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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

08 fevereiro 2006

PECONHA: TRADIÇÃO AMAZÔNICA!

Como o seringueiro consegue subir em uma palmeira com 10-15 m de altura para trazer na mão o cacho de frutos maduros?

No Acre, e em muitas outras áreas da Amazônia, as pessoas que vivem na floresta costumam subir em algumas árvores - especialmente aquelas com tronco liso - usando a peconha. Este "instrumento" rudimentar se constitui de um pedaço de casca flexível e resistente com cerca de 1 m de comprimento que é enrolado nos pés. Este pedaço de casca geralmente é chamado de "envira" pelos seringueiros. A envira é retirada, em sua maioria, das árvores da família Annonaceae (a mesma da graviola). No Acre existem dezenas de espécies de árvores onde se pode tirar envira. Tem a envira-iodo, envira preta, amarela, branca, envira-piaca, etc...

Vejam nas imagens abaixo como um seringueiro sobe em um pé de açai solteiro (Euterpe precatoria) usando a peconha. As imagens foram feitas em 2005 no igarapé São Luiz, afluente do rio Juruá, algumas horas abaixo da cidade de Marechal Thaumaturgo.

1. Preparo da peconha (abaixo): as extremidades da "tira" de envira são amarradas e o "anel" resultante é torcido algumas vezes em sua porção mediana, deixando-se espaço nas extremidades para os pés do escalador. Algumas vezes, quando a envira é forte, ela é apenas colocada em volta dos pés do escalador (veja na foto abaixo a direita). Enrolada ou não, a envira da peconha "engancha" nos nós poucos salientes do tronco da palmeira.














2. Subindo e chegando ao cacho (abaixo): chegando no alto da palmeira o cacho maduro pode ser retirado puxando com a mão ou cortando-se cuidadosamente o seu "talo" com um terçado ou faca.












3. Volta a terra firme (abaixo): cacho maduro pronto para levar para casa e fazer o autêntico açai caseiro.




Apesar de tradicional, o uso da peconha representa um desafio para a maioria dos escaladores. Já vimos e ouvimos pessoas que se acidentaram ao tentar subir em palmeiras usando a peconha. Por esta razão, o Parque Zoobotânico da UFAC tem oferecido regularmente treinamentos para comunidades extrativistas passarem a usar cinto de segurança e garras metálicas.