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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

31 janeiro 2006

DESCRIÇÃO DE NOVAS ESPÉCIES BIOLÓGICAS EM REVISTAS CIENTÍFICAS COM COPYRIGHT:

PODE SER CONSIDERADO BIOPIRATARIA?

Sim, na opinião do pesquisador americano Donat Agosti, do Museu Americano de História Natural. O pesquisador, em carta enviada à revista Científica NATURE, diz que a publicação de descrição de novas espécies em revistas científicas com direitos de copyright é a mesma coisa que biopirataria - a exploração injusta de recursos biológicos de outros países.

O pesquisador propõe que as descrições de novas espécies, incluindo sequências de genes, devem ser feitas de forma que fiquem disponíveis gratuitamente para todos os interessados. Ele sugere que os comitês internacionais de taxonomia deveriam tornar isso uma condição obrigatória quando aceitarem novos nomes de espécies.

A Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU requer que todos os seus signatários troquem informações sobre a biodiversidade, dividam o benefício de sua exploração e monitorem o seu status. Apesar disso, pesquisadores em países em desenvolvimento - onde a maior parte da biodiversidade é encontrada - não podem acessar as informações sobre as espécies de seus próprios países quando as mesmas são publicadas em revistas científicas distribuídas unicamente por meio de custosas assinaturas nos países desenvolvidos.

Para resolver esse problema no Brasil, aA CAPES, um órgão do Ministério da Educação do Brasil, assina e disponibiliza o conteúdo 9.530 revistas científicas com textos completos (no portal de periódicos CAPES) para os profressores, pesquisadores e estudantes do sistema de ensino superior do país. Isso foi feito porque a maioria das universidade públicas e privadas brasileiras não dispõem de recursos financeiros para assinar continuamente essas revistas porque o custo da maioria delas é proibitivo.

Para ilustrar o problema apresentamos abaixo o preço da assinatura anual de algumas revistas científicas internacionais importantes:

Nature (Semanal, Ciência em geral) - US$ 199.00
Science (Semanal, Ciência em geral) - US$ 139.00
Brittonia (Trimestral, Taxonomia de plantas) - US$ 90-123.00
Cell (Quinzenal, Biologia Molecular) - US$ 259.00

29 janeiro 2006

PRODUTOS ACREANOS NO MERCADO INTERNACIONAL!


Acre Backpack by Treetap

Welcome to Vegan Essentials! Choose compassion over cruelty - Go Vegan!

Made in Brazil with sustainable natural rainforest rubber, this unique backpack is an eco-friendly alternative to leather. Durable adjustable canvas straps can be quickly altered in length or removed if desired, and bag has a large zippered front entry to access the interior. Slim profile keeps the bag tight against your back without being overly loose or bulky. Bag measures 12.2"Lx15"H. Available with green, brown or mustard yellow canvas trim. $52.95 each.

O anúncio acima é da loja Vegan Essentials que revende as bolsas marca ACRE produzidas pela empresa brasileira Treetap. Cada bolsa está sendo vendida por cerca de R$ 120 + custo de envio. Estimamos, com base no tamanho de cada bolsa (30.5cm de comprimento x 37.5cm altura, excluindo a profundidade), que cada bolsa use um pedaço do conhecido couro vegetal medindo cerca de 70cm x 80cm, ou seja, menos de 1 m quadrado. Alguem sabe por quanto os extrativistas ou produtores de couro vegetal daqui vendem o metro quadrado do couro vegetal para a Treetap?

Outra curiosidade: será que o nome ACRE, que é apresentado como marca de bolsa da Treetap no anúncio acima, foi registrado nos EUA?

O lema da empresa Vegan Essentials, baseada em Milwaukee, Wisconsin, EUA, é "Prefira a compaixão no lugar da crueldade!"

27 janeiro 2006

QUAL O FUTURO DA COBERTURA VEGETAL DE RONDÔNIA?

SE DEPENDER DOS GOVERNANTES E DA MAIORIA DOS PRODUTORES RURAIS, ELA SÓ TEM UM DESTINO: DESTRUIÇÃO TOTAL!

Vejam o mapa ao lado e observem com cuidado que as áreas em laranja e verde (dois tons) são áreas de proteção ambiental. Elas representam 45% do território de Rondônia. Fora destas áreas, tudo que está em lilás são áreas destruídas. As poucas manchas brancas fora das áreas de proteção ambiental são as florestas ou áreas não protegidas que escaparam da sanha destruidora dos rondonienses e migrantes que vieram "para ajudar a desenvolver o Estado"!

Se você se sentiu aliviado em ver que 45% da área daquele Estado está protegida, que não será destruída porque são áreas de proteção ambiental, recomendo ler o excelente artigo "O Avanço do Desmatamento sobre as Áreas Protegidas em Rondônia" dos pesquisadores do IMAZON Beatriz Ribeiro, Adalberto Veríssimo e Kátia Pereira. A figura acima foi tirada do referido artigo e é, para mim, chocante!

Neste artigo você vai saber que até 2004 os que "detestam" floresta em pé em Rondônia já desmataram cerca de 6,3% do território das Áreas Protegidas, enquanto a média para a Amazônia é de apenas 1,7%. Além disso, dez reservas já haviam perdido mais de 20% da floresta original e a taxa de desmatamento tem aumentado nessas áreas nos últimos anos.

Segundo o artigo, as áreas protegidas em Rondônia totalizam 106.617 km2. No Estado existem 84 Áreas Protegidas, das quais 20 são Terras Indígenas, 15 são Unidades de Conservação de Proteção Integral e 49 são Unidades de Conservação de Uso Sustentável. No caso das Unidades de Conservação, a grande maioria (52) é administrada pelo governo estadual, enquanto apenas 12 são gerenciadas pelo governo federal (Figura 1).

Das 84 Áreas Protegidas de Rondônia, a maioria (51) apresenta pouco desmatamento (inferior a 5% da área); enquanto em 21 áreas, o desmatamento fica entre 5% e 20%. No restante (10), o desmatamento já supera 20%.

Áreas Protegidas mais Desmatadas em Rondônia

As dez Áreas Protegidas mais críticas de Rondônia (Tabela 1) são Unidades de Conservação estaduais, das quais oito são de uso sustentável e duas de proteção integral. Nessas Unidades, o desmatamento variou de 23% a 68%. O Parque Estadual de Candeias, nas proximidades de Porto Velho, é a Unidade mais desmatada (68%, ou 58 km2 desmatados). Em seguida, aparece a Floresta Estadual de Rendimento Sustentado (Florsu) do Rio São Domingos (62%, ou 1.803 km2) e a Florsu do Rio Roosevelt (52%, ou 150 km2).

A taxa anual de desmatamento de algumas dessas áreas também é extremamente alta. Na Florsu do Rio São Domingos, por exemplo, a taxa anual média de desmatamento nos últimos quatro anos foi de 5,7%. Se essa taxa for mantida, a área perderá toda a sua cobertura florestal em oito anos.

Lição para o Acre: não quero ser você amanhã!

Embora seja uma situação trágica, o que está acontecendo em Rondônia é um laboratório, uma verdadeira aula prática do que ocorreria no Acre se o Estado não tivesse tomado as medidas legais para deter o avanço do desmatamento. Além disso, Rondônia funciona como um marco para aqueles que defendem políticas de desenvolvimento sustentável para o Acre.

O argumento "você viu o que aconteceu com Rondônia?" vai ser cada vez mais justificado no futuro se nada de mais sério for feito para impedir a destruição ambiental daquele Estado. E parece que a coisa não mudará mesmo pois a impressão que fica é que os políticos e empresários de lá estão todos unidos - e são cúmplices - neste crime ambiental. O povo que elege os políticos também tem parcela de culpa. Fica no ar a pergunta: o que eles acham que vão ganhar fazendo isso?

Referência:
O Avanço do Desmatamento sobre as Áreas Protegidas em Rondônia, por Beatriz Ribeiro, Adalberto Veríssimo e Kátia Pereira (IMAZON).

26 janeiro 2006

AS QUEIMADAS NO ACRE EM 2005

Aos leitores do blog que estão acompanhando as discussões sobre as queimadas que ocorreram no Acre em 2005, informamos que na página do forum de discussão do grupo MAP-GTP QUEIMADAS foi publicado o primeiro relatório consolidado com resultados do desastre. De autoria de Irving Foster Brown, Sumaia Saldanha de Vasconcelos, Mônica Julissa De Los Rios Maldonado e Nara Vidal Pantoja, todos pesquisadores do SETEM-PZ-UFAC, o relatório aborda especificamente os seguintes tópicos:

- Onde e quando as queimadas acontecem no Acre;
- Estimativas preliminares das áreas afetadas pelas queimadas no leste do Acre em 2005;
- Banco de Dados de Queimadas - 2005.

Clique aqui para ir para a página do forum GTP QUEIMADAS.
Clique aqui para acessar o relatório (você tem que se registrar para acessar o texto do relatório).

ABELHAS AFRICANIZADAS: FRACASSO NA "COLONIZAÇÃO" DA AMAZÔNIA

- PESQUISADORES DO INPA SUGEREM QUE APICULTURA EM LARGA ESCALA NA REGIÃO É TEORICAMENTE INVIÁVEL

- FLORESTA NATIVA NÃO OFERECE AMBIENTE IDEAL PARA DESENVOLVIMENTO DE ABELHAS AFRICANIZADAS ALTAMENTE PRODUTIVAS

- IMPACTO DAS ABELHAS AFRICANIZADAS NAS ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO É MÍNIMO

Os pesquisadores do INPA Marcio Luiz de Oliveira e Jorge Alcântra Cunha publicaram no último número da revista científica ACTA AMAZÔNICA um interessante trabalho que aborda a presença de abelhas africanizadas na região Amazônica. Como muitos devem saber, a introdução acidental de abelhas africanas e seu posterior cruzamento com abelhas européias especializadas na produção de mel foi o grande marco que impulsionou uma verdadeira "revolução" na produção de mel por todo o Brasil, exceto a Amazônia.

No Acre, a produção de mel de abelhas é insignificante. Nos supermercados se pode comprar mel importado da Argentina ou do Piauí. Mel acreano autêntico se compra no mercado público, como se fazia 30 anos atrás: mel de abelhas nativas (principalmente jandaíra) que um ou outro agricultor trás para vender nos finais de semana. Mesmo assim, o consumidor consciente deveria se recusar a comprar esse mel pois a sua retirada resultou na destruição de uma colméia de abelha nativa. É uma produção não sustentável!

No trabalho dos pesquisadores do INPA, se tentou entender o "fracasso" das abelhas afrincanizadas na região. Para isso eles testaram a capacidade das abelhas africanizadas penetrar florestas contínuas ou fragmentos florestais e, quando isso ocorria, que distância no interior da floresta elas seriam capazes de atingir.

A introdução das abelhas africanas no Brasil

As abelhas africanas nativas possuem ampla distribuição geográfica, ocupando todo o território da África compreendido entre o Sahara e o Kalahari (Kerr, 1992). Abelhas africanas da espécie Apis mellifera scutellata foram introduzidas no Brasil em 1956. Cerca de um ano depois, 26 enxames com suas respectivas rainhas, escaparam e cruzaram com as demais subespécies de abelhas melíferas européias aqui introduzidas no século XIX: a italiana Apis mellifera ligustica, a alemã Apis mellifera mellifera e a austríaca Apis mellifera carnica. Com isso surgiram populações polí-hibridas denominadas africanizadas, com predominância de características das abelhas africanas, tais como a grande capacidade de enxamear e a rusticidade (Kerr, 1967).

Adaptação ambiental e rusticidade: chave para o sucesso das abelhas africanizadas e para a revolução na produção nacional de mel

A alta capacidade de defesa, de adaptação a ambientes inóspitos e a capacidade de reprodução com ciclo de vida mais curto que as demais subespécies aqui existentes, são características das africanizadas que muito se assemelham às das abelhas africanas nativas. Tais características permitem a ambas uma rápida ampliação da biomassa e significativo aumento populacional (Gonçalves, 1994). A conjunção de todos esses fatores contribuiu para que as abelhas africanizadas atualmente ocupem quase todo continente americano, do paralelo 33 ao sul da Argentina até o sudeste de Nevada, Estados Unidos, percorrendo cerca de 110 Km/ano (Gonçalves, 2001; Krebs, 2001).

Se por um lado, antes da introdução das africanas, a produção brasileira de mel oscilava entre 3 a 5 mil toneladas/ano, algumas décadas depois o país passou a produzir em torno de 40 mil toneladas/ano (Gonçalves, 1994). Por outro, ainda se discute os prováveis impactos na competição com as espécies de abelhas nativas, sobre as relações entre polinizadores e plantas nos ambientes naturais e sobre o sucesso reprodutivo das plantas nativas (Silveira et al., 2002).

Ausência em áreas de florestas não alteradas da Amazônia: razão para a pesquisa

Na Amazônia, a despeito da exuberância e da grande extensão territorial da floresta, as abelhas africanizadas dificilmente são vistas ou coletadas no interior de florestas densas (M.L. Oliveira, Obs. Pess.; Silva, 2005). Diante dessa observação, os pesquisadores espalharam diversas iscas no interior de fragmentos de florestas e de florestas contínuas na Amazônia central, para testar se operárias de abelhas africanizadas seriam capazes de penetrar nos mesmos.

Resultados: ausência de africanizadas no interior da floresta

O estudo de Oliveira e Cunha observou que nenhuma operária de abelhas africanizadas visitou qualquer tipo de isca nos fragmentos ou na mata contínua, somente nas áreas desmatadas. Os motivos das abelhas africanizadas não terem visitado nenhum tipo de iscas dentro da floresta contínua e nem mesmo dentro dos fragmentos, ainda não estão claros, apesar de terem sido utilizadas iscas que são muito atrativas. Algumas hipóteses são sugeridas:

a) Parece que existe uma baixa densidade populacional de abelhas africanizadas na região amazônica;

b) É provável que em sua migração rumo ao norte do continente, as abelhas africanizadas, por não encontrarem condições favoráveis na Amazônia central, a contornaram através de rios, estradas e áreas abertas disponíveis;

c) Nos trópicos úmidos as abelhas melíferas européias geralmente fracassam na produção de excedentes de mel, pois suas colônias são debilitadas por fungos, doenças microbianas, ataques de formigas, abelhas e vespas ou destruídas por vertebrados predadores de ninhos. Este parece ser o caso das africanizadas também;

d) Em condições de alta pluviosidade como as existentes em grande parte da Amazônia, o aporte de néctar poderá ser menor que o consumo, isso porque as operárias não costumam sair da colméia durante as chuvas e, após as mesmas, só encontram flores lavadas. Por conta disso, os estoques de alimentos diminuem e a rainha também diminui ou pára a postura, sendo que a presença de crias é um dos fatores que evitam que abandonem o ninho. Por outro lado, aumentam as dificuldades para se alimentar as crias, ficando estas mal nutridas e sujeitas a doenças, favorecendo, por exemplo, o surgimento da podridão da cria européia;

e) É possível que por obterem os recursos necessários de modo mais fácil em ambientes abertos, as operárias não penetrem nas florestas, onde a livre circulação é dificultada e onde teriam que percorrer extensas áreas para encontrar os recursos que precisam. Em estudo recente realizado em Roraima, Silva (2005) verificou que abelhas africanizadas, italianas e cárnicas forrageiam sobretudo em ervas(43%) mais comuns em áreas abertas;

f) Outra facilidade encontrada pelas abelhas africanizadas nas áreas desmatadas é que o forrageio pode ser feito nos estratos mais baixos, onde as plantas invasoras e pioneiras atingem algo em torno de 15 m (Nee, 1995), enquanto nas florestas as copas das árvores situam-se a 30-37m em média (Bierregaard & Lovejoy, 1988);

Impacto das africanizadas nas abelhas nativas da Amazônia (abelhas sem ferrão): parece mínimo pois uma prefere áreas abertas e a outra as florestas fechadas

O estudo de Oliveira e Cunha corroboram os de Dick (2001), obtidos nas mesmas áreas. Este último autor constatou que abelhas africanizadas foram praticamente os polinizadores exclusivos dos indivíduos da árvore Dinizia excelsa (Fabaceae) localizados nas capoeiras, mas jamais foram vistas visitando os indivíduos localizados nas florestas contínuas.

Este dado indica que assim como as africanizadas herdaram a maior parte dos hábitos de nidificação, reprodução, enxameamento e características corporais das africanas, também podem ter herdado preferência por locais de vegetação adulterada, ou mais aberta como as savanas da África.

No que toca a competição direta entre as africanizadas e as nativas da Amazônia Roubik (1978, 1983) não presenciou nenhum efeito significativo das abelhas africanizadas sobre as colônias de abelhas sem ferrão (Apidae: Meliponini) em uma zona de transição de floresta-savana na Guiana Francesa. Entretanto, notou que em altas densidades de africanizadas, ocorre uma redução do número de abelhas sem ferrão (Meliponinae). Essa interferência, segundo o autor, deve ser casual ou provocada por algum tipo de interação química.

Porém, Roubik (1980) sugere que, por conta da capacidade de comunicar a distância e a posição da fonte de alimento, maior tamanho corporal e formação de colônias mais populosas, as africanizadas são superiores, na competição, às abelhas nativas.

Impactos negativos das africanizadas são mais evidentes nas plantas

Os impactos negativos parecem ser mais comuns em formações vegetativas mais abertas, onde as abelhas africanizadas, pelo visto, são mais comuns. Por exemplo, Roubik (1996b) verificou que Apis mellifera é responsável por 100% das visitas em dormideira (Mimosa pudica, Mimosaceae) em áreas de floresta levemente perturbadas na Guiana Francesa, porém, em florestas contínuas essas visitas foram mais variáveis.

Também no Brasil há indícios de que, se existem impactos negativos, eles são mais comuns em formações vegetativas mais abertas. Em campos rupestres, por exemplo, Clusia arrudae (Clusiaceae) é polinizada quase que exclusivamente por abelhas Eufriesea nigrohirta (Friese, 1899). As visitas de abelhas africanizadas causaram diminuição na produção de sementes dessa planta, pois visitam intensamente as flores masculinas e raramente as femininas (Carmo & Franceschinele, 2000). Também em Vellozia leptopetala e V. epidendroides (Velloziaceae), as africanizadas promoveram efeitos negativos na polinização, diminuindo o número de sementes e afugentando outros visitantes (Jacobi, 2002).

Apesar da floresta exuberante e rica em floradas, apicultura em grande escala na região parece ser inviável

Os resultados obtidos na pesquisa comprometem, segundo os autores, a sustentabilidade e, por conseguinte, a viabilidade econômica de uma apicultura em grande escala na região amazônica, sobretudo nas áreas mais densamente vegetadas, a despeito de sua imensidão territorial e riqueza florestal.

Durante muito tempo se pensou que diante de uma floresta tão rica, as abelhas africanizadas obteriam recursos em tão grande quantidade e qualidade que tornariam a apicultura, nessa região, mais rentável que nas demais.

Se o pleno desenvolvimento da apicultura requer grandes áreas abertas para as abelhas forragearem, uma alternativa para a região amazônica seria a utilização das diversas áreas degradadas existentes, como as que outrora foram destinadas às pastagens, até como tentativa de acelerar a recuperação dessas áreas.

O fato de nenhuma operária africanizada ter sido vista visitando as iscas na floresta contínua ou mesmo nos fragmentos de floresta, ocorrendo visitas somente nas áreas desmatadas e capoeiras próximas, indica a inexistência de competição por recursos com as abelhas nativas no interior da floresta amazônica. Também indica que uma apicultura em grande escala na região seria inviável, uma vez que a floresta não é sequer visitada por essas abelhas.

Leia o artigo completo clicando aqui:
Referência: Abelhas africanizadas Apis mellifera scutellata Lepeletier, 1836 (Hymenoptera: Apidae: Apinae) exploram recursos na floresta amazônica?

24 janeiro 2006

SOBRE SELOS E MANIAS DE COLEÇÃO

POR QUE O SELO DO ESTADO INDEPENDENTE DO ACRE É TÃO VALIOSO?

FINALMENTE PUDE ENTENDER UM POUCO MAIS SOBRE ESSE ASSUNTO TÃO "NEBULOSO" PARA MIM


Quando era adolescente, em meados da década de 70, sempre planejei, mas nunca concretizei, a formação de uma coleção de selos. Aliás, naquela época se colecionava de tudo. Eu lembro que junto com meu primo José Alcimar (o "mareca"), que está na SEFAZ e chegou a ser Secretário da Fazenda por algum tempo, colecionava...carteiras de cigarros vazias: Hollywood, Charm, Hilton, Arizona, Minister, e tantos outros...os mais raros eram o L&M e o Marlboro, que vinham de Cobija. Os melhores lugares para "juntar" as carteiras eram por trás do Palácio das Secretarias (que ironia em Alcimar?), nas cercanias da cabeceira da ponte de concreto e a UFAC-Centro.

Bom o tempo passou e restaram apenas boas lembranças daquela época de grande ebulição adolescente e manias de colecionar coisas. Mas uma coisa ainda me intrigava: porque o selo do Estado Independente do Acre era (é) tão valioso?

Agora, nos tempos da internet, a dúvida começa a se dissipar. Leiam abaixo parte do artigo de Rubem Porto Jr. sobre o famoso selo Acreano:

"...Os governos do estado do Amazonas e do Brasil incentivaram e forneceram apoio para o estabelecimento de uma revolta. Em 1º de maio de 1899 uma junta revolucionária liderada pelo cearense José de Carvalho expulsou os bolivianos e passou a administrar o território. Teve curta existência. Porém, em 14 de julho do mesmo ano, as tropas do aventureiro espanhol Luíz Galvez tomaram Puerto Alonso.

Não foi bem da maneira que conta Márcio Souza no divertido Galvez, Imperador do Acre. O espanhol proclamou uma república independente e, para forçar o reconhecimento internacional e poder passar a cobrar taxas de exportação da borracha, promoveu um boicote da venda deste produto. No dia seguinte, pelo decreto no 1 de 15 de julho de 1899, Luiz Galvez Rodrigues de Arias, chefe do governo provisório, proclama a independência do Estado do Acre e cria o Estado Independente do Acre.

Pelo decreto n0 15, Galvez organiza os correios e, encomenda à Casa Impressora Monkes, de Buenos Aires, a confecção de diversos selos com valores diferentes. Os selos foram impressos em folhas de 50 exemplares e enviados para o Acre, via Manaus. Entretanto, na última etapa da viagem, uma canhoneira brasileira apreendeu o barco e todas as mercadorias que ele transportava, incluindo os selos.

É sabido que todos os selos foram destruídos, porém, são conhecidos alguns exemplares remanescentes de uma única folha que havia sido enviada como amostra. Existe um único múltiplo conhecido, tratando-se de um par horizontal. Tanta ousadia, por parte de Galvez, não poderia durar muito.

Contrariando os interesses dos bolivianos, dos seringalistas, dos atravessadores de Manaus e do governo do Amazonas, a república independente foi dissolvida. Mas em 1903, o gaúcho Plácido de Castro organizou um exército de seringueiros, desta vez com uma promessa básica: distribuir terra. No dia 24 de janeiro os bolivianos são vencidos e Puerto Alonso tornou-se Porto Acre. O objetivo era a anexação ao Brasil, mas o Acre permaneceu num primeiro momento como território independente e o Brasil o reconheceu como região em conflito.

O Exército brasileiro controlava parte do território e Plácido de Castro controlava sua porção mais ocidental. Nesse mesmo ano porém o Exército desarmou Plácido de Castro. Como afirma o historiador Antonio Alves, presidente da Fundação Elias Mansour (que faz as vezes de secretaria de cultura do estado): “Um estado que tinha o segundo produto de exportação, com um líder carismático, um exército autônomo, um povo em armas, era muito perigoso para o Brasil”.

Clique aqui para ler o artigo de Rubem Porto Jr. na íntegra:
"Acre: Boliviano, Independente e Brasileiro Aspectos Filatélicos do Estado Independente do Acre".

23 janeiro 2006

ONGs MULTINACIONAIS: CUMPREM REALMENTE SEU PAPEL?

COMO AS ONGs "MULTINACIONAIS" ESTÃO MONOPOLIZANDO O ACESSO AOS FUNDOS INTERNACIONAIS PARA O ESTUDO E A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA EM DETRIMENTO DE ONGs NACIONAIS

WWF (Fundo Mundial para a Natureza), TNC (The Nature Conservancy) e CI (Conservation International). Estas são as organizações "multinacionais" no mundo das ONGs ambientais.

São os "mamutes" que de forma competente estão monopolizando o acesso aos recursos disponíveis para a realização de atividades relacionadas à conservação e manejo de recursos ambientais por todo o mundo. Quem tem perdido com isso? As ONGs nacionais, que sem a capacidade institucional e de lobby junto aos doadores, estão, a cada dia que passa, se tornando meros executores de ações planejadas e executadas pelas ONGs "multinacionais" acima.

Os leitores do blog talvez não tenham tido acesso a textos que explorem esse aspecto da "briga" que se trava nos bastidores de Washington, Londres, Nova Yorque, Tókio e outros grandes centros mundiais onde grandes doadores decidem o destino de seus recursos. É que ele são documentos raros.

Entretanto, Marc Jean Dourojeanni, Presidente da Fundación Peruana para la Conservación de la Naturaleza (ProNaturaleza), baseada em Lima, Perú, apresentou uma palestra esclarecedora sobre este assunto durante o Seminário MAP “Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na América Sul-Occidental: Rumo a modelos de gestão participativa”, realizado em Cobija, Pando (Bolívia), entre 30 de setembro e 02 de outubro de 2005.

Neste documento é possível ter uma clara idéia da evolução das grandes ONGs "multinacionais" e como elas estão gradativamente mudando o cenário das relações instituicionais nos paises onde atuam. De meras repassadoras de recursos arrecadados junto a seus sócios, estas organizações estão se transformando em gigantescas operações que agressivamente arrecadam e executam ações diretas nos paises onde atuam, inclusive o Brasil. Muitas ONGs locais, sem outras alternativas de financiamento, terminam aceitando realizar ações que originalmente fazem parte dos programas institucionais destas "multinacionais". No Acre, isso tem sido frequente com a SOS Amazônia, PESACRE e CTA. Um claro sintoma dessa tendência tem sido o rápido aumento do quadro local da WWF-Acre.

Para se evitar "conflitos", estas ONGs multinacionais dividiram os países e regiões em zonas específicias e dificilmente existe sobreposição de ações. Explicando: WWF e CI, por exemplo, não competem mortalmente por recursos para a realização de atividades ou programas específicos no Acre. Uma ou outra realiza a ação. Da mesma forma, a CI do Peru não pode executar ações no Brasil e vice-versa. Durante a reunião MAP realizada em Cobija, Bolívia, em 2004, foi interessante ver como foi complicado obter o apoio de algumas destas multinancionais para a realização do evento: é que o mesmo é trinacional e, teoricamente, não seria possível um evento desse tipo ser apoiado apenas por um dos escritórios destas ONGs localizado em um dos países realizadores.

Vale ressaltar que algumas organizações locais e regionais já começaram a reagir ao "rolo compressor" das ONGs multinacionais. Recentemente o MAP recusou cerca de U$ 1 milhão para a execução do programa “Conservación y Desarrollo Sostenible en la Región MAP”, proposto, entre outros, pela WWF, CI e TNC. Clique aqui para ler a a declaração do MAP Indígena relativo a essa recusa de financiamento (ao abrir a página você vai precisar fazer o download do documento).

Como aperitivo, apresentamos abaixo um breve resumo do artigo de Marc Jean Dourojeanni:

- Se analiza el cambio de actitud progresivo de las principales ONGs internacionales ambientales que permite calificarlas ahora de “ONGs transnacionales”: (1) su incorporación a nivel nacional, (2) la ejecución directa de programas y proyectos y, (3) su intermediación en la recaudación de fondos en el exterior.

- Se discuten sus consecuencias, todas negativas para el movimiento ambiental de América Latina: (1) competición desigual en la recaudación de fondos internacionales y locales; (2) erosión del dinero disponible para las operaciones debido a la intermediación estéril, (3) debilitamiento de las ONGs ambientales nacionales.

- Se concluye que gran parte del problema es responsabilidad de las propias ONGs nacionales que no han sabido mantener su independencia política y financiera ni negociar de igual a igual con las ONGs internacionales. Se proponen medidas concretas para resolver los problemas identificados.

Clique aqui para acessar a íntegra da palestra de Marc Jean Dourojeanni, que se encontra hospedada na página de Equidade Social do MAP.

20 janeiro 2006

ESTRADA DO PACÍFICO: 5 ANOS DEPOIS

No início desta década Foster Brown, Elsa Mendoza, Sílvia Brilhante e outros que colaboravam com a equipe do SETEM-PZ-UFAC na época, fizeram um levantamento dos possíveis impactos da abertura da estrada do pacífico.

Os dados colhidos resultaram, algum tempo depois, na publicação (2002) de um artigo "Estrada de Rio Branco, Acre, Brasil aos Portos do Pacífico: Como maximizar os benefícios e minimizar os prejuízos para o desenvolvimento sustentável da Amazônia Sul-Ocidental".

Sugiro aos leitores do blog darem uma lida na íntegra do mesmo clicando aqui.

A razão de trazermos a tona algo um pouco antigo foi a surpresa com a "súbita" realização de um seminário - organizado pelo BASA - abordando as oportunidades que a abertura da estrada do pacífico vai oferecer aos empresários acreanos.

A luta, da qual fiz parte, para integrar pesquisadores do Brasil, Bolívia e Peru nos ensinou que o diálogo e a participação efetiva de todos os interessados são a chave para o sucesso da integração. Assim, esperamos que no seminário do BASA seja dado voz ao outro lado, a outra parte interessada: os bolivianos e peruanos. Sem eles, a integração vai ficar restrita a isso: seminários e discussões intermináveis.

Espero também sinceramente que os participantes deste seminário tenham a oportunidade de ler a parte do artigo acima que trara dos "reais desafios que a integração apresenta":

a) Falta de conhecimento sobre os países vizinhos.
Em várias palestras e seminários no Brasil, foi solicitado para a platéia estimar quantas pessoas vivem dentro de um raio de 750 km do Acre, uma distância que não alcança a fronteira entre os Estados de Rondônia e Mato Grosso. O valor mais alto foi de 2 milhões de pessoas.

Na verdade, a população desta área é 30 milhões, quase toda a população peruana e uma parte da população boliviana. No entanto, a população brasileira desconhece esta realidade; nas palavras do Governador do Acre, os acreanos estavam de costas para a Bolívia e o Peru e agora estarão de frente, tendo que conhecer um mundo diferente, como pode ser visto na Figura 3.

b) Armadilhas sociais na fronteira.
Historicamente, o avanço da fronteira na Amazônia tem seguido o padrão de rápida exploração dos recursos naturais, especialmente nos setores madeireiro e mineral, caracteristicamente associados com a melhoria de transporte. Esta facilidade de acesso aos recursos naturais cria uma ‘armadilha social’, ou seja, a decisão individual é racional e vantajosa, mas quando estas decisões são agregadas, os efeitos são danosos para a sociedade (Costanza et al. 1997). Um exemplo clássico é quando indivíduos buscam um recurso ‘livre’ como peixes num lago, eles podem maximizar a sua renda, procurando cada vez mais peixe. Porém, esta procura cria uma armadilha e pode acabar com o estoque de peixe no lago, empobrecendo todos a longo prazo.

Na busca de recursos naturais, como a madeira e a terra para a agropecuária, esta armadilha social já se manifesta na Amazônia Sul-Ocidental. No município de Assis Brasil, o desflorestamento ao redor da cidade resultou na falta de madeira para construção de casas no centro urbano, e esta necessidade é suprida com madeira vinda ilegalmente do Peru.

A pastagem como um tipo de uso extensivo da terra pode modificar o ciclo hidrológico, reduzindo a penetração de água no subsolo e favorecendo o escoamento rápido. Por estas razões, a proteção de florestas nas bacias de drenagem que fornecem água é considerada uma prioridade para muitas cidades. O fornecimento d’água para os centros urbanos dos municípios de Epitaciolândia e Brasiléia na fronteira com a Bolívia é efetuado a partir da captação do Igarapé Encrenca, cuja bacia de drenagem cobre cerca de 6.000 hectares. Porém, o desflorestamento para as atividades agrícola e pecuária de proprietários individuais na bacia do Igarapé chegou até 70% da bacia, em 1999. Atualmente, a crescente demanda destes centros, acoplada com a redução do fluxo do igarapé na época seca, podem comprometer o desenvolvimento destes centros urbanos.

Esta preocupação levou a Prefeitura de Epitaciolândia a sugerir o reflorestamento da bacia deste Igarapé; no entanto, o custo deste reflorestamento é muito maior do que teria sido a conservação da floresta original. Decisões tomadas individualmente produziram, neste caso, um prejuízo geral para sociedade local.

c) Investimentos para a competitividade econômica avançam mais rápido que os investimentos sociais e que o planejamento governamental.
O processo de globalização tem criado pressões cada vez mais fortes, levando os empreendedores a tomar medidas para diminuir os custos de produção e transporte, para obter preços competitivos. Estradas ligando o centro oeste do Brasil, um forte centro de produção de grãos, com portos no Oceano Pacífico, têm como objetivo maior, facilitar o acesso aos mercados asiáticos, como foi discutido neste encontro. Como o foco se concentra no componente de infra-estrutura, os prejuízos sociais e ambientais nas regiões por onde passam estas rodovias não são previstos.

As rodovias também representam oportunidades para maximizar benefícios, desde que o uso dos recursos naturais e sociais seja direcionado para este fim. O Município de Assis Brasil, junto com o Comitê da Fronteira (Assis Brasil-Iñapari), realizou em julho de 2001, uma reunião de planejamento estratégico para a região fronteiriça, já antevendo as mudanças na dinâmica de ocupação que a construção da estrada certamente trará. A reunião lá promovida não recebeu apoio técnico dos governos federal e estadual, limitando portanto a eficácia deste planejamento.

d) Mudanças climáticas previstas para a região.
Modelos de circulação atmosférica têm mostrado que a Amazônia poderá sofrer mudanças significativas nas próximas décadas em termos de temperatura, especialmente na época seca (junho-julho-agosto) com um aumento de 2 a 5 ºCelsius para a Amazônia Sul-Ocidental, como pode ser visto na Figura 4 (Hulme e Sheard 1999). A produtividade das terras agrícolas, pastagens, florestas, e a disponibilidade de água potável sufrerão impactos extremos, mas geralmente gradativos.

Uma estória popular pode ilustrar o perigo das mudanças gradativas: se um sapo pular dentro da água fervente, vai pular fora desta água (ou pelo menos tentar). Um sapo numa panela com água que esquenta gradativamente não se sente em perigo e morre cozido.

Existem indicações que as florestas da Amazônia Sul-Ocidental estão se tornando susceptíveis ao fogo (1) durante eventos climáticos como El Niño (Mendoza, dados não publicados). A alteração climática prevista para as próximas décadas aumentará a vulnerabilidade da sociedade a perturbações severas na Amazônia Sul-Ocidental, como o espalhamento de incêndios florestais (Nepstad et al. 2001), e precisa ser incorporada no planejamento regional. Dados iniciais sugerem que o aquecimento já está acontecendo na região (Fonseca Duarte, dados não publicados).

(1) Nota do blog: relendo o artigo agora a gente observa que já em 2002 os pesquisadores do grupo MAP alertavam para o fato das florestas da região estarem se tornando suscetíveis ao fogo - coisa que se materializou 3 anos depois.

17 janeiro 2006

ECOSSISTEMAS EMERGENTES!

No campo econômico falamos de "economias emergentes", na política internacional falamos de "países emergentes" e na atual situação de destruição e alteração grave do meio ambiente temos que incorporar um novo termo "ecossistemas emergentes". São resultantes de mudanças ambientais promovidas pela ação humana e que, assim como os animais, se adaptam, sobrevivem e parece que vão se perpetuar.

No Acre, temos vários exemplos...alguem pode pensar em algum antes de seguir adiante na leitura deste texto?

Vejam trechos de algumas mensagens que temos trocado recentemente. Creio que meus amigos Foster Brown, Alceu Ranzi e Paulo Wadt são, ao mesmo tempo, realistas, visionários, proféticos e vanguardistas. Mas acima de tudo, apontam o que vem por ai.

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Alceu Ranzi:

- Ecossistemas e biodiversidade: Ocorrência de quero-quero (Vanellus chillensis) e da coruja-buraqueira (Speotyto cunicularia) são novos no Acre e acompanham o avanço das pastagens.

- Em breve poderão surgir nos campos "africanos" do Acre, junto com os bois Indianos, a ema (Rhea americana), alguns tatus e perdiz (Nothura maculosa).

Os campos antrópicos do Acre poderão formar um corredor com os lhanos de Mojos (Beni/Bolivia) e receber parte da fauna daquela parte da America do Sul.

Também poderá vir a sariema (Cariama cristata), para caçar as cascavéis...que como sabemos não é bicho do mato.

Um abraço,

Alceu Ranzi

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Foster Brown:

- No Acre, tem pelo menos tres ecossistemas emergentes:

1. Pasto com gramas africanas: >50.000 ha/ano aumento.

2. Florestas danificadas pelas queimadas: aumento > 250.000 ha em tres meses (agosto, setembro outubro) em 2005.

3. Ecossistemas fluviais com mata ciliar ausente e açudes frequentes. Temos ja > 10.000 km de mata ciliar ausente no leste do Acre. Para uma taxa de 50.000 ha (500 km2)/ano de desmatamento , estima-se um aumento de >400 km de ecossistemas fluviais sem mata ciliar/ano.

Acoplado com estas transformacoes, se encontra mudancas climaticas (reducao de chuvas e aumenta da temperatura) e efeitos de poluicao atmosferica (ozonio elevado, reducao de energia solar, aerossois > 450 ug/m3) que estao afetando processos biogeoquimicos dentro destes e outros ecossistemas.

Estas mudancas, como Alceu notou, vao favorecer algumas especies e prejudicar outras. Na Regiao MAP esta transformando nao so' os ecossistemas, mas tambem funcionamento dentro de ecossistemas existentes.

Abracos,

Foster

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Paulo Wadt:

É muito interessante esta questão e recentemente estava meditando sobre isto e o próprio curso de mestrado em ecologia. Algumas vezes estamos estudando apenas a ecologia dos sistemas naturais mas, há os sistemas artificiais (agricolas, como graminea + gado) que estão presentes em grande extenção e estão sendo avaliados em grande parte apenas sob a ótica da produção comercial, sem uma abordagem mais holística que poderia ser feita.

Paulo

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Aos leitores, sugiro refletir e passar a olhar estas velhas paisagens de pastagens, rios com margens desmatadas e, mais recentemente, as florestas nativas com subbosque alterado pelo fogo, como "novos ecossistemas". Não vai ser fácil se ver livre deles, talvez nunca vamos nos livrar: alguem já ouviu propostas de transformar pastagens em florestas? Cultural, social e politicamente ela seria inviável na conjuntura das décadas que se aproximam.

Desta forma, não podemos negar a presença e importância deles! Não adianta tapar o sol com a peneira. Nossos livros escolares de biologia vão ter que passar a considerar estes "novos ambientes" na parte que discute os ecossistemas locais. Além de florestas, várzeas, campinas e outros velhos conhecidos, nossos futuros estudantes têm o direito de conhecer estes novos ecossistemas, sua gênese, crescimento e consolidação.

Quem sabe assim fica mais fácil conquistar mentes e corações para reverter o mal que estamos causando ao nosso meio ambiente "original".

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COMENTÁRIOS QUE VALEM SER PUBLICADOS:

Mário disse...
Eu gostaria de ter um esclarecimento: o que o Professor Alceu pretende significar com o termo "recente", quando o consideramos relativamente a anos ou décadas?

Anônimo disse...
"Ecossistema emergente" é realmente um conceito muito apropriado. Vamos ter que nos adaptarmos às mudanças. A nossa sobrevivência está aí. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)

Alceu disse...
Tentando responder a questão formulada pelo Mario:
- Em geociências o termo "Recente" se aplica aos últimos 12 mil anos. Foi quando ocorreu a grande extinção da megafauna característica do Pleistoceno. Considera-se a partim do fim do último Galcial. Assim em geologia, depois do Pleistoceno temos o Recente.
- Historicamente, o recente para o Brasil poderia começar a partir da carta de Pero Vaz de Caminha, pois antes era pré-histórico.
- Ao Acre eu ouso sugerir, que em termos ambientais, o recente tem seu início na década de 1970, com as grandes intervenções antrópicas, quando parte da floresta começou a ser substituída pelas gramíneas.
- Importante notar que em geologia o termo "Recente" não se aplica a séculos ou décadas.

15 janeiro 2006

TROCA DE MENSAGENS SOBRE UM DESASTRE ANUNCIADO

De: Foster Brown-UFAC PZ
Para: Alejandro Fonseca-UFAC DCN
Data: Sat, 14 Jan 2006
Assunto: Falta de chuvas

Oi Alejandro,

Quase todos os dias de janeiro estou andando de bicicleta ao PZ. Para fazer isto, nao deve estar chuvendo. Dei uma olhada nos dados de estacao meterologica (CPTEC.inpe.br) e vi so 2 eventos de 30 mm para um total de 60 mm. Como a estacao esta registrando temperaturas 0 graus C, sei que poderia ter um problema de leitura, mas é consistente com o meu uso de bicicleta.

Vi a interpretacao do CPTEC, mostrando que a anomalia continua no Oceano Atlantico. Estou pensando que vimos este filme antes - 1 ano atras. Voce sabe bem mais do que outros as implicacoes. Qual é a sua opiniao?

Estamos com suspeitos que o valor do INPE para florestas afetadas pelas queimadas - 280.000 ha - seja um sub-estimativa. Mais sobre isto quando tenho mais confianca.

Abracos,
Foster

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De: Alejandro Fonseca-UFAC DCN
Para: Foster Brown-UFAC PZ
Data: Sat, 14 Jan 2006
Assunto: Falta de chuvas

Oi Foster,

Ja escrevi um artigo para o jornal que deve sair terça feira que vem. Efetivamente na metade de janeiro temos entre 10 e 15 % das chuvas do mês. Tanto em Riuo Branco como em Cruzeiro do Sul. Fiz um artigo antes dizendo que nao haberia enchentes em janeiro. O atual artigo aponta que a seca de 2006 pode ser mais severa que a de 2005 e mostra o comportamento do acumulado de chuvas atualmente.

Abraços,
Alejandro

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De: Alejandro Fonseca-UFAC DCN
Para: Foster Brown-UFAC PZ
Data: Sat, 14 Jan 2006
Assunto: Falta de chuvas

Oi Foster,

Com as chuvas de hoje o acumulado subiu para aproximadamente 20 % do que corresponde ao mês de janeiro, quando ja estamos na metade do mês.

Abraços,
Alejandro

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De: Foster Brown-UFAC PZ
Para: Alejandro Fonseca-UFAC DCN
Data: Sat, 15 Jan 2006
Assunto: Falta de chuvas

Oi Alejandro,

Obrigado pelas informacoes. Se os dados da chuva nao foram suficientes para gerar preocupacao + o Oceano Atlantico bem quente, estamos analisando a area de florestas queimadas e cada dia ficou mais triste.

O Yosio Shimabukuro do INPE fez uma analise usando 3 imagens de MODIS e gerou os seguintes valores: 280.000 ha de florestas 'queimadas' e 370.000 ha de areas abertas com cinzas (pastos queimadas, etc.) no Acre. Estou checando os dados dele e acho que o valor de floresta com copa afetada (queimada) é um subestimativa (alguns dias antes, pensava que era um superestimativa). Por exemplo, Yosio estimou cerca de 15.000 ha para florestas afetadas em Acrelandia. Fiz digitalizacao e cheguei a 25.000 ha e sei que ísto é um subestimativa. Anexei algumas imagens do Yosio com vermelho para floresta afetada e amarela para area desflorestada. Creio que as areas amareladas cobrem florestas fragmentadas que queimaram.

Tambem o MODIS nao detectou grandes areas afetadas na floresta entre Rio Branco e Xapuri. Anexei alguns mapas. Por favor, nao distribui ate temos mais checagem.

Estou fazendo cc para Evandro que esta ajudando na organizacao de uma reuniao no fim deste mes (pode ser adiado).
Estou preocupado que estamos caminhando para um outro desastre.

Abracos,
Foster

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NOTA DO BLOG:

Aos leitores informo que todos os dados disponibilizados até o presente indicam que 2006 vai ser um ano "infernal" no tocante a queimadas e fumaça. E tudo ocorrendo em plena época de eleições. Já imaginou a propaganda política explorando o fato das pessoas terem que usar máscaras para sair de casa? Que tal ter que ir votar usando máscaras? Quero ver em que tudo isso vai dar!

O IMAC, a UFAC, o INPA, a EMBRAPA, a SEATER e outros órgãos governamentais e não governamentais estão empenhados, desde o final do ano passado, em organizar um importante seminário que vai discutir o que aconteceu em 2005 e o que se pode fazer para minorar os efeitos do que vai acontecer em 2006. Neste seminário vão ser traçados as linhas principais para enfrentar o desastre que vem pela frente. Entre outras coisas, vão ser formadas e capacitadas brigadas de agricultores para combater os incêndios. Se tudo correr como planejado, o combate ao fogo não vai depender unicamente dos bombeiros...

Outro assunto sério que está sendo tratado com cuidado é o "boato" de que centenas de produtores - aproveitando-se que o fogo do ano passado "limpou" (brocou) mais de 200 mil hectares do subbosque de florestas nativas - plantaram sementes de capim no subbosque destas florestas. Se comenta que estes produtores planejam "queimar acidentalmente" estas áreas de florestas para formar pasto. Tudo sem precisar de autorização do IMAC e IBAMA para a derrubada de florestas. Se isso acontecer, em um ano, o destruição de florestas no Acre vai quadruplicar sem que IBAMA e IMAC possam identificar as respectivas áreas derrubadas e multar os responsáveis. Tudo vai ser culpa dos "incêndios acidentais".

O mais irônico é que parece que alguns dos produtores que hoje estão em busca de anistia ou extensão para o pagamento de empréstimos possuem áreas com florestas afetadas pelo fogo. Durante as discussões que estão sendo travadas para serem levadas ao seminário está tomando corpo a necessidade do IBAMA e IMAC fiscalizarem, em conjunto com o pessoal dos Bancos, quem plantou e quem não plantou capim. Os que plantaram vão ser eliminados de qualquer benefício fiscal ou creditício e deverão ser "marcados" de perto durante o período das queimadas.

Nesta semana serão realizadas várias reuniões para dar andamento aos preparativos do seminário.

13 janeiro 2006

QUANDO E ONDE AS QUEIMADAS OCORRERAM NO ACRE?

PRIMEIROS RESULTADOS DO GTP (GRUPO DE TRABALHO E PESQUISA) SOBRE AS QUEIMADAS DE 2005

A Pesquisadora Sumaia Vasconcelos, do SETEM/Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre, apresentou em 15 de dezembro passado durante o Pré-Seminário de Avaliação dos Danos causados pelas queimadas de 2005 no Acre, um trabalho que sintetiza e coloca de forma bem clara os dados sobre as queimadas que aconteceram no Estado entre 2003 e 2005. A pesquisadora, engenheira agrônoma formada pela UFAC, com mestrado em silvicultura pelo INPA, responde a perguntas diretas e objetivas:

- Onde mais se queima no Acre?
- O que os satélites indicam?
- Qual o período de maior ocorrência de queimadas no Acre?

Algumas das conclusões do estudo indicam que nos últimos 3 anos entre 80 e 90% dos focos de calor no Estado se concentraram no leste do Acre, municípios de Sena Madureira, Bujari, Porto Acre, Rio Branco, Senador Guiomard, Capixaba, Plácido de Castro, Acrelândia, Xapuri, Brasiléia, Epitaciolândia e Assis Brasil.

Em 2005 os campeões de queimadas (número de focos registrados) foram, respectivamente:

- Acrelândia: 1581
- Plácido de Castro: 1380
- Rio Branco: 1358
- Senador Guimard: 1350
- Sena Madureira: 1180

Em 2005 a "temporada" de queimadas no Acre se iniciou em 1° de Julho e se estendeu até o dia 1° de novembro, ou seja, 4 meses. Durante este período aconteceram 6.849 focos de incêndio nestes municípios. Simplificando a aritimética: tivemos cerca de 57 focos por dia. Foi um récorde!

A conclusão do trabalho de Sumaia indica o seguinte:

- Entre 2003 e 2004 houve uma diminuição de 40% no número de focos de calor detectados pelas imagens de satélite;
- Entre 2004 e 2005 houve um aumento absurdo de 200% no número de focos de calor captados pelas imagens de satélite;
- Uma das principais razões foi a seca prolongada que aconteceu em 2005. Apenas para registrar: agosto de 2005 foi o único mês dos últimos 3 anos que não caiu uma gota de água!

Recomendamos aos leitores para visitar a página do forum GTP QUEIMADAS e ler não apenas o trabalho de Sumaia Vasconcelos. Existem outros textos e imagens muito interessantes sobre o grande desastre que ocorreu em 2005 no Acre.

Clique aqui para ir para a página do forum GTP QUEIMADAS.
Clique aqui para acessar diretamente o arquivo da apresentação de Sumaia Vasconcelos (PDF)

11 janeiro 2006

BARATAS, ESSAS INCOMPREENDIDAS!

Elas lideram o ranking dos animais odiados e rejeitados, mas, ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, existem muito mais espécies de baratas benéficas do que maléficas

Quem não os conhece, os teme. Essa é uma verdade universal, que pode justificar - ou mascarar - impressões errôneas e idéias deturpadas sobre uma série de situações envolvendo a presença de alguns animais e o possível contato desses com o universo humano. Assim acontece com um determinado grupo de insetos, considerados pela maioria das pessoas como nojentos, asquerosos e repulsivos: as baratas.

Definitivamente, elas lideram o ranking dos animais mais odiados e rejeitados. No entanto, antes de esmagá-la sob a sola de seu sapato, entenda que a vida na Terra sem as baratas representaria uma perda incalculável de um dos mais importantes “recicladores” de nutrientes das florestas e das grandes vegetações.

Esse é um dos vários benefícios gerados direta e indiretamente por este animal. Assim garante o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), José Albertino Rafael, que há mais de 20 anos realiza estudos sobre insetos da Amazônia e o único a coordenar pesquisas com baratas silvestres no estado.

Diante de uma barata, o medo não é a principal reação desencadeada nas pessoas. O asco é o que realmente leva um cidadão a querer extinguir este animal de sua vida. Esse sentimento fundamenta-se nos próprios hábitos de determinadas espécies de barata, que costumam transitar – e viver - por esgotos, lixos, e, ainda assim, recorrem às residências das pessoas em busca de abrigo e comida fácil, levando consigo um coquetel de microorganismos prejudiciais aos seres humanos.

Felizmente, as espécies que dispõem dessas características representam menos de 1% de todo o contingente de baratas existentes na região amazônica. “As baratas dividem-se em dois grupos: as urbanas e as silvestres. As urbanas correspondem às baratas que vivem em interação com o homem, por três motivos: abrigo, água e alimento”, afirma o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Neliton Silva, que é especialista em estudos com baratas urbanas no Amazonas. Este grupo de baratas pode, de fato, ser considerado uma ameaça à saúde das pessoas. Tanto que o Laboratório de Entomologia Agrícola da UFAM, sede das pesquisas com estes insetos, atende prioritariamente à demanda de empresas, instituições, interessadas em entender a estrutura biológica de cada barata para elaborar, especificamente, uma estratégia de controle e combate a pragas urbanas.

As baratas silvestres encontram-se em número bem maior. Subtraindo o 1% representado pelas urbanas, o montante de 99% corresponde ao universo das silvestres. “O nojo das pessoas pelas baratas é uma conseqüência direta do contato com as baratas de esgotos, que são maiores e, com freqüência visitam as residências. As silvestres não exalam mau cheiro, não mordem, não transmitem doenças”, explica Albertino Rafael, destacando que essa má impressão generalizada das baratas só se extinguirá a partir da construção de uma nova cultura de percepção acerca destes insetos. “É preciso mostrar às crianças, desde cedo, que existem muito mais espécies de baratas benéficas do que maléficas e que a maioria das benéficas está nas florestas”, reitera Albertino Rafael.

Também buscando novas formas de familiarizar a população sobre diversas temáticas científicas, principalmente, em relação ao estudo realizado com as baratas, Neliton Silva pretende lançar em 2006 o livro De Olho na Barata. A publicação apresentará aspectos da relação entre a barata e: o meio ambiente urbano, o folclore popular e até mesmo a gastronomia, explicando que em algumas culturas a barata é uma iguaria culinária. Domésticas têm os hábitos alimentares dos humanos De acordo com Albertino Rafael, as baratas urbanas possuem uma taxa reprodutiva maior do que as silvestres.

A dieta alimentar de ambas é o pivô desta diferença. “Como as nativas habitam as florestas e, desta forma, alimentam-se predominantemente das folhagens em decomposição, seus organismos ficam carentes de algumas substâncias, como a proteína, por exemplo”. A barata urbana, por outro lado, alimenta-se de tudo o que os habitantes da área “urbana” de qualquer cidade consomem. Ou seja, sanduíches, bolachas, carne, frutas etc., garantindo maior reserva de nutrientes que, em muitos casos, são convertidos em uma maior geração de ovos. “Uma única Blatella, espécie conhecida popularmente como barata do armário ou alemanzinha, gera uma ooteca (tipo de cápsula que armazena os ovos) com aproximadamente 42 ovos que mais tarde eclodirão dando origem às baratas”, revela Neliton Silva. Essa alimentação diferenciada, no entanto, não apresenta influência alguma no tamanho das espécies. Algumas podem medir de cinco a 80 milímetros de comprimento, apresentando uma coloração que varia conforme o habitat, já que a camuflagem é a grande ferramenta de defesa das baratas, utilizadas principalmente pelas nativas, que, por abrigarem-se no interior das florestas, são perseguidas por aranhas, pequenos répteis (lagartos), aves, rãs, sapos, entre outros animais.

No ambiente urbano, os principais predadores naturais das baratas são as osgas, conhecidas também como lagartixas, e as aves. Existe também uma espécie de vespa negra que parasita as urbanas. Outra característica que ajuda a diferenciar os dois grupos diz respeito à estrutura social adotada pelas baratas. As silvestres, segundo Albertino Rafael, são essencialmente individuais. Diferentemente da maioria das espécies urbanas que, como mostra o exemplo das baratas de esgoto, primam pela sobrevivência coletiva. Algumas baratas “se adaptaram a viver até em colméias de abelhas, agregando o cheiro característico deste inseto ao seu corpo”, exemplifica Neliton Silva, ressaltando o grau de coletividade das baratas urbanas.

Inpa estuda espécie que emite luz

Atualmente, José Albertino Rafael coordena um estudo sobre uma espécie de barata, a Lucihormetica fenestrata, popularmente conhecida como barata luminescente. A pesquisa, intitulada Biologia da barata luminescente, tem como objetivo principal descobrir e entender, por meio de experimentos, os mecanismos utilizados pelo animal que o tornam capaz de emitir luz fria. À exemplo dos vaga-lumes, esta espécie de barata desperta um interesse tecnológico e comercial altíssimo. De posse dos conhecimentos sobre a técnica utilizada pela barata para emitir a luz, estas informações poderão ser processadas pelo homem e, posteriormente, serem empregues na produção de equipamentos à base de luz fria, como as lâmpadas.

É a ciência a serviço do desenvolvimento tecnológico da região. Em nível nacional, há mais de 20 anos, são realizadas pesquisas em torno da produção de antibióticos capazes de atacar os microorganismos residentes no intestino das baratas urbanas que, passados de barata por barata, viabilizam a digestão de praticamente tudo o que elas ingerem. Ambiciona-se descobrir que mecanismo fisiológico confere a estes insetos tamanha resistência às bactérias e outros organismos letais, cujos resultados das pesquisas poderão ser aproveitados no tratamento de doenças semelhantes, que acometem as pessoas e são provocadas por estes seres patogênicos.

Na Ufam Neliton Silva e sua equipe vêm desenvolvendo estudos sobre a biologia, comportamento e controle de uma espécie de barata intradomiciliar (Supella longipalpa), que foi introduzida no Amazonas na década de 70 e hoje é uma das baratas mais difícies de se controlar porque ela consegue se adaptar a todos os cômodos das residências, além da tradicional cozinha.

Educação científica, o desafio

Décadas passaram-se para que a importância da barata silvestre no processo de decomposição de material orgânico encontrado nas matas e florestas se consolidasse como um conhecimento científico testado e comprovado. Levando-se em consideração tudo o que se descobriu até hoje sobre as baratas, pode-se afirmar que a ciência ainda se apresenta diante de um universo inteiro a ser desbravado. Muitos desafios e barreiras culturais deverão ser enfrentados. Atualmente, no Amazonas, apenas dois pesquisadores trabalham com a geração de informações científicas sobre as baratas.

A falta de interesse dos estudantes de todos os níveis (graduação, mestrado e doutorado) em estar desenvolvendo trabalhos na área é outro agravante que deve ser contornado pela Academia e por Instituições de Pesquisa do estado. O primeiro passo a ser dado é educar a população sobre os reais impactos causados pela presença das baratas tanto no meio rural quanto urbano. Desta forma, o simbolismo negativo carregado por todas as baratas, à custa de um pequeno grupo delas que verdadeiramente merecem esse estigma, será superado.

Curiosidades: A maioria das baratas é onívora, ou seja, ingere vários tipos de alimentos, tanto de origem vegetal quanto animal. Para digerir determinadas substâncias, elas contam com uma flora intestinal carregada de seres microscópicos que auxiliam neste processo. São bactérias, protozoários, vermes, que com o apoio de suas hospedeiras (as baratas) estabelecem uma relação simbiótica. Simbiose é o nome que se dá à interdependência de dois organismos de espécies diferentes. As baratas esperam dos microrganismos a digestão de determinadas substâncias para que o alimento seja absorvido pelo seu organismo. Já os microorganismos que se encontram no intestino da barata, esperam obter proteção e alimento em abundância. Como ambos não oferecem prejuízos um ao outro, define-se este tipo de simbiose como comensalismo. Ele ocorre quando dois animais diferentes, não-parasitas, dividem o alimento. Esta relação é inofensiva tanto para a barata quanto para os microorganismos. E ambos obtêm vantagens mútuas.

Fonte: Ascom do INPA, 20/12/05

SOLO DA AMAZÔNIA X SOLO DO DESERTO?

QUAL O MAIS RICO?

Pegue uma colher de sopa de solo da Amazônia e outra de areia do deserto de Mojave, na Califórnia (EUA). Agora segure uma em cada mão e pergunte a qualquer pessoa na rua: qual das amostras esconde a maior biodiversidade de bactérias? A resposta, segundo uma análise científica publicada nesta terça-feira (10), é a areia do deserto.

Algo surpreendente até mesmo para os autores da pesquisa. "Não era nem de longe o que esperávamos encontrar", diz o cientista Robert Jackson, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. O estudo busca preencher um imenso vazio de conhecimento sobre a diversidade e distribuição de microrganismos do solo em escala continental.

Os cientistas analisaram amostras de solo de 98 localidades na América do Norte e do Sul, incluindo florestas tropicais, pradarias, tundra, desertos e vários outros ecossistemas. E, para a surpresa de todos, o resultado foi o contrário do que se vê na superfície. Debaixo do solo, a biodiversidade dos desertos e pradarias mostrou-se muito maior do que a da floresta. Às vezes, até o dobro. A variedade de micróbios é tão grande que torna difícil fazer uma contagem. Jackson, entretanto, estima que o número de espécies - incluindo as amostras mais "pobres" - esteja na casa dos milhares.

"Mesmo quando falamos de uma biodiversidade 'menor', estamos falando de um número gigantesco de espécies", disse Jackson ao Estado. "O número de espécies de bactéria em uma colher de solo pode ultrapassar facilmente o número de espécies de planta em todos os Estados Unidos", completa o colega Noah Fierer, também da Duke.

Outro estudo, publicado em 2005 na revista Science, chegou a calcular 1 milhão de espécies de bactéria por grama de solo em um campo agrícola alemão. As estimativas são feitas a partir de seqüências de DNA chamadas 16S, que ficam nos ribossomos das células e são específicas para cada espécie de bactéria. Elas funcionam como um código de barras genético, que os cientistas podem "escanear" para ter uma idéia da biodiversidade de microrganismos presentes em cada amostra.

Segundo Jackson, é possível contar exatamente o número de espécies, mas isso exige um trabalho monumental. "Estamos preparando esse cálculo para 3 das 98 amostras", adianta. "É algo que nunca foi feito." A conclusão da pesquisa é que a biodiversidade de bactérias no solo varia, principalmente, de acordo com o pH (ácido, neutro ou alcalino), independentemente de fatores climáticos como temperatura e chuvas - que regulam a distribuição de fauna e flora ao redor do planeta. Foram estudados solos com pH 3.5 (ácido) até 9.0 (alcalino).

Os de maior biodiversidade foram os de pH neutro (próximo de 7), enquanto a menor ficou com os de pH muito ácido - justamente, os de floresta tropical. Os solos da Amazônia incluídos no estudo foram retirados do Parque Nacional Manu, no Peru.

Os cientistas gostariam de ter feito coletas no Brasil, mas, segundo Jackson, as restrições eram tão grandes que desistiram. O estudo está publicado na revista PNAS.

Fonte:

10 janeiro 2006

PROCURA-SE!

PESQUISADOR DE ALTO NÍVEL (PhD) PARA DIRIGIR PRESTIGIOSA INSTITUIÇÃO DE PESQUISA DA AMAZÔNIA.

Interessados, favor ler edital no link abaixo.

Podem se candidatar quaisquer pesquisadores ou tecnologistas brasileiros ou naturalizados. As cartas de inscrição devem ser enviadas para o seguinte endereço: Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Rua Botucatu, n º 862, ed. José Leal Prado, Vila Clementino, CEP - 04023-900, São Paulo (SP). O processo seletivo incluirá também uma entrevista oral com os candidatos, em local, data e hora a serem previamente anunciados pelo Comitê de Busca.

Os três candidatos mais qualificados comporão uma lista lista tríplice, que é encaminhada ao ministro da Ciência e Tecnologia, que tem a palavra final.

Clique aqui para maiores detalhes

08 janeiro 2006

FITOCOSMÉTICOS INDÍGENAS!

O Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC, via Projeto Arboreto, o Laboratório de Produtos Naturais da FUNTAC e a FUNAI promoveram entre os dias 25 e 28 de setembro passado na aldeia indígena Barão, no município de Mâncio Lima, a "1a. Oficina Indígena de Produção de Fitocosméticos".

A oficina foi conduzida pelos pesquisadores Marinelson Brilhante (PZ), Sílvia Basso (Funtac) e Manoel Bezerra. O Sr. Manoel Bezerra, um pesquisador nato que tem oficina na cidade de Mâncio Lima, foi peça chave para o sucesso do evento. Ele entende 110% sobre o preparo de cosméticos a partir das plantas nativas.

Os "alunos" da oficina vieram das tribos indígenas Katukina, Kaxinawa, Nukini, Jaminawa-Arara, Contanawa e Apolina Arara.

Para o curso, foram usados 10 litros de óleo de buriti, 10 litros de óleo de cocão, 20 litros de óleo de copaiba, macaxeira, urucum e outras plantas nativas. Além disso foram usados os produtos químicos indispensáveis na elaboração dos fitocosméticos.

Entre os produtos experimentais resultantes se destacaram: bronzeador a base de urucum e buriti, sabonete de cocão e de copaíba, repelente a base de cocão e óleo trifásico de buriti.

Este último produto foi o resultado mais surpreende da oficina. No mercado brasileiro, apenas a Natura tem comercializado o óleo trifásico de buriti em larga escala.

Vamos torcer para que este projeto vá para a frente e a Natura passe a ter um concorrente "autêntico" em futuro breve.

As perspectivas para isso são as melhores possíveis. A pesquisadora Sílvia Basso se prepara para fazer o seu Doutorado no programa conjunto de pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Ela pretende trabalhar com o óleo do cocão (Attalea tessmannii), uma palmeira nativa do juruá, cujo óleo tem sido usado para elaboração de sabão caseiro, na culinária e até mesmo como lubrificante anti-ferrugem em armas e motores.

A dissetação da Sílvia vai tentar resolver o principal problema que têm impedido a expansão do uso do óleo desta espécie: a rancificação. Durante a oficina ela observou que uma das principais razões disso é o fato dos nativos usarem gafarras PET para armazenar o óleo. As embalagens ideais são as garrafas de vidro, que estão se tornando raridade no juruá já que até a cachaça é vendida em garrafas de plástico (as buchudinhas de 500 ml). Além disso, ela pretende estudar a fundo as características físico-químicas do óleo para propor novos usos para o mesmo. Ela pretende trabalhar com os indígenas e espera que seus resultados possam ajudar as comunidades locais a se beneficiar do aproveitamento artesanal ou semi-industrial dos óleos nativos.

Desejamos boa sorte à Sílvia, com votos de breve retorno. Esperamos que a sua liberação por parte da Funtac não se transforme em uma "novela". O Acre precisa de pessoas dispostas a realizar este tipo de trabalho.

07 janeiro 2006

REGULAMENTADA A POLÍTICA NACIONAL DE HEPATITE

Doença mata quatro vezes mais que Aids

Tipos mais graves atingem 4,6 milhões de brasileiros

Duas medidas anunciadas nas últimas semanas pelo governo federal servem de esperança para milhões de brasileiros que sofrem de uma doença ainda pouco conhecida mas que mata quatro vezes mais do que a Aids: a hepatite. Os portadores da doença estão entre os beneficiários de parte do R$ 1,2 bilhão liberado pela Medida Provisória (MP) 268/05, que abriu crédito extraordinário para o Ministério da Saúde, e da Lei 11.255/05, pela qual o governo se compromete a fornecer, gratuitamente, medicamentos para as hepatites B e C – os tipos mais graves. Na prática, o governo já fornecia os medicamentos, mas não tinha, por lei, a obrigação de fazê-lo. A MP 268/05 é uma das 12 MPs que vão obstruir as votações durante a convocação extraordinária do Congresso.

O Ministério da Saúde estima que pelo menos 70% da população já teve contato com o vírus da hepatite A e 15% com o vírus da hepatite B. Os casos crônicos dos tipos B e C correspondem a cerca de 1% (1,84 milhão) e 1,5% (2,78 milhões) da população brasileira, segundo estimativas oficiais.

Quase ninguém sabe que é portador

Ao todo, 4,6 milhões de brasileiros são portadores das hepatites B e C na suas fases crônicas, ou seja, aquela que pode levar o paciente à morte. O problema é que a maioria das pessoas, porém, desconhece que tem a doença. Segundo o Ministério da Saúde, somente 8 mil brasileiros têm consciência de que são portadores da hepatite tipo C e fazem o tratamento gratuito.Um agravante da hepatite C é que ela é uma doença de descoberta recente. Foi identificada em 1989, e os métodos para uma detecção segura do vírus só surgiram em 1992. Na maioria das vezes, a doença é silenciosa e assintomática. Ela só pode ser detectada por exames laboratoriais. Em outros casos, as manifestações da infecção hepática se assemelham aos de uma gripe, como fraqueza e mal-estar.

Doença crônica

Algumas vezes, o doente pode apresentar olhos e pele amarelados e urina escura – sintomas comuns a quase todos os tipos de hepatite. Outro agravante: ao contrário das hepatites A e B, em que os casos crônicos são minoria (entre 5% e 10%), na hepatite C, os números se invertem. O Ministério da Saúde acredita que de 80% a 85% dos infectados com o vírus desenvolvem a doença na fase crônica.

As ações para combater a doença.

Mas são poucas as iniciativas diante do avanço da hepatite C. No ano de 2005, além do Projeto de Lei 432/03, da deputada Mariângela Duarte (PT-SP), que originou a Lei 11.255/05, poucas ações foram tomadas para combater a hepatite. “Esse assunto é pouco levado a sério”, avalia Epaminondas Campos, presidente da organização não-governamental (Ong) Grupo C. “Falta informação para auxiliar na detecção”, constata. Portador da doença há cinco anos, o publicitário observa que o poder público gastaria bem mais com a medicação para tratar a minoria que sabe que tem a doença do que com exames que ajudariam o enorme contingente de pessoas que possui o vírus, mas nem suspeita. “Um exame desses sai por R$ 280 por pessoa para o Estado”, afirma.

Gastos de até R$ 144 bi

A partir do momento em que a maioria dos infectados tomar conhecimento de sua doença, porém, o governo terá de gastar muito dinheiro para tratá-los. “Um paciente em tratamento custa quase R$ 6 mil por mês ao erário. Com um mínimo de seis meses e o máximo de um ano de tratamento, esse custo ficaria entre R$ 36 mil e R$ 72 mil por paciente. Se os 2 milhões fossem tratados hoje, o Estado gastaria de R$ 72 bilhões a R$ 144 bilhões”, calcula Epaminondas.

A Diretora do Programa Nacional de Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, Gerusa Maria Figueiredo expõe um quadro menos dramático. “O Ministério da Saúde tem conseguido muitas vitórias nesta área de hepatites virais”. Entre essas vitórias, destaca Gerusa, está a política de vacinação contra a hepatite B em crianças de até um ano de idade. Apesar do esforço, as ações governamentais não surtirão resultados imediatos, reconhece a diretora. “É um processo de inclusão crescente. O SUS (Sistema Único de Saúde) não absorve 3 milhões de pacientes de um só vez”, conta. Enquanto o programa de combate à Aids conta com 20 anos de experiência, o da hepatite tem apenas três anos de existência, exemplifica.

Fonte: Olho vivo na hepatite, By Guillermo Rivera, Jornal Opção On line

Nota do Blog:

A Hepatite é um dos mais graves problemas de saúde pública do Acre. Existem suspeitas de que até 40% da população acreana já foi exposta ao virus causador da Hepatite.

Para acessar o texto integral da lei 11.255/05, que regulamenta a Política Nacional de Hepatite, clique aqui.

Saiba mais sobre este importante passo para a melhoria das condições de prevenção e tratamento, clicando aqui.

06 janeiro 2006

IMAGENS DE EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA 1

(*) Clique nas imagens para ampliar

Sem tempo para escrever algo original, resolvi publicar algumas imagens de uma expedição científica à Estação Ecológica do Rio Acre, que fica quase nas cabeceiras do rio Acre. Fomos para lá em Agosto de 2005. Fui para fazer o levantamento da vegetação. Junto estavam especialistas em pássaros, mamíferos, cobras e sapos, insetos, os parataxonomistas...deu para trabalhar, se divertir, aprender e conhecer um pouco mais da fantástica biodiversidade acreana...

Nunca vi tantos animais selvagens. Macaco preto, ao vivo e em cores, vi pela primeira vez na ESEC. Como são atrevidos e destemidos!!! Chegam a poucos metros da gente, balançando galhos e fazendo cara feia para nos "espantar". Agora dá para entender por que ele é o primeiro a "desaparecer" dos lugares habitados pelo bicho homem...Nambú galinha foi outro animal que não se importou muito com a nossa presença...Jabuti? Paramos de contar quando chegamos no 35°. Até marcamos alguns deles (vejam fotos abaixo).

Edilson, nosso parataxonomista, feliz em frente ao acampamento "de luxo". Ao fundo o "girau" da cozinha:














Em nome da ciência...empalhando os passarinhos:











Em nome da ciência...prensando plantas e fotografando os sapos (que para posar para as fotos, precisam "tomar" uns tragos de álcool"):














Edilson "batizando" um dos 35 jabutis que encontramos durante o trabalho de campo...na outra foto, estou segurando o último deles (nota: todos eles devem estar por lá, na vida mansa da floresta)














A volta para a sede da ESEC: o caminho pelo leito seco do igarapé não estava mais seco: choveu no último dia. Numa parada para descansar, encontramos o buraco do mapinguari...


















Mais imagens na parte 2 deste post...em breve.

05 janeiro 2006

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS LANÇA PRÊMIO

Estão abertas até o dia 22 de março de 2006 as inscrições para a primeira edição do "Prêmio ANA" que tem como objetivo reconhecer e valorizar as iniciativas da sociedade que assegurem água de boa qualidade e em quantidade suficiente para as atuais e futuras gerações.

A promoção da Agência Nacional de Águas é voltada a indivíduos, empresas, poder público, organizações de bacias hidrográficas e instituições de ensino e pesquisa que se destaquem pela excelência de sua contribuição para a gestão e o uso sustentável de recursos hídricos no país.
Será premiado com um troféu um vencedor dentre os três finalistas de cada uma das categorias definidas no regulamento. Aos demais finalistas é concedido um certificado atestando sua condição de finalista no concurso.

A solenidade de entrega dos prêmios ocorrerá no dia 17 de julho de 2006, em local a ser anunciado no dia 3 de julho e divulgado na página da ANA na Internet (www.ana.gov.br/premio/default.htm )

Categorias

Na sua primeira edição, o Prêmio ANA contemplará três categorias:
- Gestão de Recursos Hídricos, que irá destacar casos de aplicação bem sucedida de instrumentos de gestão em bacias hidrográficas, estudos acadêmicos, projetos de capacitação, de comunicação e divulgação.
- Uso Racional de Recursos Hídricos serão premiadas iniciativas que visam a utilização racional da água em processos produtivos e o combate ao desperdício e a poluição de recursos hídricos, com ênfase na aplicação de tecnologias e práticas poupadoras de água.
- Água para a Vida, o destaque irá para ações para de conscientização da sociedade sobre o valor da água para a promoção do desenvolvimento socioeconômico, da qualidade de vida e para a conservação dos ecossistemas contemplando projetos de educação ambiental, de comunicação e divulgação, estudos acadêmicos e produção artística.

Inscrições

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 22 de março de 2006, obrigatoriamente por remessa postal registrada, endereçada à Comissão Organizadora do Prêmio ANA, no seguinte endereço:

Agência Nacional de Águas - ANA
Setor Policial Sul, Área 5, Quadra 3, Bloco M
CEP: 70.610-200
Brasília - Distrito Federal

A avaliação de mérito das candidaturas será realizada por uma comissão julgadora formada por pessoas de notório saber e de reconhecida competência, com a seleção de três candidaturas finalistas em cada uma das categorias.

Serão avaliados em cada candidatura os seguintes critérios:
Efetividade, impactos social, cultural e ambiental, potencial de difusão, adesão e participação social e originalidade.

A comissão julgadora tem o prazo até 31 de maio de 2006 para a avaliação dos trabalhos e elaboração do relatório final. No dia 3 de julho de 2006, em sessão pública, será dada ampla divulgação dos trabalhos vencedores.

Mais Informações:
61- 2109 5412 ou pelo endereço eletrônico: premioana@ana.gov.br

04 janeiro 2006

DR. JEAN DUBOIS

Prezado Evandro,

Desejo le felicitar pela riquesa de informações de sus autoria no blog "Ambiente Acreano". Repassei para os outros membros da turme da REBRAF.

Um Feliz Natal e boa continuidade produtiva em 2006 !

Jean Dubois
Assessor Técnico Sênior, REBRAF

Nota do Blog:

Agradecemos a mensagem e não podemos deixar de expressar nosso prazer em saber que estamos chegando a leitores do calibre do Dr. Jean Dubois. Ele é um dos maiores especialistas brasileiros e mundiais em sistemas agroflorestais (SAFs) e pioneiro na pesquisa e extensão agroflorestal na Amazônia. Tive o prazer de conhece-lo durante uma de suas visitas ao Acre, em meados dos anos 90. O Dr. Dubois é um visionário e muito antes de todos nós pensarmos que seria possível desenvolver sistemas de cultivos consorciados - a la RECA, ele já estava espalhando Brasil afora a idéia e as sementes. Para isso liderou a fundação, em 1989, da Rede Brasileira Agroflorestal-REBRAF, da qual foi seu primeiro presidente.

Sugiro uma visita ao site da REBRAF. Lá existem 3 páginas com artigos relacionados a pesquisas envolvendo SAFs no Acre. Procure no link "Fichas de Experiências" ou faça uma busca usando a palavra "Acre". Boa leitura

03 janeiro 2006

HEPATITE C: NOVO TESTE DE DETECÇÃO USA A SALIVA NO LUGAR DO SANGUE

A Hepatite C é um dos mais graves problemas de saúde no Acre. Informações extra-oficiais indicam que aproximadamente 40% da população do Estado está infectada pelo virus. A maioria nem sabe disso por que ainda é assintomática.

Geralmente os testes para a detecção da doença só são feitos quando o paciente descobre ou desconfia que é portador da doença. Dessa forma, a doença tem se propagado de forma quase livre e muitos portadores de Hepatie C são - em razão de seu comportamento e ambiente onde vivem - potenciais candidatos à infecção pelos virus causadores da Hepatite B e A. O resultado disso tudo recai sobre o sistema de saúde pública local, que não dispõe de recursos financeiros para bancar o caro tratamento destes dois últimos tipos de Hepatite. Quem vive aqui no Acre sabe dessa realidade e já teve ou tem amigo ou parente enfrentando risco de vida em função da doença.

Felizmente a ciência tem dado a sua contribuição com medicamentos mais eficientes e acessíveis. O mais recente avanço nas pesquisas sobre a doença diz respeito ao desenvolvimento de um teste mais simples e rápido para a detecção da Hepatite C.

Cientistas israelenses desenvolveram um teste de detecção do vírus da Hepatite C que usa a saliva no lugar no sangue e que poderá ser usada em larga escala em países do terceiro mundo. A Hepatite C é uma doença infecto-contagiosa muito comum em paises em desenvolvimento, mas o atual método de detecção da infecção usando amostras de sangue é quase sempre indisponível na maioria dos países mais afetados.

O teste atualmente usado para a detecção do vírus usa amostras de sangue. Na verdade o “serum”, a parte líquida do sangue onde as células do sangue estão em suspensão. O teste detecta a presença de anticorpos produzidos pelo paciente infectado como resposta ao vírus. Infelizmente estes tipos de testes são custosos, complexos e dependem de uma gama grande de equipamentos e pessoal treinado.

A pesquisa desenvolvida por Arieh Yaari, da Soroka University Medical Center, em Israel, mostrou que a saliva pode ser usada no lugar do serum para detectar o vírus. O estudo foi conduzido em 37 pacientes de hemodiálise, pessoas sem função renal cujo sangue tem que passar por uma máquina para ser filtrado visando a eliminação de resíduos tóxicos. Estes pacientes possuem um alto índice de contaminação por Hepatite C e seu sistema imunológico é parecido com o daquelas pessoas doentes nos países em desenvolvimento.

Yaari e colegas conseguiram 100% de sucesso na detecção da Hepatite C na saliva dos pacientes que apresentavam o sintoma da doença. Este resultado é comparável aos resultados obtidos usando-se o método convencional de detecção do vírus. Nos pacientes que possuíam o vírus mas que ainda não haviam desenvolvido os sintomas, o teste da saliva conseguiu detectar o vírus em 94% dos casos, enquanto que o método usando o sangue detectou apenas 63% das infecções.

A equipe do pesquisador Yaari disse que é mais barato obter amostras de saliva e que o uso desta nova técnica de detecção do vírus da Hepatite C talvez venha a ser economicamente e clinicamente importante em paises em desenvolvimento. Eles admitem que precisam expandir o número de pacientes testados, tendo em vista que 37 pacientes é um número muito baixo.

O estudo foi publicado na edição on line do dia 19 de dezembro do Journal of Virological Methods.

Link para o resumo do artigo: “Detection of HCV salivary antibodies by a simple and rapid test”, Journal of Virological Methods, Available online 19 December 2005

BALANÇO DE 2005: VIOLÊNCIA CONTRA RELIGIOSOS CATÓLICOS

26 REPRESENTANTES DA IGREJA CATÓLICA MORTOS EM 2005

Um Bispo, 20 padres, dois beatos, duas freiras e um leigo foram adicionados à lista dos agentes religiosos que tiveram morte violenta no ano passado. Foi um aumento brutal, se comparado com as 15 mortes registradas em 2004. Os novos dados aparecem na publicação "Martyrology of the Contemporary Church," publicada pela Congregação pela Evangelização dos Povos.

O maior número de vítimas foi registrado nas Américas, onde foram mortos oito padres e quatro religiosos. Na Colômbia foram mortos quatro padres e uma freira. Este país, onde o conflito social é mais agudo, tem sido o local em que a igreja tem pagado o preço mais alto pelo seu compromisso com a reconciliação e a justiça social. Dois padres foram mortos no México, enquanto trabalhavam em áreas de grande pobreza. A freira Americana, Dorothy Stang, de 73 anos, foi morta no dia 21 de fevereiro de 2005 no Brasil. Ela já havia realizado seu trabalho de apostolado por mais de 40 anos em pequenas comunidades do interior da Amazônia.

Dois religiosos foram mortos na Jamaica enquanto trabalhavam em uma cozinha comunitária que servia comida para pessoas pobres. Na África foram mortos um Bispo, seis padres e um leigo. Em alguns casos os religiosos foram mortos por criminosos durante tentativas de roubo. Entre os mortos, está o padre Thomas Richard Heath, de 85 anos, de orígem americana, que foi morto durante uma tentativa de roubo à casa religiosa em Kisumu, Kenya. A lista inclui ainda a freira suiça Margaret Branchen, de 74, uma enfermeira obstetra que morreu enquanto prestava serviço em uma clínica na comunidade de Ngqeleni, na África do Sul.

Quatro padres foram mortos na Ásia: 3 na Índia e um na Indonésia. Os outros foram mortos na Bélgica e na Russia.

Referência: Total Catholic, 02/012006 - 26 Catholic Pastoral Agents Slain in 2005

02 janeiro 2006

2005: MALÁRIA E FEBRE AFTOSA

Publicado no Diário do Juruá, 02/02/2005

- O ano de 2005 terminou deixando um rastro de grandes tragédias. Felizmente a maior delas que afetou o Brasil, a tempestade da corrupção e da desonestidade, pelo menos até agora não ceifou a vida de ninguém (diretamente), deixando porém prejuízos morais e materiais incalculáveis ao país.- O destroço só não foi maior porque o povo brasileiro expressou um sentimento de bom senso e deixou claro ao Congresso Nacional que tratasse a chaga com remédios que não provocasse efeitos colaterais desastrosos ao corpo da economia brasileira, o grande fator positivo do governo Lula, tirando alguns pequenos acertos aqui e ali em outras áreas.

- Outro acontecimento que quase se transformou em tragédia econômica para nosso país, foi a contaminação de pequena parte do rebanho bovino do Centro-Oeste pela febre aftosa. Diante da possibilidade de grandes prejuízos econômicos para o Brasil, já que poderia deixar de exportar para o mundo toneladas de carne bovina, o governo tratou de resolver a questão sem perder tempo e parece que está obtendo êxito. O tratamento foi, tem sido e será radical.- Centenas de bois foram mortos, indenizações materiais, vacinas foram distribuídas em todo o país, campanhas foram veiculadas no rádio, jornais e televisão, alguns pecuaristas descuidados ficaram no prejuízo, todavia a carne bovina brasileira continua em alta no mercado internacional. Alguém poderia afirmar: “tem que ser assim mesmo”.

- Eu concordo, o Brasil não pode ser vencido por mazelas políticas, econômicas ou físicas, sob pena de continuar eternamente sendo o detentor da famosa terminologia “o Brasil é um país em desenvolvimento”. Os bois do centro-sul do país estão pastando em paz, e os que morrerem, morrerão com muita saúde para darem saúde à economia e ao povo brasileiro.- Agora quero falar de uma outra tragédia que vem silenciosamente se alastrando em alguns lugares da Amazônia brasileira, sendo uma dessas regiões o vale do Juruá, nos municípios de Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves e sobretudo Mâncio Lima, aqui no Acre. Desde 2003 a malária vem aumentado o número de casos na área, tendo chegado no final de 2005 em índices preocupantes.

- É certo que as prefeituras locais e governo do Estado vem intensificando ações para o combate da epidemia que maltrata penosamente os seres humanos, já tendo levado alguns à morte na região. De acordo com aqueles que entendem do assunto, uma pessoa que contrai malária muitas vezes, acaba tendo a saúde de alguns órgãos internos bastante debilitada, com conseqüências para o resto da vida.

- Um boi com aftosa tem dificuldades para se alimentar e andar e assim perde peso e morre. Um homem com malária também tem dificuldades para continuar sua lida normal, e precisa se alimentar bem, com dieta e medicamentos adequados, mas se não tem acesso a isso, também acaba morrendo como um animal magro e feio. Um homem que sustenta a família trabalhando na agricultura, realizando pequenas pescarias e caçadas, quando contrai malária, a família toda acaba deixando de se alimentar, vai parando devagarinho, perdendo peso, sofrendo, até que a cura chega e o homem volta a trazer comida para casa. Viver assim é uma luta sem trégua.

- A maioria dos doentes de malária do vale do Juruá não possuem emprego para assegurar a continuidade do sustento diante da doença, então eles precisam de ajuda e esse socorro é o alimento, o remédio, as ações que atinjam o mosquito transmissor desde seus primeiros dias e outras atitudes que de alguma forma promovam um controle eficaz da malária na região.

- Passamos muitos anos com a malária controlada, numa época em que haviam poucas estradas abertas, sem tecnologia, sem carros 4x4, sem helicópteros, motocicletas e outros recursos maravilhosos que hoje temos à mão, porque hoje não conseguiríamos? Um ser humano saudável, bem alimentado e instruído também pode dar lucro ao país, não só apenas os bois. Sei que é injusto comparar homens com bois, mas a ironia de tudo isso é que diante de um iminente prejuízo de bilhões de dólares, o Brasil agiu para salvar seus bois, mas diante de uma tragédia que se agiganta a cada dia caminhando para destruir a saúde de milhares de juruaenses, diante do prejuízo de vidas com saúde debilitada pelo resto da vida, o governo tem reagido com certa lentidão para controlar a malária na região. A título de sugestão, assim como o governo mobilizou toda uma estrutura para distribuir alimentos aos moradores de parte da Amazônia que estão sofrendo com a última seca na região, - e olha que esses moradores deveriam ter plantado arroz, feijão, jerimum, melancia, mamão, etc, nessas terras férteis dos rios e lagos secos, e já teriam tido uma colheita abundante - porque não estendem a operação para alcançar as vítimas mais pobres da malária na Amazônia?

- Essas pessoas um dia poderão fazer falta à nação, à economia da região poderá ser afetada lenta e negativamente, dificultando ainda mais a vida dos mais pobres do Juruá. Se houvesse petróleo embaixo deste solo, será que a malária estaria descontrolada nesta região? Salvemos nossos bois, mas salvemos também nossos homens, mulheres e crianças da malária que assola esta terra.

- Cada dia o receio de contrair malária aumenta mais, é um assunto constante e presente nas conversas do povo do Juruá. A percepção que se tem é que a praga vai se espalhando a passos de lagarta, você pensa que ela vai devagar e você tira a vista, mas quando olha de novo, ela já está bem mais longe do que você imagina. Questionamentos devem ser feitos. Será que o veneno usado na borrifação está sendo eficaz? Não sei, alguém precisa contribuir com informações mais esclarecidas. Por enquanto nosso papel é apenas contribuir de forma sensata e elevada com o povo do Juruá, e usamos as letras para conseguir alguma vantagem sobre essa humilhante situação.

01 janeiro 2006

A LIÇÃO DO BAMBU CHINÊS

Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada por aproximadamente 5 anos, exceto lento desabrochar de um diminuto broto, a partir do bulbo.

Durante 5 anos, todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas uma maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída.

Então, no final do 5º ano, o bambu chinês, cresce até atingir a altura de 25 metros.

Um escritor de nome Covey escreveu:

"Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês. Você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e, às vezes não vê nada por semanas, meses, ou anos. Mas se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu 5º Ano chegará, e, com ele, virão um crescimento e mudanças que você jamais esperava".

O bambu chinês nos ensina que não devemos facilmente desistir de nossos projetos, de nossos sonhos, de nosso trabalho, especialmente de um projeto fabuloso, que envolve mudanças... de comportamento, de pensamento, de cultura e de sensibilização, devemos sempre lembrar do bambu chinês, para não desistirmos facilmente diante das dificuldades que surgirão.

Procure cultivar sempre dois bons hábitos em sua vida: a Persistência e Paciência, pois você merece alcançar todos os seus sonhos!!!

"É preciso muita fibra para chegar às alturas e, ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar ao chão".