Google
Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

31 outubro 2005

SANTO DAIME: LIBERDADE RELIGIOSA VS. LEIS ANTIDROGAS

O futuro da religião em jogo nos EUA

Amanhã, terça-feira 01/11, a Suprema Corte americana vai ouvir os argumentos orais do caso envolvendo o Governo Americano x seita "União do Vegetal" (UDV). É o primeiro passo para a decisão definitiva sobre o uso do chá do daime nos EUA. O caso coloca frente a frente a lei antidrogas (Controlled Substances Act) e a lei americana que protege a liberdade religiosa (Religious Freedom Restoration Act).
Aos leitores do blog informo amanhã vamos postar um artigo do Christian Science Monitor sobre o caso. Vale a pena visitar o site que a UDV criou nos EUA (inglês) para esclarecer o assunto para a mídia e o público americano em geral - que não têm a menor idéia sobre o daime (clique aqui).

GLOBALIZAÇÃO CIENTÍFICA: XENOFOBIA E LIBERDADE AINDA SÃO OBSTÁCULOS A SEREM VENCIDOS

Nós brasileiros temos um certo orgulho de saber que as pessoas de outros países nos vêem como um povo alegre, hospitaleiro e feliz, apesar de todos os problemas sociais e econômicos do país. Os turistas estrangeiros ficam encantados com a presteza, bondade e boa vontade do nosso povo em ajudar. É de nossa natureza se interessar em expandir amizades e mostrar o quanto o nosso país é grande, bonito e avançado. Isso nos gratifica. Eu sinto orgulho desse caráter do brasileiro. Fico ainda mais feliz quando leio na imprensa brasileira notas destacando o que a imprensa internacional publica sobre o jeito alegre de ser dos brasileiros.
E no campo científico? Será que isso se aplica? Existe a mesma relação “platônica” de admiração mútua?
Pelo que tenho observado, o mundo científico brasileiro é uma coisa à parte. Aqui são comuns a xenofobia, a desconfiança e o sentimento de inferioridade de grande parte da comunidade científica brasileira. A reboque sempre tem um ou outro jornalista fomentando esta tendência. Dá para entender em parte este sentimento e muitas vezes é difícil se livrar de certas manias. Mas nós vamos ter que mudar. Não tem jeito. No mundo atual, e no que vem pela frente, xenofobia vai ficar sem espaço. Todos nós vamos, gradativamente, deixar de ser cidadãos nacionais e passar a ser cidadãos do mundo. Como não dá para se livrar da xenofobia instantaneamente, tenho certeza que por um período incerto de tempo "nós", desta parte de cá do globo terrestre, iremos fazer questão de dizer que, embora cidadãos mundiais, somos parte da "civilização ocidental". “Eu não sou muçulmano, nem chinês e muito menos japonês!” alguns dirão.
Entretanto, a integração científica do país ao mundo globalizado é algo urgente porque bons cientistas não podem ser encontrados em quantidades generosas por ai. Leva algumas décadas e custa muito caro “lapidar” um cientista de primeira classe, destes que realmente fazem diferença. É como no futebol. Um time medíocre só pode ter a chance de chegar ao topo se tiver entre seus jogadores um craque excepcional. Sem ele o time vai ser sempre medíocre e jamais terá a chance de chegar ao topo.
Existem duas possibilidades de se “trazer” o craque para o time: torcer para que um deles seja revelado pelas equipes de base ou contratar um de fora. É a mesma coisa na ciência. E a pergunta que deve ser feita é: a gente vai querer ser sempre medíocre só porque não gosta de trazer “pessoas de fora”? É importante deixar claro que, assim como o futebol requer jogadores especializados em certas funções, na ciência a situação é a mesma. Existem diversas áreas nas quais o Brasil pode e dispõe de número e qualidade de pessoas para desenvolver atividades de ensino e pesquisa de nível mundial. Em outras, a situação é complicada.
O que fazer para minorar estas deficiências? Aqui as opções não são tão fáceis de serem escolhidas. Se fosse no futebol, você poderia investir nas equipes de base e aguardar alguns anos ou contratar o craque já formado. Você decide e você sofre as conseqüências.

A xenofobia brasileira

Lembro que alguns anos atrás houve um concurso público para admissão de professor no Departamento de Geografia da Universidade Federal do Acre (UFAC). A banca examinadora, com a autonomia que lhe é garantida pelas regras dos tais “concursos”, preferiu admitir um graduado, brasileiro, em detrimento à contratação de um pesquisador argentino com Doutorado e uma bagagem científica respeitadíssima, que, “instantaneamente” iria contribuir para um salto de qualidade do referido Departamento.
Ora, se a UFAC precisava contratar um professor, era porque ele estava em falta e provavelmente ela precisava se livrar dos professores com contratos temporários. Não sei ao certo o destino do graduado que foi contratado, mas tenho certeza que se ele ainda faz parte do quadro da UFAC e pensou no seu futuro profissional, certamente hoje ele não está dando as aulas que a UFAC precisa quando o contratou. Este graduado deve estar afastado, fazendo o seu mestrado ou doutorado e um professor temporário ainda deve estar ocupando o seu lugar. O Departamento de Geografia deve estar com os professores sobrecarregados e sendo criticado pela falta de professores.
E ainda existe uma incerteza: será que depois de conseguir o seu grau de Doutor o graduado vai querer continuar na UFAC? Com o diploma na mão ele pode pedir transferência ou prestar concurso em outra universidade no Brasil! Quem sabe? O Doutor argentino tinha demonstrado o seu interesse em “ficar” e essa era uma certeza importante para a UFAC. Além disso, ele já tinha estabelecido o seu nome e tinha reconhecida bagagem científica. Coisa que o graduado ia ter que levar mais uns 10 anos, enfrentando as dificuldades inerentes à instituições de pequeno porte como é o caso da UFAC.

Exemplo chinês: efeitos da falta de liberdade

Outros países agem de outras formas. A China, por exemplo, está recrutando pesquisadores de alto nível, a maioria de origem chinesa, que hoje trabalham nas universidades americanas. O fato de estarem dando preferência a pessoas de origem chinesa tem a ver com o patriotismo por que a maioria dos recrutados acredita que pode contribuir efetivamente para o rápido progresso de seu país. Embora desfrutem dos benefícios imediatos de agregar "pesos pesados" científicos em suas fileiras, no longo prazo os resultados talvez não sejam os esperados. É que além da competência, o pesquisador precisa de liberdade para produzir ciência de alto nível. No artigo “China Luring Scholars to Make Universities Great”, o repórter Howard H. French nos dá uma boa idéia do panorama vivido neste momento naquele país.
O programa Chinês pretende transformar as maiores universidades daquele país nas melhores do mundo em uma década. Para isso o país está gastando bilhões de dólares. É um dos mais recentes esforços da China para se transformar em grande potência mundial. O país já desenvolveu um dos mais impressionantes programas de expansão da educação superior dos tempos modernos. Não apenas aumentou a quantidade de alunos nas universidades, mas quintuplicou a quantidade de pessoas com grau de doutorado nos últimos dez anos. Eles aumentaram de 1,4% em 1978 para cerca de 20% hoje, a quantidade de alunos engajados nas universidades. Somente na área de engenharia, o país esta formando anualmente 442.000 profissionais, além de 48.000 mestres e 8.00 Ph.Ds. Na visão dos chineses, universidades de primeira classe refletem de uma maneira geral o poder do país.
A importação de pesquisadores “estrangeiros” é simples: recrutam os melhores lá fora, dão a eles laboratórios bem equipados, os melhores estudantes e liberdade “técnica” para desenvolver suas atividades. Em alguns casos pagam salários equivalentes aos dos americanos, em outros, os pesquisadores estão indo por conta do baixo custo de vida, moradia e laboratórios oferecidos.
Eles estão dando prioridade às áreas de ciência e tecnologia aplicada. Recentemente, Xu Tian, um famoso geneticista formado na Universidade de Yale, conseguiu publicar um artigo científico que foi capa da revista Cell, a primeira vez para um cientista chinês. Os dirigentes da Universidade de Beijing estimam que cerca de 40% de seus professores foram formados no exterior, a maioria nos EUA. Uma das vantagens do programa chinês são os baixos custos. Enquanto nos EUA se gastam cerca de US$1500/m² na construção de laboratórios, na China o custo é de apenas US$150.

Críticas à velocidade do processo e à falta de liberdade

Alguns críticos afirmam que o país está tentando atingir a excelência científica em muitas áreas ao mesmo tempo e por isso duplicando esforços e sacrificado a qualidade. Outra crítica diz respeito à falta de liberdade nas Universidades chinesas. Também existe muita cobrança por produção científica. Exatamente como no Brasil.
"Em Princeton um matemático ficou nove anos sem publicar um artigo científico e então resolveu um problema da matemática que intrigou os pesquisadores durante 360 anos" diz Yang Fujia, Reitor da Universidade de Fudan, se referindo ao trabalho de Andrew J. Wiles, que solucionou o último teorema de Fermat no começo dos anos 90.
Da mesma forma, Ge Jianxiong, geógrafo da Universidade de Fudan, acha que a cultura chinesa sempre espera resultados rápidos, que pode prejudicar o trabalho da pesquisa. "Na China os projetos são sempre de curto prazo, coisa de três anos" diz o pesquisador. A falta de liberdade acadêmica é outro fator que incomoda os acadêmicos. "Ao final das pesquisas, as autoridades querem que seja publicado um livro, um livro bem volumoso. Em pesquisa real é preciso liberdade para produzir bons resultados e não apenas os resultados que eles querem". Ele acha que a educação tem sofrido por que sempre foi vista como um instrumento pelos políticos
O governo Chinês também censura os grupos de discussão e recentemente proibiu os estudantes da Universidade de Zhongshan de conversar livremente com os Administradores eleitos da ilha de Hong Kong. Os estudantes não são encorajados a desafiar as autoridades ou ordens recebidas. Para alguns, isso ajuda a explicar o porque de nunca um Chinês ter ganho o prêmio Nobel. De acordo com alguns acadêmicos chineses, o que mais se precisa são pesquisadores com opiniões fortes e originais.
"A mais importante coisa que foi feita nos últimos 20 anos foi tirar da pobreza 200 milhões de pessoas” diz o pesquisador Xu Tian. "O que o país ainda não conseguiu ver, entretanto, é que se ele pretende dar o próximo passo em direção a um nível mais elevado, é preciso entender que apenas números não são o suficiente”.

Leitura recomendada:
China Luring Foreign Scholars to Make Its Universities Great
By HOWARD W. FRENCH
Published: October 28, 2005
The New york Times

30 outubro 2005

LIVRO: PALMEIRAS BRASILEIRAS!


Neste próximo mês de novembro vai completar um ano do lançamento do livro PALMEIRAS BRASILEIRAS E EXÓTICAS CULTIVADAS do qual temos o orgulho de ser um dos autores. Até agora foram mais de 7.500 cópias vendidas, de uma tiragem inicial de 10.000. Um sucesso, considerando o assunto abordado e o elevado preço do livro em função do material de primeira qualidade usado em sua impressão - papel couché 115g, 1.149 fotografias a cores, 432 páginas. A edição em em inglês já está sendo preparada e vai ser lançada em 2006 nos EUA.
Se você tem interesse em adquirir o seu exemplar, pode faze-lo diretamente com a Editora Plantarum. O preço normal do livro é o seguinte:
- R$ 110,00+ 17,00 (frete)= R$ 127,00 ou
- R$ 110,00+ 69,00 (SEDEX)= R$ 179,00
Entretanto, você pode economizar fazendo o pedido diretamente comigo, pois tenho direito a 30% de desconto. O preço para o autor é o seguinte:
- R$ 77,00+17,00 (frete)= R$ 94,00
- R$ 77,00+69,00 (SEDEX)= R$ 146,00
Convido você a visitar o site da Editora Plantarum. Lá você pode adquirir outras obras importantes, entre elas os dois volumes do livro ÁRVORES DO BRASIL.
Não esqueça de dar uma olhada no link "Expedições" para ter uma idéia da aventura que foi fazer o livro sobre as palmeiras do Brasil.

Pausa para relaxar!

O QUE AS GALINHAS TÊM A VER COM A CARECA DOS HOMENS?

Parece que não muito não é mesmo? Mas têm tudo a ver.
Cientistas franceses e britânicos conseguiram desenvolver dentes em embriões de galinhas e isto poderá levar a grandes descobertas para a "solução" definitiva da calvície, este mal que causa "sérios" problemas em 75% dos homens com mais de 40 anos de idade. Se você é um desses, você sabe do que estou falando.
Vamos tentar explicar. As aves atuais são descendentes dos Archaeopteryx, que viveram na terra até 150 milhões de anos atrás. Os fósseis desses animais mostram que, embora possuissem o bico cheio de dentes cônicos, suas penas, asas, ossos e garras são todos similares aos pássaros modernos. Por alguma razão ainda desconhecida, os dentes das aves descendentes dos Archaeopteryx deixaram de existir cerca de 70–80 milhões de anos atrás. Apesar disso, se acreditava que o DNA responsável por eles deveria estar presente no conjunto de informações genéticas das aves modernas. Faltava provar.
A teoria aceita para explicar a falta de dentes nas aves modernas é que a parte interna do bico (tecido interno) perdeu a capacidade de originar dentes, mas a parte superficial (o epitélio) ainda retém a propriedade de sinalizar a indução para a formação deles. Para provar isso os cientistas transplantaram células de ratos - que produzem dentes - para os embriões de galinhas e conseguiram observar a formação de dentes rudimentares. O resultado indica que o epitélio oral das aves é capaz de induzir a formação de dentes em outros grupos de animais - que não as aves. Em outras palavras, foi provado que os pássaros ainda possuem a informação genética requerida para a iniciação do desenvolvimento de dentes. O que não possuem mais são as células capazes de responder a este estímulo.
O resultado do experimento sugere que os genes que causam o crescimento dos dentes e dos cabelos nos seres humanos, desativados depois de certo tempo, poderão ser ativados novamente no futuro.
Quando isto acontecer a auto confiança que a gente tem de não acreditar em algo e ainda por cima dizer, de forma irônica, frases "pré-fabricadas" para mostrar nossa certeza absoluta, vai ter que mudar. Frase do tipo "isso só vai acontecer no dia em que porcos voarem", vai ter que ser dita com cautela. Você duvida que um dia isso vai acontecer ou não?

Leitura sugerida:
Baldness hope as birds get teeth (CNN Science and Space)
Development of teeth in chick embryos after mouse neural crest transplantations (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America)

ÓLEOS DE PLANTAS NATIVAS DA AMAZÔNIA

Prezados leitores, tinhamos planejado publicar neste fim de semana uma série especial sobre os óleos amazônicos. Não deu para concluir a pesquisa ainda. A publicação fica adiada para o próximo fim de semana.

29 outubro 2005

MÍDIA INDEPENDENTE, COPYLEFT E O LIVRE ACESSO À INFORMAÇÃO

Por Evandro J. L. Ferreira
Blog AMBIENTE ACREANO (http://ambienteacreano.blogspot.com)

Os blogs, diários virtuais ou outros nomes que se queira dar a esta nova forma de comunicação pessoal, se constituem nos mais importantes marcos caracterizando a livre expressão nos dias atuais. Qualquer um pode ter um. Em sua maioria são de graça e por isso uma alternativa de baixo custo para o estabelecimento de uma verdadeira mídia independente. Além disso, são muito mais dinâmicos do que a mídia convencional pois são ágeis e dificilmente sofrem problemas de falta de espaço físico ou tempo para cumprir o objetivo para o qual são criados: "informar".

Entretanto, essa nova forma de mídia independente enfrenta um problema sério: o pouco controle que se tem sobre os direitos do material publicado. Algumas vezes o material é reproduzido centenas de vezes sem a permissão do autor e a citação da fonte original. Você nunca sabe onde pode encontrar um texto seu ao fazer uma busca no "google". É claro que nem tudo está perdido e já está sendo estabelecida uma tradição entre os usuários mais comprometidos com esse novo tipo de mídia. As pessoas sérias sempre pedem permissão e fazem questão de citar a fonte. Isso conta muito. Entretanto, a pirataria existe em todos os níveis e tem sido quase impossível eliminá-la. Quem embarcar no mundo da mídia virtual alternativa vai ter que conviver com esse tipo de problema pelo menos até que se possa controlar o incontrolável: a internet.

É interessante notar como existem diversas tendências de consolidação nesse campo. Na área ambiental se verifica uma quantidade crescente de portais que estão agregando paulatinamente matérias recolhidas de dezenas de pequenos blogs e sites informativos. Um bom exemplo disso é o portal “Ecodebate” (http://www.ecodebate.com.br/). Esse tipo de parceria é extremamente benéfico para todos porque, se de um lado o portal maior viabiliza conteúdo para atingir os seus objetivos, por outro os bons textos que estão sendo publicados diariamente em blogs e sites pouco conhecidos encontram espaço para divulgação sem os custos associados que seriam necessários para tornar estes espaços menores mais visíveis na internet. Aliás, parece que no futuro a mídia independente caminha para isso: parcerias, associações e outros arranjos “não convencionais”. Tudo feito de forma virtual.

Embora a mídia virtual autônoma brasileira ainda seja de pequeno porte e não tenha tido ainda a oportunidade de deixar sua marca, este momento está próximo. A agilidade dos blogs e sites similares é incomparável. Os desastres, escândalos e fatos urgentes, que são as maiores fontes de renda para a mídia convencional, acontecem diariamente. Ocorre que a forma com que ela é obrigada a cobrir estes fatos abre um grande “buraco” para a livre atuação da mídia virtual autônoma. Os conglomerados sofrem uma crise de identidade e precisam se preocupar com o complexo de Édipo ao inverso quando cobrem os grandes e lucrativos temas. É preciso trabalhar a cobertura dos fatos de forma propositalmente truncada para não “dar de graça” a informação que de outra forma eles também precisam vender via agências ou mídia impressa próprias.

Por outro lado, o sucesso da mídia autônoma vai estar diretamente relacionado com a aceitação do "copyleft" como política editorial, inclusive pelos conglomerados que monopolizam e controlam a distribuição das notícias em nível global e nacional. Vai ser uma dura batalha porque o princípio do copyleft é a renúncia do direito autoral, coisa que não se justificaria para estes conglomerados tendo em vista os custos envolvidos na coleta das informações que eles assumem. Entretanto, acredito que brevemente vai se chegar a um entendimento no qual os custos do repasse da informação dos grandes conglomerados vão cair estratosfericamente. Não serão mais apenas uns poucos clientes em cada país, serão milhares de blogs e sites similares como clientes potenciais. Se os conglomerados vão entrar nessa onde, ainda precisamos ver. Mas é inevitável. Digo isso porque acredito, que da mesma forma que hoje você pode ter o seu próprio site, flog, blog, podcast e outros, no futuro os internautas poderão, caso queiram, ter o seu próprio site de mídia divulgando livremente e dentro da legalidade o que desejar.

Vai ser a consolidação da concepção de que a informação é um direito de todos, um bem comum para ser compartilhado que não é propriedade e nem mercadoria.

Que venha o futuro! E logo.

IMPRENSA RESPONSÁVEL: INDISPENSÁVEL EM FACE DA POSSÍVEL PANDEMIA DA GRIPE DO FRANGO

Ontem à noite (27/10) estava assistindo aos diversos noticiários da televisão quando minha mulher me alertou que os focos de febre aftosa no Paraná não se confirmaram. Fiquei feliz pelos produtores de leite e carne paranaenses porque sei que eles trabalham duro para sobreviver e, em sua imensa maioria, estão conscientes dos riscos financeiros envolvidos com o aparecimento de uma doença como essa. Eles, zelosos como são, se preocupam com o bolso. Infelizmente, mesmo antes da confirmação do foco de aftosa, a imagem que ficou foi a de milhares de litros de leite descartados, produtores desanimados, enfim, um “pânico engasgado” no meio agropecuário daquela região.
Foi interessante ver o desdobramento da notícia porque pela imprensa em geral, o que se tinha como “certeza” era que a febre aftosa estava espalhada Brasil afora. A não confirmação disso demonstrou que houve, literalmente, um grande “furo” por parte de toda a imprensa. Não sou jornalista, mas acho que diante de fatos como esse, muitos deles ficam “loucos” para dar a notícia "a qualquer preço". As empresas em que trabalham muitas vezes ficam em posição cômoda porque as notícias são assinadas e, como a gente sabe, na maioria das vezes, elas deixam claro que não se responsabilizam nem concordam com as opiniões das matérias assinadas. Se os jornalistas estão corretos, o retorno é a fama e o dinheiro, para eles e suas empresas. Afinal, eles também são zelosos e têm bolso para cuidar.
Quando a notícia não se confirma, o que acontece? Nada. Notas lacônicas de pé de página, fotocópias das notas oficiais das Assecom´s, o assunto morre no outro dia. Alguns tomam prejuízo – os produtores. Outros, as empresas jornalísticas, ganham apenas um pouquinho a mais porque o assunto não perdura por mais que algumas edições.
Entretanto, é importante ressaltar a grandiosa responsabilidade da imprensa em situações como essas, especialmente agora com a internet. Hoje as notícias se espalham num piscar de olhos. No caso da aftosa não existe risco de vida, apenas prejuízos financeiros. Entretanto, vale a pena fazer um exercício para tentar imaginar o que teria acontecido se o caso em questão envolvesse uma doença contagiosa e altamente mortal. O que vai acontecer se a pandemia da gripe do frango se concretizar?
Sabemos que durante as catástrofes a notícia “vende bem", entretanto, no caso dessa gripe, a imprensa vai ter que desempenhar um papel mais didático do que jornalístico. Por que causar pânico desnecessário e o caos generalizado? Os jornalistas, individualmente, vão ter que se controlar. Por mais tentador que seja divulgar mais um dos “furos”, vai ser necessário se podar, controlar, roer as unhas, se frustrar. Tem muita coisa em jogo. Eles vão precisar considerar que provavelmente milhares de vidas dependerão das mãos de quem escreve e da voz de quem lê as notícias.
Este modesto blog não é o pioneiro em discutir este assunto. Só o fiz porque encontrei no site da SciDev.NetHome o artigo abaixo e creio que o mesmo deve ser lido com atenção pelos colegas da imprensa. Ele trata da possível epidemia da gripe do frango e o papel que uma imprensa científica responsável deverá desempenhar para minimizar o impacto da doença.
(Leitura adicional recomendada: O poder da imprensa)

Información confiable sobre gripe aviar
SciDev.NetHome
David Dickson, 24 Octubre 2005


Conforme aumentan las perspectivas de una pandemia global de gripe, es importante que los gobiernos reconozcan que un periodismo científico responsable puede jugar un papel importante en limitar su impacto.
Sería difícil imaginar un mejor ejemplo de la necesidad de un periodismo científico responsable que la influenza aviar, o 'gripe aviar'. Funcionarios de salud de todo el mundo alertan que el virus H5N1 podría disparar una pandemia global de gripe humana que, muchos predicen ya, podría costar millones de vidas. Ya está quedando claro que comunicar con efectividad información precisa sobre la enfermedad será esencial para los esfuerzos por contenerla.
Por supuesto, los funcionarios de salud y veterinarios necesitan información sólida sobre la cual planear sus respuestas, mientras que los gobiernos necesitan una imagen precisa tanto de la naturaleza de la enfermedad como del modo en que se propaga, si es que han de tomar decisiones sensatas acerca del monto y la asignación de los recursos financieros y humanos necesarios para combatirla.
Pero es igual de importante que también el público esté bien informado. Hay varias razones prácticas para ello. Es importante, por ejemplo, saber que cocinar la comida apropiadamente parece destruir el virus, y que lavarse las manos antes de preparar los alimentos también ayuda a evitar la infección.
Existen también fuertes razones políticas para comunicar efectivamente información confiable, en particular si no se desea que los políticos se sientan presionados a sobrerreaccionar.
Las medidas de pánico rara vez constituyen buenas políticas públicas. Con frecuencia se toman cuando una amenaza se entiende mal, sea por quienes toman la decisión o por aquellos en cuyo nombre se hace. Pueden tener efectos desastrosos que van desde el uso excesivo e inapropiado de recursos escasos, hasta la falta de efectividad si se dirigen a los blancos incorrectos.
Responsabilidad política
La necesidad de información clara y sensata sobre la gripe aviar es obvia si tales reacciones han de evitarse. Está claro que los funcionarios de gobierno tienen una responsabilidad de asegurarse de que esto ocurra. Pero en una era de amplia desconfianza respecto de las instituciones públicas, esto ya no es suficiente. Es igual de importante, si es que no más, el papel de los periodistas y los medios.
(clique aqui para ler o restante do artigo)

PARA QUE SERVEM AS PULGAS?

Pulgas têm algum valor para você? Não? A ciência talvez mude essa nossa percepção. Uma nova proteína anticongelante isolada de pulgas comumente encontradas na neve em países de clima frio talvez possa prolongar o prazo de “armazenamento” de órgãos humanos usados em transplantes. A descoberta foi feita por pesquisadores da Queen’s University do Canadá.
As pulgas, que medem cerca de 1mm de comprimento, produzem a proteína durante o inverno para não congelarem enquanto ficam expostas às baixas temperaturas. A proteína funciona inibindo o crescimento de cristais de gelo em temperaturas até 6°C abaixo daquela em que esses cristais normalmente se formam. A autora do trabalho, Dra. Laurie Graham, observou as pulgas na neve enquanto praticava ski cross-country. “Elas pareciam pó de pimenta espalhado sobre a neve”.
Os pesquisadores acreditam que soluções com essas proteínas poderão ser usadas na conservação dos órgãos a serem transplantados porque a estrutura dessa nova proteína se degrada em alta temperatura. Assim, elas poderiam ser eliminadas rapidamente do órgão transplantado, diminuindo muito a possibilidade de formação de anticorpos prejudiciais causadores da rejeição.
Além do uso em humanos, as proteínas têm o potencial de aumentar a resistência das plantas ao congelamento e inibir a cristalização em alimentos congelados.

Artigo original:
Glycine-Rich Antifreeze Proteins from Snow Fleas
Laurie A. Graham and Peter L. Davies.
Science 21 October 2005; 310: 461

28 outubro 2005

É VERDADE! O TERCEIRO MUNDO ESTÁ VIRANDO DEPÓSITO DE COMPUTADORES VELHOS!

Com a desculpa de que estão "construindo pontes para eliminar a segregação digital" existente entre o primeiro e o terceiro mundo, as nações desenvolvidas estão usando estas mesmas "pontes" como verdadeiros dutos para se livrar de lixo tóxico, diz relatório da Basel Action Network, sediada em Seattle, EUA. Um relatório anterior, de 2002, informava que 50 a 80% do lixo eletrônico coletado para reciclagem nos EUA estava sendo desmontado e reciclado em condições irregulares e prejudiciais à saúde em países como China, Índia e Paquistão. O novo relatório sugere que a população americana em geral está sendo enganada, pensando que seus computadores velhos estão sendo reclicados e usados de forma útil nos países pobres.
A maioria destes equipamentos são recolhidos nos EUA por empresas recicladoras que geralmente os recebem de graça de empresas particulares, agências do governo e comunidades. Algumas partes reutilizáveis são aproveitadas, mas a maioria dos equipamentos são vendidos a preços irrisórios ou doados para os países pobres para serem reparados, vendidos ou desmontados usando mão-de-obra barata. De acordo com o Conselho de Segurança Nacional dos EUA, mais de 63 milhões de computadores se tornarão obsoletos em 2005.
No porto de Lagos, Nigéria, o relatório afirma que uma média de 500 containers são desembarcados a cada mês. Cada um deles trazendo cerca de 800 computadores usados, perfazendo um total mensal de cerca de 400.000 unidades. A maioria dos equipamentos que chegam está danificado e é economicamente inviável repara-los ou revende-los. "Os nigerianos estão nos dizendo que estão recebendo até 75% de equipamentos que não podem ser aproveitados" diz Jim Puckett, coordenador do Basel Action Network. Como resultado, os equipamentos estão sendo descartados em lixões, com grandes possibilidades dos resíduos tóxicos dos equipamentos causarem a contaminação dos lençois freáticos, criando condições impróprias de saúde para a população. Em média um monitor de computador contém até 3,5 kg de mercúrio, além de plástico aditivado com retardantes de chamas e cadmium, todos tóxicos para o meio ambiente e humanos.
A Basel Action Network tem tentado fazer com que a Convenção de Basel (Suiça), assinada por vários países com o objetivo de controlar e limitar o mercado de lixo tóxico no mundo, seja implementada na prática. Os EUA são o único país desenvolvido que não assinou o tratado. Apesar disso, a ação da Basel Action Network já conseguiu fazer com que cerca de 30 empresas recicladoras americanas se comprometam a exportar somente equipamentos testados e em condições de uso.

Link para o artigo original:
Poor Nations Are Littered With Old PC's, Report Says
By Laurie J. Flynn Published: October 24, 2005
The New York times

27 outubro 2005

EXTRAÇÃO E TRANSPORTE ILEGAL DE MADEIRA NA AMAZÔNIA: TEM SOLUÇÃO?

O MMA divulgou ontem (26/10) nota detalhando a mega operação "Ouro Verde", desencadeada contra quadrilhas que estavam vendendo ATPFs falsas e viabilizando a exploração e o transporte ilegal de madeira na Amazônia. Participaram da operação mais de 400 pessoas, entre agentes da Polícia Federal, do Ibama e da Procuradoria da República, que cumpriram 78 mandados de busca e apreensão no Pará, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso, Goiás, Rondônia e Rio Grande do Norte.
Até agora já foram presas 43 pessoas, entre comerciantes, madeireiros e servidores públicos. No Pará foram presos 21 pessoas. Em quatro municípios daquele Estado (Paragominas, Tomé-Açu, Tailândia e Tucuruí) se estima que mais de 140 empresas comercializaram ilegalmente mais de 70 milhões de metros cúbicos de toras beneficiadas, representando um movimento financeiro equivalente a R$ 65 milhões.
Esta é a quarta operação de grande porte desencadeda no país para combater a extração e comercialização ilegal de madeira da Amazônia. As anteriores foram “Setembro Negro” (Rondônia, 2003), “Faoeste” (Pará, 2004) e “Curupira” I e II (Mato Grosso e Rondônia, 2005). De acordo com a Polícia Federal, a quadrilha desbaratada durante a operação atual foi organizada há pouco tempo.
Apesar do esforço sincero das autoridades em combater as ações ilegais na região, a impressão que se tem é que a realização de operações como essa não estão surtindo o efeito desejado. O máximo que têm conseguido é tirar alguns atores do palco, logo substituídos por outros em razão da alta lucratividade representada pela venda ilegal de madeira. É como no tráfico de drogas.
O que se pode fazer? Continuar gastando com fiscais e com a manutenção da numerosa frota de veículos usada para tentar prender os caminhões que fazem o transporte da madeira ilegal? Confiscar madeira dos pátios das serrarias? Estas não me parecem as melhores soluções. Como sabemos, até dinheiro e entorpecentes são furtados de dentro da sede da Polícia Federal! Tem que haver outra saída.
Uma coisa que distingue bem o comércio ilegal de madeiras e de entorpecentes é que, ao contrário das drogas, toras de madeira não podem ser ocultadas e o seu transporte é sempre feito por estradas públicas. Todo mundo vê quando passa um "romeu e julieta" carregado de madeira! Nem os fiscais corruptos designados para apreender a madeira ilegal podem argumentar que "não foi possível observar as toras", como é comum no caso das drogas.
Uma possível solução para o problema seria uma radicalização da lei. A que existe é tão branda que até agora só um desmatador ilegal foi preso, mesmo assim por que exagerou, desmatando de uma só vez mais de 6.000 hectares. Com a lei atual a maioria dos extratores, transportadores e compradores de madeira ilegal provavelmente jamais irão para a cadeia. Cadeia só durante as megaoperações do governo, que acontecem uma ou duas vezes ao ano. Como sabemos, madeira se tira e se transporta praticamente o ano todo.
A nova lei tem que ser rígida de tal forma que se a madeira transportada for ilegal, devem ser presos imediatamente, e por um período mínimo de tempo (mesmo que os réus sejam primários), a madeira, o veículo, as pessoas que estão transportando e o dono da madeira. O veículo, peça chave que move todo o esquema, não poderia ser liberado em hipótese alguma. Deveria ser leiloado depois de um - propositalmente - lento processo, de tal forma que o seu retorno ao transporte ilegal de madeira não seja tão célere quanto hoje.
Você leitor pode argumentar: "Ah, mas isso só vai atingir inocentes, os pobres empregados ou motoristas autônomos que ganham miséria para fazer o serviço". Talvez no início isso até aconteça. Entretanto, depois que todos se conscientizarem da gravidade do crime, as pessoas de bem não vão se arriscar e nem vão poder argumentar que não sabiam que era crime transportar madeira ilegal. Voce, um cidadão de bem, tem coragem de sair pela rua portando arma de fogo sem ter porte para tal? A mais provável resposta para esta pergunta é um NÃO maiúsculo. Você não apenas não tem, como sabe que é ilegal e que se for pego você vai para a cadeia. Então quem teria coragem de andar armado ilegalmente pelas ruas? Os bandidos e os criminosos. Só eles têm esta audácia.
Vejo tudo de forma tão simples! Depois de um início complicado e polêmico a lei que criminalizar o transporte ilegal da madeira vai "pegar". A divulgação da mesma vai ser feita de graça por que falar sobre a Amazônia dá ibope, ainda mais de uma lei desse tipo. Tudo vai ficar mais difícil para os madeireiros ilegais. No lugar de ter que "armar esquemas" apenas com pessoal do IBAMA e de um ou outro órgão dos Estados, vai ser preciso "controlar" as polícias civis, militares e federal. Seria preciso muito dinheiro para fazer um esquema funcionar tendo que lidar com tanta gente. O "custo" da exploração e da venda iria subir astronomicamente. Os maiores beneficiários sob o ponto de vista comercial seriam as empresas revendedoras de caminhões e tratores. Haja caminhão para substituir a frota que seria apreendida, sem perspectivas de retorno imediato ao mercado.
Com isto, roubar madeira na Amazônia passaria a ser coisa de "profissional" e exigiria "alto investimento". Aqueles que financiam a atividade e que hoje têm retorno garantido para os seus "investimentos", iriam pensar duas vezes antes de arriscar seu capital. Qual o grau de certeza quanto ao retorno que poderiam ter? Com o tempo, só os criminosos convictos vão tentar continuar a trilhar o caminho da ilegalidade. Vão fazer isso por que eles são tão audaciosos quanto os bandidos comuns que andam armados, assaltando e matando inocentes por todo o Brasil.
Como vocês leitores devem saber, para este tipo de gente, a tentação do lucro fácil sempre vai falar mais alto e cedo ou tarde eles vão cair em tentação. É torcer para que as garras da justiça não deixem eles escaparem.

Links úteis:
Desmontado novo esquema de comércio ilegal de madeira na Amazônia
Assecon MMA, 26/10

Megaoperação - 'Ouro Verde' prende 43 pessoas
Diário do Pará, 27/10

26 outubro 2005

PAISES EM DESENVOLVIMENTO: O ALTO CUSTO DA DRENAGEM DE "CÉREBROS"

Abaixo apresento tradução de um artigo do New York Times que me fez voltar no tempo e relembrar situações que testemunhei enquanto era estudante de pós-graduação nos EUA. O artigo só comprova a impressão que tive quando via as dezenas de bolsas Pós-Doc sendo oferecidas aos estudantes que concluiam seus Doutorados. Muitos deles eram estrangeiros, a maioria asiáticos atraídos para o duro trabalho nos laboratórios de biologia molecular, então em grande expansão.
Em outras ocasiões lia no mesmo NYTimes que empresários da indústria de software e hardware do vale do silício, na California, estavam "obrigando" o governo americano a oferecer e, em alguns casos prorrogar, os vistos especiais de trabalho para que até 12.000 engenheiros estrangeiros pudessem entrar nos EUA para assumir postos de trabalho que não estavam sendo preenchidos por Americanos natos. As universidades do país não conseguiam atender a demanda.
Até as escolas de segundo grau (high school) da cidade de Nova Yorque, então governada pelo prefeito Ruddy Giuliani, sairam à caça de talentos nas diferentes áreas de ciências. É que o custo de vida na cidade tinha ficado tão alto que muitos professores antigos pediram demissão e foram para os subúrbios, onde os preços e a qualidade de vida eram melhores.
Lembro que colegas meus do programa de PhD em Biologia, muitos da África, Índia e América Central, ficaram "ouriçados" com a possiblidade de conseguir o emprego e o consequente visto permanente. Alguns como meu grande amigo Rajendra (nickname: Raj), um jovem da Guiana Inglesa, decidiu tentar e parece que consegui ficar por lá. Quanto ao seu país, que tanto esperava dele quando voltasse, não havia muito o que fazer. Pagou todas as despesas dele até ele se formar na Universidade pública de lá. Ficou no prejuízo. Raj preferiu ser professor de segundo grau nos EUA a ser um líder no campo das ciências biológicas em seu país. Ele recusou a oportunidade de fazer a diferença. Preferiu ser apenas mais um.
Isto é drenagem de cérebros do terceiro para o primero mundo. Não podemos culpar unicamente os americanos por isso por que eles não forçam a barra. Apenas oferecem as oportunidades. Jogam a isca. Se os peixes fisgarem eles agradecem e fazem bom proveito dele.
Boa leitura. Reflitam sobre esse tema.

PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO SÃO OS MAIS PREJUDICADOS PELA DRENAGEM DE CÉREBROS

Tradução: Evandro J. L. Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Países pobres na África, América Central e Caribe estão perdendo, muitas vezes em quantidades impressionantes, grande parte de seus trabalhadores com nível universitário para paises desenvolvidos, de acordo com relatório do Banco Mundial publicado no dia 24/10.
O estudo documenta um padrão pertubador de "drenagem de cérebros", ou seja, a saída de trabalhadores treinados, geralmente de classe média, que poderiam ajudar a tirar os seus países da pobreza. Embora os efeitos exatos desse fato ainda sejam pouco entendidos, existe um crescente sentimento entre economistas que de este tipo de migração desempenha um papel crucial no desenvolvimento dos países.
Os resultados do estudo são baseados em extensivas pesquisas nos censos e outras informações dos 30 países que fazem parte da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que inclui a maioria dos países mais ricos do mundo.
Segundo o estudo, entre um quarto e a metade dos cidadãos com formação de nível superior de países pobres como Gana, Moçambique, Kenia, Uganda e El Salvador estão vivendo no exterior, em um dos países da OCDE. Esta proporção sobe para mais de 80% nos casos do Haiti e Jamaica. Em contraste, menos de 5% de pessoas treinadas de países em desenvolvimento mais avançados como a Índia, China, Indonésia e o Brasil estão no exterior, em alguns dos paises da OCDE.
- "Este padrão sugere que a saída em larga escala de pessoas educadas está causando danos em muitos países pobres de tamanho pequeno a médio. Os paises em desenvolvimento de maior porte estão enfrentando esta perda relativamente pequena sem maiores problemas e, em alguns casos, se beneficiando desta saída quando estes trabalhadores retornam ou investem em sua terra natal", diz Frédéric Docquier, um dos pesquisadores que liderou a pesquisa para o Banco Mundial e economista na Universidade deLeuven, na Bélgica.
- "Para um país, um terço de seus cidadãos com nível universitário morando fora, é causa para grande preocupação" diz Alan Winters, diretor do grupo de pesquisa sobre desenvolvimento do Banco Mundial.
O estudo do Banco Mundial, publicado ontem no livro "Migração Internacional, Remessas e Dreno de Cérebros," também apresenta uma análise do efeito do dinheiro que migrantes da Guatemala, Mexico e Filipinas enviam para seus países, geralmente para suas famílias. Estas remessas, conhecidas como "envios", ajudaram a reduzir a pobreza nestes países e foram uma das principais fontes de moeda estrangeira.
Mas as implicações destes envios foram mais complexas. Na Guatemala, por exemplo, famílias do meio rural que receberam esse dinheiro investiram mais na educação do que em bens de consumo. No México, crianças em famílias de migrantes tiveram menos formação educacional do que as de famílias de não migrantes, possivelmente porque suas famílias acreditam que elas eventualmente poderão emigrar para os EUA em busca de trabalhos que não exigem qualquer tipo de preparo e que não requerem alto nível de educação.
Alguns dos dados sobre o dreno de cérebros tem provocado debates. Mark Rosenzweig, um economista da Yale University, argumenta que os dados coletados pelo banco estão superestimados por que não excluiram os migrantes que chegaram nos países desenvolvidos quando ainda eram crianças, ou que tiveram a oportunidade de obter diplomas universitários nestes países. Dados da pesquisa sobre os imigrantes da Jamaica, por exemplo, mostra que quase 4 de 10 dos migrantes vieram para os EUA antes da idade de 20 anos, diz o economista.
Os pesquisadores do Banco, por outro lado, dizem que eles agora estão coletando este tipo de informação, embora nem sempre estejam disponíveis para muitos dos países estudados. Eles reconhecem que é muito importante saber onde os migrantes foram educados, mas eles e outros especialistas de fora do Banco dizem que o último relatório ainda oferece o mais compreensivo conjunto de dados sobre a magnitude do dreno de cérebros dos paises mais pobres, mesmo reconhecendo que ele é rudimentar e incompleto.
A maioria dos especialistas concorda que o êxodo de trabalhadores educados dos paises mais pobres é um sintoma dos graves problemas econômicos, sociais e políticos destes países e tem efeitos graves nas profissões mais necessárias, como as ligadas à saúde e a educação
Jagdish Bhagwati, economista da Columbia University que migrou da Índia no final dos anos 60, diz que imigrantes quase sempre estavam "votando com os pés" ao decidir abandonar países que eram economicamente problemáticos e politicamente mal conduzidos. O ato de deixar o país era uma forma de ter a atenção de seus governantes.
- "Se ficar, você não tem qualquer poder de barganha" diz ele.
Mas alguns acadêmicos estão inquirindo se a drenagem de cérebros também não está alimentando um ciclo vicioso para baixo em direção ao subdesenvolvimento - e tem tirado dos países mais pobres as pessoas com a vontade e a habilidade de resistir à corrupção e incompetência governamental.
Devesh Kapur e John McHale argumentam no seu livro "Nos dêm os seus melhores e mais inteligentes", publicado na semana passada pelo Centro para o Desenvolvimento Global, um grupo de pesquisa baseado em Washington, que a perda de pessoas que poderiam liderar e fazer diferenaça - gerentes de hospitais, lideres de departamentos universitários e reformistas políticos, entre outros - pode ajudar a deixar os países mais pobres em uma armadilha de pobreza.
- "Não é apenas a perda dos profissionais", diz Davesh Kapur, um professor associado na área de governo da Universidade do Texas, em Austin. "É também a perda da classe média".
A questão sobre o que pode ser feito para diminuir os danos é algo urgente e leva a questões difíceis, tais como uma possível limitação ou não da migração de mão de obra especializada. As políticas de imigração dos países mais ricos, incluindo os EUA, Canada, Inglaterra e Austrália, sempre se orientaram no sentido de atrair profissionais de alto nível para aumentar sua competitividade e preencher lacunas domésticas em certas áreas.
Muitos especialistas dizem que se opõe ao esforço de inibir o movimento de migrantes treinados, e estão debatendo possíveis alternativas para ajudar os países pobres a lidar com isso. Uma idéia do professor Bhagwati, proposta inicialmente nos anos 70 - que países em desenvolvimento cobrassem impostos de seus trabalhadores migrantes - está sendo novamente estudada.
Editores do livro publicado pelo Banco Mundial dizem que são necessárias políticas específicas para aumentar a renda dos profissionais capacitados nos seus próprios países.
Outros, incluindo o professor Kapur e professor McHale, um economista na Faculdade de Economia da Queen's University, em Kingston, Ontario, sugere que novas formas de compensar os países pobres mais afetados pelo dreno de cérebros têm que ser encontradas. Eles também dizem que os países ricos deveriam considerar a criação de um tipo de visto com tempo limitado que iria permitir aos profissionais capacitados trabalhar por alguns anos, antes de levar seus conhecimentos e economias de volta aos seus países.
O professor Kapur diz que para um trabalhador imigrante de alto nível proveniente de um país pobre ganhar um visto para trabalhar em um país desenvolvido é como ganhar na loteria, tendo em vista que os ganhos decorrentes de sua mudança de país são muito grandes. Não importa o tipo de solução, diz ele, os benefícios para os poucos que têm a sorte de conseguir sair precisam ser pesados contra os custos deixados para os seus conterrâneos que ficam para trás.

Link para o artigo original:
Developing Lands Hit Hardest by 'Brain Drain'
By CELIA W. DUGGER Published: October 25, 2005
The New York Times

SÉRIE ESPECIAL: BREVE HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO ECONÔMICA E CIENTÍFICA DA AMAZÔNIA

A partir deste fim de semana passaremos a publicar uma série especial de artigos - ainda sem periodicidade definida - na qual abordaremos alguns assuntos relevantes sobre a história da exploração científica e econômica da Amazônia. Os artigos, produzidos com a ajuda de colegas, serão longos e detalhados, porém em linguagem simplificada e de cunho jornalístico para tornar agradável e fácil a leitura. Em razão do tamanho dos artigos, os mesmos deverão ser divididos em duas partes. A primeira publicada no sábado e a segunda no domingo.

O primeiro artigo da série vai abordar a história e a situação atual do mercado de óleos de plantas amazônicas. Vocês estão convidados a visitar o blog neste sábado e domingo. Até lá.

PÓS-GRADUAÇÃO NO INPA

O programa integrado de pós-graduação em biologia tropical e recursos naturais do INPA está informando na sua página os locais das provas para a seleção das turmas para o ano de 2006. Clique aqui para acessar a listagem.

O Programa de Pós-Graduação do INPA

O INPA possui o maior programa de pós-graduação em biologia tropical e manejo de recursos naturais de toda a Amazônia. São oferecidas anualmente 118 vagas (Mestrado e Doutorado) nos seguintes cursos: Agricultura do Trópico Úmido (15), Biologia de Água Doce e Pesca Interior (18), Botânica (13), Ecologia (20), Entomologia (18), Ciências Florestais Tropicais (20) e Genética, Conservação e Biologia Evolutiva (14).
Este ano as provas de seleção para os diferentes cursos acontecerão no mesmo dia, não sendo possível aos candidatos concorrer a mais de uma vaga. Estão inscritos 665 candidatos (média de 5,6 por vaga), que irão fazer as provas por todo o Brasil, inclusive em Rio Branco. O curso mais concorrido é o de Ecologia, o melhor do Brasil, com 9,9 candidatos disputando cada uma das vagas 20 vagas. Digno de nota o fato que 2/3 dos candidatos inscritos para este curso são de fora da região Amazônica.

Inscrições e locais de realização das provas

As inscrições acontecem anualmente entre os dias 15 de julho e 30 de setembro e podem ser feitas pela Internet. Havendo candidatos, as provas são aplicadas em todas as capitais de Estados da Amazônia. Este ano, além de Manaus, Belém, Porto Velho, Rio Branco e Boa Vista, as provas também acontecerão nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Piracicaba, Londrina, Santarém, São Luis, Cuiabá, Palmas, Recife, Brasília, Salvador e Porto Alegre.
Aos leitores do blog que moram em Rio Branco e que estão com planos de fazer pós-graduação, recomendo tentar o programa do INPA. A maioria dos cursos dispõe de bolsa da CAPES (cerca de R$ 700/mês) para os melhores classificados na seleção. Alguns, como o de Ecologia, oferecem bolsas para a maioria dos selecionados. Informações adicionais podem ser solicitadas a minha pessoa (trabalho no INPA). Tenho o maior interesse em ajudar.

25 outubro 2005

RAZÕES PARA A LIBERAÇÃO DO MEGADESMATADOR DO PARÁ

O fazendeiro José Dias Pereira foi solto por decisão unânime dos desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), em Brasília, que entenderam que não há comprovação de que ele desmatou terras da União. Por isso o caso tem que ser enviado para a justiça estadual.

Provas não foram aceitas

Os mapas do desmatamento irregular, elaborados a partir de imagens de satélites não foram suficientes para provar aos desembargadores que o fazendeiro havia desmatado 1.900 hectares de floresta da Estação Ecológica "Terra do Meio", criada pelo MMA logo após o assassinato da americana Dorothy Stang. Por esta razão eles consideraram que a terra desmatada era do governo do Pará e o crime de alçada estadual. Assim, o processo vai ter que recomeçar do zero e tudo vai ter que ser refeito.

Decisão foi criticada e pode abrir precedente perigoso

Para o procurador da República em Santarém, Renato Rezende Gomes, que havia pedido e conseguido que o juiz federal da região decretasse a prisão preventiva do fazendeiro, o TRF foi "desigual" e não deu valor ao crime.

- "Se fosse um homicídio ou um estupro, ele não teria sido posto em liberdade, mas, como se trata de crime ambiental e não se tem uma cultura (no Brasil) de que é um crime lesivo, o fazendeiro foi solto", afirmou Gomes. Para o procurador, a liberdade do acusado não deveria ser concedida até que a Justiça Estadual se manifestasse sobre o caso.
O fazendeiro foi o primeiro desmatador preso na história do Brasil. Com a sua soltura, o procurador teme a abertura um "perigoso precedente" para outros crimes ambientais que envolvem grandes desmatamentos e queimadas.

Link original:
Superdesmatador do Pará é solto - O Estado de São Paulo, 25/10

O CRIME AMBIENTAL COMPENSA?

No Domingo passado publiquei um post (O poder da imprensa) sobre uma reportagem do diário inglês THE GUARDIAN que considerei injusta com o Brasil. Em uma das frases, o reporter inglês dizia: ...“Dorothy Stang foi provavelmente assassinada por fazendeiros, que por toda a Amazônia são protegidos pela polícia”.
O que você acha leitor?
Se você concorda saiba que isso não irá surpreender ninguem. É essa a impressão que a gente tem no Brasil, onde é mais fácil prender - e manter injustamente na cadeia por meses - um ladrão de galinhas do que um acusado de crime ambiental, réu confesso e reincidente. Duvida? Leia o que saiu hoje no site do Estadão.com (links no final do post). Lá você vai ter o desprazer de saber que o Sr. José Dias Pereira, aquele réu confesso que derrubou de uma só vez 2 milhões de árvores no Pará, não apenas foi solto, mas teve o processo aberto contra ele anulado por que a justiça federal se considera incompetente para julgar o crime. Como diz o ditado popular, "toma que o filho é teu". Enquanto isto o acusado, citado pelo MMA como uma das provas vivas de que os crimes ambientais no Brasil estão sendo combatidos, vai ficar livre.
Se provadas verdadeiras todas as acusações contra o Sr. Dias Pereira, isso significa que o crime até agora tem sido mais do que compensador para ele. No ano passado ele derrubou ilegalmente 2.053 hectares de mata e foi multado em R$ 3 milhões pelo IBAMA. Ele passou longe da cadeia e, aparentemente, providências concretas (cobrança da multa) não foram efetivadas contra o mesmo. Talvez por isso este ano ele mais que triplicou a área derrubada ilegalmente. De uma só vez foram ao chão 6.852 hectares de floresta para a formação de pastagens. Foi multado em R$ 10 milhões. Não deu para ele ficar fora da cadeia por que a indignação e o tamanho do estrago ambiental foram demais.
Agora que ele foi solto e considerando as acusações que pesam contra ele em virtude de suas atitudes dos anos anteriores, o que você, caro leitor, acha que vai acontecer no ano que vem? Qual a mensagem que a nossa justiça - não importa se federal ou estadual - passa aos demais destruidores da nossa floresta Amazônica?
"Afinal, o crime ambiental compensa no Brasil?" Enquanto isso o meio ambiente clama: "justiça e cadeia para os criminosos!"

Links para as reportagens do Estadão.com:
Homem que derrubou 2 milhões de árvores no Pará é solto
Fazendeiro confessa derrubada de 2 milhões de árvores no Pará

MESTRADO EM ECOLOGIA NA UFAC: INSCRIÇÕES ABERTAS

Estão abertas desde o dia 17 de outubro, com encerramento previsto para o dia 30 de novembro, as inscrições para a seleção do Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais da UFAC. Serão oferecidas 15 vagas e os três melhores classificados possuem grande chance de receber bolsa de estudo da CAPES no valor aproximado de R$ 700/mês. As provas irão acontecer entre os dias 12 e 15 de dezembro. O resultado sai no dia 16. O edital com todas as informações está disponível na página do curso (clique aqui).
Aproveito para informar aos interessados que faço parte do quadro de professores do referido curso e este ano estarei com disponibilidade de orientar até dois alunos. Tenho especial interesse em orientar estudante para levantar informações sobre a diversidade e usos de espécies oleaginosas nativas do Acre visando o seu futuro aproveitamento na produção de biodiesel. Existem recursos financeiros para a realização do trabalho de campo via projeto do CNPq que conseguimos aprovar no ano passado.

MESTRADO EM AGRONOMIA NA UFAC

No post "QUEM SABE MAIS SOBRE A AMAZÔNIA?" (21/10) havíamos informado sobre a criação de 3 novos cursos de mestrado na UFAC: o de produção vegetal (com apoio importante da Embrapa-AC), o de desenvolvimento regional, envolvendo equipe multidisciplinar das áreas de Economia, Biologia e Ciências Sociais e o de letras (linguagens e identidade). Os detalhes sobre o novo mestrado em produção vegetal (Agronomia) foram publicados em uma excelente nota no diário virtual "Notícias da Hora". Leia a íntegra da reportagem de Edmilson Ferreira abaixo:

Aprovado curso de mestrado em Agronomia na Ufac
Edmilson Ferreira
RIO BRANCO, AC – Estudantes e pesquisadores agora podem ter acesso ao curso de mestrado em Agronomia, aprovado recentemente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculado ao Ministério da Educação. O curso será ministrado em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Entre seus articuladores estão os pesquisadores Paulo Guilherme Salvador Wadt e Sebastião Elviro de Araújo Neto, da Embrapa, que assinam artigo abaixo sobre o tema. “Os trabalhos de tese poderão ser desenvolvidos na Embrapa ou na própria Ufac e a expectativa é que desde o início haja uma grande integração dos alunos nas duas instituições, principalmente para que todos os participantes do curso possam aproveitar as boas condições dos laboratórios e da infra-estrutura existentes na Embrapa e a sólida experiência da Ufac no ensino. Além disto, já existem muitos projetos de pesquisa em desenvolvimento que poderão apoiar os trabalhos de pesquisa e facilitar a produtividade acadêmica dos estudantes”, dizem Wadt e Neto no artigo que segue abaixo:

Capes aprova mestrado em agronomia promovido pela Ufac e Embrapa

¹Paulo Guilherme Salvador Wadt
²Sebastião Elviro de Araújo Neto

Em setembro último o curso de Mestrado em Agronomia, área de concentração em Produção Vegetal, a ser oferecido pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e a Embrapa Acre, foi aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). (clique aqui para ler a nota completa publicada no diário virtual Última Hora de 24/10)

24 outubro 2005

ACRE: A GRANDE SECA DE 2006 JÁ ESTÁ ANUNCIADA

No domingo, 23/10, o Dr. Foster Bronw, do SETEM/UFAC encaminhou e-mail para dezenas de pessoas pedindo para todos se prepararem: vai haver uma seca severa em 2006. As chuvas que cairam durante 2005 estão até 30% inferiores ao normal. Com a seca os problemas enfrentados pelos acreanos neste ano irão se repetir no ano que vem, talvez até com mais intensidade: incêndios descontrolados de áreas agrícolas e florestais, fumaça, aeroportos fechados, crises generalizadas na área de saúde.
Em 2005, depois de uma paralisia inicial, o Governo do Estado conseguiu se mobilizar e uniu a todos para combater a crise no meio ambiente acreano. Graças a isso já existem planos sendo feitos para o ano que vem. Não vamos ser pegos desprevenidos. Ainda bem.
Só existe um pequeno detalhe para o qual ainda não foi possível se chegar a um consenso e que vai fazer grande diferença no ano eleitoral que se aproxima:

- De quem é a culpa?

TOM DA CAMPANHA ELEITORAL EM 2006 VAI SER A DISCUSSÃO AMBIENTAL

É isso mesmo. A campanha política de 2006 vai girar em torno deste assunto. Vamos ouvir muitos discursos sobre as vantagens de diferentes modelos de desenvolvimento. Literalmente voarão faiscas das discussões que deverão ser travadas no campo político para apontar os "judas" da falência ambiental do Acre. Só recomendo que as discussões sempre sejam realizdas em ambientes fechados, longe de lugares propensos a pegar fogo.
Me preocupa que a turma do "quanto pior melhor" vai ter que ser vigiada de perto para não cometer absurdos em nome da conquista de alguns votos ou para provar que eles estão certos e os outros errados. A imprensa sensacionalista vai torcer silenciosamente para que desastres espetaculares aconteçam. Vai ser interessante ver dezenas de candidatos que não têm a menor idéia do que seja meio ambiente, subir em palanques para dizer que eles são "a favor do meio ambiente!".
O ano promete. Vai fazer jus ao didato acreano que diz que "ano eleitoral é fogo!"

PÓS-GRADUAÇÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

Informo aos leitores (e solicito que divulguem entre os colegas) que a Universidade Federal do Amazonas-UFAM deverá abrir nos próximos dias as inscrições para a seleção do curso AGRICULTURA E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA (nível de mestrado). Estamos negociando com a coordenação do referido curso para que as provas dos candidatos acreanos que vierem a se inscrever possam ser realizadas em Rio Branco. A previsão inicial de data para a realização da seleção será os dias 12 e 13 de dezembro. Em razão do conflito de datas com a seleção do mestrado da UFAC, estamos tentando adiantar a data para os dias 5 e 6/12. Solicito aos interessados consultar o blog no meio da semana para maiores informações.

23 outubro 2005

O PODER DA IMPRENSA

O JABÁ ESTÁ EM FALTA NO MERCADO BRASILEIRO?

Aqui no Acre a gente já sabe. Muitos políticos, pastores, empresários e mesmo jornalistas sentiram na pele este poder: ostracismo, destruição moral, falência e desemprego. Felizmente por aqui o grosso da destruição é política. Não lembro de ter visto na imprensa local uma campanha sistemática para destruir economicamente uma pessoa ou empresa. Mas isto está acontecendo agora com a exportação e o consumo de carne brasileira na Inglaterra em função da ocorrência da febre aftosa.
O respeitado jornal britânico THE GUARDIAN publicou na sexta-feira (21/10) uma “verdadeira obra de arte” na qual uma série de absurdos são colocados livremente no texto. Não são absurdos gramaticais, mas de opinião distorcida dos fatos bem ao estilo daquelas que a gente está acostumado a ler no Brasil durante o período de campanhas eleitorais. Nestes tempos de internet, e vindo do THE GUARDIAN, a notícia se espalha rápido pelo mundo como fogo em palha seca. Mentiras ou quase mentiras vão ser transformadas em no mínimo verdades ou meias verdades.
Veja algumas opiniões extraídas do artigo:
...”a Amazônia é responsável por 80% da produção de carne no Brasil”...
...”a próxima vez que você (consumidor britânico de carne brasileira) ver imagens da floresta sendo queimada, lembre-se que talvez você tenha pagado por isso”.
...“Muitos brasileiros, especialmente aqueles que têm a terra tomada pelos fazendeiros estão tentando brecar a destruição da floresta. Os fazendeiros têm um argumento efetivo contra isso: se as pessoas reclamam, eles as matam”...
...“Dorothy Stang foi provavelmente assassinada por fazendeiros, que por toda a Amazônia são protegidos pela polícia”.
...“Pelas mesmas razões, e apesar dos esforços do presidente Lula, os fazendeiros empregam cerca de 25.000 escravos em suas propriedades...a escravidão na Amazônia quintuplicou em 10 anos”.
...“Isto não significa necessariamente que estas firmas (supermercados) estão comprando carne da Amazônia: entretanto, se comprarem carne de outras regiões do Brasil, isso cria um buraco no mercado interno, que vai ser preenchido pela carne produzida na Amazônia".
Eu sempre pensei que imprensa “comprometida” com certas causas obscuras fosse coisa de país subdesenvolvido como o Brasil. Estou redondamente enganado. O “jabá” existe em todos os lugares, mesmo nos mais insuspeitos.
Mais surpreso fiquei com a apatia e desdém da imprensa brasileira ao ignorar completamente a reportagem absurda do THE GUARDIAN. Talvez porque no Brasil é chique comentar apenas o que sai no New York Times. Meu blog com certeza não vai fazer muita diferença. Então me resta torcer para que o Larry Rhoter, correspondente do NYT no Brasil se interesse pelo assunto.
- Que tal uma jabá Larry? Daqui do Acre te posso mandar via Sedex a autêntica jabá acreana feita com carne de cavalo ou de gado. Você escolhe.

Link para o artigo original:
The real price of Brazilian beef can be tallied in disease, deforestation, slavery and probably murder, By George Monbiot, THE GUARDIAN , LONDON Friday, Oct 21, 2005, Page 9

22 outubro 2005

EXPLORAÇÃO SELETIVA DE MADEIRA NA AMAZÔNIA (2)

MMA, INPE e IMAZON REBATEM DADOS PUBLICADOS

Ontem, 21/10, o MMA, INPE e o IMAZON distribuiram comunicados à imprensa contestando os dados publicados no artigo “Selective Logging in the Brazilian Amazon” (Science 310: 21/10/05), dos pesquisadores Gregory P. Asner, David E. Knapp, Eben N. Broadbent, Paulo J. C. Oliveira, Michael Keller e José N. Silva, no qual se afirma que a devastação da amazônia é bem maior do que se pensava.
Este blog toma a liberdade de publicar a íntegra das duas notas para que os leitores possam formar sua própria opinião. De antemão se pode verificar que a técnica usada na pesquisa não é contestada. Por um lado o INPE/IMAZON contesta as estimativas de produção de madeira, produção de carbono e algumas localidades citadas como locais onde ocorreu a exploração, e que não correspondem à realidade. O MMA, por sua vez, defende os atuais índices de destruição da Amazônia, ressaltando que existe uma tendência de queda de 40% no desmatamento este ano. Ele reconhece a importância da nova tecnologia e visando "aprimorar um debate que leve à técnicas mais apuradas de detecção dos impactos da ação humana na Amazônia", decidiu convidar, tanto instituições brasileiras quanto os autores do estudo, para uma reunião de trabalho, a ser acertada na próxima semana.
Veja a nota do INPE/IMAZON e do MMA abaixo.

EXPLORAÇÃO SELETIVA DE MADEIRA NA AMAZÔNIA (3)

ÍNTEGRA DA NOTA TÉCNICA DO INPE/IPAM

Nota técnica sobre o artigo “Selective Logging in the Brazilian Amazon”, Asner et al., Science (310): 21/10/05.
Preparada por: Gilberto Câmara, Dalton Valeriano, João Vianei Soares (INPE), Carlos Souza Jr (IMAZON).
1. O artigo de Asner et al. (2005) trata de corte seletivo da floresta para exploração de madeira. Esta atividade retira as árvores com valor comercial e não deve ser confundida com o corte raso. No corte raso, após a retirada das espécies com valor comercial, o restante da floresta é derrubado e queimado. As estimativas de desmatamento do INPE medem as situações de corte raso. Deste modo, os dados de áreas onde ocorre corte seletivo apresentados por Asner et al.(2005) não tem impacto sobre as estimativas de desmatamento realizadas pelo INPE.
2. Os pesquisadores do INPE e do IMAZON consideram que o desafio de mapear a extensão do corte seletivo na Amazônia é uma tarefa científica relevante. Estas instituições também trabalham no tema, como evidenciam resultados científicos recentes (ver lista em Anexo).
3. Os dados do artigo de Asner et al. necessitam de uma análise detalhada, que requer acesso irrestrito às imagens e mapas utilizados pelos autores. Da mesma forma que o INPE colocou à disposição da comunidade científica as imagens e mapas utilizados para estimar o desmatamento na Amazônia, estamos solicitando reciprocidade a Asner et al. para ter acesso a seus dados.
4. Numa análise preliminar do artigo, verificamos existir várias inconsistências que indicam uma superestimativa das áreas sujeitas a corte seletivo. Apontamos a seguir algumas delas.
5. Estimativas do IMAZON indicam que a produção de madeira na Amazônia tem se mantido entre 28 milhões m3 de madeira em tora (dados de 1998) e 25 milhões m3 de madeira em tora (dados de 2004). A capacidade industrial de processamento de madeira é desta ordem e não teve crescimento significativo nos anos recentes. No entanto, Asner et al. afirmam que a produção de madeira em tora por corte seletivo seria de 50 milhões de m3 em 2000. Consideramos que este valor está superestimado. Sabe-se que 30% da produção de madeira em tora na Amazônia vem de áreas de corte raso. Também é conhecido que a madeira proveniente da várzea da calha do Amazonas contribui entre 10 e 20% da produção total. Logo, se a estimativa dos autores sobre a produção por corte seletivo estivesse correta, a produção total de madeira em tora seria de 75 milhões de m3 em 2000. Este valor é incompatível com a capacidade instalada da indústria madeireira na Amazônia. Também nos parece inverossímil uma variação de produção de madeira que oscile entre 50 milhões de m3 em 2000 para 30 milhões de m3 em 2001.
6. Mesmo na escala limitada do mapa que apresenta áreas de corte seletivo publicado em Asner et al. é possível observar várias inconsistências. Os autores apontam muitos locais de corte seletivo no interior das terras indígenas Menkragnoti e Kayapó, no sul do Pará. Estes locais são afloramentos rochosos onde a vegetação é esparsa. A experiência do INPE mostra que regiões de afloramento são sistematicamente confundidas com degradação florestal em imagens de satélite. Isto aponta para um erro na metodologia de Anser et al., que pode ter ocorrido também em outras áreas da Amazônia.
7. No centro-norte de Mato Grosso, na região adjacente ao parque nacional do Xingu, os autores também apresentam uma extensa área de corte seletivo. Esta área não corresponde ao padrão espacial típico de corte seletivo. Os autores apontam uma área de corte seletivo de 13.000 km2 em MT de um total de 20.000 km2 em toda a Amazônia para o ano de 2000. Nossa experiência indica tratar-se que esta proporção de 65% é irrealista e incompatível com a capacidade de processamento local. Os dados de campo indicam que o MT tem hoje uma participação da ordem de 30% na produção de madeira em tora na Amazônia (esta participação cresceu de 1998 para 2004).
8. No resumo do artigo, os autores afirmam que “a cada ano, são liberados na atmosfera 0.1 bilhões de toneladas de CO2 por corte seletivo, com um acréscimo de 25% em relação ao estimado por corte raso”. Este valor se baseia em extrapolações irrealistas. Os autores consideraram a maior estimativa de corte de um único ano no período analisado: 50 milhões de m3 de madeira em 2000. Como discutido acima, este valor está superestimado. Com base nesta superestimativa de um único ano, eles concluíram que a emissão anual de carbono seria de 0.1 bilhões de toneladas de CO2.
9. Como se sabe, após o corte seletivo ocorre um processo de regeneração na floresta. A regeneração tem por efeito a absorção de CO2 pelas árvores em crescimento. Embora os autores reconheçam este fato e afirmem que “a regeneração na floresta em áreas de corte seletivo reduz a emissão de CO2 para a atmosfera”, eles não quantificam esta redução.
10. As inconsistências por nós apontadas indicam a necessidade de uma cuidadosa revisão da metodologia e dos resultados do artigo, antes que suas conclusões possam servir de base para definição de políticas públicas na Amazônia. As equipes do INPE e do IMAZON deverão realizar esta tarefa, e para tanto já solicitaram aos autores o amplo acesso aos seus dados e resultados.

Referências
- Lentini, M., Veríssimo, A.; Pereira, D. “A Expansão Madeireira na Amazônia”, “O Estado da Amazônia, Boletim do IMAZON no.2, Maio 2005 (http://www.imazon.org.br/upload/ea_2p.pdf).
- Souza Jr., C. M.; Roberts, D.; Cochrane, M. “Combining spectral and spatial information to map canopy damage from selective logging and forest fires”. Remote Sensing of Environment (2005): in press.
- Souza Jr., C. M.; Roberts, D. “Mapping forest degradation in the Amazon region with Ikonos images”. International Journal of Remote Sensing of Environment, 26:425-429, 2003.
- “Monitoramento e caracterização de áreas submetidas à exploraçãoflorestal na amazônia por técnicas de detecção de mudanças”. Tese de Doutorado em Sensoriamento Remoto, Paulo Graça, INPE, 2005 (orientação de João Vianei Soares e João Roberto dos Santos).

EXPLORAÇÃO SELETIVA DE MADEIRA NA AMAZÔNIA (4)

VEJA A ÍNTEGRA DA NOTA DO MMA

Nota do Ministério do Meio Ambiente - 21/10/2005

O Ministério do Meio Ambiente considera o estudo realizado por pesquisadores estrangeiros e brasileiros publicado na revista Science sobre Corte Seletivo na Amazônia Brasileira uma contribuição importante para a pesquisa ambiental, por avaliar o impacto das atividades antrópicas sobre a floresta amazônica, usando o sensoriamento remoto. Instituições brasileiras, como o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especais) e o Imazon (Instituto do Meio Ambiente e do Homem da Amazônia) contudo, apontam para possíveis inconsistências no estudo.
Por isso, e com o objetivo de aprimorar um debate que leve à técnicas mais apuradas de detecção dos impactos da ação humana na Amazônia, o Ministério do Meio Ambiente decidiu convidar, tanto instituições brasileiras quanto os autores do estudo, para uma reunião de trabalho, a ser acertada na próxima semana.
Este Ministério esclarece ainda que o estudo, que avalia a exploração de madeira entre 1999 e 2002, não traz qualquer elemento que permita concluir que o desmatamento na Amazônia seja maior que os números levantados anualmente pelo Inpe. O estudo trata apenas de áreas de corte seletivo que, quando feito de forma predatória, causa sério impactos à conservação da floresta e da biodiversidade. A pesquisa não trata de desmatamento, que envolve a retirada de 100% da cobertura florestal, sem possibilidade de recuperação da floresta. Tanto é assim, que a área desmatada da Floresta Amazônica, medida anualmente pelo Inpe, não é questionada pelo estudo.
Dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), também do Inpe, apontam uma tendência de redução de 40% no desmatamento da Amazônia este ano. Entretanto, tanto o desmatamento como o corte seletivo predatório continuam sendo preocupações extremamente importantes e alvo de amplas ações de prevenção e controle do Governo Federal.

21 outubro 2005

EXTRAÇÃO SELETIVA DE MADEIRA NA AMAZÔNIA

DESTRUIÇÃO FURTIVA DA FLORESTA

Os pesquisadores conseguiram contar o incontável. Foi publicado hoje (21/10) na revista Science estudo de cientistas da Carnegie Institution of Washington in Stanford, California, que mostra que a retirada seletiva de madeira na amazônia causou dano adicional à floresta que variou entre 60 e 123% a mais do que o detectado pelas imagens de satélites tradicionalmente usadas para estimar o desmatamento na região. O estudo foi feito durante quatro anos e os cientistas usaram um novo programa de computador, imagens de satélite de alta definição (resolução de 30 metros para segregar as árvores individualmente), e checagens no campo para a confirmação dos dados.
Este novo método é muito mais eficaz para detectar danos causados à floresta pela extração de uma ou duas árvores do que o sistema tradicional, que não apenas deixa de registrar 50% ou mais dos danos causados pela extração madeireira, mas também não mostra que ela resulta em 25% a mais de emissão de gases formadores do chamado efeito estufa na atmosfera. No Brasil, os sistemas de monitoramento da cobertura florestal podem detectar apenas derrubadas e queimadas, não podendo distinguir a retirada seletiva de árvores individuais por que as cicatrizes deixadas na floresta são camufladas pela copa densa da floresta.
O novo método, chamado de Carnegie Landsat Analysis System, usou imagens de três satelites da NASA (Landsat 7, Terra and Earth Observing 1) que recolheram dados de cinco Estados brasileiros - onde 90% dos desmatamentos ocorrem - entre os anos de 1999 e 2002. O satélite Earth Observing-1 tem sensores extremamente avançados que podem distinguir o solo e a copa da floresta. A equipe de pesquisa observou que no período estudado, entre 1,2 e 2 milhões de hectares de florestas foram exploradas anualmente para a retirada seletiva de madeira. Esta área equivale ao tamanho da Jamaica e de Porto Rico. A análise das imagens determinou que a extração seletiva afetou entre 12.000 e 20.000 km² nos diferentes pontos estudados, aumentando consideravelmente os valores previamente publicados de destruição da floresta nestas localidades. Para confirmar os resultados, os pesquisadores compararam os seus dados com estudos de campo para medir o dano no dossel da floresta em 11.000 localidades georeferenciadas (GPS) onde ocorreu a extração de madeira.
Os resultados indicam que o novo método apresenta uma precisão de até 86% e que as análises anteriores, feitas pelos métodos tradicionais, haviam deixado passar despercebidos pelo menos 50% dos danos causados no dossel da floresta. Em outras palavras, eles determinaram que para cada três árvores removidas, 30 ou mais foram severamente danificadas. Isto ocorre por que quando uma árvore é derrubada os cipós enramados entre as árvores contribuem para a queda ou dano não intencional nas árvores vizinhas.
A clareira que se abre diminui a umidade natural local, tornando a floresta suscetível ao fogo. Além disso, tratores e skidders usados para remover as toras provocam destruição adicional no nível do solo. As árvores caídas, os restos das árvores em decomposição deixados para trás e a grande quantidade de pó de serra produzida nas serrarias liberam gás carbônico na atmosfera. Enquanto o desmatamento convencional da floresta (corte raso) libera 400 milhões de toneladas de carbono a cada ano, a retirada seletiva de madeira produz cerca de 100 milhões, segundo estimativa dos pesquisadores responsáveis pela pesquisa.
"O mogno (nota do blog: proibido de ser retirado no Brasil) é uma espécie que todos conhecem", explica o autor principal do artigo, Gregory Asner da Universidade de Stanford nos EUA. "Mas na Amazônia existem pelo menos mais 35 espécies de madeira sendo exploradas e o dano que ocorre retirando apenas algumas destas árvores de cada vez é enorme". Comparado com o impacto que já se sabe que o desmatamento (corte raso) e a queima de grandes áreas causam, o impacto da extração seletiva "era praticamente invisível até agora" diz o pesquisador.
Os esforços para monitorar a extração seletiva de madeira na região até agora usam métodos imprecisos, que incluem pesquisas em pátios de serrarias - que não revelam a orígem da madeira, ou contagem direta no campo, que requer muito trabalho e é perigoso. Nenhum deles é útil quando se quer fazer uma estimativa em larga escala. "Com esta nova tecnologia, agora é possível detectar aberturas no dossel da floresta deixadas por apenas uma ou duas árvores" diz Gregory Asner.
Outro dado interessante da pesquisa diz respeito à retirada ilegal de madeira de áreas protegidas. De uma maneiras geral, a maioria delas não foi explorada. Entretanto, existem exceções notáveis nos estados do Mato Grosso e Pará, os dois Estados onde a extração seletiva é mais intensa.

Artigos que serviram de base para este post:
- Selective Logging Fails to Sustain Rainforest
- Satellite images reveal Amazon forest shrinking faster
- Logging threat to Amazon much greater than thought
- Selective logging 'doubles Amazon forest loss'
Leitura recomendada:
- Desmatamentos impunes

O ARTIGO DE GREGORY P. ASNER ET AL.

Aos leitores que possuem facilidade com o inglês, sugiro ler o original do artigo "Selective Logging in the Brazilian Amazon" by Gregory P. Asner, David E. Knapp, Eben N. Broadbent, Paulo J. C. Oliveira, Michael Keller, Jose N. Silva, publicado originalmente em Science 310:480-481. Se você não for assinante não é possível acessar via site de Sciente. O link abaixo foi disponibilizado pelo site AMAZONIA.
Link para o artigo: clique aqui.

QUEM SABE MAIS SOBRE A AMAZÔNIA?

BRASILEIROS OU ESTRANGEIROS? PORQUE?

Esta pergunta já me foi feita inúmeras vezes. Os leitores de jornais, revistas e os telespectadores da TV brasileira já observaram que "parece" que os estrangeiros sempre sabem algo a mais sobre a nossa "amazônia" do que nós mesmos.
Como pesquisador confesso que às vezes fico um pouco constrangido e com dificuldades de explicar. A imprensa é muito ativa e insistente, mas pouco contribui para o debate por que tem mais interesse sobre a biopirataria e a cooperação internacional, que de certa forma tem alijado a presença mais ativa de outras instituições nacionais na região.
Enfim, a impressão que dá é que nós, os pesquisadores brasileiros, somos meio incapazes. Mas acreditem: isto não é verdade.
Relendo uma
nota da imprensa sobre o 57° Congresso da SBPC realizado em julho deste ano em Fortaleza-CE, creio que podemos começar a compreender esta "impressão" parcialmente correta da sociedade.
O pesquisador do INPA, Adalberto Luis Val, fez um levantamento em publicações científicas disponibilizadas no portal da CAPES (mais de 9.000 publicações) com o objetivo de discutir a questão da importância do nosso país produzir e manter mais cientistas na região Amazônica. O resultado de sua pesquisa indicou que apenas 22% dos artigos publicados sobre a amazônia brasileira nos primeiros quatro meses de 2004 foram produzidos por pesquisadores locais. Dos 452 artigos sobre a amazônia publicados entre janeiro e abril de 2004 somente 100 eram de pesquisadores brasileiros. Adalberto Val afirma que o resultado revela a perda de soberania do Brasil sobre a região. "A única forma de manter o controle da região amazônica é estudar e conhecer a região" ele diz.
Na opinião do pesquisador a melhor forma de corrigir este problema é criar estratégias para aumentar o número de pesquisadores com nível de Ph.D. na região. "Existem cerca de 1.000 Ph.Ds baseados na região amazônica, que representa 66% do território nacional". Em contraste, existem cerca de 30.000 Ph.Ds no sudeste do Brasil. "No ano de 2004 cerca de 8.000 estudantes obtiveram seus Ph.Ds no Brasil" diz Val. "A gente precisa achar meios de atrair mais pessoas deste nível para a região amazônica e encoraja-las a ficar e trabalhar lá".


MOBILIZAÇÃO POLÍTICA PARA FIXAR DOUTORES NA AMAZÔNIA

Não se sabe se foi resultado da ampla divulgação dos números acima na imprensa nacional, mas deputados federais, reitores e representantes do Ministério da Educação fizeram uma audiência pública na Câmara dos Deputados ontem (20/10) para discutir este assunto (ver nota do jornal local O Rio Branco).
Durante a audiência houve consenso de que a região precisa criar instrumentos para atrair profissionais qualificados na área de pesquisa. A CAPES, órgão responsável pela pós-graduação no MEC, vem contribuindo para isso estimulando a criação de novos cursos de mestrado e doutorado na região. Em setembro passado foram aprovados a criação de 18 mestrados e 5 doutorados, representando uma expansão de 25 e 33% respectivamente na quantidade destes cursos na região amazônica (ver lista completa dos novos cursos).
A UFAC conseguiu aprovar três novos cursos de mestrado nas áreas de produção vegetal (com apoio importante da Embrapa-AC), desenvolvimento regional, envolvendo equipe multidisciplinar das áreas de Economia, Biologia e Ciências Sociais e letras (linguagens e identidade).
Além disso, com a expansão da UFAC via Universidade da Floresta, foram abertas 61 vagas para professores Doutores na sede em Rio Branco e 30 para o Campus de Cruzeiro do Sul. Destas, 16 vagas ainda não foram preenchidas. A UFAC também não divulgou um balanço indicando quantos Doutores foram efetivamente contratados neste concurso.

20 outubro 2005

BRASILEIROS DESTRUINDO A AMAZÔNIA

O QUE OS GRINGOS TÊM A VER COM ISSO? A AMAZÔNIA É NOSSA!

Quem de vocês ainda não teve a oportunidade de discutir esta questão e ouvir argumentos do tipo acima? Bom, a "nossa" amazônia tem sido sistematicamente saqueada e destruída inteiramente por nossos conterrâneos. O interessante é que muitas vezes estas discussões ocorrem em mesa de bar, quando a gente está "cuidando" de resolver os problemas do mundo. Depois de umas e outras, tem sempre alguem mais exaltado que brada o clássico argumento nacionalista em "favor" da tal destruição:
- Se os Americanos e Europeus destruiram as florestas deles, que moral têm eles para vir aqui dizer o que devemos fazer com a nossa?
O que contra argumentar? Bêbados (ou quase bêbados) são geralmente difíceis de convencer, sempre estão com a razão e muitas vezes são capazes de partir para a briga! Nesta hora a gente tem que simplificar tudo para se fazer entender. Uma boa saída é dar o exemplo do mundo como "uma casa sem o forro durante o inverno e o Brasil como um dos hóspedes ocupando um dos maiores e mais bem localizados cômodos".
O artigo abaixo dá uma boa idéia sobre a tal "casa". Vamos dar uma lida nele antes de seguir com o nosso argumento anti-bêbados nacionalistas favoráveis à destruição da amazônia.
__________________________
DESTRUIÇÃO DAS FLORESTAS TROPICAIS AFETA CHUVAS NOS EUA E NO RESTO DO MUNDO
Tropical Deforestation Affects Rainfall in the U.S. and Around the Globe
Fonte: NASA/Goddard Space Flight Center
Date: 2005-09-18

Os cientistas estimam que entre um treço e metade da superfície terrestre de nosso planeta já foi alterada pela ação do homem. Um novo estudo apresenta idéias sobre os efeitos no longo prazo dos impactos destas transformações, especialmente a destruição em larga escala das florestas tropicais, sobre o clima global.
Pesquisadores da Duke University (EUA), analisaram dados de vários anos usando computadores da NASA para produzir várias simulações do clima. Os resultados da pesquisa indicam que a destruição das florestas em diferentes áreas do globo afeta o padrão de chuvas sobre uma região considerável do planeta.
O desmatamento na região Amazônica influencia a chuva do México ao Texas e no Golfo do México. Igualmente, desmatamento na África Central afeta a precipitação na parte alta e baixa do meio oeste Americano, enquanto que o desmatamento no sudeste da Ásia afeta o regime de chuvas na China e na península Balcânica. É importante observar que tais mudanças ocorrem primariamente em certas estações do ano e que a combinação de desmatamento nestas áreas aumenta as chuvas em uma região e as reduz em outras.
Estes resultados contradizem pesquisas anteriores que sugeriam que o desmatamento resultaria na redução de precipitação e aumento de temperatura apenas na bacia Amazônica, sem efeitos significativos no ciclo de água do resto do globo. "Nosso estudo apresentou alguns resultados surpreendentes, mostrando que, embora o maior impacto do desmatamento seja nas proximidades ou nas áreas desmatadas, existe uma grande influência nas chuvas nas regiões de média a alta latitude", diz Roni Avissar, autor principal da pesquisa, publicada em Abril de 2005 no Journal of Hydrometeorology.
Especificamente, o desmatamento na Amazônia poderá reduzir severamente a quantidade de chuvas no Golfo do México, Texas, e norte do México durante a primavera e o verão, quando a água é crucial para a produtividade da agricultura. O mesmo efeito é causado no meio oeste Americano durante a primavera e o verão se a África Central for desmatada. A eliminação de qualquer uma destas florestas tropicais (Amazônia, África Central e Sudeste da Ásia), vai aumentar consideravelmente as chuvas no sul da península arábica. Entretanto, a combinação de desmatamento nas três regiões causará, nos EUA, a maior queda na precipitação na região da Calinfornia durante o inverno, aumentando ainda mais as chuvas no sul da península arábica.
A melhora o nível de conhecimento sobre as regiões de florestas tropicais é importante por que elas têm grande influência no clima global. A bacia Amazônica, por exemplo, é chave para o sistema climático global. Os trópicos recebem dois terço das chuvas do planeta e quando chove, a água muda do estado líquido para vapor e de novo para líquido, armazenando e liberando calor no processo. Com tanta chuva, uma grande quantidade de calor é liberada na atmosfera, fazendo das regiões tropicais a fonte primária de redistribuição de calor no globo.

"O desmatamento parece não afetar a média global de chuvas, mas muda o padrão e a distribuição por que afeta a quantidade de calor liberado na atmosfera quando o vapor de água condensa" diz o pesquisador Avissar. "Mudanças associadas que ocorrem na distribuição da pressão do ar atmosférico afetam o padrão de circulação do mesmo, empurrando sistemas de tempestades para fora de seu caminho habitual" (Nota do blog: os tornados em Santa Catarina no ano passado). Por causa da localização da Amazônia, qualquer "soluço" climático desta região pode sinalizar sérias mudanças no resto do mundo como secas e tempestades severas.
Claramente, a mudança da cobertura vegetal nas regiões tropicais tem o potencial de impactar significativamente os recursos aquáticos, a ocorrência de incêndios florestais, a agricultura e atividades relacionadas em regiões remotas e distantes dos trópicos. E enquanto a emissão de gases e a poluição do ar recebem considerável atenção, este estudo mostra que a mudança da cobertura original da superfície terrestre é um outro importante parâmetro que precisa ser considerado nas políticas climáticas, especialmente porque as taxas de desmatamento nas regiões tropicais da África, Américas e sudeste da Ásia têm permanecido constantes ou aumentado nas últimas duas décdas. A mudança da cobertura terrestre, dependendo de sua natureza, pode tanto mitigar como exarcerbar o alarme para o efeito estufa.
Os pesquisadores advertem que seus resultados são baseados em simulações numéricas realizadas com um único modelo de cálculo de circulação geral (dinâmica da atmosfera) e que a reprodução do experimento com outros modelos computacionais usando diferentes variáveis atmosféricas é importante para a confirmação dos resultados alcançados até agora. A pesquisa aqui apresentada foi feita na tentativa de entender porque o desmatamento tem tal magnitude de importância nos padrões de distribuição de chuvas durante as diferentes estações do ano.

__________________________

Voltando ao exemplo do mundo como uma casa sem forro durante o inverno e o Brasil como um dos cômodos. Se o aquecedor no quarto do Brasil estiver regulado em temperatura muito alta, o resto da casa vai reclamar. Vai inclusive dizer que "a casa corre risco de pegar fogo se o Brasil não diminuir a temperatura do aquecedor".
Se nós, o Brasil, não aceitarmos a sugestão dos demais "hóspedes" da casa, cedo ou tarde eles vão arrombar a porta do nosso quarto e, usando a força, diminuir ou mesmo desligar o nosso aquecedor. Eles teoricamente teriam razão em fazer isso. Vai chegar uma hora que não vai dar mais para suportar as promessas vãs de alguns dos ocupantes do quarto chamado Brasil (Governo e os destruidores e incendiários contumazes) de que vão diminuir a temperatura do aquecedor, coisa que na prática nunca cumprem. Em vez disso, querem empurrar a situação com a barriga, fingir que não ouviram, que estão trabalhando na diminuição da temperatura quando não o estão e outros argumentos vazios.
Se o bêbado nacionalista ainda estiver em condições de entender alguma coisa, provavelmente ele vai ver que nós estamos fazendo a coisa errada e que a saída não é trilhar pelo caminho do erro. É buscar uma solução razoável para todos de forma honesta e realista. Para concluir, vale dar uma provocada no bêbado:
- Amigo, internacionalização da Amazônia é isso. Eles virão aqui para ter a certeza de que a gente, digo os fazendeiros, agricultores e madeireiros e alguns governadores amazônicos, não vão destruir a região por completo. Tem que ter um limite ou todo o planeta vai pagar um alto preço!
- Você está tão empolgado defendendo a "nossa" destruição da Amazônia que imagino que quando chegar a hora da "intervenção" você vai ser o primeiro a se alistar no exército brasileiro para combater os gringos "usurpadores".
Será que vai?