- Aprovar propostas e recomendar a contratação de parcerias e prestações de serviços;
- Representar a organização, quando necessário.

09. Outras Especificações Desejáveis:

- Pós Graduação, Especialização ou mestrado na área de educação;
- Atuação nas redes de educação ambiental no Brasil;
- Conhecimentos sobre a Pedagogia Social de base antroposófica.

10. Documentação solicitada

- Curriculum Vitae contendo três referências profissionais disponíveis para contato com telefone e e-mail, incluindo pretensão salarial;
- Carta de apresentação de, no máximo, 2 páginas, informando:
Qual o papel da educação ambiental na construção de um Brasil Sustentável?

11. Prazo para envio de documentação: 23 de junho de 2006

12.Endereço para envio de documentação:

Endereço postal:
WWF-Brasil, Seleção Coordenador de EA
SHIS EQ-QL 6/8 – Conjunto E – Térreo 71620-430 - Brasília –

14 junho 2006

RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE SOB A ÓTICA DOS MÉDICOS

ELES SÃO OS ATORES, A PLATÉIA E CRÍTICOS AO MESMO TEMPO

Todo mundo no Brasil sabe como, de uma maneira geral, grupos tendem a ser corporativistas. Um dos mais conhecidos são os médicos. Aqueles que tentam, de todas as formas, "abafar" erros de colegas, impondo, incialmente, uma avaliação da própria classe via Conselho Regional de Medicina (CRM). Se você for vítima de erro médico no Brasil, espere pelo pior: primeiro os tais CRMs irão levar o tempo que eles acharem conveniente para "julgar" os pares. Depois vem a justiça, que, como todos sabem, leva (literalmente) "uma vida" para julgar causas deste tipo. Muitas vezes as vítimas morreram antes de saber o resultado da causa.

Na qualidade de pesquisador, sempre pensei que revistas científicas fossem sérias pois dados científicos são frios números que têm que ser analisados como tal. Assim, quando algum pesquisador "esperto" tenta passar a perna na comunidade científica, logo se descobre a fraude. É claro que a manipulação de dados científicos pode ser praticada de todas as formas. Mas os conselhos editoriais das revistas científicas quase sempre impedem a publicação de artigos "fracos" ou claramente tendenciosos.

Esse não parece ser o caso da Revista da Associação Médica Brasileira, que em seu vol. 51 No.3 (Maio/Junho 2005) publicou o artigo "A relação médico-paciente em Rio Branco/AC sob a ótica dos pacientes", de autoria de Maria das Graças Alves Pereira e Eliane S. Azevêdo.

O estudo, realizado nas dependências da Fundação Hospitalar do Acre (Fundacre), chegou à conclusão que 70% dos pacientes envolvidos no estudo (50) estavam satisfeitos com a atenção dos médicos. Infelizmente, as tabelas apresentadas no referido estudo indicam um conflito ou pelo menos, uma aparente tendência dos autores de amenizar a opinião dos pacientes. Senão, veja, leitor, as tabelas extraídas do estudo e apresentadas abaixo:






















Lendo o artigo é possível observar que os pacientes entrevistados (n=50): (i) avaliaram negativamentea a comunicação dos médicos durante as visitas (60%, Tabela 2), (ii) consideraram os médicos impontuais e faltosos (52%, Tabela 3) e (iii) consideraram a comunicação dos médicos com os pacientes falha ou inexistentes (66,7%, Tabela 3).

Apesar de tudo isso, a conclusão do estudo indica que estes mesmos pacientes avaliam "massivamente" (70%) de forma positiva a relação médico-paciente praticada na Fundacre. Usando um pouco de ironia, me pergunto: seriam eles sádicos com eles mesmos? Tem alguma coisa "estranha" na metodologia do estudo de Maria das Graças Alves Pereira e Eliane S. Azevêdo.

Se eu avalio médicos da forma como os pacientes avaliaram, jamais iria dizer, ao final de minha estada no hospital, que estou satisfeito com o atendimento recebido. O que você acha? Também iria avaliar de forma positiva um atendimento no qual o médico, literalmente, não fala com você e te visita de forma impontual ou nem visita?

Lendo o artigo e a metodologia adotada pelas autoras, não fica claro de onde elas conseguiram chegar a esse alto índice de aprovação da relação médico-paciente. Entretanto, supeito da seguinte situação:

- Você está doente, fragilizado, e tem que se internar em um hospital, onde fica extremamente dependente dos médicos, enfermeiros, pessoal da limpeza, cozinheiros, etc. Em outras palavras, um "quase" refém de uma situação na qual tem que seguir à risca o que lhe dizem, sob pena de ter complicações ainda maiores.

Então, durante esta fase difícil de sua vida, ou imediatamente após, alguem do hospital lhe convida a dar sua opinião sobre o atendimento médico recebido. Só que para isso você tem que assinar um documento (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE), e ouvir a leitura do mesmo por parte do entrevistador.

- Será que você, ainda incerto se vai ter que retornar ou não ao tal hospital, vai dizer que foi pessimamente atendido? Claro que não!

É a mesma coisa que fazer pesquisa sobre uso de plantas medicinais em áreas rurais e mandar um entrevistador do sexo masculino perguntar às esposas e filhas dos agricultores e seringueiros quais doenças venéreas elas têm e quais espécies de plantas medicinais usam para tratar estas doenças. Mais contrangedor é perguntar como elas usam e aplicam os remédios caseiros.

Você acha que uma pesquisa dessa vai ter sucesso e respostas sinceras por parte dos entrevistados?

O comitê editorial da Revista da Associação Médica Brasileira aceitou algo similar ao permitir a publicação do artigo de Maria das Graças Alves Pereira e Eliane S. Azevêdo. Será que o corporativismo venceu mais uma vez?

12 junho 2006

QUEM CONHECE MAIS A FLORESTA ACREANA?

INDIOS, SERINGUEIROS OU RIBEIRINHOS?

Para responder a esta pergunta as pesquisadoras Marina Thereza Campos (Pesquisadora Associada do Parque Zoobotânico da UFAC) e Christiane Ehringhaus (Yale University, USA) compararam o conhecimento dos usos de palmeiras entre duas comunidades indígenas (Yawanawa e Kaxinawa e duas comunidades não-indígenas (seringueiros e ribeirinhos), do Estado do Acre. Por trás dessa curiosidade aparentemente simplória, reside algo mais importante: "a importância dos conhecimentos tradicionais sobre recursos naturais para a conservação de florestas tropicais".

Os Yawanawa são um grupo indígena que vive no rio Gregório, nas proximidades da cidade de Cruzeiro do Sul. Os Kaxinawa vivem no rio Tarauacá, no município de mesmo nome. Os seringueiros envolvidos na pesquisa vivem no Seringal Dois Irmãos, na Reserva Extrativista Chico Mendes, nas proximidades da cidade de Xapuri. Os ribeirinho que participaram do trabalho vivem ao longo do rio Acre, nas cercanias da cidade de Rio Branco.

Para o estudo, as pesquisadoras realizaram 140 entrevistas semiestruturadas do tipo "checklist" sobre o uso de palmeiras com homens e mulheres em cada comunidade. O conhecimento de cada comunidade sobre usos de 17 espécies de palmeiras encontradas em comum, foi comparado através do teste das diferenças significativas entre a média de usos conhecidos por informante e através do cálculo do índice de similaridade Jaccard dos usos conhecidos de palmeiras entre as quatro comunidades.

Usos de 31 espécies de palmeiras foram documentados

Para comparar o conhecimento sobre os usos de palmeiras, as pesquisadoras elegeram 31 espécies de palmeiras, das quais 26 eram nativas e 5 exóticas ou cultivadas (veja tabela abaixo). Uma delas, embora não seja cientificamente considerada uma palmeira, foi incluída no estudo: é a "Xila" (uma Cyclanthacea). As palmeiras conhecidas popularmente como "Marajá" e "Ubim", embora representadas por 3 e 4 espécies, respectivamente, foram contadas como um espécie cada pois as comunidades geralmente não as diferenciam. Das 31 espécies, 17 ocorriam em todas as comunidades estudadas.

Das espécies incluídas no estudo, aquelas do gênero Attalea (o memso da conhecida "uricuri") foram as mais numerosas, seguidas por palmeiras dos gêneros Bactris ("pupunha" e "marajás"), Astrocaryum ("murmuru", "tucumã") e Oenocarpus ("bacabas", "patauás").

Considerando as 31 espécies incluidas, foram levantados 143 usos diferentes em todas as comunidades estudadas. As espécies campeãs de uso pelas comunidades foram, respectivamente, "açai", "buriti", "uricuri", "jaci" e "jarina". De uma maneira geral os Kaxinawa e Yawanawa sabem muito mais formas de usos de quase todas as palmeiras do que os seringueiros e ribeirinhos. A exceção são os casos das palmeiras açai, buriti, coco-da praia, ubim e a "palmeirinha cheirosa". Entre as categorias de usos, a alimentação, construção e artesanato são as mais comuns. Porém, entre os indígenas, as categorias de usos mais importantes são: pequenos objetos-artesanatos, construção e uso ritual. Entre os seringueiros e ribeirinhos, a categorias de uso mais citada é a de aproveitamento das palmeiras na construção de casas.

O trabalho de Marina e Christiane confirmou as seguintes hipóteses:

1) Os usos conhecidos de palmeiras diferem de acordo com as preferências
culturais de cada comunidade;

2) As comunidades indígenas possuem um maior conhecimento sobre os usos de palmeiras do que as comunidades tradicionais não indígenas; e

3) Grande parte do conhecimento indígena sobre utilização de palmeiras foi adquirido no último século com a convivência de outros povos amazônicos.

*As informações contidas neste post foram baseadas no artigo científico: PLANT VIRTUES ARE IN THE EYES OF THE BEHOLDERS: A COMPARISON OF KNOWN PALM USES AMONG INDIGENOUS AND FOLK COMMUNITIES OF SOUTHWESTERN AMAZONIA', de autoria das pesquisadoras Maria Thereza Campos e Christiane Ehringhaus, publicado na revista Economic Botany 57(3):324-344, 2003.

10 junho 2006

DESCOBERTO MAIOR AQUÍFERO DE RIO BRANCO

FICA LOCALIZADO NA VIA CHICO MENDES, EM FRENTE AO NOVO CENTRO OLÍMPICO DA CIDADE DE RIO BRANCO!

DADOS INICIAIS INDICAM QUE ELE TEM ÁGUA PARA ABASTECER UMA CIDADE DE 1 MILHÃO DE HABITANTES

De acordo com Paulo Brana, assessor da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Rio Branco (SEMEIA), no local onde está sendo planejada a construção do novo terminal interurbano de Rio Branco foi identificado um aquífero gigantesco. Tão grande que os relatos inicias indicam que o mesmo tem capacidade de abastecer uma cidade com 1 milhão de habitantes.

Internamente parece haver um certo conflito entre a posição da SEMEIA, que é contra a construção da rodoviária no local, e o restante da equipe do prefeito Angelim, que vai, provavelmente querer que o local seja usado para o referido terminal. Vamos aguardar o resultado do laudo técnico. Quem deve estar comemorando é a empresa de água mineral Monte Mário, que há mais de 30 anos explora o aquífero.

Já tinha dado para desconfiar da abundância de água naquela região, que inclui os bairros Amapá e Vila Acre. É só verificar a grande quantidade de empresas de "água" instaladas nos referidos locais. E a "fonte" parece que não seca nunca.

O momento é favorável para desapropriar toda a área de floresta que existe nas cercanias do Parque Chico Mendes.

Vida longa ao aquífero!

Abaixo a especulação imobiliária e a destruição dos últimos remanescentes florestais urbanos de nossa cidade!

06 junho 2006

EXTRAÇÃO SELETIVA DE MADEIRA NA AMAZÔNIA

AFETA NEGATIVAMENTE A RIQUEZA DOS SOLOS?

A resposta de um experimento científico realizado na Amazônia Central brasileira surpreende e indica o contrário: o solo ficou mais rico. Parece um contrasenso, mas a conclusão do estudo é essa.

Os solos de terra firme da Amazônia Central, são, em sua maioria, ácidos e pobres em nutrientes. A manutenção da floresta sobre esses solos é garantida pela ciclagem de nutrientes, ou seja, a decomposição da matéria-orgânica produzida pelas plantas (folhas, ramos, frutos, sementes, etc), formando um sistema em que a ciclagem de nutrientes se constitui em um sistema praticamente fechado, composto por dois grandes compartimentos: a biomassa representada pelas plantas e o solo mineral. Quando a floresta é substituida por pastagens ou outras atividades agrícolas isso leva obrigatoriamente a uma diminuição de nutrientes do compartimento biomassa, podendo comprometer os processos de ciclagem no solo, pois plantas absorvem nutrientes presentes na solução do solo.

Para entender o efeito de retirada de árvores, que agragam grande quantidade de biomassa nas áreas florestais, o estudante de Doutorado em Engenharia Ambiental da USP-São Carlos, junto com outros pesquisadores do INPA, realizaram um experimento para em uma área de floresta de terra firme na Amazônia Central submetida à extração seletiva de madeira (6-10 árvores, ou 34 m3 ha-1 de madeira) (*). O experimento foi realizado na Estação Experimental de Manejo Florestal do INPA (no km 23 da estrada vicinal ZF-2), cerca de 80 km ao Norte deManaus. A vegetação da área corresponde à Floresta Densa de Terra Firme Amazônica, onde é comum a composição florística bastante heterogênea (Jardim &Hosokawa, 1987). Na área estudada foram registradas 324espécies de árvores, distribuídas em 173 gêneros e 57 famílias botânicas.

O experimento constou de três blocos, cada um contendo uma parcela controle e uma que sofreu o corte seletivo de árvores, todos sobre um Latossolo Amarelo álico de textura muito argilosa. As medidas foram realizadas durante 13 meses, em cinco tratamentos em cada bloco: controle (floresta intacta),centro de clareira, borda de clareira, borda da floresta remanescente e floresta remanescente. Em cada parcela controle foram instaladas duas baterias de extratores de solução do solo, nas profundidades de 10, 20 e 30 cm, em locais escolhidos ao acaso no hectare central da parcela, ou seja entre os 50 e 150 m. Nas parcelas manejadas, foram instaladas baterias de extratores de solução do solo, para as três profundidades já citadas, em quatro classes de distúrbios: centro de clareira, borda de clareira com a floresta remanescente, borda da floresta remanescente com a clareira e floresta remanescente. As coletas de dados foram semanais e iniciadas em fevereiro de 1994 (cinco meses após a extração de madeira), prosseguindo até fevereiro de 1995 (17 meses após a extração). Foram avaliados os teores de Nitrato, Amônio, Potássio, Cálcio, Magnésio e Sódio.

Resultados: solo explorado ficou mais rico!

A extração seletiva de madeira causou alterações significativas nas quantidades de potássio, cálcio, magnésio e sódio, que foram maiores na solução do solo nos tratamentos “centro de clareira” e “borda de clareira”, os mais impactados pelaexploração de madeira. O sódio foi o íon mais afetado. A diminuição gradativa dos teores de nitrato, potássio, cálcio e magnésio no centro de clareira, ao longo deste, mostraram que estes estão sendo exportados do sistema solo-planta.No entanto, como suas quantidades na solução do solo ao final do estudo ainda eram mais altas do que no controle, não houve evidências de que a extração seletiva de madeira, no nível em que foi efetuada, tenha causado umadepleção importante nos nutrientes necessários para o crescimento da floresta remanescente ou sucessão secundária natural.

Fenômeno já foi estudado em áreas submetidas a queimadas

Na Amazônia central, uma comparação de parcelas de floresta intacta com outras submetidas ao desmatamento e queima da vegetação, revelou que as concentrações da maioria dos íons que foram analisados, durante período chuvoso, na superfície do solo (0-20 cm), foram maiores sob floresta
queimada do que sob floresta natural; porém, durante e após a estação seca seguinte e o posterior período chuvoso, foram maiores para todos os íons estudados na floresta natural (Picollo et al., 1994). Esse comportamento foi atribuído à deterioração da estrutura do solo da floresta que sofreu queima
e à entrada contínua da liteira para o solo da floresta intacta.

Assim, nos trópicos, o padrão de ciclagem de nutrientes depende de várias adaptações e interações biológicas, inclusive mutualísticas entre microorganismos e plantas, que propiciama conservação de nutrientes; a remoção desta bem-organizada estrutura biótica implica na perda de nutrientes por lixiviação (lavagem dos nutrientes) sob condições de altas temperaturas e chuvas intensas.

Na floresta de terra firme da Amazônia central, a maior produção de liteira fina se dá no período menos chuvoso, de junho a outubro, enquanto que a maior parte da decomposição ocorre durante a estação chuvosa (Luizão & Schubart, 1987). As folhas, que representam 70 % do total da liteira, são de rápida
decomposição. A liteira fina produzida cada ano (8,25 t . ha-1), proporciona uma entrada de 3880 kg de carbono, 151 kg de nitrogênio, 3 kg de fósforo, 16 kg de enxofre, 15 kg de potássio, 37 kg de cálcio, 14 kg de magnésio e 9 kg de sódio, para o solo de uma floresta de platô sobre Latossolo Amarelo na região de
Manaus (Luizão, 1989). Além destes elementos químicos geralmente considerados como nutrientes para as plantas, a floresta cicla uma quantidade significativa de outros elementos da liteira, nutrientes ou não, principalmente de silício e de alumínio, mostrando, então, uma forte relação entre a atividade
biológica e a composição mineral dos solos da floresta de terra firme (Lucas et al., 1993).

Confirmação de resultados similares obtidos no passado

O resultado do experimento desenvolvido por Sávio Ferreira e colegas, confirma os resultados de um experimento anterior, realizado em 1994 por Piccolo et al. (1994), que estudaram a composição mineral da solução do solo durante 16 meses (uma estação seca e dois períodos chuvosos) em uma floresta natural e uma submetida a desmatamento e queima da vegetação. Observaram que, no
primeiro período úmido, os fluxos totais dos íons mais abundantes (Si4+, NH4
+, NO3 -, Mg2+, SO4 2-, K+, Ca2+ e Mn2+) foram maiores sob floresta queimada do que sob floresta natural; porém, para os dois períodos seguintes, um seco e outro chuvoso, os fluxos de nutrientes foram mais elevados na
floresta natural. A contínua entrada de liteira, que chega à superfície do solo em floresta natural, e não em áreas que sofreram derruba e queima, tem importância crítica para regular a concentração da maioria desses nutrientes na solução do solo.

No estudo de Sávio Ferreira, cinco meses após o corte seletivo de árvores, os tratamentos que sofreram maiores danos, como o centro de clareira e a sua borda, também mostraram aumentos nos teores das bases trocáveis K+, Ca2+, Mg2+ e Na+, e também foi observada, a seguir, uma ligeira perda de K+, Ca2+, e Mg2+. Apesar dessa perda de nutrientes nas áreas afetadas, os níveis ainda estiveram acima das áreas intactas (controle), indicando que o corte seletivo não provocou um empobrecimento na solução do solo, como ocorre em manejo com derruba e queimada da vegetação.

Referências Bibliográficas

Jardim, F.C.S; Hosokawa, R.T. 1986/87. Estrutura da floresta equatorial úmida da Estação Experimental de Silvicultura Tropical do INPA. Acta Amazonica, 16(17): 411-508.

Lucas, Y; Luizão, F.J.; Chauvel, A.; Rouiller, J.; Nahon, D. 1993. The relation between biological activity of the rain forest and the mineral composition of soils. Science, 260: 521-523.

Luizão, F.J. 1989. Litter production and mineral element input to the forest floor in a Central Amazonian forest. GeoJournal, 19(4): 407-417.

Luizão, F.J.; Schubart, H.O.R. 1987. Litter production and decomposition in a terra-firme forest of Central Amazonia. Experientia, 43(3): 259-265.

Piccolo, M.C.; Andreux, F.; Cerri, C.C. 1994. Hydrochemistry of soil solution collected with tension-free lysimeters in native and cut-and-burned tropical rain forest in Central Amazonia. Geochim. Brasil, 8(1): 51-63.

(*) Artigo científico originalmente publicado na revista ACTA AMAZÔNICA
VOL. 36(1) 2006: 59-68

02 junho 2006

MALÁRIA NO ACRE

Reproduzo abaixo um importantíssimo artigo sobre a malária, que tantos problemas tem causado em nossa região nestes últimos anos. Os autores trabalham no Departamento de Ciências da Saúde da UFAC, Curso de Medicina, e são, sem sombra de dúvidas, referências no assunto. O artigo aborda de forma competente o aspecto histórico da doença, seus ciclos em nossa região e o futuro da mesma tendo em vista os diversos planos de desenvolvimento previstos para a amazônia.
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MALÁRIA, AMAZÔNIA E DESENVOLVIMENTO (*)

Migração, degradação ambiental e doenças infecciosas caminham juntas na região amazônica

MANUEL CESARIO & RAQUEL RANGEL CESARIO
Sanitaristas, são pesquisadores do Observatório da Amazônia sul-ocidental em Saúde Coletiva e Ambiente, da Universidade Federal do Acre.

"A Saúde é um subproduto social, a doença é um fato político, e a atitude sanitária de um povo expressa sua cultura", argumentava Paulo de Almeida Machado (ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e ex-ministro da Saúde) citando o médico e pesquisador português Almerindo Lessa. Para entendermos a dinâmica da malária na Amazônia devemos partir dessa heterodoxa afirmação e ir além da epidemiologia da doença e da ecologia dos seus vetores. Faz-se necessário, também, conhecer a sua história, seus programas de controle, bem como paradigmas implícitos nas políticas de saúde e de desenvolvimento econômico.

Historicamente, destacam-se quatro fases da malária no mundo. Durante a primeira, da Antigüidade até o século XIX, a doença era considerada resultado de miasmas – a mala aria dos pântanos italianos. Em 1820 surgiu o tratamento com quinino, e em 1890 o agente etiológico (Plasmodium sp.) foi identificado por Alphonse Laveran. O mecanismo de transmissão foi descrito por Ronald Ross em 1897.

Na segunda fase, do século XIX até meados do XX, os esforços se concentravam no combate às larvas com drenagens e aterros, uso de larvicidas (principalmente o Verde-Paris), e no afastamento dos mosquitos vetores (anofelinos) com telagem nas casas, uso de mosquiteiros e de inseticidas sem efeito residual, como o Piretro.

Em um terceiro período, de meados do século XX até a década de 1990, o sonho de erradicação mundial da malária foi fomentado pelo sucesso inicial do uso do DDT para combater os mosquitos e pelo aparecimento de um novo arsenal terapêutico representado pelas drogas cloroquina, primaquina, amodiaquina e mefloquina.

Na quarta fase histórica – os últimos 25 anos – observou-se uma diminuição na ênfase dada aos aspectos biológicos do complexo ciclo da doença e uma crescente preocupação com os fatores socioeconômicos, ambientais e políticos, uma vez que tanto os anofelinos quanto os plasmódios apresentam crescente resistência aos fármacos.

O impacto da malária na saúde pública é maior na África e decresce gradualmente na Índia, Sudeste Asiático e Oceania. As Américas são a região menos atingida, mas ainda assim a população sob risco de transmissão varia de 30% a 35% da total (dados de 1994 e 2003) segundo a Organização Pan-americana de Saúde (Opas). Os números variam muito de um país para outro (de menos de 10% na Argentina a 100% no Haiti, na Nicarágua, no Panamá e na República Dominicana). Cerca de 90% de todos os casos de malária na América do Sul são encontrados na Amazônia.

Dentro dos nove países que abrigam esse bioma, a Opas estabelece a média de habitantes expostos à transmissão como 45%, e lista a Amazônia brasileira em primeiro lugar, com 93,9% de sua população sob risco de malária. De 1980 a 2003, entre 94,8% e 99,7% de todos os casos brasileiros de malária foram em estados da Amazônia Legal.

No início dos anos 1940 o país apresentava 6 milhões de casos anuais de malária (mais de 10% da população), em parte por causa da importação do Anopheles gambiae da África, que foi posteriormente erradicado pelo uso do Piretro e do Verde-Paris, abandonados por sua alta toxicidade. Na década de 1960, teve início a Campanha de Erradicação da Malária (CEM), que interrompeu com DDT a transmissão na totalidade das regiões Sul e Sudeste, em quase toda a região Nordeste e em parte do Centro-Oeste.

Em 1970 o número de casos caíra para 52 mil, e o Brasil fora dividido em duas áreas, com base em suas características ambientais e socioeconômicas: a Amazônia, onde se pretendia a erradicação a longo prazo, e o resto do país, onde ela se daria em curto prazo. O número de casos de malária registrados por ano no Brasil cresceu, então, dos 50 mil nos anos 1970 para quase 600 mil no final dos anos 1980 – quando representava 10% de todos os casos registrados
no mundo, excetuando a África – e no fim do século XX ultrapassava os 600 mil casos por ano. Essa situação levou o Ministério da Saúde a criar o Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária (PIACM), que pela primeira vez concentrava esforços no diagnóstico e tratamento precoces e no fortalecimento dos sistemas de vigilância da doença. O programa vigorou de 2000 a 2002, conseguindo neste intervalo reduzir em 50% a incidência da malária na Amazônia Legal. O número de internações teve queda de 69,2% e o total de mortes em razão da doença caiu 54,7%.

Risco Crescente

A partir de 2001, a incidência de malária tem crescido mais intensamente no Acre, em Rondônia e no Amazonas, e em Roraima e no Amapá também se observa crescimento a nos últimos anos (ver gráfico abaixo). Apenas no Pará, no Maranhão e em Tocantins é que a tendência de decréscimo de 1999 e 2000 se manteve. Em suma, no século XXI observa-se um crescimento da malária na região como um todo, com concentração dos casos na Amazônia ocidental. O exemplo mais alarmante é o do estado do Acre, com aumento de 153% de 2003 para 2004 e de 63% de 2004 para 2005.

O sonho de enriquecimento acalentado pela valorização da borracha, no final do século XIX, levou grande contingente de migrantes do Nordeste à Amazonia ocidental. Em função do seringalismo, e como compensação pela anexação do Acre ao Brasil, o governo prometeu à Bolívia retomar as obras da Ferrovia Madeira-Mamoré, no início do século XX. Para a construção da chamada "Ferrovia do Diabo" foram trazidos mais de 20 mil trabalhadores de diversas partes do mundo e mais de 6 mil deles sucumbiram à malária e a outras doenças tropicais. A empreitada trágica deu origem à lenda de que cada dormente que sustentava os trilhos correspondia a uma vida perdida. Essas duas migrações maciças fizeram com que pessoas até então sem nenhuma exposição ao "inferno verde" entrassem em intenso contato com a floresta.

Os dois períodos coincidiram com as duas primeiras grandes epidemias de malária na Amazônia, segundo o infectologista Erney Camargo. Outra onda desenvolvimentista coincide com o crescimento vertiginoso de 50 para 600 mil casos anuais de malária nas décadas de 1970 e 1980. O chamado "milagre econômico" brasileiro incluiu a construção das rodovias Transamazônica e Cuiabá Santarém, inúmeras hidrelétricas, além de projetos de assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), resultando em inegáveis alterações ambientais e migrações internas. O Plano de Intensifi cação das Ações de Controle da Malária (PIACM), lançado em 2000 pelo Ministério da Saúde como parte da descentralização das ações do Sistema Único de Saúde (SUS), tinha reduzido os mais de 500 mil casos anuais da doença registrados em 1999 para 50% desse valor em 2002.

A iniciativa de sucesso, porém, foi prejudicada pela troca de governos municipais em 2001 e deixou de vigorar em 2003, com a mudança no governo federal. Coincidindo com o aumento de 312% na incidência de malária no Acre nos últimos dois anos, o trânsito ilegal de madeira (e madeireiros) entre o Brasil e o Peru na região acreana do rio Juruá tem crescido e gerado confl itos.

Desde o início do século XXI a Amazônia ocidental está sujeita a uma nova onda de fluxos migratórios e a alterações ambientais sem precedentes, previstos como decorrência do esforço de globalização em curso, com megaprojetos de infra-estrutura. Três usinas hidrelétricas, planejadas para somar 10 mil megawatts à rede nacional, propiciarão 4.000 km de hidrovias na bacia do rio Madeira, aumentando a mobilidade das pessoas, alargando espelhos d’água e alterando o regime hidrológico do maior tributário da bacia Amazônica em termos de sedimentos.

Isso pode ter conseqüências inimagináveis para a saúde pública, uma vez que o mercúrio depositado nos sedimentos do rio Madeira (em parte vindo dos garimpos de ouro) se concentra ao longo da cadeia alimentar, chegando aos peixes e àqueles que os comem, sejam ribeirinhos locais ou consumidores de mercados distantes. Rodovias estão sendo melhoradas para permitir o escoamento da crescente produção de grãos do Centro-Sul brasileiro para mercados promissores do Pacífi co, transformando uma região historicamente isolada em um corredor de passagem de pessoas e produtos entre o Brasil e seus vizinhos andinos.

O trecho final da BR-317, que liga Rio Branco à Bolívia e ao Peru, foi inaugurado em 2002. Pontes sobre as fronteiras com a Bolívia e com o Peru ficaram prontas em 2004 e 2006, respectivamente. Inúmeros estudos têm demonstrado a contribuição da construção de novas estradas ou do asfaltamento das já existentes para o aumento do número de casos e da área de risco de dispersão de doenças transmitidas por vetores, como a malária. Isso se dá uma vez que a quantidade de vetores aumenta com o desmatamento que acompanha as estradas.

Futuro Incerto

A atual esperança de controle da malária em escala mundial se volta ao desenvolvimento de vacinas contra diversos estágios do plasmódio, o que até agora tem se mostrado mais difícil do que se esperava inicialmente. Antevê-se que, quando a vacina for desenvolvida, o alto custo restringirá seu uso à prevenção de contágio de viajantes mais abastados do primeiro mundo. Não há garantia de que a indústria químico-farmacêutica será capaz de diminuir a magnitude da doença (meio bilhão de doentes por ano) nos países em desenvolvimento.

O Brasil precisa acordar para o risco de a malária repetir no século XXI o mesmo fl agelo que ceifou milhares de vidas na Amazônia cem anos atrás. Isso pode ocorrer caso o modelo de desenvolvimento continue baseado na agricultura extensiva e seus decorrentes megaprojetos de infra-estrutura, resultando em mais migrações e desmatamento.

(*) Originalmente publicado na revista Scientific American Brasil, Maio 2006.