Google
Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

30 novembro 2005

TERRA VERDE DESAGRADÁVEL

Quando ele visitou o mais remoto canto da Amazônia, Alex Bellos esperava encontrar um paraíso verde luxuriante. Em vez disso, ele encontrou Rio Branco, uma cidade marcada pelo sexo, drogas e expansão industrial desordenada.













Green unpleasant land
Alex Bellos, 28/11/2001
The Guardian Unlimited

Na minha primeira noite em Rio Branco eu pedi a um motorista de táxi que me levasse ao melhor bar da cidade. Sem hesitar, ele dirigiu direto para a floresta. Logo a gente estava envolto na escuridão, os faróis do carro mal iluminando o verde ao longo da margem da estrada. Depois de 16 km, nós viramos à esquerda em uma trilha. No seu final existia uma casa simples com piscina e uma dúzia de prostitutas.

Eu subi uma escada de madeira e descobri que nos fundos existiam quartos que poderiam ser alugados por hora. O que me deixou mais impressionado não foi nem a naturalidade e facilidade de se chegar ao bordel, nem o enfado na face das garotas, mas o orgulho do motorista de táxi em me mostrar este lugar exclusivo e sua capacidade de concluir que qualquer visitante que queira sair para beber um drinque, deve, inevitavelmente, estar em busca de prostitutas.

“Este lugar é somente para as figuras locais mais importantes”, disse o motorista de táxi com um misto de admiração e respeito. “Os militares, os juízes, os chefes de polícia, os homens de negócios, todos eles vêm aqui”.

Rio Branco é a mais inacessível das cidades da selva amazônica brasileira. É a capital do Acre, o Estado mais ocidental do Brasil, espremido na forma de uma bunda pelas fronteiras do Peru e da Bolívia.

A imagem internacional da Amazônia é de uma região de um verde selvagem e romântico sendo destruída nas bordas pelos madeireiros que estão cortando as suas árvores. Isto é apenas a meia verdade. Nas duas últimas décadas a floresta Amazônica brasileira testemunhou um boom na imigração que fez com que sua população mais do que triplicasse para 19 milhões de pessoas.

Em 1970 Rio Branco tinha 36.000 habitantes. Agora ela é uma cidade feia, sonolenta e barrenta que abriga mais de um quarto de milhão de habitantes. Seu crescimento tem sido mais rápido do que ela poderia suportar e a cidade da selva sofre de sérios problemas urbanos.

O sonho de ficar rico na fronteira ocidental do Brasil, que fez com que tantas pessoas se dirigissem à cidade, se torna realidade para muito poucos. A criminalidade é elevada e tão epidêmica que um importante oficial militar local foi para a prisão recentemente porque cortou os braços de um homem usando uma motosserra. A corrupção e prostituição prevalecem. Os indicadores sociais tais como o analfabetismo e acesso a água tratada estão entre os piores do país.
Para completar, o clima equatorial favorece a proliferação de doenças tropicais: 10% da população tem o vírus da hepatite e o número de casos de leprosos é mais ou menos igual aos da Índia.

Na minha segunda noite em Rio Branco eu fui para uma igreja chamada “barquinha”.

Eu tomei um táxi para uma área periférica da cidade onde as casas são feitas de tábuas e construídas sobre pilares altos em razão das enchentes. Antes que eu adentrasse no local, eu bebi, como todo mundo, um líquido cor de barro em um copo do tamanho de um café expresso que estava a disposição na porta da frente. A substância é chamada de “daime” e contém alucinógenos naturais que os índios tem usado por gerações. Depois de beber, eu me sentei dentro da igreja onde todo mundo estava vestido de branco e em uma espécie de estado de transe, esperando que a droga fizesse efeito.

No altar tinha uma cruz cristã e figuras de porcelanas de um homem negro e velho, de sereias e de um homem cabeludo vestido em uniforme de capitão de navio. A religião aqui é uma mistura de crenças indígenas e cristianismo, e é tão difundida em Rio Branco, que não é estranho que os pais de recém-nascidos coloquem uma pequena quantidade de daime na língua deles como uma forma de iniciação espiritual.

Meu daime não estava funcionando. Então eu fui lá fora e tomei outro copo. Segundos depois eu emborquei. Eu tropeçava como um bêbado e comecei minha viagem alucinógena. Eu fiquei com medo da igreja e tentei sair do lugar, mas os membros da congregação me disseram que eu deveria ficar porque meu espírito iria me proteger.

Coisas estranhas começaram a acontecer ao meu corpo. Eu bebi várias canecas de água mas minha boca se mantinha seca. Então meu queixo começou a se movimentar de forma incontrolável. Eu duvidei de minha identidade e, por um momento, eu esqueci se eu era homem ou mulher.

A experiência durou cerca de 5 horas, e se prolongou mesmo após eu ter retornado ao meu quarto no hotel. Lá, eu tive que manter todas as luzes acesas porque, de outra maneiras, minha cama parecia uma balsa flutuando na escuridão rio abaixo.

Eu vim para o mais remoto canto da floresta amazônica esperando encontrar um ambiente verdejante e tribos de índios pintados a caráter. No lugar disso, encontrei uma cidade onde se pode ter sexo barato e drogas perigosas.

Nota do blog: Apesar da "má" impressão inicial e da aventura sem controle com o Daime, Alex Bellos quer voltar ao Acre. Recentemente escreveu ao meu amigo Altino Machado revelando isso. O que ele vai encontrar dessa vez? Muita coisa mudada. O "Beréu" já era, é história. Agora alguem tem que levar ele no "Momentu´s", que fica na via Chico Mendes, com asfalto e iluminação pública de primeira. Quanto ao daime, creio que além da barquinha, ele deveria ter direito a um tour completo por todas as igrejas da cidade. Assim, no lugar de voltar para o hotel e pensar que o colchão se parece com uma balsa descendo o rio, ele poderá pensar que vai estar navegando em um transatlântico mar afora. Quem sabe em sua próxima "viagem" Alex consiga trazer de volta o Titanic. Vai ser novidade para o Acre....

EM DEBATE: CONFERÊNCIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE

A POLÊMICA SOBRE A "CONCESSÃO DE FLORESTAS PÚBLICAS" E A "CRIAÇÃO DO SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO"

Olá Evandro, gostaria que você publicasse no blog Ambiente Acreano o e-mail que passei para a Rede Acreana de Educação Ambiental (ver abaixo):

"Conferência do Meio Ambiente no Acre - manipulação e desonestidade"

Confesso que sai muito desapontado da Conferência e, paradoxalmente, muito confiante e com um profundo respeito pelos processos participativos, o que aliás, não teve nessa Conferência. Vou contextualizar o que ocorreu (tentarei ser breve).

A Conferência Estadual de Meio Ambiente foi dividido em 5 grandes grupos, divididos por eixos temáticos. Entre eles tinha o tema "Biodiversidade e florestas". Os integrantes do grupo tinham que aprovar, alterar, propor ou suprimir as propostas. Entre as propostas vinda no Texto Base feito pelo MMA tinha uma que dizia oseguinte "Implementar o Serviço Florestal Brasileiro". Como eu queria explicar e não me foi dado o direito de esclarecer a plenária, e não tenho dúvidas de dizer que 95% não tinha a menor idéia do que isso representava, passo a explicar aqui:

Está tramitando no Congresso desde o inicio de 2004 o projeto de lei que visa permitir a Concessão Florestal em Florestas Públicas...o que isso significa? Em breves palavras, significa mudar toda a política ambiental e de ocupação da Floresta Amazônica. Seriam delimitadas áreas de florestas que seriam entregues a iniciativa privada em regime de concessão para realizarem manejo florestal. Essas concessões podem durar até 60 anos. E quem organizaria essa concessão seria o Serviço Florestal Brasileiro....percebem?? A questão principal é a Concessão Florestal e não o Serviço Florestal Brasileiro.

É por isso que eu chamei essa proposta de desonesta, porque esconde qual é a real intenção por trás. Foram feitas audiências públicas em alguns Estado para discutir o tema, e ela está longe de ser consenso. Na audiência que houve em Rio Branco, teve gente até que tacou fogo e rasgou o projeto de lei. A maioria foi contra o projeto. Ele está na câmara federal com maisde 300 emendas, o que mostra a falta de consenso sobre o assunto. Então, ela é no mínimo contestável! O meio cientifico está dividido sobre o tema. Da minha parte, acho que o projeto de lei tem suas vantagens e desvantagens....percebem? eu não sou totalmente contra o SFB e a Concessão. O que me chateou foi a maneira desonesta e enganosa como ela foi colocada na Conferência.

Ai ficam as perguntas:

1 - Em momento algum na Primeira Conferência (2003) a discussão daConcessão Florestal foi levantada. E no entanto, o MMA vem desde antes da primeira conferência gestando essa idéia e dispensando grandes esforços para a sua aprovação. Então, do que serviu a Primeira Conferência? Porque nela não foi exposta essa intenção? Não seria a Conferência (com ampla representatividade) um lugar mais apropriado para essa discussão ao invés de audiências públicas pouco representativas? E porque que agora que a lei já está quase aprovada, vem na II Conferência escamotear o assunto dentro de uma proposta desonesta "Implementar o Serviço Florestal Brasileiro" escondendo o problema real que é a concessão?

2 - Porque usar de massa de manobra a conferência para legitimar um processo que já está em via de ser aprovada sem nenhuma discussão afundo sobre o tema? Se o MMA quer implementar tal proposta, que assuma sozinho as responsabilidades da aprovação do projeto de lei. Mas jogar nas costas de uma plenária desinformada sobre o assunto as responsabilidades é no mínimo manipular o processo participativo. SE É PARA BRINCAR DE SER PARTICIPATIVO, EU TO FORA!!!!

3 – Porque o MMA não está jogando as claras????

4 – De que serve a Conferência de Meio Ambiente se tal lei, se aprovada, será um marco decisivo para o futuro da Amazônia? Porquenão ampliar a discussão no fórum mais adequado que é a Conferência?

5 – O episódio me fez crer ainda mais nos processos participativos. E não se pode brincar com isso. Na Conferência, brincaram! Em Brasília por exemplo, a proposta de "implementar o ServiçoFlorestal Brasileiro" foi suprimida.

"Fica o esclarecimento e estou aberto ao debate".

Abraços a todos
Felipe Mendonça
felcm40@hotmail.com

Nota do blog: Felipe, o projeto que você se refere é o de Gestão de Florestas Públicas? Se for, é preciso esclarecer que ele foi aprovado pelo Senado e pela Câmara Federal. Falta o presidente Lula sancionar.
No mês passado publicamos diversos artigos relacionados com o projeto de Gestão de Florestas Públicas. Clique nos links abaixo para ler os mesmos na íntegra:

- Gestão de florestas: bastidores da aprovação, 11/10/2005
- Gestão de florestas públicas: contraponto, 06/10/2005
- Projeto de lei sobre gestão de florestas públicas foi aprovado no Senado, 05/10/2005

EFEITOS DO AQUECIMENTO GLOBAL...











(Originalmente publicado no blog Ondas2)

ATENÇÃO GOVERNO DO ACRE: OPORTUNIDADE DE INVESTIMENTO!

NEGÓCIO DO CARBONO

O governo português vai criar uma Autoridade Nacional para avaliar projetos e países onde Portugal deve investir para reduzir a sua contabilidade de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) no âmbito do Protocolo de Kyoto. Os países signatários do Protocolo que excederem o seu limite de emissões de GEE – entre eles Portugal, que ultrapassou os 27% previstos e atingiu os 38,5% -, poderão recorrer ao mercado de emissões ou a Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), investindo em projetos sustentáveis nos países em desenvolvimento que não estão abrangidos pelas obrigações de Kyoto - o caso do Brasil.

As opções mais óbvias para investimento serão os países de língua portuguesa (CPLP), especialmente o Brasil, com quem Portugal já assinou memorando de entendimento. A Autoridade Nacional designada para avaliar os mecanismos de Kyoto deverá ser também co-gestora do Fundo Português de Carbono.

[Fonte: Blog Ondas 2]

PROTOCOLO DE KYOTO OBRIGA PORTUGAL A INVESTIR

É PRECISO COMPENSAR O EXCESSO DE EMISSÃO DE CO2

Segundo dados da Convenção das Nações Unidas, no período 1990-2003, Portugal tinha excedido em 36,7 por cento os limites de emissões de GEE com que tinha se comprometido, sendo o terceiro pior país no conjunto de signatários do Protocolo quanto às metas de redução.

A ONG portuguesa Quercus estima que no pior dos cenários, o país terá necessidade de adquirir cerca de 100 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Neste caso, o custo associado seria de cerca de 2 bilhões de euros.
Inicialmente, entretanto, o governo portugês prevê dotar o Fundo de Carbono com 6 milhões de euros para comprar créditos no exterior, valor considerado por muitos como insuficientes para compensar os 36,7% de excesso de emissão de dióxido de carbono (CO2) do país.

O Protocolo de Kyoto prevê vários mecanismos de flexibilização para o cumprimentos dos objetivos

Portugal poderá recorrer ao mercado de emissões (espécie de bolsa onde se compram e vendem toneladas de carbono, a preço variável) ou a mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL), investindo em projetos de energias renováveis ou gestão sustentável de florestas nos países em desenvolvimento.

É na gestão sustentável de florestas que o Governo do Acre tem que ser ágil e organizado para se apresentar como uma alternativa viável para estes investimentos. Vale ressaltar que o fato do Governo do Estado ter criado várias reservas florestais sem relação com compromissos ligados ao protocolo de Kyoto não as desabilitam como candidatas potenciais na barganha pelos investimentos que deverão ser feitos por países que excederem os limites de emissão. O caso de Portugal.

Além dos investimentos no manejo de floresas sustentáveis, cabem também investimentos no desenvolvimento de fontes renováveis de energia como o biodiesel que pode ser extraído de frutos de oleaginosas nativas das florestas acreanas.

[Referência: Blog Ondas 2]

28 novembro 2005

COMERCIALIZAÇÃO DAS FOLHAS DA PALMEIRA UBIM

VIABILIDADE DA EXPLORAÇÃO NA RESERVA EXTRATIVISTA CHICO MENDES, ACRE

Francisco C. B. do Santos - Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Associado do Laboratório de Produtos Florestais da Universidade Federal do Acre-UFAC.
Evandro J. L. Ferreira - Doutor em Botânica, Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA e do Herbário da Universidade Federal do Acre-UFAC.

Introdução

O uso de folhas de palmeiras para a cobertura de habitações rurais é uma tradição indígena que foi repassada aos primeiros colonizadores do Acre, que chegaram ao Estado em meados do século XIX. Mais de 150 depois, e mesmo com as possibilidades de aquisição de materiais de construção mais "avançados", a tradição têm se mantido em razão da facilidade e do baixo custo que a obtenção e o uso das folhas de palmeiras nativas representam.

Entre as espécies nativas do Acre mais exploradas para a construção de coberturas, se destacam o “jaci” (Attalea butyracea), o “uricuri” (Attalea phalerata), a “jarina” (Phytelephas macrocarpa), a carnaubinha” (Chelyocarpus chuco), a “palha redonda” (Chelyocarpus ulei), o “caranaí” (Lepidocaryum tenue) e “ubim” (Geonoma deversa). Destas, as duas últimas são espécies de pequeno porte que formam touceiras e que, em muitos casos, dominam o sub-bosque da floresta porque colonizam o ambiente de forma mais eficiente através de rizomas.

Estas espécies de pequeno porte são as mais apreciadas pelos habitantes do interior para a elaboração de coberturas porque são fáceis de ser exploradas e cada touceira possui numerosos indivíduos. Com isso, a exploração das folhas de alguns deles geralmente não costuma causar maiores problemas para a touceira e, teoricamente, permitem a extração continuada de folhas (Zuidema &Werger, 2000).

Entretanto, a exploração das folhas nem sempre é feita de forma racional e muitas vezes as plantas podem ser afetadas negativamente no seu crescimento e desenvolvimento. Isto é particularmente verdadeiro quando, durante a extração das folhas, o meristema apical do estipe é danificado. Nestes casos, a probabilidade de morte do indivíduo é grande porque as palmeiras, assim como a maioria das outras monocotiledôneas, possuem apenas um meristema apical que não se regenera quando é destruído e é o responsável pela formação de toda a parte aérea destas plantas.

Com este objetivo em mente, Flores & Ashton (2000), realizaram um estudo comparativo de dois métodos de extração de folhas da palmeira ubim na Amazônia peruana. Eles verificaram o impacto da extração de folhas na sobrevivência das touceiras comparando dois métodos de extração usados pelas comunidades locais. O primeiro método testado consistia na retirada das folhas sem danificar o meristema apical. O segundo, mais praticado pelos moradores, consistia na retirada de todas as folhas de uma planta, causando a destruição de pelo menos um dos indivíduos da touceira.

A conclusão do estudo de Flores & Ashton indica que ambos os métodos produzem efeitos negativos graves na palmeira, mas o segundo causa mais problemas do que o primeiro. Eles indicam ainda que a coleta realizada a cada 3 anos minimiza os efeitos negativos e pode render aos extratores entre U$ 3 e 191/hectare/ano.

O caso da extração de folhas de ubim na Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes, Acre

A pressão para a extração de folhas de palmeiras nas áreas extrativistas do Acre tem aumentado em razão da aparente estabilidade sócio-econômica das populações destas áreas, que, por esta razão, exploram continuamente este recurso pois novas construções são constantemente erguidas no local. Além da exploração para a cobertura de novas edificações, existe a exploração voltada para a substituição de coberturas antigas. Isto acontece porque as coberturas feitas com folhas de palmeiras precisam ser substituídas a cada 5 ou 10 anos, dependendo da espécie utilizada.

Mais recentemente tem se verificado uma tendência de uso de folhas de palmeiras nativas na cobertura de edificações em áreas urbanas. Isto tem sido feito com maior freqüência por empreendimentos comerciais que optam por um estilo arquitetônico mais rústico, típico do interior do Estado. O atendimento a essa nova demanda está provocando uma corrida à exploração de algumas espécies muito abundantes nas florestas nativas.

Uma das espécies mais procuradas nestes últimos tempos tem sido o ubim. A razão para esta preferência é, além da facilidade de extração e abundância natural da mesma em algumas áreas, a beleza que a mesma confere às coberturas elaboradas com suas folhas.

No Acre, as maiores populações naturais desta espécie ocorrem nos seringais Filipinas e Porongaba, localizados a pouco mais de 30 km da cidade de Brasiléia, integrantes da Reserva Extrativista Chico Mendes (Costa, 2000).

Diagnóstico da exploração das folhas do ubim na RESEX Chico Mendes

A exploração das folhas de ubim nesta reserva foi observada apenas nos seringais Filipinas e Porongaba. Em ambas localidades se verificou que a exploração é feita unicamente para uso doméstico, não existindo ainda a comercialização em larga escala das folhas. Nas outras localidades visitadas, onde a população natural da palmeira ubim é insignificante, predomina a exploração de outras espécies, tais como a jarina, o uricuri e o jaci (CNS, 1992).

A extração das folhas do ubim na RESEX Chico Mendes é feita de forma aparentemente predatória. Ao contrário do Peru, onde se retiram apenas as folhas, no Acre os extrativistas cortam por completo um ou mais indivíduos das touceiras. Apesar disso, a estabilidade populacional da espécie parece estar assegurada porque as plantas produzem perfilhos com muita rapidez. Outro aspecto que torna difícil a compreensão do efeito negativo ou positivo do atual sistema de exploração é o grande tamanho da população natural da espécie. A impressão que se tem é que a quantidade de moradores na região onde ocorre a palmeira não e numerosa o suficiente para causar maiores danos à mesma enquanto prevalecer a exploração para consumo doméstico.

Extração das folhas e preparo dos “panos”

Diferentemente dos casos de elaboração de coberturas com folhas de palmeiras de grande porte, como são os casos do uricuri e do jaci, o uso das folhas do ubim requer o emprego de mão-de-obra especializada tanto na extração das folhas como no preparo dos “panos” a serem usados na cobertura.

A descrição resumida do processo é feita a seguir:

a) As folhas são selecionadas dando-se preferência àquelas que não estejam danificadas e que apresentam 3 pares de pinas. Para a coleta, corta-se o pecíolo logo acima da bainha de forma que o mesmo fique com um comprimento superior a 10 cm para facilitar a confecção do pano. Um homem consegue colher até 4 mil folhas em um dia;

b) O “pano” consiste em uma tala onde os pecíolos das folhas são trançados. Pode-se usar como tala tanto o estipe de “canarana” (Gramínea), como a raque da folha da palmeira “jarina”. Quando se usa canarana é ideal que a tala meça pelo menos 3 m de comprimento;

c) As folhas são trançados o mais próximo umas das outras ao longo da tala. Quando o pano é feito com tala dupla, estas são amarradas com envira a uma distância de 2 cm uma da outra. A envira é uma espécie de corda rústica tirada da casca de plantas nativas pertencentes à família botânica Annonaceae;

d) Os panos possuem um tamanho aproximado de 3 m de comprimento por 40 cm de largura e cada um requer entre 360 e 400 folhas de ubim. É importante ressaltar que cada estipe de ubim apresenta em média 13 folhas passíveis de serem usadas na confecção de panos. Assim, se estima que um pano requer a exploração de aproximadamente 30 estipes de ubim;

e) Em média, um bom “tecedor” consegue preparar até 6 panos por dia. Cada pano estava sendo vendido por cerca de R$ 3,00 no primeiro semestre de 2005;

f) Para a montagem dos "panos" na cobertura das edificações, utilizam-se pregos ou simplesmente amarrando-se os mesmos com "enviras". Quanto maior a quantidade de "panos" mais duráveis e impermeáveis serão as coberturas.

Potencial de produção, comercialização e viabilidade econômica da exploração

Um levantamento da densidade populacional da espécie no seringal Filipinas, local onde a mesma é mais concentrada, indicou que existem 1.375 touceiras por hectare. Cada touceira possui entre 4 e 10 perfilhos, dos quais 50% são passíveis de aproveitamento para a elaboração dos panos para a cobertura de edificações.

Desta forma, considerando-se que cada estipe possui em média 13 folhas, chega-se à conclusão que uma exploração inicial de todas os estipes “comerciais” de ubim da referida localidade renderia aproximadamente 62.500 folhas, que resultariam em 164 panos. Considerando o preço de venda de cada pano (r$ 3,00), a renda do extrativista na exploração daquela população natural de ubim seria de R$ 492,00.

É importante informar que para colher todas as folhas, ele levaria cerca de 15 dias de trabalho. Para preparar os 164 panos seriam necessários outros 13 dias e meio. Desta forma, a exploração das folhas do ubim iria render cerca de R$ 17,00 por dia ao extrativista. Este valor é cerca de 50% a mais do que ele ganharia trabalhando para terceiros na “diária”, que hoje equivale a cerca de R$ 12,00.

Embora a matemática acima indique que a extração das folhas é uma atividade potencialmente viável, na prática a comercialização das folhas não existe (embora exista mercado para tal). Por quê?

A equipe que fez o diagnóstico na RESEX Chico Mendes observou que poucos morades locais sabem preparar os "panos". Este é um dos principais fatores que têm limitado esta atividade extrativa no local.

Referências bibliográficas

CNS - Conselho Nacional dos Seringueiros. Relatório sócio-econômico e cadastro da Reserva Extrativista Chico Mendes, Rio Branco, 1992.

Costa, S.S.M. Caracterização ambiental da reserva extrativista Chico Mendes (Acre-Brasil): subsídios ao plano de manejo. Tese de Doutorado. São Carlos, 2000. .

Flores, C. F. and Ashton, P. M. S. Harvesting impact and economic value of Geonoma deversa, Arecaceae, an understory palm used for roof thatching in the Peruvian Amazon. Economic Botany 54:267-277. 2000.

Zuidemar, P. A. & Marinus, J.A.W. Impact of artificial defoliation on ramet and genet demography in a Neotropical understorey palm. Em: Zuidema, P. A.: Demography of exploited tree species in the Bolivian Amazon. Ph.D. Dissertation, Universidade de Utrecht, Holanda, 2000. 238p.

OPORTUNIDADE: PÓS-DOC NA UFAC

Anúncio e Termo de Referência:

"Pós-doc em Conservação Amazônica baseada na Universidade Federal do Acre"

A Universidade Federal do Acre (UFAC) e a Universidade da Flórida (UF) estão abrindo uma posição pós-doc, localizada na Universidade Federal do Acre, como parte do programa Iniciativa para Liderança da Conservação Amazônica. A posição terá duração de dois anos, iniciando entre janeiro e março de 2006.

Objetivos e responsabilidades:

A Iniciativa para Liderança da Conservação Amazônica busca contribuir para odesenvolvimento institucional de longo prazo da Universidade Federal doAcre, com o objetivo de fortalecer sua capacidade de oferecer cursos de pós-graduação para futuros líderes da área de conservação, com ênfase em dois programas de mestrado: Desenvolvimento Regional e Ecologia e Manejo deRecursos Naturais.

O pós-doc desenvolverá pesquisa em colaboração com pesquisadores da UFAC emuma ou mais das áreas temáticas de enfoque do programa: (a) Manejo de ÁreasProtegidas, (b) Planejamento e Política Regionais, (c) Manejo FlorestalSustentável e (d) Manejo Comunitário de Recursos Naturais.

O pós-doc também participará em disciplinas, bancas, orientações, e trocasde experiências para fortalecer o currículo e ensino nos dois programas demestrado ora mencionados. Ele ou ela deve apoiar e colaborar no ensino (porexemplo oferecendo módulos ou cursos curtos), mas não terá responsabilidade plena de ensinar cursos.

Critérios de seleção:

- Experiência e capacidade para pesquisa multi-disciplinar relacionadaaos objetivos do programa.
- Capacidade para integração e fortalecimento dos grupos de pesquisa da UFAC e da UF.
- Conhecimento e experiência com ensino multi-disciplinar, com destaque para a integração das ciências naturais com as ciências sociais para responder a problemas e oportunidades aplicadas de conservação na Amazônia.
- Experiência e conhecimento com a problemática de conservação e desenvolvimento do Acre desejável.
- Habilidade e conhecimento para servir como um elo entre UFAC e UF.

Benefícios: O pós-doc será contratado pela Universidade da Florida e receberá salário e benefícios da UF, além de um pequeno orçamento para viagens, equipamento e materiais.

Como se candidatar: Mandar currículo, carta de interesse e nomes de 3pessoas que podem servir de referência (com telefones e endereçoseletrônicos) para Robert Buschbacher, Coordenador, Iniciativa para Liderançada Conservação Amazônica, UF, via email (rbusch@ufl.edu).

A carta deve explicar como o candidato se encaixa em cada um dos critérios de seleção, e apresentar como o candidato iria abordar os objetivos e responsabilidades da posição.

Prazo: Aplicações seriam avaliadas a partir de 15 de dezembro 2005.

27 novembro 2005

A EXPLORAÇÃO DA PALMEIRA PIAÇAVA NO VALE DO RIO JURUÁ, ACRE

UMA ESPÉCIE PROMISSORA PARA A PRODUÇÃO DE FIBRAS VEGETAIS












Evandro J. L. Ferreira - Doutor em Botânica pela City University of New York e o The New York Botanical Garden, Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA, Núcleo de Pesquisas do Acre, BR 364, km 4, Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre, CEP 69.915-900, Rio Branco-AC, Brasil. evandroferreira@yahoo.com

Introdução

Piaçava é um nome de origem tupi que significa “planta fibrosa” e tem sido usado para designar pelo menos três espécies diferentes de palmeiras nativas do Brasil cujas fibras servem para a confecção de vassouras. No Acre, na região do vale do rio Juruá, ocorre uma dessas espécies. Cientificamente conhecida como Aphandra natalia (Balslev & Henderson) Barfod, as fibras foliares desta palmeira têm sido tradicionalmente utilizadas para a produção artesanal de vassouras pelas comunidades de seringueiros, ribeirinhos e indígenas daquela região.

Além da piaçava, a produção de vassouras no vale do Juruá também é feita regularmente com as raízes de uma epífita da família Araceae, conhecida popularmente como “cipó titica” (Heteropsis flexuosa) e com as raízes de uma hemi-epífita da família Cyclanthaceae, conhecida como “cipó timbó” (Thoracocarpus sp.). Entretanto, a piaçava é a maior fonte de matéria-prima para a produção de vassouras naquela região em razão da sua abundância e da grande quantidade de fibras que cada palmeira produz.

Além do Acre, Aphandra natalia também pode ser encontrada na Amazônia peruana e no Equador (Henderson, 1995; Henderson et al., 1995). Neste último país tem sido explorada intensivamente e se constitui na principal fonte de fibras naturais usadas pelas indústrias de vassouras (Balslev & Barfod, 1987; Pedersen & Balslev, 1990; Barfod, 1991; Pedersen, 1992; 1996).

Aspectos botânicos da piaçava acreana

A piaçava acreana é uma palmeira pertencente à subfamília Phytelephantoideae (Uhl e Dransfield, 1987) e foi inicialmente descrita no gênero Ammandra (Balslev e Henderson, 1987), a partir de amostras botânicas coletadas no Equador. Posteriormente ela foi transferida para Aphandra, um gênero monotípico criado por Barfod (1991).

Este gênero é filogeneticamente relacionado com Phytelephas, que inclui a palmeira conhecida no Acre como jarina ou marfim vegetal. Tanto a piaçava como a jarina são espécies dióicas e possuem a infrutescência com formato irregular e sementes que se tornam extremamente endurecidas quando os frutos amadurecem.

A piaçava acreana é uma palmeira caulescente cujo estipe solitário atinge entre 3-11 m de comprimento e até 22 cm de diâmetro. As plantas adultas possuem entre 10 e 20 folhas com bainhas fibrosas nas margens. O pecíolo mede até 2,5 m de comprimento e é densamente coberto por escamas marrons na face abaxial. Cada folha possui entre 90 e 120 pinas de cada lado da raque central. As pinas têm forma linear, são regularmente arranjadas e dispostas em um mesmo plano.

As inflorescências masculinas e femininas são intrafoliares, porém muito distintas morfologicamente. As masculinas são pêndulas e alongadas, medindo até 2 m de comprimento. A raque possui entre 200 e 300 raquilas onde se desenvolvem as flores estaminadas. As inflorescências femininas são eretas e curtas, com no máximo 50 cm de comprimento.

A raque é desprovida de raquilas e as flores pistiladas, em número de 25 a 40, desenvolvem-se diretamente na superfície da raque. As flores estaminadas possuem entre 200 e 300 estames e têm o perianto muito reduzido. As flores pistiladas possuem tépalas alongadas e 6 a 8 estigmas com até 4 cm de comprimento. Cada infrutescência possui cerca de 30 frutos densamente arranjados no ápice da raque, dando a esta uma forma de clava. Os frutos possuem forma irregular, com projeções lenhosas proeminentes de formato piramidal na porção distal.

Distribuição geográfica e Habitat

No Brasil, a piaçava acreana só foi encontrada na região acreana do vale do rio Juruá. Nesta região a espécie ocorre nas bacias dos rios Môa e Juruá. Na primeira, ela já foi observada ao longo dos rios Môa e Azul. Na segunda, a distribuição é mais ampla, tendo sido encontrada ao longo do rio Juruá e de numerosos tributários seus, dentre os quais podem ser citados os rios Juruá-Mirim, Grajaú, das Minas, Cruzeiro do Vale, Tejo, Bagé e Amônea, além dos igarapés Ouro Preto, São Luiz, Arara e Paratarí.

A piaçava acreana cresce no sub-bosque de florestas primárias, em florestas secundárias e em pastagens (Pedersen, 1992). No Acre, entretanto, ela só é encontrada no sub-bosque de florestas primárias de terra firme, onde costuma formar pequenas populações naturais bem densas e isoladas. O padrão de distribuição destas populações naturais é completamente irregular e parece que o único fator que afeta esta distribuição são as regiões alagadiças, onde a espécie nunca ocorre.

As principais espécies produtoras e o mercado de fibras de piaçava no Brasil

Em outras regiões do Brasil o uso de fibras de palmeiras para a produção artesanal e industrial de vassouras, escovas, capachos, cordas, espanadores e outros utensílios de uso doméstico é uma importante atividade econômica. Embora muitas palmeiras nativas produzam fibras com potencial para aproveitamento artesanal e industrial, apenas a piaçava da Bahia (Attalea funifera) e a piaçava do Amazonas (Leopoldinia piassaba) são exploradas e têm suas fibras regularmente comercializadas no mercado brasileiro.


A produção nacional de fibra de piaçava tem girado em torno de 95.100 toneladas anuais e sua comercialização movimenta valores que variam entre R$ 119 e 124 milhões a cada ano (IBGE, 2002; 2003). O mercado interno consome 94,4% de toda a produção nacional e o restante é exportado por preços que variam entre U$ 2,8 e 3 mil por tonelada (Novaes, 1988). Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro são os maiores consumidores nacionais e monopolizam a distribuição da fibra semi beneficiada (em fardos de 60kg) para indústrias localizadas em outras regiões do país.

A espécie produtora mais importante do Brasil é a piaçava da Bahia, que responde por cerca de 90% da produção nacional. Esta só ocorre naturalmente na região nordeste do Brasil, nos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas (Henderson et al., 1995). Entretanto, quase toda a produção de piaçava desta região é oriunda da Bahia, tendo como principais pólos produtores os municípios de Cairu, Nilo Peçanha e Ilhéus. A produção, no entanto, tem diminuído nos últimos anos porque as populações naturais da espécie estão sendo, gradativamente, destruídas pelos desmatamentos ilegais (Moreau, 1997).

A hegemonia mercadológica das fibras da piaçava da Bahia decorre da alta qualidade das mesmas pois apresentam grande rigidez, bom comprimento e excelente diâmetro. Tendo sido a primeira a ser explorada e popularizada no mercado brasileiro, foi a base para a elaboração da legislação que trata da classificação da fibra beneficiada no Brasil (Decreto Federal No. 5.739 de 29 de maio de 1940).

A piaçava do Amazonas ocorre naturalmente na região do médio e alto rio Negro, tendo como principal pólo produtor a cidade de Barcelos. O potencial produtivo desta região é imenso mas, infelizmente, a qualidade natural das fibras desta espécie não permite que a mesma ameace a hegemonia da piaçava da Bahia no mercado nacional. Apesar de compridas, as fibras da piaçava amazonense são muito flexíveis e finas.

Extrativismo: importância, fragilidades e potencial no Acre

Pode-se creditar aos extrativistas o fato do Acre possuir apenas 10% de sua área desmatada (ACRE, 2000). Embora o número aparente ser elevado, existe um consenso no Acre que a situação poderia ser mais grave se tivesse ocorrido no Estado o mesmo tipo de colonização predatória e desordenada que aconteceu em Rondônia. Isto só não aconteceu no Acre graças à persistência e resistência econômica e política dos extrativistas acreanos, liderados durante muitos anos pelo sindicalista Chico Mendes.

Ainda hoje, o extrativismo é uma importante atividade econômica no Acre e a história sócio-econômica do Estado está intimamente ligada à atividade desde o início da sua ocupação, em meados do século XIX. Há mais de cem anos os extrativistas vêm realizando a exploração sustentada de seringueiras (Hevea brasiliensis) e castanheiras (Bertholletia excelsa) nativas. Mais recentemente, tem se verificado o incremento do manejo sustentado da exploração de madeira no Estado. Embora cause danos à floresta, esta atividade é menos prejudicial que o corte raso adotado por ocasião da transformação da floresta em campos agrícolas e pastagens.

Apesar do extrativismo ter contribuído de forma positiva no balanço ambiental do Estado, as crises cíclicas a que estão sujeitos este sistema têm, paulatinamente, esvaziado e descaracterizado as comunidades tradicionais. O maior problema é que muitos sistemas extrativistas dependem da comercialização de um número limitado de produtos para o mercado. Quando os preços destes produtos caem abaixo do custo de produção, os extrativistas buscam alternativas não extrativistas para a sua sobrevivência.

No Acre já se observou uma tendência de pecuarização das Reservas Extrativistas (Souza, 2001). Outra tendência, é um marcante incremento das atividades agrícolas tradicionais na maioria das áreas extrativas. Ambos os casos citados têm produzido impactos negativos na preservação da floresta. No vale do Juruá, onde este trabalho foi desenvolvido, a sobrevivência da maioria das famílias extrativistas nos últimos anos pode ser creditada à produção e comercialização de farinha de mandioca.

Estas fragilidades do extrativismo têm levado alguns teóricos a apontar, com base na teoria econômica neoclássica, que a atividade extrativista caminha para uma inevitável extinção (Homma, 1993). Segundo eles, a prática de manejo ideal, do ponto de vista biológico, não apresenta viabilidade econômica. Algumas vezes, a produção do bem elimina o objeto de produção (extrativismo por aniquilamento), em outras, a maximização da produção, em curto prazo, esgota o recurso a médio ou a longo prazo (extrativismo de coleta). A busca do equilíbrio poderia ser alcançada apenas se o ritmo de extração fosse igual ao da regeneração do recurso, mas certos fatores econômicos tornam o manejo insustentável (Rêgo, 1999).

Independente dos problemas enfrentados pelo sistema extrativista tradicional, o advento de novas tecnologias de exploração e beneficiamento de produtos florestais traz alento a esta atividade. Até mesmo na área de comercialização existem boas perspectivas para os produtos oriundos de sistemas extrativistas que causem baixo impacto ao meio ambiente. O aparecimento do “mercado solidário”, por exemplo, vai ser mais um dos fatores que, cedo ou tarde, ajudarão na consolidação do sistema extrativista como a melhor alternativa para desenvolver a Amazônia sem destruí-la.

Problemas afetando o extrativismo de piaçava no Acre

Embora a extração, confecção artesanal e comercialização de vassouras de piaçava no vale do Juruá sejam praticadas há mais de 50 anos, a atividade nunca atingiu uma importância econômica que justificasse a sua caracterização como um “ciclo” distinto na história da exploração extrativista da região. Uma das principais razões para isso é o histórico isolamento, em relação aos mercados potenciais para as vassouras e as fibras, das regiões onde a palmeira ocorre naturalmente.

Até hoje não existe uma ligação terrestre perene entre o vale do Juruá e o vale do Acre, as duas macro-regiões economicamente mais importantes do Estado. Também não existe ligação fluvial viável entre essas regiões porque todos os rios do Acre deságuam no rio Solimões. Esse isolamento forçado fez com que a atividade sempre fosse praticada em baixa escala tendo em vista que o mercado representado pela cidade de Cruzeiro do Sul, o maior centro urbano da vale do Juruá, não é suficientemente desenvolvido para absorver um grande volume de vassouras.

Embora exista uma clara tendência de justificar a não expansão do extrativismo da piaçava acreana ao isolamento das áreas de produção em relação ao mercado, a verdade é que a resposta pode estar em outros componentes da cadeia produtiva. Como se sabe, as fibras são produtos não perecíveis e podem ser armazenadas e/ou transportadas por longos períodos, se adequadamente protegidas da umidade excessiva. É importante, portanto, investigar o papel de cada um dos atores envolvidos no processo, os produtores, atravessadores e comerciantes para entender quais deles representam o maior obstáculo para a expansão da atividade.

Outro aspecto que necessita ser melhor investigado é o papel do estado como fomentador da atividade, tanto sob o ponto de vista da organização comunitária, quanto financeiro. Sabe-se que pelo menos uma linha dedicada exclusivamente ao extrativismo (PRODEX) foi estabelecida pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria com o Banco da Amazônia (MMA). Isso significa dizer que, em teoria, existe crédito disponível para financiar a atividade. É importante saber se as comunidades extrativistas da região estão usando este crédito e se o mesmo está produzindo algum impacto positivo ou negativo. Se o crédito não está chegando aos extrativistas, é preciso saber o que tem causado isso para se propor uma solução para a superação do problema.

Do ponto de vista da qualidade, as fibras da piaçava acreana são fisicamente bastante similares (diâmetro e cor) às da piaçava do Amazonas. Isto indica que, teoricamente, o potencial de mercado para as fibras da piaçava do Acre é o mesmo que o desta última espécie. Neste aspecto, um fato marcante é que algumas indústrias de vassouras instaladas na cidade de Rio Branco não usam fibras da piaçava do Acre. Elas importam fibras do Amazonas e da Bahia. Segundo alguns dos proprietários destas indústrias, isto ocorre porque existe oferta e preço adequado destas fibras. Este fato indica que a não utilização da fibra acreana parece ser decorrente da inexistência de oferta, ou seja, não existe um sistema de comercialização ofertando ativamente fibras e vassouras produzidas a partir da piaçava acreana.

Breve descrição do processo de extração e beneficiamento das fibras da piaçava acreana

As fibras da piaçava acreana explorada no vale do Juruá são usadas exclusivamente para a confecção de vassouras vendidas na própria região. A coleta das fibras é uma atividade predominantemente masculina. As fibras são retiradas da região que vai do ápice da bainha até a metade do pecíolo foliar e folhas apropriadas para a coleta geralmente possuem um novelo de fibras facilmente observáveis desde o chão.

A extração das fibra é feita manualmente e não requer o corte das folhas. O coletor tem que subir na palmeira até a altura das folhas. Para isso, ele usa uma escada rudimentar feita no local com troncos de pequenas árvores encontradas nas proximidades. A seleção das plantas a serem coletadas é feita visualmente e o coletor leva em consideração a quantidade de folhas em cada planta e a quantidade de fibras em cada folha.

Dependendo da altura e da quantidade das folhas, um extrator leva entre 20 e 30 minutos para coletar as fibras de uma única palmeira. Neste rítmo, é possível coletar entre 10-15 plantas por dia, resultando em uma produção de 1,5-4 kg de fibras. Cada planta pode ser explorada somente duas vezes ao ano.

Ainda na floresta, são eliminadas as fibras mais finas, impossíveis de usar na confecção de vassouras, e feito o descarte de porções semi-lenhosas que permaneceram aderidas à massa de fibras. Depois disso as fibras selecionadas são amarradas em fardos de cerca de 15kg e transportadas para a residência do extrator. Neste local é feito um novo beneficiamento, que consiste na limpeza e padronização do comprimento e diâmetro das fibras usando pentes de pregos ou de plástico. Às vezes é necessário bater as fibras com uma peça de madeira roliça.

No final as fibras beneficiadas são arranjadas em pequenos fardos com 10 kg de peso e 60cm de comprimento. Nessa condição elas podem ser usadas imediatamente ou depois de vários meses se armazenadas em lugar seco e protegido da luz solar.

As fibras selecionadas nesta etapa são amarradas na forma de fardos com peso aproximado de 15 kg ou às vezes maiores, dependendo do tipo de transporte a ser usado pelo extrator. Preparadas dessa forma, as fibras são transportadas para a residência do extrator. Neste local as fibras são submetidas ao beneficiamento final, que consiste na limpeza e padronização do comprimento e diâmetro. Para isso o extrator passa as fibras diversas vezes em um pente de pregos ou pente comum de plástico, e para facilitar esse processo, às vezes é necessário bater as fibras com uma peça de madeira roliça. No final desta etapa as fibras são arranjadas em pequenos fardos com 10 kg cujas pontas são aparadas de forma que cada um deles tenha um comprimento aproximado de 60 cm. Nessa condição as fibras podem ser usadas imediatamente ou podem ser armazenadas durante vários meses em lugar seco e protegido da incidência direta da luz solar.

Produção artesanal das vassouras

A confecção de vassouras é um processo artesanal, na maioria das vezes executado pelas mulheres. Para ficar flexíveis, as fibras são colocadas de molho durante 3-6 horas e depois são parcialmente secas à sombra durante 1 hora para tornar as fibras flexíveis, uma condição imprescindível durante a confecção das vassouras, como será possível observar mais adiante. Depois de retiradas da água, as fibras são parcialmente secas à sombra durante 1 hora e após isso elas estarão prontas para serem cortadas no tamanho requerido pelo tipo de vassoura que vai ser confeccionada.

A confecção consiste em duas etapas distintas. A primeira é o preparo da “cabeça” onde as fibras deverão ser fixadas. Estas “cabeças” são confeccionadas artesanalmente com fibras de cipó titica (Heteropsis flexuosa). A segunda etapa consiste na montagem das fibras na “cabeça”. Para isso é necessário dobrar as fibras na porção mediana e amarrar as mesmas na “cabeça” usando fibras de titica. Caso as fibras não sejam flexíveis o suficiente ou estejam muito secas, existe a possibilidade das mesmas quebrarem, tornando-as inúteis. Cada vassoura usa cerca de 400 g de fibras e demora cerca de 20 minutos para ser confeccionada. No Equador (Pedersen e Balslev, 1990), 1 kg de fibras é suficiente para a confecção de quatro a seis vassouras.

Comercialização

O principal centro consumidor para as vassouras produzidas no vale do rio Juruá é a cidade de Cruzeiro do Sul. A aquisição de vassouras nas regiões produtoras é quase sempre realizada por comerciantes conhecidos localmente como regatões. Os regatões viajam em barcos ao longo dos rios vendendo produtos industrializados, como alimentos, roupas e sapatos, e adquirindo a produção agrícola e extrativista das populações ribeirinhas para revender no mercado de Cruzeiro do Sul. Como a maioria deles não tem estabelecimento comercial fixo naquela cidade, o papel que exercem é meramente intermediário.

As vassouras são adquiridas em dúzias, e muitas vezes um regatão chega a comprar mais de 1.000 dúzias em uma única viagem. Em 2005 o preço pago por cada vassoura nas regiões produtoras era de R$ 0,50-R$ 0,70 dependendo da qualidade da fibra usada e do acabamento final da “cabeça”. As vassouras mais ornamentadas ou pintadas geralmente são vendidas a preços mais altos. Na maioria das vezes, entretanto, as vassouras são trocadas por produtos industrializados, não sendo necessária a realização de transação com uso de dinheiro.

Muitas vezes, as vassouras trazidas pelos regatões são encomendas feitas por comerciantes de Cruzeiro do Sul. Nas vezes em que isto não acontece, “olheiros” fazem a intermediação entre os regatões e os comerciantes estabelecidos no mercado municipal. Nestes estabelecimentos o preço da vassoura fica mais caro no período da seca e mais barato na cheia dos rios. Em 2005 o mesmo variou entre R$ 2,50 a unidade em janeiro, até R$ 4,00 no início do período seco, pouco antes da abertura da estrada para Rio Branco.

Qualidade das fibras e aceitação pelo mercado

As fibras da piaçava acreana são qualitativamente muito parecidas com as fibras da piaçava do Amazonas, mas bem inferiores às da piaçava da Bahia. Por esta razão, as vassouras confeccionadas exclusivamente com as fibras da espécie nativa do Acre são menos duráveis. Esta desvantagem tem conseqüências mercadológicas importantes. De acordo com o proprietário de uma fábrica de vassouras de Rio Branco, este fato confere às fibras da piaçava acreana uma classificação comercial de segunda classe. Ele comentou que se as fibras desta espécie estivessem disponíveis no mercado só iria adquiri-las caso o seu preço fosse inferior ao que ele costuma pagar pelas fibras da piaçava da Bahia (importadas de São Paulo).

Entretanto, essa desvantagem qualitativa não elimina as possibilidades mercadológicas das fibras da piaçava acreana. O mesmo empresário sugeriu que estas fibras são ideais para a confecção de vassouras nas quais fibras de mais de uma espécie de palmeira podem ser combinadas. Isso seria feito da seguinte forma. As fibras mais grossas, duras e resistentes da piaçava da Bahia seriam montadas na parte externa da cabeça da vassoura, conferindo firmeza e durabilidade à mesma. As fibras da piaçava acreana seriam usadas na parte interna. Essa combinação resultaria em um produto de qualidade com boas chances de aceitação no mercado de Rio Branco.

Manejo de populações naturais de piaçava acreana

O manejo de populações nativas e o cultivo da espécie de piaçava que ocorre no Acre já vem sendo praticado no Equador (Pedersen, 1992). Este autor descreveu três tipos de manejo praticados no Equador. O primeiro é o manejo em floresta. Este consiste na limpeza do sub-bosque de forma a garantir maior disponibilidade de luz, água e nutrientes para todos os membros da população a ser explorada. O segundo é o adensamento em áreas desmatadas nas quais não serão formadas pastagens. O maior objetivo desse manejo é o rápido incremento na densidade natural da piaçava através da eliminação de outras espécies competidoras. O último tipo de manejo consiste na preservação das piaçaveiras por ocasião da formação das pastagens.

Enquanto nos dois primeiros casos a preservação de plântulas e o controle da competição é um importante aspecto do manejo, no último isto não é tão importante. Embora livres da concorrência com outras espécies arbóreas, o incremento da densidade natural da piaçava em pastagens é limitado pelo fato do gado eliminar sistematicamente as regenerações.

Em todos os casos citados acima as práticas culturais realizadas são simples. Incluem o corte das folhas (por ocasião da extração das fibras), inflorescências, infrutescências e limpeza do terreno em volta das plantas (com exceção das áreas de pastagens).

De acordo com Pedersen e Balslev (1990), o manejo das plantas permite um incremento na quantidade de fibras extraídas, que passariam a ser sempre por volta de 4,5 kg por planta/ano. Os plantios comerciais no Equador são ainda muito recentes e a maior parte da fibra comercializada no país ainda é oriunda de plantas silvestres (Pedersen, 1992).

Introdução da piaçava acreana em sistemas de cultivo no Acre

O apoio à atividade de extração de fibras da piaçava no vale do Juruá deve ser priorizado em razão das condições sócio-econômicas em que vivem as comunidades envolvidas nesta atividade. Entretanto, acredita-se que dificilmente o vale do Juruá poderia vir a ser um centro exportador de fibras para outros mercados que não o da cidade de Cruzeiro do Sul. A razão mais importante para isso é a dificuldade de acesso a outros mercados importantes como Rio Branco e Porto Velho, pois não existe conexão rodoviária permanente entre o vale do Juruá e estes mercados. Outra opção de escoamento da produção seria através dos rios que cortam a região. Entretanto os barcos precisariam navegar mais de um mês para completar uma viagem entre Cruzeiro do Sul e Rio Branco, pois teriam que viajar os rios Juruá, Solimões e retornar ao Acre pelos rios Purus e Acre.

As experiências de manejo e cultivo da espécie no Equador indicam que a mesma poderia ser introduzida em sistemas de cultivo no Estado do Acre. A espécie é agressiva colonizando novas áreas (Pedersen, 1992) e existe demanda de fibras no mercado local de Rio Branco.

O cultivo da piaçava acreana poderia ser feito em áreas de fácil acesso nos vales do Acre e Purus, tanto em áreas de pastagens como em sistemas de cultivo consorciado. No primeiro caso, tem se observado que a maioria das áreas de pastagens no Estado está sempre colonizadas por várias espécies de palmeiras sem valor comercial significativo, como são os casos do "murmuru" (Astrocaryum ulei), "tucumã" (Astrocaryum aculeatum), "jaci" (Attalea butyracea) e "uricuri" (Attalea phalerata).

A introdução de uma espécie capaz de gerar recursos financeiros para os proprietários destas pastagens poderia permitir que os mesmos, especialmente os pequenos produtores, tivessem melhores condições financeiras para manter estas pastagens em bom estado, evitando o desmatamento de novas áreas.

A outra possibilidade seria a introdução da espécie em sistemas agroflorestais. Em ambos os caso, entretanto, a introdução da espécie deveria ser precedida pela realização de experimentos visando o conhecimento do comportamento da mesma em diferentes condições de solo e competição com outras espécies.

Prioridades em futuras pesquisas

Ainda não foram realizados estudos para se conhecer a viabilidade ecológica e econômica da exploração extrativista de fibras de A. natalia no Acre. Outro aspecto ainda desconhecido é o comportamento da espécie em condições de cultivo. Considerando-se essas deficiências as seguintes prioridades para as pesquisas futuras com a espécie deveriam ser consideradas:

1. Sócio-economia da exploração extrativista no vale do Juruá.

Embora a exploração de fibras de piaçava seja antiga, sabe-se muito pouco sobre as atividades que isso requer e as pessoas envolvidas nas mesmas. É necessário se determinar com precisão os custos econômicos e sociais desse sistema extrativista. Não se conhece o nível de dependência econômica das famílias extratoras à atividade de extração de fibras, confecção e venda de vassouras. Também não se sabe qual impacto a atividade extrativista tem em outras atividades familiares, como a agricultura e criação de animais. É preciso saber quais os participantes do sistema estão obtendo lucros e o que se deveria fazer para se garantir uma divisão social mais justa dos recursos gerados pela atividade. Somente após estes estudos seria possível propor políticas e ações voltadas para o aperfeiçoamento e fortalecimento da atividade.

2. Fitogeografia e Ecologia.

Até o presente a piaçava acreana foi encontrada apenas na parte acreana do vale do rio Juruá e em todas elas as populações identificadas são relativamente pequenas. É necessário realizar um levantamento detalhado por toda a região, inclusive no estado do Amazonas com o objetivo de se determinar novas áreas de ocorrência da espécie e estimar o potencial de produção extrativista em toda a região. Também não se sabe se as práticas extrativistas presentemente adotadas são sustentáveis. É necessário determinar a viabilidade ecológica da atividade extrativista e garantir a preservação desse recurso de maneira que a extração de fibras possa continuar a ser praticada por muitos anos no futuro.

3. Características agronômicas e variabilidade genética da espécie.

Será necessário coletar sementes e iniciar experimentos sobre germinação, produção de mudas e comportamento da espécie no campo. Além disso, é importante identificar as populações e indivíduos mais produtivos para determinar se existem diferenças genéticas relacionadas com a maior ou menor capacidade de produção de fibras. Seria importante estabelecer pequenas coleções ex situ com plantas altamente produtivas, nativas do Acre ou importadas do Equador.

4. Potencial do mercado regional para fibras da espécie.

É necessário conhecer a capacidade de consumo de fibras do mercado local e regional (Acre e Rondônia) antes de se promover o aumento da atividade extrativa ou o cultivo da espécie em escala comercial. É importante ainda encontrar o nicho mercadológico que as fibras da piaçava acreana poderiam ocupar no mercado de fibras regional. O conhecimento do mercado será a chave para o sucesso da exploração desta espécie.

Conclusão

A crise econômica vivida pela população extrativista do vale do Juruá em conseqüência da falência do mercado da borracha continua muito grave. Para piorar a situação, naquela região não existem outros produtos extrativistas com mercado bem desenvolvido, como tem sido o caso da castanha do Brasil no vale do rio Acre. Isso demonstra que a busca de novas alternativas extrativistas para aquela região deve ser priorizada. Essa busca tem que ser baseada em um novo modelo de desenvolvimento do extrativismo no qual os resultados de estudos científicos do mercado, da viabilidade econômica e da sustentabilidade ecológica da atividade passem a ser igualmente considerados.

Por outro lado, a popularização de sistemas de cultivos consorciados no Acre representa uma oportunidade para que espécies nativas com potencial econômico sejam introduzidas em cultivo e seus produtos ofertados regularmente no mercado local.

Embora preliminares, espera-se que as informações apresentadas neste trabalho possam ajudar no desenvolvimento de um programa de pesquisas que possibilite a transformação de A. natalia em uma espécie capaz de gerar renda para os extrativistas e pequenos agricultores do Estado.

Agradecimentos

As atividades de campo deste trabalho foram apoiadas com recursos financeiros do Convênio UFAC-NYBG e CNPQ. O autor agradece as famílias extrativistas do rio Juruá-Mirim e igarapé Viseu pela permissão para visitar e acompanhar as atividades desenvolvidas na extração das fibras e confecção das vassouras.

Referências bibliográficas

BALSLEV, H. e A. J. HENDERSON. A New Ammandra (Palmae) from Ecuador. Syst. Bot. 12:501-504, 1987.

BARFOD, A. A Monographic study of the subfamily Phytelephantoideae (Arecaceae). Opera Bot.105: 1-73. 1991.

BRASIL. 1998. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Primeiro Relatório Nacional para a Conservação sobre Diversidade Biológica: Brasil, Brasília.

FIDALGO, O. & BONONI, V.L.R. Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico, Instituto de Botânica. São Paulo, 1989.

HENDERSON, A. J. The palms of the amazon. New York: Oxford University Press, 1995. 362p.

HENDERSON, A. J.; GALEANO, G.; BERNAL, R. Field Guide to the palms of the americas. Princeton: Princeton University Press, 1995. 352p.

HOMMA, Alfredo Kingo Oyama. Extrativismo Vegetal na Amazônia – Limites e Oportunidades. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1993

IBGE. Prod. Extr. veg. e Silvic., Rio de Janeiro, v.17, p.1-36, 2002.

IBGE. Prod. Extr. veg. e Silvic., Rio de Janeiro, v.18, p.1-43, 2003.

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/sca/cex/cart4a.html. Acessado em: 10 ago 2005.

NOVAES, V. 1988. A fibra brasileira que vale dolar. Manchete Rural 2(20): 12-14. Rio de Janeiro.

PEDERSEN, H. B. 1992. Uses and Management of Aphandra natalia (Palmae) in Ecuador. Bull. Inst.fr. études andines 21(2):741-753.

PEDERSEN, H. B. 1996. Production and harverst of fibers from Aphandra natalia (Palmae) in Ecuador. Forest Ecol. Mang. 80: 155-161.

PEDERSEN, H. B. e H. BALSLEV. 1990. Ecuadorean Palms for Agroforestry. AAU Reports 23, Botanical Institute Aarhus University, Risskov, Denmark.

RÊGO, J. F. Amazônia: do extrativismo ao neoextrativismo. Ciência hoje, Rio de Janeiro, v. 25. n. 147, p. 62-65.

SOUZA, F. K. 2001. Pasture instead of rubber? The ranching tendencies of family-based agriculture in extractive reserves and colonization projects in Acre, Brazil, Southwestern Amazonia. In Open Meeting of the Human Dimensions of Global Environmental Change Research Community. Rio de Janeiro, Brazil, 2001

Uhl, N. W. & J. Dransfield. 1987. Genera Palmarum. L. H. Bailey Hortorium (Ithaca, N.Y) and International Palm Society. Allen Press, Lawrence, Kansas.

26 novembro 2005

1° SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE REGENERAÇÃO AMBIENTAL DE CIDADES

O 1° SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE REGENERAÇÃO AMBIENTAL DE CIDADES será realizado na cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 8 de dezembro de 2005, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ – Campus da Praia Vermelha, à Avenida Pasteur, Urca, Rio de Janeiro.

Ele é dirigido para docentes, profissionais, pesquisadores e discentes em arquitetura, urbanismo, paisagismo, geografia, ecologia, sociologia, antropologia e áreas afins, interessados na temática do Seminário, que em sua primeira edição enfocará AMBIENTES URBANOS ÀS MARGENS DE CORPOS D'ÁGUA: AS ÁGUAS URBANAS.

As atividades do Seminário estão estruturadas em palestras, mesas-redondas, sessões de comunicação, com a apresentação de trabalhos inscritos e selecionados pelo Comitê Científico, e sessões técnicas, com a apresentação de trabalhos desenvolvidos pelos membros da Comissão Organizadora e de trabalhos institucionais realizados no âmbito governamental. Além dessas atividades, estão planejadas duas visitas técnicas, à Baía da Guanabara e a toda a extensão da orla litorânea da cidade do Rio de Janeiro, como forma de observar in loco diversos aspectos que serão discutidos durante o Seminário.

Os trabalhos selecionados para comunicação oral serão publicados no cd-rom dos Anais do Seminário e haverá a distribuição de Caderno de Resumos impresso. Após o seminário, serão publicadas as palestras, os resultados de mesas-redondas e sessões técnicas e os melhores trabalhos selecionados pelo Comitê Científico.


Inscrições:
- Profissionais: R$ 150,00 (até 5 de setembro de 2005) / R$ 180,00 (após 6 de setembro de 2005);
- Estudantes: R$ 75,00 (até 5 de setembro de 2005) / R$ 90,00 (após 6 de setembro de 2005);
- Sócios e filiados à ABAP: R$ 90,00 (até 5 de setembro de 2005)/ R$ 120,00 (após 6 de setembro de 2005).


Maiores informações: www.abap.org.br ou www.iabrj.org.br
Se preferir mande email para: aguasurbanas@ig.com.br

25 novembro 2005







"Floresta: Vida Nossa de Cada Dia"


Está em andamento a 11ª edição da Feira dos Produtos da Floresta do Acre - FLORA, que este ano está acontecendo no Horto Florestal. A feira de produtos fica aberta diariamente entre as 17:00 e a meia noite. Durante o dia são realizads as rodadas de negócios de produtos da floresta e os seminários (clique aqui para ver a programação oficial).

Neste ano o evento tem como tema "Floresta: Vida Nossa de Cada Dia", enfatizando a floresta como elemento fundamental à sustentabilidade do desenvolvimento socio-econômico, ambiental e cultural das populações tradicionais locais.

Participam da feira grupos organizados de diferentes regiões do Acre e de outros Estados da Amazônia, entidades governamentais, e não governamentais, inclusive representante dos países vizinhos Peru e Bolívia.

A programação cultural inclui a apresentação de peças teatrais e musicais ligadas ao tema da feira. No sábado, a partir das 20:30 horas haverá um show musical com a participação de Sérgio Souto, Sebastião Tapajós e Nilson Chaves (imperdível).

Clique aqui para ir ao site oficial: XI FLORA

24 novembro 2005

ANDIROBA DE RAMA PIRATEADA!

Andiroba está sendo biopirateada, denunciam cientistas acreanos

Publicado em Nov 24, 2005
Edmilson Ferreira
Noticias da Hora.com

RIO BRANCO, AC – Pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac) identificaram novo caso de biopirataria no Estado desta vez envolvendo a andiroba-de-rama (Fevillea cordifolia ou Fevillea tribolata), um cipó que produz amêndoa de pouca fibra cujo teor de óleo chega a 66%. O óleo está sendo avaliado como muito próprio para produção de biodiesel.


Entre a população tradicional é usado para amenizar coceiras. Ribeirinhos e seringueiros conhecem a planta como castanha-de-mateiro. Há noticia de que essa andiroba-de-rama está sendo enviada desde Tarauacá, onde há grande prevalência, para Bauru, em São Paulo. “Quando falei com o técnico que fabrica a prensa que usamos para extrair o óleo, ele me disse que já tinha recebido e moído mais de cem quilos dessa planta lá em São Paulo”, disse Anelise Regiani, doutora em Química e chefe da equipe de professores e alunos que estudam plantas nativas para produção de biodiesel na Ufac.

O alerta a este NotíciasdaHora.com partiu também de outro doutor, Evandro Ferreira, pesquisador do Parque Zoobotânico da Ufac. Em seu blog www.ambienteacreano.blogspot.com, o cientista faz profundos questionamentos e denúncias quanto à utilização clandestina de agentes ativos de plantas exclusivamente amazônicas.

Anelise começou a estudar a andiroba-de-rama entre 2002 e 2003 a partir da busca de informações sobre prováveis fontes de combustão. Vasculhou a literatura científica à caça de dados sobre a planta mas só encontrou artigos elaborados na Alemanha sobre amostras coletadas no Peru. Outro artigo, publicado por cientista da Universidade de Lavras (MG) sobre o potencial antimicótico, soma, para a pesquisadora, indício de que essa andiroba –ou o conhecimento acerca dela -está sendo levada para fora do Acre sem autorização das instituições responsáveis pela guarda do patrimônio genético da região.

Ibama não permitiu – De fato, o Ibama nunca autorizou nenhuma atividade de pesquisa, extração ou transporte da andiroba-de-rama para outros Estados brasileiros ou outros países que não aquela especificada nos convênios de bioprospecção com as instituições locais. “Nunca autorizamos nada sobre a andiroba-de-rama. Essa questão da biopirataria está muito séria no Acre”, disse Josemar Caminha, diretor técnico do Ibama.


Além de Tarauacá, a andiroba-de-rama pode ser mais fartamente encontrada no Vale do Purus, na fronteira com o Amazonas. Ao que parece, até agora seus princípios químicos não foram patenteados. A possibilidade de a planta estar sendo alvo de biopirataria acelera a necessidade de registro de domínio da propriedade biocombustível do cipó em nome da Ufac, informou Anelise.

O JAMBÚ É NOSSO!

SERÁ QUE OS PARAENSES E ACREANOS VÃO TER QUE PAGAR ROYALTES PARA TOMAR O TACACÁ OU COMER O PATO-NO-TUCUPÍ?

Por iniciativa de ONGs e com o apoio da imprensa nacional, o Brasil conseguiu algumas vitórias contra a empresa Asahi Foods que havia registrado a marca "cupuaçu". Apesar do avanço há outras ações pendentes e a Asahi Foods pode recorrer. As batalhas jurídicas são travadas em organismos internacionais - técnicos, burocratas, advogados especialistas e procedimentos complexos.

Digno de nota é que o movimento contra a biopirataria dos produtos amazônicos é liderado pela Amazonlink, uma Organização Não Governamental - ONG, com sede em Rio Branco.

Embora o cupuaçu tenha sido o alvo da campanha e por isso recebeu grande atenção da mídia, outros produtos estão no centro de discussões da propriedade de marcas e patentes. Exemplo é o jambu. O nosso jambu do tacacá e do pato ao tucupi.

Não confundir jambu com jambo. Jambo é um fruto parecido com uma maçã, muito apreciado no Acre. O jambeiro, também usado como árvore ornamental, é originário do Sudeste Asiático e o nome científico é Syzygium. O nosso jambu amazônico, nos meios acadêmicos, é denominado Spilanthes. Spilanthol é o composto químico do jambu. É o spilanthol que dá aquela sensação de "formigamento e treme-treme" na língua e nos lábios. Para o leitor saber o significado do "treme-treme" um bom pato ao tucupi ou uma cuia de tacacá pode ser o início de uma descoberta.

Segundo o site da Amazonlink (Campanha contra a Biopirataria), são quatro empresas que apresentaram pedidos de registros do uso do spilanthol. Três das empresas denominam-se Lion e se habilitaram na Inglaterra, Estados Unidos e Japão. Na União Européia a empresa é a Takasago.

Parece ser tudo farinha do mesmo saco do grupo do "pilantrol". Mas enfrentar vai dar um trabalho danado. A Lion e suas parceiras registraram o nosso jambu ou mais especificamento o spilanthol para uso da higiene bucal e dentifrício - pasta de dente. A Takasago Perfumery registrou uma composição - essência ou perfume - que causa uma "diferente sensação na pele".

Consultando diretamente no banco de dados do European Patent Office nota-se que estão listados 13 pedidos de registros tendo por base o spilanthol. Ou seja, vamos pagar "royalties" para escovar os dentes e ficar com aquela sensação do jambu na boca. Então é aproveitar e mascar folhas e flores de jambu - enquanto é de graça.

Enquanto a Lion e a Takasago não estão cobrando "royalties" - levei do Acre para Florianópolis algumas mudas de Spilanthes oleracea. Hoje em minha casa em Floripa dois canteiros de jambu abastecem a cozinha - para temperar arroz, carne, pizza, macarrão e também - quando possível - um pato ao tucupi.

Foi o interesse de um químico da UFSC, ao ver os canteiros, que me induziu a pesquisar na Rede Mundial um pouco mais sobre o jambu. E assim eu soube que já estava "tudo dominado" no Escritório Europeu de Patentes.

O pessoal da Amazonlink precisa do nosso apoio. Caso contrário, em pouco tempo as tacacazeiras de Rio Branco vão ter que acrescentar uma taxa no preço da cuia para pagar o direito de utilizar o jambu.

Além da campanha o "cupuaçu é nosso" é necessário iniciar imediatamente a campanha do "jambu é nosso". Acho que o único que não vai apoiar é o pato.

Para saber mais: http://www.biopirataria.org/patentes_jambu.php

Por Alceu Ranzi
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais/UFAC-Rio Branco-AC/Brasil
Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFSC-Florianópolis-SC/Brasil


Nota do blog: artigo publicado originalmente no Jornal O Estado do Acre, 01 a 07/05/2005

23 novembro 2005

LEI DA BIOSSEGURANÇA FOI REGULAMENTADA!

VOCÊ SOUBE DISSO? ALGUEM VIU OU LEU ALGO A RESPEITO?

Provavelmente não. Ela foi regulamentada no dia 22/11. A cobertura da "grande" imprensa nacional foi pífia. O mesmo se pode dizer dos grandes sites virtuais de meio ambiente (Ambiente Brasil e Jornal do Meio Ambiente). Nós, que dependemos deles para saber o que se passa no mundo ficamos a ver navios. Eu, que preparei um post sobre a CNTBio alguns dias atrás, publiquei o mesmo hoje, dia 23/11, quando a lei já tinha sido publicada.

Parabéns ao site Ecodebate (www.ecodebate.com.br) que colocou a lei por inteiro a disposição dos leitores.

LEI DA BIOSSEGURANÇA: MCT JÁ TOMOU PRIMEIRAS MEDIDAS

Governo começa a agir com Lei de Biossegurança

Lígia Formenti e Cristina Amorim
Agestado, 23/11 às 23:33 horas

Brasília - O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, colocou em prática a Lei de Biossegurança no mesmo dia em que ela foi regulamentada, com publicação no Diário Oficial da União. Rezende editou nesta quarta-feira uma portaria que é o ponto de partida para a recomposição da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - o órgão encarregado de analisar projetos de pesquisa e da comercialização de produtos geneticamente modificados.

O ministro espera que a primeira reunião da CTNBio seja ainda neste ano. Quanto à utilização de células-tronco embrionárias, a regulamentação segue o que o setor esperava. Ao Ministério da Saúde cabe agora o levantamento de quantos embriões humanos congelados existentes no Brasil podem ser doados para a pesquisa. A venda de linhagens de células fica proibida.

A preocupação de Rezende está no acúmulo de pedidos de novas pesquisas com organismos geneticamente modificados (OGMs). Em março, quando a Lei de Biossegurança foi aprovada, a CTNBio foi desativada. Desde então, 417 processos de novas pesquisas, de importações de produtos usados em estudos e relatórios ficaram parados, aguardando uma nova formação da CTNBio. Com a regulamentação, a tendência é de que o número aumente rapidamente. “Temos de andar rápido. Mas estou confiante que vamos cumprir o prazo", afirmou Rezende em Brasília.

Na portaria editada, o ministro criou a comissão encarregada de formar uma lista tríplice com cientistas indicados para integrar a CTNBio. Tal comissão terá um mês para apontar os nomes dos candidatos. Rezende está confiante de que esta etapa será cumprida antes do prazo. Ao mesmo tempo, o ministro deverá enviar nesta quinta uma carta para que ministérios indiquem rapidamente seus representantes.

Nove processos

O ministro sabe que vai demorar um tempo ainda para colocar a casa em dia. Mas definiu algumas prioridades. "A recomendação é que, assim que retomar as atividades, a CTNBio analise processos mais urgentes", afirmou. E ele já tem em mãos a lista do que não pode esperar: nove processos de liberação comercial na área humana e animal e outros 49 na área vegetal e ambiental: oito deles, de liberação comercial. A demora comprometeu o plantio de OGMs em pelo menos dois anos. "Até a CTNBio sentar de fato para trabalhar, outra safra terá sido perdida", diz Alda Lerayer, secretária-executiva do Conselho de Informações de Biotecnologia (CIB).

Em nota, a empresa Monsanto afirma que "a retomada das atividades da CTNBio é um importante passo para a continuidade das pesquisas de novas tecnologias agrícolas". Contudo, alguns desses métodos são barrados pelo texto, que impede a produção de grãos inférteis. Um trecho feito especificamente para proibir o uso do gene terminator - que torna a semente estéril e obriga os produtores a comprarem novas a cada safra, em vez de aproveitarem uma parte de sua colheita - acaba impedindo outras técnicas, como a produção de frutos sem semente e de plantas como fonte de matéria-prima para vacinas. “Do jeito que está, a regulamentação coíbe tecnologias que são muito interessantes para o Brasil", diz o pesquisador Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

Queda de braço

A demora na regulamentação foi provocada porque integrantes do governo divergiam sobre dois temas: o quórum necessário para a aprovação da comercialização de OGMs e a criação de um dispositivo que impediria que integrantes da CTNBio participem da análise de processos que, de alguma forma, eles têm interesses pessoais ou profissionais.

Na queda-de-braço de setores do governo, saiu vencedora a ala formada pelo Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Saúde. Ambos defendiam o quórum de 2/3 para a aprovação da comercialização de OGMs. Os Ministérios da Agricultura e da Ciência e Tecnologia defendiam apenas maioria simples - como acontece para pedidos de pesquisa."Isso de fato vai dificultar um pouco a aprovação dos pedidos", admitiu Rezende. O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, justificou o quórum. "Pesquisa é algo restrito. Mas comercialização envolve uma série de critérios. Qual seria a segurança da sociedade de consumir um produto que passou ´raspando´ na comissão? Assim, todos terão confiança na decisão. Em última análise, será bom até para empresários."

LIBERAÇÃO DE TRANSGÊNICOS NO BRASIL

OS BASTIDORES DA FORMAÇÃO DO CNTBio, O ÓRGÃO QUE VAI AVALIAR E DIZER SE OS TRANSGÊNICOS SÃO OU NÃO SEGUROS

[Apresentamos aqui um resumo de dois artigos da Agência Carta Maior que resumem muito bem o que tem se passado nos bastidores da regulamentação da lei de biossegurança, que vai criar o CNTBio. Veja link no final deste post para ler os artigos completos.]


Brasília está fervendo de lobistas tentando influenciar a futura composição da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). É que o presidente Lula pode assinar a qualquer momento o decreto que vai colocar em vigor a Lei de Biossegurança e por tabela a CNTBio. A CNTBio é subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e terá amplos poderes para tomar decisões sobre questões relativas aos organismos geneticamente modificados e aos alimentos transgênicos em particular.

Esta comissão será formada por 12 cientistas, nove representantes de ministérios e seis representantes da sociedade civil, todos obrigatoriamente com grau de doutor e com destacada atividade profissional nas áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente. Vista assim, a divisão das cadeiras no colegiado não parece ser das mais injustas, mas o que preocupa as ONGs é o processo de indicação dos membros da comissão. Sob o controle de um grupo ligado ao MCT e à antiga direção da CTNBio, as indicações, segundo os críticos, deixarão a nova comissão ainda mais suscetível às pressões das grandes empresas do setor de biotecnologia interessadas em introduzir os transgênicos no Brasil.

Um grupo de ONGs ambientalistas, da saúde e dos direitos dos consumidores denunciam que a nova composição do CNTBio vai acentuar o caráter historicamente pró-transgênicos da comissão e vai, provavelmente, transformar as discussões sobre a liberação da pesquisa, da produção e da comercialização desses alimentos num jogo de cartas marcadas. Desde julho este grupo vem pedindo uma audiência com a toda poderosa ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, sem receber qualquer resposta. No entanto, a ministra recebeu um grupo de cientistas que foram pressionar para uma imediata assinatura do decreto de regulamentação e, é claro, por uma regulamentação que facilite a rápida liberação comercial dos transgênicos.

A audiência dos cientistas parece que foi organizada por Aluízio Borém, da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e conselheiro do CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia). Não se sabe quem custeou as passagens e demais gastos do grupo. Foi a Universidade ou os cientistas pagaram do próprio bolso?

Fatos como esse e a atuação de organizações "científicas" colocam em debate quais serão os cientistas escolhidos para integrar a Comissão que irá avaliar a biossegurança dos transgênicos e de que forma serão escolhidos. Diversas entidades, sob a capa de caráter científico, financiadas ou apoiadas por empresas de biotecnologia (Monsanto & cia) têm se dedicado ao lobby pró-liberação de transgênicos.

A mesma coisa aconteceu na aprovação da Lei de Biossegurança e prossegue assim na regulamentação da Lei. O CIB, por exemplo, foi fundado e é financiado diretamente por um conjunto de empresas multinacionais, entre elas a Monsanto e a Syngenta. A Anbio (Associação Nacional para a Biossegurança) tem entre seus sócios corporativos e institucionais a Monsanto, a Cargill, a Pionner Sementes Ltda, a Bayer Seeds Ltda, entre outras.

Merece menção ainda uma organização não-governamental chamada Pró-Terra, a Associação Brasileira de Tecnologia, Meio Ambiente e Agronegócios, que tem como empresa associada a Monsanto e tem como coordenador de comunicação e de seu boletim Aluízio Borém.

Outro fato digno de nota é que até há pouco, constava como conselheiro do CIB o advogado Beto Vasconcelos. Em 1999, ele tinha procuração, com outros advogados, para defender os interesses da Monsanto em escritório de São Paulo. Depois de atuar no Ministério da Justiça, Vasconcelos bem recentemente mudou-se para a Casa Civil. Tem participado ativamente do processo de regulamentação da Lei de Biossegurança. O escritório de advocacia KLA, do qual está licenciado, é associado ao CIB.

Vasconcelos trabalha junto com outro advogado da Casa Civil, Caio Bessa Rodrigues, que foi advogado do escritório Pinheiro Neto - Advogados em Brasília. Este famoso escritório paulista, que tem como um de seus clientes a Monsanto, participou de diversos aspectos da regulamentação de transgênicos no Brasil, como por exemplo da Resolução 305/02 do CONAMA. Rodrigues também teve parte ativa na discussão do decreto de regulamentação da Lei de Biossegurança.

Luiz Antonio Barreto de Castro é outro conhecido defensor de transgênicos. Este senhor é membro da Anbio e é o novo secretário de Política e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia. Ele foi o primeiro presidente da CTNBio e ocupava o cargo em 1998, quando foi decidida a liberação comercial da soja transgênica da Monsanto. Teme-se que ele tenha papel de destaque na escolha dos cientistas que vão compor a nova CTNBio.

É por essas e outras que a visita da comitiva de cientistas à Casa Civil causou certa apreensão. O jornalista Cláudio Humberto, em nota divulgada 29/02/04, já chamava atenção sobre a composição da CTNBio: "A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, a CTNBio, do Ministério da Ciência e Tecnologia, tem tantos representantes de empresas e cientistas pendurados em verbas de multinacionais, como a Monsanto, que ganhou apelido de pesquisadores independentes: CTNBingo!

Relações perigosas
Jean Marc Von der Weid,
Agência Carta Maior, 9/11/2005

Cientistas vêem lobby e põem sob suspeita nova CTNBio
Maurício Thuswohl
Agência Carta Maior, 09/11/2005

22 novembro 2005

JACI: O BABAÇU ACREANO

Todos já ouviram falar do babaçu (Orbignya phalerata), uma palmeira que é muito comum no estado do Maranhão, mas que também pode ser encontrada em grande parte da Amazônia (Pará, Amazonas, Rondônia, Acre, Bolívia). O babaçu se caracteriza por formar grandes populações naturais e, às vezes, é considerada praga de pastagens e áreas agrícolas. Muitos produtores usam herbicida para controlar a palmeira, que também resiste ao fogo...é dura de morrer.

Fotos: Esquerda - hábito do jaci; Direita - J. Bosco, Técnico do INPA-AC, segurando um cacho de frutos (Fotos: J. Tucker)




No Acre além do legítimo babaçu, que só ocorre a partir de Acrelândia até a fronteira com Rondônia, nós também temos uma palmeira nativa que "parece mas não é" o babaçu. Ela é popularmente conhecida como "jaci" e cientificamente tem o nome de Attalea butyracea. Os habitantes da cidade acreana de Sena Madureira conhecem muito bem esta palmeira porque naquela cidade seus frutos são comestíveis. Além disso o endosperma (coquinho branco de dentro da semente), produz óleo comestível de primeira qualidade.










Fotos: grande população natural de "jaci" em área de pastagem ao longo do rio Yaco, nas proximidades da cidade de Sena Madureira (Fotos: J. Tucker)

Vejam as fotos deste artigo para conhecer melhor esta intrigante palmeira, que do ponto de vista botânico, é parente de outra palmeira muito conhecida dos acreanos, o "uricuri" (Attalea phalerata). O que é intrigante no jaci? O mesocarpo (polpa) dos frutos das palmeiras encontradas na região de Rio Branco são secos e não são comestíveis - iguais aos frutos do babaçu. O uricuri, por outro lado, possui frutos comestíveis que são vendidos no mercado de Rio Branco. Quando se chega na região de Sena Madureira, a coisa se inverte. O jaci possui frutos comestíveis e o uricuri não. Alguma explicação? hibridização jaci x babaçu na região de Rio Branco? Bom, este é um tema interessante que merece um estudo mais detalhado. Em breve vamos ter novidades sobre isso.

See also:
- The origin of the pupunha palm (Bactris gasipaes) (photos)
- Diversity and economic uses of the amazonian palms (some photos)